Essa foi a visão que tiveram do MM93 (fotos: MotoGP.com)
O GP da Argentina de Motovelocidade foi a felicidade do fim de semana
Para quem gosta de velocidade as corridas de moto transformam qualquer sonolento domingo num dia de pura emoção. Coincidência, ou não, a segunda etapa do Mundial de Motovelocidade caiu na mesma data e quase mesma hora da largada da segunda etapa do mundial de Fórmula 1. Mas quanta diferença...
Enquanto a F1 cria regulamentos e pneus perecíveis para aumentar artificialmente o número de ultrapassagens, na motovelocidade elas acontecem, entre os líderes, na razão de quase uma por volta! Qual emoção de ver um carro com pneus super aderentes ultrapassar outro que escorrega como se a pista estivesse molhada só para ele? Sem falar que há mais de um ano e meio é a mesma equipe que vence todos os GPs.
Na motovelocidade, seja o Mundial de MotoGP (transmitido pelo SporTV), seja o Mundial de Superbike (transmitido pela BandSport e ESPN+), não é preciso criar nenhuma regra, tudo se desenvolve de forma equilibrada e ninguém se atreve a apostar em um vencedor até a bandeira quadriculada.
Essa segunda etapa na vizinha Argentina, começou com uma corrida totalmente atípica na Moto3, que usam motores de 250cc, quatro tempos. Se na primeira etapa a corrida foi uma briga de foice de elevador com a luz apagada, com apenas UM segundo separando o vencedor do sétimo colocado, nessa segunda um piloto se destacou e conseguiu inacreditáveis 26 segundos de vantagem sobre o segundo colocado.
O malaio Khairul Idham Pawi, de 17 anos, 1,67m e 57 kg, fez uma corrida impressionante, raramente vista na categoria. Foi apenas sua segunda corrida em uma prova do mundial de motovelocidade e já conquistou o mundo com sua pilotagem agressiva e totalmente sem juízo. Quando já tinha 10 segundo de vantagem na liderança a equipe começou a pedir calma. Com 20 segundos o chefe de equipe já estava desesperado, sobrevivendo à base de calmante, mesmo assim o jovem que começou a correr apenas dois anos antes em provas de motonetas (na rua e em kartódromos), continuou cravando a melhor volta em uma pista que estava úmida em alguns pontos.
Segundo o locutor e comentarista da prova, essa capacidade veio da experiência em provas na Malásia, país tropical com alto índice de chuva. Que me perdoem esses especialistas, isso já foi dito dos pilotos ingleses, dos belgas, dos finlandeses, mas na verdade o que constrói essa qualidade é a sensibilidade do piloto e sua capacidade de entender a pista. Temos de esperar uma próxima corrida em piso molhado para saber se ele é bom só nessa condição. Lembro que no treino, com pista seca, ele classificou em quarto. O menino é um fenômeno mesmo, pode anotar esse nome...
Ah, falando em locutor, por favor, não entrem nessa onda de “primeira vitória de um malaio em 67 anos de campeonato”, porque os malaios não participam desse torneio desde a primeira temporada. O correto é “a primeira vitória de um malaio desde que estrearam na categoria!!!”, ou simplesmente “a primeira vitória de um malaio no mundial”, ponto final.
Sei que é difícil, mas anota o nome desse malaiozinho cheio de espinha: Dahrul Pawi
Moto2, o “nosso” piloto
Confesso que não agüento mais esse papo de fazer do Franco Morbidelli um piloto brasileiro. O piloto já percebeu que pode se beneficiar disso e tratou de entrar na onda, colocando metade do capacete com a bandeira brasileira e até está estudando a língua materna. Só que na pista ele mostrou que tem velocidade, mas falta maturidade. Por duas vezes caiu quando estava entre os três primeiros e tem tudo para vencer seu primeiro GP nesta temporada. Só não dá pra engolir que ele é “quase” brasileiro, porque eu também não me apresento por aí como “quase” italiano!
Na corrida foi aquele arranca rabo de sempre, com a pista naquela condição pior que existe: nem totalmente seca nem totalmente molhada. É muito melhor quando ela está completamente ensopada do que nesse estado meio seco-meio molhado. O Morbidelli foi vítima justamente dessa condição. Johan Zarco conseguiu uma importante vitória, depois de amargar um 12º lugar na primeira etapa.
Pára tudo!
MotoGP tem seu dia de F1 com essa papagaiada de troca de moto por causa dos pneus. Aliás, a Michelin está mais suja que pau de galinheiro. Pneus estourando, problema com a entrega do produto e agora essa presepada de reduzir o número de voltas e dividir em duas baterias porque não sabia se os pneus agüentariam até o fim. Vexame!
A corrida teve duas partes. Na primeira e melhor de todas Valentino Rossi vacilou na largada (a moto perdeu tração e não empinou viu, locutor!) e Jorge Lorenzo partiu que nem um foguete! Começou a perder terreno, foi sendo ultrapassado até que... POF! Caiu antes mesmo de trocar de moto. Não precisa se preocupar, porque no ano passado ele também zerou uma etapa e foi campeão do mundo. Se ele perder esse ano não será por causa dessa queda, mas por outro motivo.
Está para ser anunciada sua saída da Yamaha para ocupar uma vaga do cabeça de bagre Andrea Iannone na Ducati. Se confirmar mesmo pode ter certeza que o desempenho dele esse ano começará a pipocar. É natural que a Yamaha jogue suas cartas em Valentino Rossi por dois motivos: 1) tem mais dois anos de contrato; 2) está em segundo lugar bem à frente de Lorenzo. Na MotoGP não existe essa coisa de primeiro piloto como na F1, mas se tem uma coisa que deixa chefe de equipe muito irritado é anunciar que vai sair, isso acontece até em equipe de rolimã!
O pega entre Marc Marquez e Valentino Rossi na primeira bateria foi feroz, limpo e anunciava um pega pra capá dos bons até o fim, mas veio a troca de motos e babaus. A segunda Yamaha não estava à altura da primeira e Rossi foi perdendo terreno até ser alcançado por Maverick Viñales (Suzuki), Andrea Dovizioso (Ducati) e Andrea Iannone (Ducati). Maverick teve seu dia de Opala 2500 e escorregou no molhado. A hora que ele parar de cair será um páreo duro e tem tudo para conseguir sua primeira vitória em 2016.
Depois as Ducati vieram pra cima, passaram pela Yamaha de Rossi e o que tinha tudo para ser uma festa ducatista acabou na área de escape porque Iannone simplesmente perdeu a frente e mandou Divizioso pro espaço. Rossi agradeceu o enorme presente, mas quem nem percebeu que estava no pódio foi o sempre coadjuvante Dani Pedrosa que apareceu em terceiro.
As Ducati tem tudo para vencer em 2016 mesmo com pilotos não tão constantes. Aliás, só por isso é que Lorenzo aceitou a proposta de se mudar para lá. Parece que agora as motos italianas estão rápidas não apenas nas retas, mas na pista toda. Tem a parte dos 24 milhões de Euros também, que me convenceria a correr até de Kasinski, mas pode acreditar, esses caras nem precisam de mais grana, eles vivem de títulos. Já que a Ducati não conseguiu um piloto italiano vencedor e Lorenzo está numa fase excelente, vai ter de ser espanhol mesmo e viva as forças aliadas!
Prognósticos para 2016? É um pouco cedo, mas já vimos que Marc Marquez acertou muito bem a Honda e parece que está com a testosterona controlada. Conseguiu um começo de temporada muito acima dos rivais da Yamaha e pode controlar bem essa vantagem. Acredito que daqui para frente ele pode nadar de braçada.
A próxima etapa será nos EUA, no Texas, dia 8 de abril, circuito com uma reta de 1.200 metros e velocidade máxima de 344 km/h. Bom para as Ducati que voam na reta, mas espero que sem o desesperado Iannone fazer nenhuma lambança. Vamos aguardar!