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Prostatite final – Amor enfim

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Foram quase quatro anos de abstinência e devo confessar: não foi tão ruim assim. A sociedade moderna supervaloriza o sexo como se fosse algo tão necessário à vida humana como respirar e se alimentar. E muitas vezes aceitam relacionamentos tóxicos, abusivos e irrelevantes pelos 30 minutos (ou menos) de prazer. Em nome desta “migalha” aceitam 23 horas e meia de abuso. Por quê?

Porque estes 30 minutos são tão bons!!!

Lembro cristalinamente de cada emoção que senti ao fazer amor pela primeira vez depois da cirurgia. Não foi um caminho fácil para chegar ao sexo enfim. Como já descrevi nos capítulos anteriores, eu meio que aceitei minha condição e me adaptei a isso. Na verdade esta era uma desculpa para não enlouquecer, porque eu vivia numa depressão silenciosa, buscando nas atividades de risco a adrenalina necessária para compensar a falta de sexo.

Nesta missão o skate e a escalada serviram perfeitamente. Até o dia que Maria sinalizou que voltaria para casa. Inicialmente apenas como colega, tipo república, mas na minha cabeça comecei um movimento para reconquistá-la. E fui buscar algum tipo de tratamento que devolvesse a função erétil, já que fiquei muito tempo sem assistência de especialistas.

Voltei às consultas em urologistas, cardiologistas e ouvia sempre a mesma recomendação: um remédio diário e outro uma hora antes do sexo. Só isso! Nenhuma referência à reposição hormonal, fisioterapia, nada. Só remédio. E era óbvio que só o remédio não estava fazendo efeito.

Até que Deus olhou lá de cima para esta humilde figura e resolveu dar uma mãozinha.

Fui visitar minha mãezinha de 91 anos, que lê jornal todo dia e ela separou um artigo que falava sobre fisioterapia de assoalho pélvico para homens pós prostatectomia radical. No artigo li vários depoimentos de homens de diferentes idades contando que recuperaram a atividade sexual com ajuda da fisioterapia, aparelhos e masturbação. Levei o artigo pra casa e isso ficou martelando na minha cabeça por alguns dias. Até que um milagre aconteceu.

Minha atividade de professor de pilotagem de moto coloca muita gente no meu caminho. Pessoas que se tornaram verdadeiros amigos e amigas para toda a vida. Costumo dizer que não tenho ex-alunos, tenho amizades.

Em um destes cursos recebi o pedido de informação de uma mulher. Quando ela me mandou o email era fisioterapia@ alguma coisa. No dia da aula perguntei qual a especialidade dela e a resposta foi um choque:

– Sou especialista em assoalho pélvico. Aliás sou professora desta disciplina na universidade São Judas.

Quase tive um surto! Só consegui responder:

– Foi Deus que te mandou aqui hoje!

No dia do curso não toquei no assunto. Durante a semana liguei pra ela e comecei a falar de um “amigo” que tinha feito a cirurgia de prostatectomia radical e estava enfrentando problemas de incontinência urinária e ereção. Na hora ela respondeu:

– Passa meu contato pro seu amigo que vou tentar incluir o nome dela na nossa turma de estudos.

E eu revelei:
– Professora, o amigo sou eu mesmo!

Fez-se silêncio por alguns segundos e depois ela pediu mais detalhes sobre a cirurgia, pós, tratamentos etc. Ao final da conversa ela só disse:

– Passa na universidade e procura a professora Mariela.

E dessa conversa começou um novo capítulo na minha vida.

Poucos urologistas falam sobre fisioterapia. Quando mencionam é só para conter os escapes de urina. Nunca ouvi de nenhum urologista nada referente a assoalho pélvico, bombinha de sucção, masturbação, exercícios, nada. Nenhuma palavra. Só remédio assim, assado, cozido e frito.

Logo após a cirurgia minha maior preocupação sempre foi a incontinência urinária, porque ninguém merece fazer xixi nas calças o tempo todo. Na época pesquisei na internet e achei vários exercícios para assoalho pélvico, mas todos, 100% indicados para as mulheres parturientes ou idosas.

Escolhi alguns deles e comecei a fazer em casa. Menos de 15 dias depois já tinha resolvido a incontinência urinária. De vez em quando escapava um xixi aqui e ali, se fizesse algum movimento de contração do abdome. Ou quando tossia, espirrava ou relaxava demais.

Lembro um dia em um jantar com amigos que me mexi na cadeira e saiu uma grande quantidade de urina. Percebi na hora que tinha molhado a calça e não fazia a menor ideia de como sair da situação. Perdi totalmente a concentração nas conversas e só pensava em como me levantar sem ninguém perceber que estava mijado!

Até que eles se distraíram com alguma coisa na outra mesa, levantei e corri pro banheiro tentar resolver na base da toalha de papel. Mas pense num constrangimento. Depois desta noite tive várias crises de insegurança e evitava sair de casa.

Um anjo no meu caminho

Combinei a primeira consulta com a equipe de fisioterapeutas da Universidade São Judas, na unidade da Mooca, em maio de 2023. A professora que me atendeu, Mariela Reis, foi extremamente didática. Fez vários exames acompanhada de alguns alunos do último semestre de fisioterapia.

Os testes mostraram que eu estava com a musculatura do assoalho pélvico flácida e a primeira pergunta foi:

– Por que você demorou tanto para procurar a fisioterapia?

E a resposta não poderia ser outra:

– Porque não fazia a menor ideia que existia fisioterapia para este tratamento pós cirúrgico.

Nem eu, nem nenhum outro homem ou urologista com quem conversei.

No teste a professora pediu para eu tirar a roupa, deitar em uma maca e relaxar. Vestiu um par de luvas de látex e já pensei no pior! Na verdade ela só apertou a região do períneo e pediu para contrair e relaxar, depois contrair e segurar. Cronometrou e deu o veredicto:

– Podemos melhorar muito e rápido porque a musculatura está preservada, só precisa fortalecer.

Na verdade o que me salvou foi o passado esportivo. Primeiro como piloto de moto por 22 anos, depois como escalador por mais 10 anos e finalmente como skatista por seis anos. Principalmente como escalador, porque a maior parte da força vem do brioco mesmo. A gente trava o furico e faz força nos braços e pernas.

Além da fisioterapia eu teria de comprar uma bombinha de sucção, sim aquela mesma que anuncia como “enlarge your pennis”, mas que, segundo a vendedora da sex shop, não enlarge nem um milímetro. Engraçado que ela olhou pra minha cara e falou: “é pra próstata?”. Diante da minha surpresa ela explicou que a maioria das vendas são destinadas a pacientes pós operados da próstata. E eu achando que a homarada queria aumentar o bilau.

A função da bombinha é ativar os vasos sanguíneos da pingola, que como todo músculo precisa constante exercício para não ficar flácido. Por quase quatro anos eu mantive meu pênis em repouso absoluto. Um erro que poderia ter custado muito caro. Na verdade a fisioterapia deve ser iniciada cerca de três meses após a remoção das sondas e drenos, quando tudo já estiver cicatrizado.

Além da bombinha outro exercício necessário é a masturbação. Pois é, virei um velho punheteiro! E faz parte da fisioterapia, algo que foi muito bem explicado pela professora. Que também ensinou a usar a bombinha aumentadora de pinto. Pense numa conversa constrangedora.

As sessões de fisioterapia eram de 45 minutos duas vezes por semana. Alguns exercícios exigiam força e outros apenas movimentos. Dediquei-me 100% e nos outros dias da semana continuava os exercícios em casa. Além disso tenho de usar um aparelho de choque no pinto para ativar a circulação sanguínea. Pobre coitado foi eletrocutado duas vezes por semana.

Aproveitei para me inscrever em uma academia e comecei a pegar pesado nos exercícios específicos para assoalho pélvico. No final dos treinos eu ia até a sala de “funcional” e ficava junto com várias mulheres exercitando minhas contrações pélvicas. Só tinha eu de homem na sala!

Os resultados começaram a aparecer muito antes do que eu esperava. De repente em uma noite acordei de madrugada com uma ereção involuntária! Era a primeira vez em quatro anos que isso acontecia. Tive vontade de sair pelado pela rua gritando “ESTOU DE PAU DURO, OLHA ISSO”.

Mas eu e Maria ainda estávamos dormindo em quartos separados, com um certo distanciamento. Não por minha vontade, mas a pedido dela que ainda se recuperava do trauma da nossa separação.

Nossa vida sexual era bem ativa para um casal com 20 anos de exclusividade. Na verdade eu morria de tesão por ela e mal podia encostar que começava uma intumescência instantânea. Só que eu achava pouco, até ler um artigo de uma sexóloga que afirmava que nos casamentos longevos era normal e esperado uma relação por semana. Nossa média era maior que isso! Mas eu achava pouco!

Nosso relacionamento continuava amigável, mas sem romance. Até que em uma noite, meio do nada, ela apareceu dizendo que estava na hora de eu tomar meu remédio. Como eu tomava vitaminas para tratar um maldito zumbido simplesmente jogou o comprimido pra dentro e percebei que era um material e formato diferente. Cuspi e vi que era o Viagra. Fui pego totalmente de surpresa e argumentei que não era o momento ainda.

E então aconteceu. Em uma outra noite que eu tinha acabado de fazer fisioterapia com a bombinha, estava quase dormindo, ela entrou no quarto, deitou do meu lado quase nua e senti uma explosão de tesão que havia anos que não sentia mais. Foi tão intenso que a ereção veio instantaneamente, sem uso do remédio e finalmente fizemos amor.

Nem sei como descrever com palavras como foi o primeiro orgasmo compartilhado depois de quase quatro anos. A comparação mais fiel que posso usar é “renascimento”. Deu vontade de chorar, de rir, de sair gritando, qualquer coisa. Foi muito intenso. E não parou aí. Repetimos outras vezes, até mais de uma vez por noite.

Como no depoimento que li na reportagem do jornal, na qual um senhor de 71 anos afirmava ter ficado ainda melhor do que antes depois da combinação de remédios e fisioterapia, percebi que, inacreditavelmente minha vida sexual tinha voltado ao normal.

Depois de quatro anos de uma doença física e mental, depois de tanto tempo perdido, depois de tanto sofrimento de ambas as partes, pudemos desfrutar de uma vida normal de um casal de 65 e 53 anos.

Por isso queria encerrar essa história deixando alguns importantes recados para quem passou pelo câncer de próstata, para as esposas de pacientes de prostatectomia, para namorados, héteros ou homossexuais, para pais e filhos, amigos e parentes: existe vida após a cirurgia, mas o tratamento deve ser do CASAL, quando for o caso, e exige um acompanhamento psicoterapêutico. A fisioterapia é OBRIGATÓRIA para recuperar a atividade sexual e, por favor, não queria resolver isso sozinho.

Para Maria, que passou por um período de dor, solidão e sofrimento, dedico esta mensagem.

Ah se eu tivesse o divino talento

De fazer voltar o tempo

Tomaria mais sorvete

Que é felicidade em casquinha

Amaria mais você

Que amei de forma mesquinha

Ah se tivesse o talento divino

De voltar o tempo

Causaria menos sofrimento

Porque sofrer é perda de tempo!

FIM (ou um novo começo)

 

 

 

 

 


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