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Depois daquele tombo

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Ui, isso dói!

O que fazer após a queda... com você e a moto! 

Recentemente estava ministrando o curso Abtrans quando precisei manobrar a moto de um aluno. Rodei menos de 20 metros e percebi que algo estava muito esquisito. Pedi autorização para fazer o percurso da aula e vi que a moto estava toda torta. Cheguei no dono e, discretamente, perguntei se tinha sofrido alguma queda. 

- Sim, mas foi bem devagar, não quebrou nada! 

De fato, não tinha nenhuma peça quebrada, mas o guidão estava torto, assim como o pedal de freio, manete de freio e roda dianteira empenada. De fato não quebrou nada, só que entortou tudo! 

Como não foi a primeira vez que passei por isso, decidi criar este alerta: nenhuma moto passa incólume por uma queda, alguma coisa vai entortar. Pior: o dono da moto se acostuma com a assimetria e nem se dá mais conta do quanto ela, a coitada, está empenada até que alguém assume o guidão e se espanta! 

Antes de mais nada saiba que existem três tipos de motociclistas: o que já caiu, o que vai cair e o mentiroso! Cair faz parte do aprendizado e veículos de duas rodas tandem só não caem se estiverem em movimento, ou apoiados em algum lugar. Pouca gente se liga nisso, mas a palavra "moto" em latim significa "movimento", ou seja, uma moto só existe se estiver rodando, porque parada ela cai! 

Além disso no Youtube está cheio de vi filmes feitos pelos próprios motociclistas, que levaram um rola federal, daqueles de levantar chamando Jesus de Genésio e depois o cara sube na moto e volta pra casa normalmente. Não faça isso, muita calma antes de levantar, sacudir a poeira e... desmaiar! o processo de centrifugação e desaceleração causado por uma queda ou choque podem provocar estragos na parte de dentro da pessoa sem que ele perceba. Aí o cabra (ou cabrita) sai pilotando a moto e tem um desmaio sem saber porquê. 

Acidentes com veículos provocam três ondas de choque: a primeira é do veículo contra alguma coisa; a segunda é do motorista/motociclista contra alguma coisa e a terceira é dos órgãos internos contra tudo que está lá dentro do corpo! Essa terceira onda de choque pode causar ruptura de órgãos que só apresentam sintomas depois de algum tempo! 

Depois de uma queda, moto e piloto precisam ser avaliados com critério. Se um dos dois não estiverem bem, chame o guincho! Vou elencar alguns procedimentos que devem ser checados após um estabaco! 

1) Comece pelo piloto. Veja se marcou o capacete, se está sentindo tontura ou enxergando uns pontinhos pretos se mexendo que nem poeira cósmica. Esses pontinhos podem significar desde queda de pressão arterial até danos mais graves no cérebro. Qualquer interferência no campo visual depois de bater a cabeça é sinal de algo grave. A pior de todas é a concussão cerebral, causada pelo choque do cérebro contra o crânio, que pode evoluir e provocar danos sérios. Por mais que o piloto manifeste que está bem para continuar, espere o máximo antes de voltar a pilotar. 

Feridas expostas não devem ser tratadas como simples arranhões. Dependendo do material usado na roupa do motociclista, o calor gerado pelo atrito com o asfalto pode fundir esse material que penetra na pele como uma cola. Se não for rápida e adequadamente limpa pode levar até a graves infecções. 

2) Observe bem o comportamento do motociclista (e garupa). Se parecer meio bêbados, falando frases desconexas nem espere mais: chame o resgate! 

Na moto! 

3) Líquidos! Procure observar se houve vazamento de algum líquido. Uma simples trinca no bloco ou no sistema de arrefecimento pode fundir o motor se a moto voltar a rodar. 

4) Coloque a moto em pé, apóie no cavalete central ou lateral e faça um "relatório de danos". Verifique se atingiu algum componente vital (como pedal de câmbio) ou obrigatório, como espelho retrovisor, setas, farol etc. Só falta cair, se ralar todo e depois ainda levar uma multa! 

5) Com a moto ainda parada, suba e veja se o guidão está alinhado. É quase impossível uma moto cair e não entortar o guidão. Em menos de um mês minha moto foi derrubada duas vezes por motoristas manobrando. Tive de trocar dois guidões!!! Se começar a rodar com o guidão torto, depois de um tempo nem vai perceber mais porque nosso cérebro se encarrega de "corrigir", mas ele continua torto (o guidão)! 

6) Repare se bateu a roda ou o disco de freio. Um disco empenado por causar um baita acidente. Roda desalinhada também. 

7) É muito difícil o próprio motociclista perceber se o quadro ficou desalinhado. Salvo aquela moto que a gente vê toda torta, como um caminhão com o jumelo corrido, é preciso chamar um especialista. Se perceber que a moto "puxa" para algum lado - sempre o mesmo - em ruas totalmente planas, aí pode levar pro doutor alinhador. 

8) Tanque! Dependendo do tamanho do rola o tanque pode ficar amassado ou tão lixado que fura. Se sentir cheiro de gasolina e um geladinho escorrendo pelas pernas apague o cigarro e chame o guincho! 

9) Não tente desentortar! Peças de ferro ou alumínio não podem ser desentortadas a frio. Se a alavanca de câmbio ou pedal de freio ficou parecendo um "L" invertido, não tente voltar na porrada nem na força bruta porque a chance de quebrar é muito grande. Veja se estão "usáveis" e se consegue frear e trocar de marcha sem contorcionismo. Mas é só pra chegar em casa ou na oficina, não vai passar 15 dias andando com essa coisa toda torta. 

10) Use sliders, mas com critério. Hoje os temíveis e horrorosos mata-cachorros estão quase extintos (sorte dos cachorros). É mais comum usar sliders, peças cilíndricas de alumínio e plástico que protegem algumas partes vitais da moto em caso de queda. Só seja criterioso na hora de instalar porque em algumas motos a fixação exige local específico. Não adianta instalar o trem pra proteger a moto e depois quebrar o quadro em dois porque o slider fez uma alavanca e agravou a pancada! 

Como expliquei lá em cima, essas medidas são só para quedas de pequena monta. Tombos violentos, daqueles que voa pedaço de moto até no terceiro andar do prédio, ou batida de carro e moto, ou mesmo contra poste, muro, sarjeta exige que a moto - e motociclista - sejam removidos adequadamente para exames mais sérios. Eu mesmo já fui vítima de uma enorme salamice. Um amigo caiu com a moto esportiva e quebrou o clavícula. A moto nem detonou muito... aparentemente! Fui ser gentil, montei na moto só para encostá-la em um lugar seguro. Mas na hora de fazer a curva uma peça se soltou, entrou entre a coluna de direção e a carenagem e eu tomei um baita tombo! Pelo menos equilibrou: a moto ficou ralada dos dois lados!  

 

 

 


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