Sensacional pega entre Quartararo (20), Joan Mir (36) e Miller (43). (Fotos: MotoGP.com)
Fabio Quartararo faturou mais uma na MotoGP, Raul Fernandez ganhou a primeira na Moto2 e Pedro Acosta é fenomenal na Moto3
Todas as atenções estavam voltadas para o retorno de Marc Márquez na Honda nº 93. Depois de quase 300 dias afastado das pistas Marc finalmente pilotou nos treinos e corrida. Foi rápido em todas as vezes que entrou na pista. Na corrida só conseguiu acompanhar o pelotão da frente na primeira volta, depois encaixou um ritmo mais seguro apenas para terminar, o que deu certo e foi muito festejado. Ainda por cima terminou em sétimo, a Honda mais bem classificada! Sua melhor volta na corrida foi justamente a última, para confirmar que estava bem fisicamente, agora é só questão de tempo para recuperar o ritmo de corrida.
Esta corrida deixou mais claro ainda que a Honda realmente é uma moto que exige um piloto que tenha um estilo tão agressivo que beira a irresponsabilidade. Mar Márquez é esse cara e não consigo entender a opção pelo insosso Pol Espargaró, um piloto que nunca provou ser esse cara. Acho sinceramente que Johan Zarco ou Jack Miller seriam os mais próximos da ousadia necessária para domar a Honda. O que vimos nessa etapa foi o claudicante MM93 largar na sexta posição, enquanto Pol largou na distante 14a posição.
Foi praticamente uma estreia para Marc Marquez, após 9 meses de ausência.
A corrida mais uma vez teve momentos inspirados dos principais protagonistas. Johan Zarco (Ducati) tinha tudo para consolidar-se na liderança do mundial, mas uma queda pôs fim aos planos e ainda viu a vitória de Fabio Quartararo (Yamaha), que assumiu a liderança do mundial com 61 pontos.
Outro que viu seus esforços despencarem no asfalto foi Alex Rins (Suzuki) que era o único a acompanhar o ritmo de Quartararo. Prometia um final emocionante, mas também caiu deixando o caminho livre para o francês que nesta semana completa 23 anos.
Sobre ele vale um desabafo. Em 2020 muitos “especialistas de FaceBook” colocaram em dúvida a capacidade deste jovem francês, especialmente pela temporada muito inconstante. Foi acusado de amarelar várias vezes, embora tenha vencido três etapas. Mas volto a explicar: 2020 foi um ano totalmente estranho na MotoGP. O atraso da temporada pegou a Europa já no outono e todos os acertos de pneus tiveram de ser refeitos. Isso causou o enorme desequilíbrio de rendimento. Nunca foi normal – nem será novamente – ver um piloto vencer uma etapa e chegar em 15º na outra. Ou vice-versa. Este ano pode ter certeza que será tudo mais lógico e equilibrado.
Dentro do assunto desequilíbrio, mais uma vez o ídolo Valentino Rossi (Yamaha) fez uma corrida para esquecer. Depois de trocar a equipe oficial pela satélite (Petronas), o VR46 não encontrou um ritmo convincente. Aos 43 anos já poderia facilmente aposentar para criar sua sonhada equipe na MotoGP. Mas ainda encontrou motivação para continuar correndo. Ficou sempre entre os últimos nos treinos e na corrida acabou caindo sozinho. Seu contrato permite parar a qualquer momento desta temporada. Talvez fosse o momento. Não pela idade, porque a experiência supera tudo, mas pela motivação mesmo e também pelos negócios ligados à marca VR46.
Grande corrida de Francesco Bagnaia (Ducati) que foi punido nos treinos e teve de largar em 11º. Fez um sprint fantástico nas últimas três voltas e “roubou” o segundo lugar de Joan Mir na última volta. Franco Morbidelli fechou em quarto e por pouco não foi ao pódio. Até esta etapa Morbidelli vem sendo mais rápido que Valentino e isso pode decretar a aposentaria do multicampeão.
O que pode vir por aí? A Suzuki se aproximar mais na segunda metade das provas. Festa da Ducati nas pistas com retas quilométricas e, se colocar a cabeça no lugar, um Quartararo administrando a liderança. Mas pode anotar: MM93 vai chegar nesse grupo da frente mais rápido do que se imagina. Em Portimão foi só o aperitivo.
Raul Fernandez (25), Gardner (16) e Augusto Fernandez (37).
Moto2: a primeira de Fernandez
Que o inglês Sam Lowes (Marc VDS) é o piloto mais experiente da Moto2 ninguém duvida. Mas é também muito afobado! Estava largando na pole-position, já tinha duas vitórias no bolso, bastava controlar a corrida, mas caiu antes de completar a primeira volta! Deixou a pista livre para um pega entre Aron Canet (Aspar), Remy Gardner (KTM), Joe Roberts (Italtrans) e Raul Fernandez (KTM).
No ano passado Lowes perdeu o título porque tentou buscar uma vitória que não precisava. Estava liderando e jogou o título pela janela ao cair quando estava em segundo lugar.
Ao contrário do que se diz nas transmissões no Brasil, nesta categoria o consumo de pneus não interfere, porque na Moto2 o pneu mais mole ainda é bem duro em comparação com os pneus da MotoGP. E isso é de propósito porque se equiparem as motos com os mesmos pneus da MotoGP os tempos de volta ficariam muito próximos.
Estes pneus Dunlop da Moto2 resistem a prova inteira sem problemas. Quando os pilotos mencionam “problemas de pneus”, não se refere a consumo, mas à temperatura, calibragem ou mesmo algum erro no ajuste da suspensão que reflete nos pneus. Por isso a melhor volta da prova geralmente é no final da corrida, quando a moto está mais leve e os pneus ainda eficientes.
Tudo parecia que a prova seria definida entre Canet, Gardner e Roberts, mas quem veio escalando o pelotão foi o estreante da categoria, Raul Fernandez que numa manobra de técnica e sorte conseguiu passar Gardner e Roberts de uma vez e depois Canet para vencer sua primeira corrida da Moto2. Com Lowes de fora, quem assumiu a liderança do mundial foi Remy Gardner, com 56 pontos, seguido de Fernandez com 52 e Lowes com 50.
Pedro Acosta já está com destino traçado.
Moto3: Acosta dá as cartas
Já não dá pra chamar o espanhol Pedro Acosta (KTM) de revelação. Ele é um astro em plena ascensão. O que dizer de um piloto que estreia no mundial com duas vitórias e um segundo lugar nas três primeiras provas. Com apenas 17 anos Acosta lidera o mundial de Moto3, com 70 pontos, a maior vantagem das três categorias.
Quando alguém se questiona porque a Espanha tem tantos pilotos campeões no mundial de motos, a resposta é simples: torneios de base super competitivos, categorias infantis para pilotos a partir de quatro anos. O próprio Quartararo saiu da França e foi morar na Espanha para começar a correr de minimotos com apenas 4 anos! Hoje a Espanha é o centro mundial de formação de pilotos. Atualmente temos três brasileiros competindo no campeonato espanhol, os irmãos Tom e Maikon Kawakami e Eric Granado. É o campeonato nacional mais cobiçado do planeta.
A corrida como sempre foi a mais equilibrada do dia. Para ter uma ideia do equilíbrio, entre os oito primeiros colocados não tinha mais de um segundo! Na verdade este é o padrão desta categoria. Estranho é quando um piloto chega com mais de um segundo de vantagem sobre o segundo colocado.
Jaume Masia (KTM), vencedor da primeira etapa, ficou muito pra trás, mas ainda ocupa o segundo lugar na tabela do mundial, com 39 pontos, e o sul africano Darryn Binder (Honda) em terceiro com 36.
Não duvido nada que Acosta fará o mesmo caminho de pilotos como Valentino Rossi e Marc Márquez.