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MotoGP começa com muito equilíbrio

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Jorge Martin brilhou no GP de Doha. (Fotos: MotoGP.com)

Caro leitor, eu fiquei na dúvida se escreveria sobre a Motovelocidade este ano. Sem participar das transmissões ao vivo eu teria de assistir todas as provas da programação, algo que nunca foi meu passatempo favorito, ainda mais quando se tem um sol brilhando, típico do outono, com tantas opções de lazer e divertimento. Mas como continuarei assinando uma coluna no Portal do Carsughi, decidi que faria os comentários, só que mais frios para publicar na segunda-feira depois de assistir os VTs. Então acompanhe as duas primeiras etapas e anote esse nome: Pedro Acosta, o novo gênio da motovelocidade.

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Maverick turbo: guardou pneus pro ataque final.

GP do Qatar

Mundial de Motovelocidade começa com emoção

A motovelocidade deu um show de competitividade logo na primeira etapa de 2021. Com muita inteligência o espanhol Maverick Viñales administrou os pneus e deu a primeira vitória à Yamaha oficial. Como sempre foi uma corrida eletrizante que mantém suspense até poucos metros da bandeirada e teve de tudo: ótima estreia da dupla Pecco Bagnaia e Jack Miller na Ducati oficial, decepção da equipa Yamaha-Petronas; desempenho sensacional do campeão Joan Mir e o veterano Johan Zarco mostrando seu lado mais competitivo.

A corrida, bem a corrida pode ser vista em detalhes nas repetições pelos canais ESPN/SporTV, ou mesmo pelo canal oficial da Dorna o MotoGP.com. Por isso vou ficar mais na análise do que pudemos ver neste domingo e tentar projetar o que está por vir.

Em 2020 o australiano Jack Miller disse que para os pilotos da Ducati a posição de largada era o menos importante. Contando com um sistema eletrônico de largada muito mais eficiente do que as demais equipes, Miller explicou que pode largar em qualquer posição até a segunda fila que consegue chegar na primeira curva em primeiro.

Pura verdade. No Qatar só não conseguiu chegar em primeiro porque na frente dele estava Francesco Bagnaia com outra Ducati oficial, autor da pole-position. Aliás foi a primeira pole de Bagnaia na categoria, mas não na carreira, como foi dito na transmissão.

Que a Ducati é a moto mais veloz da categoria todo mundo sabe, mas vale a pena detalhar mais como ela conseguiu essa supremacia. Primeiro pela arquitetura do motor com quatro cilindros em V e comando de válvulas desmodrômico, que dispensa molas. Mas o grande salto foi na aerodinâmica.

Por décadas os engenheiros não deram muita importância à aerodinâmica. Porque nas motos tem um componente que atrapalha demais que é o piloto se mexendo pra todo lado. A primeira marca a pensar nisso foi a Moto Guzzi, em 1950, que construiu o primeiro túnel de vento da indústria, porque seus fundadores eram aeronautas. Assim nasceu a carenagem integral que mudou pouco nestes quase 70 anos.

Mas desde a chegada do ano 2000, com motores quatro tempos de 1.000 e 900cc, as motos da MotoGP ganharam mais velocidade em reta e começaram os estudos mais profundos, principalmente para manter a frente fixada no chão acima de 350 km/h. Lembre que esta é a velocidade que um Airbus levanta voo.

Surgiram as pequenas asas dianteiras, discretas, mas eficientes e a velocidade nas retas aumentou ainda mais até atingir os 363 km/h no Qatar sem correr o risco de o pneu dianteiro perder aderência. Essa estudo aerodinâmico deixou as equipes mais confiantes para incrementar ainda mais a potência.

Outro fator determinante para a evolução das motos nesta etapa foi o trabalho mais antecipado dos fornecedores de pneus. Em 2020 a temporada foi atrasada tanto que o “circo” chegou na Europa já no outono (com temperaturas mais baixas), o que jogou fora todo trabalho antecipado para escolha de pneus. Virou uma loteria e isso – e apenas isso – foi que levou algumas equipes a viverem altos e baixos tão malucos. Um piloto vencia uma etapa e na seguinte chegava em 18º. Não é o padrão da MotoGP. Em 2021 não vamos ver essas diferenças tão grande de desempenhos de uma mesma equipe.

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Repare no cuidadoso trabalho aerodinâmico das Ducati, na moto do Pecco Bagnaia.

A corrida viu a largada fulminante das duas Ducati oficiais e a dificuldade de as Yamaha em acompanhar nas primeiras voltas. Bagnaia e Miller despacharam o resto e logo tiveram a companhia do bravo Zarco. Parecia que a Ducati faria 100% do pódio, mas esqueceram que potência não é nada sem controle de tração. No pelotão da frente Fabio Quartararo (Yamaha) e Viñales estavam num bom ritmo, economizando borracha.

Em 2020 as Yamaha oficiais perdiam muita velocidade em reta. Parece que foi resolvido, porque ficaram apenas 4 km/h abaixo das Ducati na corrida. Com um motor mais forte (com arquitetura de quatro cilindros em linha), Viñales decidiu esperar a hora de atacar e assumiu a ponta na metade da prova para chegar um segundo à frente dos demais.

Nas duas últimas voltas Joan Mir chegou nas Ducati e mostrou muita frieza para passar os dois, visivelmente com pneus em dia, graças ao desempenho mais suave da Suzuki (também com motor de quatro cilindros em linha). Poderia ter terminado em segundo não fosse um erro na última curva da última volta! Ele ultrapassou Zarco na curva 15, penúltima. Quando chegou na 16 fechou a trajetória para não ser ultrapassado, mas isso fez perder rotação na saída da curva e foi engolido pelas Ducati de Zarco e Bagnaia. Mesmo assim Mir colocou as cartas na mesa e mostrou que não foi campeão por acidente.

Decepção foi o desempenho de Franco Morbidelli (Yamaha/Petronas) que teve problemas de potência e ficou muito pra trás. Também decepcionaram as Honda, com Pol Espargaro em 8º e Stefan Bradl em 11º. Ótima estreia de Enea Bastianini (Ducati) terminando em 10º. Em 2021 parece que as coisas voltarão ao normal na categoria rainha e os protagonistas deverão ser os pilotos da Ducati. Assim que acostumarem com o consumo de pneus.

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Ele, de novo: Sam Lowes continua motivado na Moto2.

Moto2: deu a lógica

A bem da verdade, em 2020 não foi Enea Bastianini que venceu o mundial de Moto2. Mas foi Sam Lowes que perdeu. Ele tinha uma enorme vantagem e poderia administrar até a última etapa. Mas a três provas do fim sofreu uma queda que custou caro. Mas ele sempre foi o piloto mais bem adaptado e experiente da categoria. Além disso, a estrutura da Marc VDS é a melhor de todas. Não foi surpresa nenhuma a vitória do britânico, colocando 2.2 segundos sobre Remy Gardner, agora na equipe de fábrica KTM.

O destaque fica para Raul Fernandez, recém promovido da Moto3 conseguindo um ótimo quinto lugar e para o australiano Remy Gardner, que teve uma temporada difícil em 2020 por conta de uma estrutura enxuta, mas que agora vai ter toda KTM trabalhando pra ele. Fabio Di Giannantonio deu um pódio para a equipe Gresini, para felicidade da equipe que perdeu o manager e dono Fausto Gresini, semanas antes da prova, vítima de Covid-19. Para completar, Joe Roberts fez um bom treino se classificando em terceiro na estreia na equipe Italtrans, mas na corrida ficou em sexto.

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Jaume Masia levou a primeira, mas quem vai dar trabalho é o de trás: Acosta!

Moto3: o pau de sempre.

Pode mudar o nome, motor, chassi, pneu, pilotos, pista, pode mudar tudo, mas a Moto3 continua sendo a categoria mais equilibrada da Motovelocidade. O segredo é um regulamento que limita a preparação e jovens pilotos com testosterona saindo pelos ouvidos.

A maior das surpresas – ótima – foi a estreia do espanhol Pedro Acosta (KTM) recém chegado da Rookies Cup, categoria para novatos. O espanholito surpreendeu com a segunda posição na estreia e pode anotar esse nome, porque pelo que andou vai dar muito trabalho aos “veteranos”.

Teve o cardápio completo: quedas coletivas, vários toques entre os pilotos, ultrapassagens viscerais e a chegada decidida na bandeirada. O vencedor foi Jaume Masia (KTM) com enormes 0,042s de vantagem sobre Acosta, que chegou a liderar a prova. Também destaque para o Argentino Gabriel Rodrigo (Gresini), que conseguiu o quinto lugar na raça. Darryn Binder (Honda) em terceiro e Sergio Garcia (GasGas) em quarto fecharam os cinco primeiros colocados.

Pode se preparar para uma temporada de acabar com as unhas das mãos!  

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Vai pro Instagram: El Diablo mostrou muita inteligência na segunda etapa.

GP de Doha

Qua qua Quartararo riu por último

Um dos mais sensacionais GPs dos últimos anos viu a vitória de Fabio Quartararo

Ele foi duramente criticado na temporada 2020 depois de vencer três provas, mas intercalar desempenhos medíocres, muitos erros e quebras. Mas em 2021 o francês Fabio Quartararo assumiu o guidão da Yamaha oficial que era de Valentino Rossi e na segunda prova do campeonato já subiu no degrau mais alto do pódio.

A prova começou com domínio total da Ducati, embalada pela surpreendente pole-position do espanhol Jorge Martin, em sua segunda prova na MotoGP. Equipadas com um sistema de largada que dá enorme vantagem, as Ducati deram um salto na luz verde e Martin sumiu na frente dos demais. Mas a largada mais impressionante foi do português Miguel Oliveira (KTM) que saiu do 12º lugar para a segunda posição! Depois não conseguiu manter o ritmo.

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Miguel Oliveira (88) largou como um foguete!

O campeão Joan Mir (Suzuki) aconseguiu acompanhar o ritmo das Ducati até metade da prova, mas aos poucos Johan Zarco (Ducati), Jack Miller (Ducati) Fabio Quartararo e Francesco Bagnaia se juntaram, formando um bloco compacto.

A exemplo do que aconteceu na primeira etapa, quando Maverick Viñales (Yamaha) atacou no final e venceu foi a vez de Quartararo começar um paciente e preciso ataque aos líderes. Foi praticamente um exercício de xadrez porque Quartararo passava no miolo, mas era superado no retão de 1.000 metros. Até que ele conseguiu superar Jorge Martin nas primeiras curvas e abrir distância para completar a volta na liderança.

Como Johan Zarco também encostou em Martin os dois perderam tempo e Quartararo conseguiu abrir uma distância segura para cruzar a bandeirada a menos de um segundo de Zarco, que conseguiu passar Martin na última volta.

Aos 21 anos de idade Quartararo mostrou maturidade suficiente para poupar os pneus para as últimas voltas e deu a Yamaha a segunda vitória consecutiva na temporada. Com o segundo lugar – de novo – Zarco assumiu a liderança do mundial. A dobradinha francesa quebrou um jejum de mais de 60 anos, porque a última vez que dois franceses chegaram nas primeiras posições foi em 1954!

Mais uma vez as motos da Honda deixaram a desejar. O melhor resultado foi o 13º lugar de Pol Espargaró. A esperança da marca é a possível volta de Marc Márquez no GP da Espanha, dia 2 de maio.

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Lowes está sobrando na pista.

Moto2: Lowes de novo

Pela segunda vez consecutiva o inglês Sam Lowes (Marc VDS) dominou a categoria com propriedade. O estreante Raul Fernandez (KTM) subiu ao pódio na segunda participação na categoria ao terminar em terceiro lugar. Aos poucos ele está se entendo com a moto que tem motor Triumph de três cilindros de 675cc.

Mais uma vez o australiano Remy Gardner (KTM) foi segundo colocado, mas dessa vez a apenas 0,1 segundo do vencedor. Ele até tentou passar nas últimas voltas, mas a experiência de Lowes prevaleceu.

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Nasce uma estrela: Pedro Acosta (37) é a nova sensação da motovelocidade.

Moto3: Anote esse nome

Na análise da primeira etapa eu escrevi: “A maior das surpresas – ótima – foi a estreia do espanhol Pedro Acosta (KTM) recém chegado da Rookies Cup, categoria para novatos. O espanholito surpreendeu com a segunda posição na estreia e pode anotar esse nome, porque pelo que andou vai dar muito trabalho aos veteranos”.

Pois vou repetir: anote e guarde bem esse nome porque certamente será o novo fenômeno da motovelocidade. O que ele fez no GP de Doha vai ficar para a história. Ele largou dos boxes, saiu em último a 9 segundos do resto do pelotão, foi ultrapassando todo mundo e venceu a corrida. Sabe quem foi o último piloto a fazer isso? o genial Marc Márquez.

Pedro Acosta já poderia ter vencido na estreia, nesta mesma pista, mas vencer dessa forma apenas na segunda prova na categoria já é um feito digno de outros campeões como Valentino Rossi ou Casey Stoner.

Darryn Binder (Honda) foi o segundo colocado a apenas 0,039 segundo do vencedor e Nicoló Antoneli (KTM) foi o terceiro. Com este resultado Pedro Acosta assumiu a liderança do mundial, seguido do sul africano Binder.

A próxima etapa será dia dia 18 de abril, em Portugal com transmissão ao vivo pela Fox/ESPN.

 


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