É nóis nas pistas! Brinquedo de gente grande!
Chega ao Brasil a KTM 390 Duke, criada para jovens europeus!
No fundo foi reflexo da legislação. Em 2013 a comunidade européia alterou a regra para emissão da carteira de motociclista. E a categoria A2, para maiores de 18 anos, teve o limite de potência alterado de 35 para 48 cavalos. Coincidentemente a KTM pegou a sua 200 Duke e vitaminou para 390, chegando a 44 CV, portanto oferecendo praticamente o que tem de mais potente nessa faixa para os jovens europeus de 18 anos. É por isso que a linha CB 500 da Honda tem 48 CV na Europa enquanto no Brasil o motor tem 50,4 CV. Os europeus de 18 anos podem comprar a 500 com a habilitação A2 e depois jogam a potência lá pras alturas!
Ser jovem e europeu tem lá suas vantagens...
Pense numa moto lindinha e boa de curva!
Isso também explica a correria das fábricas em apresentar projetos na categoria entre 300 e 400cc de aspecto esportivo, como a Yamaha R3 e a Kawasaki Ninja 300. A Honda também tem no exterior uma CBR 300R, mas a montadora afirmou, extra-oficialmente, que não pretende trazer para o mercado brasileiro, por conta da alta do dólar. O maior atrativo da categoria 300/400 está no menor preço em relação às 500, mas será que essa relação custo-benefício compensa? É o que vou tentar descobrir depois de avaliar a KTM 390 Duke em um rápido – literalmente – teste no kartódromo Nova Odessa, em SP.
Logo de cara o estilo é arrasador. Supera qualquer imagem em fotos e vídeos. O logotipo KTM estampado em qualquer objeto remete imediatamente à competição. Isso faz o sangue ferver. Lembro de um adesivo que fizeram uns 18 anos atrás, quando venceram seis títulos mundiais de motocross das oito categorias homologadas. Trazia o texto em alemão “Sex aus acht”, um trocadilho que queria dizer algo como “sexo de oito”, mas a sonoridade é “seis em oito” (trocadilho em alemão é esquisito mesmo). Esse adesivo ficava no painel do meu carro e uma vez dei carona para uma senhora alemã... pense num constrangimento!
Painel completo, mas esse conta-giros é difícil de ler!
Tudo que leva o logotipo da marca austríaca tem esporte escorrendo por toda lado, por isso nem espere conforto e frescurites como banco macio, rodar suave, aquecedor de manopla e outras beemevezices. Aqui a conversa é bruta mesmo. Logo ao me posicionar entendi o motivo de ser focada no público jovem: eles tem mais carne na bunda! O banco é duro, mas realmente duro. Tipo um mouse pad (ainda existe?). Se nos 20 minutos de pista já desancou um coroa de 55 anos, não consigo imaginar o que faria na minha coluna em 300 km de estrada. Nem quero saber.
Mas bastou acionar o botãozinho da partida elétrica para o mundo voltar a sorrir. Só que antes de contar como anda, vou mostrar como é!
Guarde na sala
Se você comprar essa KTM por favor não a deixe numa garagem fria e solitária. Leve pra sala de casa, mesmo que o elevador seja apertado! Os detalhes de acabamento são de uma precisão suíça. A balança do quadro elástico é uma obra de arte da engenharia e o quadro de treliça tubular – típico das Ducati – a deixa mais com cara de guerreira.
Quer gastar as saboneteiras? Pergunte-me como...
Bengalas invertidas, banco em dois níveis, suporte de placa afastado (já no jeito para ser arrancado), guidão largo pintado de alumínio, freio dianteiro radial com um baita disco de 300 mm (bolachão mesmo), são alguns dos itens que já deixam claro que se quiser passear vá procurar outra moto. Só o farol é esquisito mesmo, talvez o desenho que lembra um Louva-Deus cabeçudo, mas algo na parte dianteira dessa moto não ornou com o resto.
Chave acionada e o painel desperta, assim como aquele bzzzzzzz da injeção eletrônica. E a moto emite um som broxante! Sim, o enorme silenciador com catalisador abafa demais o som do motor. A saída do escape parece aqueles bilauzinhos de anjinhos barrocos das pinturas renascentistas. Por isso a Akrapovic já disponibiliza como acessório uma ponteira no melhor estilo “negão do Sudão” que certamente um som bem mais poderoso. Aos ecochatos de plantão, o catalisador fica antes da ponteira!
Essa balança traseira é uma obra de arte, mas o pneu não é esse da foto!
Komo treme!
Não existe mágica na engenharia! Existe o velho conceito do “compromisso”. Que nada tem a ver com a sua aliança na mão esquerda, mas com a tentativa de fazer um produto ser esportivo ao máximo sem perder em dirigibilidade e conforto. Uma tarefa árdua!
Por exemplo, num motor de um cilindro com deslocamento de 375 cm3 não tem mágica que faça reduzir as vibrações. Quem quiser motor “suave” que gaste mais e compre uma quatro cilindros em linha. Pode-se tentar alguns paliativos como enfiar rolamento em tudo que se move e atrita. Aumentar o balanceiro, mas sem roubar rotação do motor. É difícil, por isso alguns malamados dizem que a sigla KTM quer dizer Karaka, Treme Muito! Certamente essas pessoas nunca andaram de Norton 500...
O motor sobe de giro de forma bruta mesmo, apesar de a faixa de potência máxima estar a apenas a 9.500 RPM, com o torque nos 7.250 RPM, o que dá uma respeitável e elástica faixa útil de 2.250 RPM, que será muito útil no uso urbano. Primeira engatada e vamos a bailar no kartódromo.
Na Europa ela sai equipada com pneus Metzeler Sportec M5, mas aqui no Brasil optou-se pelo Pirelli Diablo Rosso II, um pouco menos esportivo, mas suficiente para se divertir muito. Se fosse minha eu usaria o Diablo Rosso Corsa para ter a banda slick na parte que interessa, ali pertinho do limite!
Parece alumínio, mas é plástico para manter o peso em 139 kg a seco.
O que importa é saber que ela deita... e muito. Quase troquei o macacão por um pijama, de tanto que ela deita. Usei os dois estilos de pilotar: o tradicional, de joelho no asfalto e o supermotard com o pé lá na frente do eixo dianteiro. Confesso que me sinto mais a vontade na módulo knee slider, embora tenho inclinado mais a moto na postura supermotard, a ponto de raspar as pedaleiras e sentir a traseira desgarrar em uma curva com inclinação negativa e assustativa. A calibragem era a original do manual, por isso ela desgarrava um pouco, mas se fosse pra pilotar a sério mesmo teria recalibrado com umas 6 libras a menos.
Com um curso de acelerador um pouco longo, o motor sobe de giro com uma velocidade impressionante. Felizmente o painel tem uma luz (shift-light) que indica o limite de 9.500 RPM, porque o conta-giros digital por barra é impossível de ler, mesmo com óculos bi-focal! Os números são muito pequenos. Não tem como alterar a rotação-limite da shift-light e aconselho não ficar brincando de acender a luzinha porque isso gasta motor e gasolina.
O preço pra ter o brinquedo é R$ 21.990.
Como a faixa de torque já é sensível a partir de 2.500 RPM, abaixo disso o motor simplesmente não existe. Em compensação, quando passa de 6.500 RPM é bom se segurar firme, porque o torque vem com tudo até o limite de 3,5 Kgf.m aos 7.250 RPM. Como a pista era pequena, só consegui medir a rotação em sexta e última marcha a 50 km/h, quando revelou 2.500 RPM. Isso pode ajudar no consumo que pelo computador de bordo ficou em 14,5 km/litro pilotando no estilo mãe-na-zona sem dó do câmbio.
Também pude constatar que o guidão não esterça muito, por causa das aletas de arrefecimento do radiador. Por isso o uso urbano deve ser criterioso e bem pensado. Por outro lado não tive a chance de pilotar na estrada. Fazendo uma projeção, em sexta marcha a 130 km/h ela deve ficar por volta de 7.000 RPM. A título de comparação, e a mesma rotação que a Honda CB 300 mantém a 120 km/h mas em quinta marcha. Já a velocidade máxima projetada fica na casa de 160 km/h.
Vamos esperar a Dafra começar a entregar as motos para avaliações mais completas para ter mais detalhes de desempenho, consumo e retomada de velocidade. Pelo dado do fabricante, a aceleração de 0 a 100 km/h é feita em 6,2 segundos.
Durante o teste na pista fiz simulações também com e sem o freio ABS. Sim, pode-se desligar o ABS para uma pilotagem mais Racing. Não aconselho! O ABS da Bosch foi muito bem calibrado para essa moto e ele só entra realmente no limite do desespero. Só achei que o freio dianteiro poderia ter regulagem na alavanca.
Sorte minha que não sou adolescente nem europeu, senão passaria noites em claro pensando nessa moto. Por aqui a previsão é bem modesta: 650 unidades por ano entre as Duke 200 e 390. Vale ressaltar que o quadro é o mesmo para as duas, mas o motor não é um 200cc aumentado, mas sim uma unidade totalmente diferente. Para alcançar essa meta, a Dafra está com cinco concessionárias já instaladas e pretende chegar ao final do ano com mais seis. Estas concessionárias deverão ter motos para test-rides com os clientes.
A linha Duke 200 e 390 é produzida pela Bajaj, na Índia, mas aqui em Manaus recebe os itens de nacionalização, como manoplas, kit traseiro de plástico, pneus etc.
Por fim, o já mundialmente famoso IPM – Índice de Pegação de Mulé. Se o dono da moto freqüentar ambientes teens (que vai até 25 anos), o IPM é bem alto, por conta do desenho realmente impactante. Diria que fica entre 8,0 e 8,25. Mas se for adulto, ou um coroa atrasado, aí o IPM cai muito porque mulheres acima de 30 anos gostam de conforto e espaço para levar o secador de cabelo.
Ah, sim, o preço, né? R$ 21.990, ou seja, você dá uma nota de R$ 22.000 e recebe dérreau de troco! Já sei o que vc está pensando: "puuutz, por 22 paus eu compro uma CB 500 ou uma XJ6 usada, dããã...". Sim, pode comprar também uma Honda CBR 1100XX Blackbird 1998 e pagar de bacana no pancadão. Mas depois aguenta as despesas!
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