Quem liga pra pedestre? Basta parar em cima da calçada
A crise não é política nem econômica, é moral
O Brasil parece que acordou de um sonho bom para viver um pesadelo. A cada dia novos casos de corrupção são divulgados, desde a esfera federal até pequenos municípios no interior do Nordeste onde políticos afirmam sem o menor constrangimento que são “viciados” em roubar. Para completar o ministério da Saúde divulga que o número de jovens com vírus da AIDS aumenta no Brasil, enquanto no resto do mundo diminui. Não acabou, os casos de latrocínio (roubo com morte da vítima) também aumentam. E no meio disso tudo tem os dados de acidente de trânsito que também só aumentam por aqui. O que está errado?
Todos esses índices tem uma coisa em comum: todos eles são fruto do comportamento humano. Equivale afirmar que o ser humano brasileiro está com problemas... e morrendo!
É interessante perceber pelas redes sociais o tamanho da indignação da população perante algumas supostas injustiças – a ponto de alguns pedirem a volta do regime militar. Mas também é curioso observar que um dos espelhos de uma sociedade moderna é o trânsito.
Se está evidente que há uma crise de caráter na sociedade, como esperar que isso não se reflita no trânsito? A mesma dona de casa que reclama da inflação e dos preços “pela hora da morte” na feira estaciona em fila dupla para esperar o filho sair da escola. O mesmo executivo que se espanta com o volume de verba dos esquemas de caixa dois atende o celular enquanto dirige, escondido pela película solar mais escura do que a permitida por lei. O mesmo motociclista que se escandaliza com o aumento do latrocínio faz um intervalo na hora do almoço para fumar um baseado. O mesmo gerente de loja que defende com veemência a introdução da pena de morte no Brasil faz uma conversão proibida para encurtar alguns metros o roteiro.
Não existe justiça quando não se pratica a justiça.
Já escrevi dezenas de vezes que o trânsito é uma organização social. Quanto mais evoluída a sociedade, menos violento é o trânsito. O que nos dá poucas esperanças de um futuro melhor, porque além de não resolvermos os problemas de trânsito ainda incluímos no sopão social o aumento nos casos de AIDS e de latrocínio. Que dureza...
O motorista de caminhão está nem aí para os motociclistas...
Quase todo mundo que critica o meio político se esquece de onde vêm os políticos. Eles não são seres extraterrenos que lotam uma nave em outra galáxia e descem no Brasil, eles são pinçados entre os brasileiros. Se a categoria política está com problemas de caráter é sinal que a população está sofrendo desse mal.
Todo mundo que viu o depoimento de uma testemunha ao Fantástico, da Rede Globo, ficou pasmo quando o repórter questionou se ele não se sentia culpado pelo desvio de verba que tirava a merenda escolar das escolas, que impedia as obras de infraestrutura ou que causava morte por falta de um atendimento médico-hospitalar. A resposta do vereador foi sincera: “não, nós não nos preocupamos com isso, só com o dinheiro!”.
É isso! O motorista que para o caminhão em fila dupla para descarregar refrigerante não está preocupado com os outros, só com ele mesmo. O motociclista que cruza a cidade em alta velocidade, com escape barulhento, não está preocupado com os outros, só com ele. O motorista gerente de multinacional que fica parado no semáforo teclando no celular não está preocupado se está atrapalhando os outros, mas só com a comunicação dele. Enfim, vivemos uma crise de caráter na qual todo mundo se preocupa apenas com o próprio umbigo e não com a coletividade. Com os políticos não seria diferente.
O ciclistas que se danem, legal é abrir o porta-malas e curtir um pancadão
Sim, eu sei o que você está pensando: “isso é generalização”. Mas não é. Basta sair nas ruas para entender que é a simples observação. Existe um movimento cósmico qualquer que tem feito os brasileiros esquecerem definitivamente o coletivo e pensar apenas no individual e se a categoria política e o funcionalismo público vêm da sociedade o resultado não poderia ser outro senão a repetição da mesma crise moral e ética.
Enfim, o moral dessa história é uma história sem moral.