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Clássica vermelha: Ducati Monster 900

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Uma italiana na terra dos oriundi!(Todas as fotos do Grande Mário Bock)

Mais uma da série "testes que fizeram história". No ano santo de 1995, bem no mês do meu aniversário, fui enviado para a grande república do Rio Grande do Sul, mais especificamente em Caxias do Sul, na companhia sempre luxuosa do doutor Mário Bock, para uma missão gloriosa: testar a primeira Ducati importada e montada oficialmente no Brasil pela Agrale! Era mais uma prova do prestígio que a revista Duas Rodas gozava entre as marcas que atuavam no Brasil. E, na garupa, eu era (bons tempos) considerado o jornalista do topo da cadeia alimentar, na condição de redator-chefe da principal revista do mercado.

Nesta viagem eu e o Mário nos divertimos muito porque a famíla Stedile - comandantes da Agrale - nos tratava com uma enorme gentileza e reverência. Sempre éramos recebidos com lautas refeições, presentes, vinhos, um festival. Sem falar que Caxias do Sul é uma cidade encantadora para quem vive num manicômio chamado São Paulo.

Como sempre a moto foi retirada do caixote de madeira diretamente para as minhas mãos. Fiz os ajustes de praxe e fomos pra estrada na companhia de um assessor da Agrale, gaúcho típico, branco como uma briba e cabelos ruivos. Este pobre gaudério ficava na minha orelha aconselhando: Bah, tome cuidado porque esta moto ainda vai passar para as outras revistas, jornais e não pode estragar porque só tem ela!

Ele acabou de falar, engatei a primeira e já saí num delicioso whelling pela estrada. O bicho espumava que nem um marruco. Inutilmente, porque o capacete abafava o som. Quem ficou com a orelha quente foi o Mário Bock.

Depois achamos uma curva boa e lá fui eu raspar as pedaleiras da incazzata. Adorei essa Monster desde o primeiro segundo de contato. Passei todos estes anos sonhando em ter uma moto dessas um dia. Acho que a versão que mais me agrada é a 696, porque já tem motor mais forte, arrefecido a ar e sem tanta eletrônica. Quase comprei uma no ano passado, mas cachorro picado de cobra tem medo de barbante e depois de cinco assaltos a mão armada decidi pela Triumph Bonneville. Mas ainda terei uma Monster.

Hoje a Monster é uma ótima opção de compra de usada. Geralmente os donos são cuidadosos e rodam pouco. O preço despencou que nem uma bigorna. Hoje pode-se comprar uma boa Monster 696 até por R$ 20.000. Só por curiosidade, aquela Monster 900 que eu testei custava US$ 15.000! Aproveite mais essa sessão nostalgia!

Ah, uma curiosidade de bastidor: foi a primeira vez que eu usei o macacão preto e amarelo (do Josias) porque o amarelo do Capitão Gemada simplesmente desmanchou! 

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COM UMA 900cc QUE MISTURA SOLUÇÕES TRADICIONAIS E REVOLUCIONÁRIAS, A DUCATI ESTÁ DE VOLTA AO BRASIL, IMPORTADA PELA AGRALE

Quando foi apresentada no Salão de Colônia, na Alemanha, em 93, a italiana Ducati Monster 900 causou sensação com o desenho elaborado pelo projetista argentino Miguel Galluzzi, (o mesmo que criou a Cagiva Supercity). Agora, ela está chegando ao Brasil, devendo custar cerca de US$ 15 mil, sendo nacionalizada pela Agrale. O quadro da Monster, de treliça tubular, foi aproveitado da Ducati 888, enquanto o motor de dois cilindros em V a 90de 904cc foi "herdado" da touring esportiva Ducati 900SS. Dessa mistura surgiu um modelo que pode ser definido como uma "roadster", ("estradeira", em inglês), de estilo chamativo e totalmente "pelada" em relação a equipamentos aerodinâmicos.

Dentro dessa filosofia de estilo, a concorrente japonesa que mais se aproxima da Monster 900 é a Yamaha V-Max 1200, também uma "roadster". A diferença principal entre as duas está na maior esportividade e versatilidade da Ducati, que conta com suspensões e pneus de vocação esportiva, enquanto a V-Max tem toda uma estrutura voltada para proporcionar conforto ao piloto e garupa nas viagens em estradas com poucas curvas.

O primeiro impacto ao observar a Ducati Monster é o quadro tubular de aço cromo-molibdênio, em forma de treliça, que sustenta o motor. Para reforçar o aspecto visual, os tubos são pintados de grafite, com acabamento envernizado. O tanque com capacidade para 18 litros, tem formas arredondadas com curvaturas ideais para encaixar os joelhos. Um detalhe interessante é o sistema basculante para levantar o tanque de gasolina, que se apóia sobre uma vareta, liberando o acesso filtro de ar e bateria.

O motor exposto, com cabos e mangueiras trançando por todo lado, sugere um acabamento simples, mas na verdade a Monster é bem acabada e chega ao requinte de exibir peças moldadas em fibra de carbono, como o protetor que impede o motociclista de encostar acidentalmente a canela no escapamento. O farol redondo lembra os modelos dos anos 70. Para contrabalançar, a traseira é totalmente inédita, com o banco terminando na lanterna traseira. Em seguida existe uma peça de plástico injetado, como uma espécie de para-lama traseiro, mas que também pode ser definido como uma "calha" para escoar água. Dificil dizer se é feio ou bonito, mas pelo menos como para-lama é eficiente.

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Bah, cuidado com a moto! Deixa comigo! Não deu tempo nem de vestir o macacão!

SOLITÁRIO

Outro detalhe que chama a atenção é o banco monoposto, apenas para uma pessoa, equipado com rabeta. Antes que alguém chame os projetistas da Ducati egoístas, é preciso ressaltar que basta soltar dois parafusos para retirar a rabeta e abrir espaço para o garupa. Desde que seja um garupa magrinho, porque o espaço é bem reduzido.

A posição de pilotagem está mais para uma esportiva do que para estradeira. As pedaleiras ficam bem recuadas, os pés vão para trás, e o guidão (de alumínio) é quase reto, com leve inclinação para cima Esse posicionamento permite pilotar sem forçar os punhos, como acontece nas esportivas, mas as pedaleiras muito recuadas acabam cansando as pernas depois de algumas horas. O corpo fica quase ereto, levemente inclinado para a frente, recebendo todo ar frontal.

Os comandos são fáceis de manusear com destaque para a embreagem hidráulica de acionamento bastante macio, ao contrário da Cagiva Elefant 900, também com motor Ducati, que exige muita força para movimentar o manete.

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Essa foto tem uma história engraçada: esse "efeito" na verdade foi um defeito do filme!

MÉDICO E MONSTER

Depois de familiarizado com a boa posição de pilotagem, chega a hora da prática. Um toque na partida elétrica já revela o som grasso dos dois escapamentos. Justamente por ficar totalmente exposto, o motor se mostra rumoroso, apesar do comando desmodrômico (com duas válvulas por cilindro) ter acionamento por correia dentada, geralmente mais silenciosa do que as correntes metálicas. A primeira das seis marchas entra sem dificuldade. Aliás o câmbio é muito macio e preciso.

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Bah, cuidado com a moto! Vamos só lixar as pedaleiras!

A primeira marcha foi esticado até 100 km/h. Segunda a 140 km/h, terceira a 160, quarta a 180 (sempre pelo velocímeto). A ventania faz o capacete colar no nariz do piloto. Fica difícil se manter em cima da Monster, mas ainda tem muito cabo de acelerador para enrolar.

Quinta marcha foi a 195 km/h e finalmente a sexta cresce até o ponteiro do velocímetro encostar nos 220 km/h. A velocidade real é de 196 km/h. Para viajar, a velocidade de cruzeiro se estabiliza a 130 km/h, quando ainda é suportável o vendaval no corpo. A essa velocidade, média de consumo fica em torno de 15/17 km/litro, muito bom para motor de 904cc, que desenvolve 73 cv a 7.250 rpm.

O impressionante nesta Ducati não é o desempenho puro, mas a versatilidade desse motor de concepção antiga, mas extremamente eficiente. Infelizmente o painel não tem conta giros, mas pode se deixar a velocidade cair a 40 km/h, em sexta marcha, para acelerar em seguida e sentir o motor "devorando" rotações com muita rapidez, sem dar nenhuma engasgada sequer. Graças a essa característica de "elasticidade”, a Monster até se parece com a história do Dr. Jeckyll e Mr. Hyde (o médico e o monstro). Ou seja, tem dupla personalidade pode-se rodar calmamente pelas ruas da cidade (onde chega a fazer quase 20 km/litro), ou 'voar' por estradas a mais de 190 km/h.

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Painel sem contagiros, bah!

TOLERANTE

Uma das vantagens do motor em "L" a 90% é o posicionamento dos cilindros. Um fica na vertical, apontado para cima, enquanto outro fica na horizontal, voltado para a frente. Com isso o centro de gravidade da moto (baricentro) fica mais baixo, funcionando como "lastro" e melhorando a estabilidade.

Esse é um dos pontos altos dessa Ducati: é possível pilotá-la como se fosse uma esportiva, abusando das inclinações nas curvas, tendo apenas o cuidado de observar o piso para evitar areia ou manchas de óleo. Os limites estão bem acima do que se pode atingir e dificilmente algum componente raspa no asfalto.

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Tanque basculante: um charme.

Essa estabilidade também é resultado da combinação entre pneus e suspensões derivadas do modelo esportivo Ducati 888, com bengalas Showa japonesas invertidas na frente (up-sidedown) e um único amortecedor Boge na traseira (monoamortecida). Os pneus são Michelin 120/70 na dianteira e 160/60 na traseira, ambos montados em rodas de liga leve de 17 polegadas. A capacidade de aderência desses pneus pôde ser sentida também durante a sessão de fotos, quando uma marcha errada foi engatada em plena curva, travando a roda traseira. A moto chegou a ficar de lado, mas recuperou a aderência e voltou à trajetória normal (os joelhos do piloto demoraram mas algum tempo para deixar de tremer). Mas para ter essa estabilidade ela cobra um preço alto: por ter a suspensão rígida, esportiva, o piloo sente as irregularidades do piso.

Essa "tolerância", mesmo em pilotagem esportiva, faz a Ducati Monster fácil de pilotar, mesmo para os iniciantes. Também ajudam as freios de excepcional capacidade: os dois discos dianteiros flutuantes de 320mm são "mordidos" por pinças Brembo, de pistões duplos. Na traseiro o disco simples tem 245mm. Esse trio tem um poder de frenagem tão forte que até provoca tontura quando “alicatado" com vontade em alta velocidade. E o que é melhor: não travam.

NOME DE PESO

O nome Ducati tem a melhor tradição italiana, de uma marca sempre envolvida em competições. Além disso, essa tecnologia do motor com cabeçote desmodrômico, um tanto antiga, vem fazendo os engenheiros japoneses perderem o sono. Há três anos a Ducati "fatura" o Mundial de Superbike, justamente a categoria onde correm as motos de produção em série.

A Monster tem um pouco dessa esportividade ao exibir várias peças feitas em liga leve, desde o guidão até as pedaleiras. Por isso mesmo fica mais difícil entender a falta do contagiros. Poderia haver pelo menos uma luz de advertência para avisar o piloto que o motor já passou de giro. Principalmente nesse caso, onde o comando desmodrômico tem a função de abrir e fechar as válvulas. Na teoria, pode-se "esticar" uma marcha até o motor "esgoelar", sem apresentar a "flutuação" das válvulas.

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Comando desmo: ressalto pra abrir e fechar as válvulas.

Aqui no Brasil a tradição Ducati está de volta, trazida pela Agrale e montada em Manaus (AM) pelo Processo Produtivo Básico. O preço desse modelo é de US$ 15.605 e a importação inicial será discreta. Para quem busca uma moto diferente, essa Monster tem diferenças de sobra. Com certeza é um modelo que feio ou bonito, moderno ou antiquado, sempre chama a atenção por onde passa.

Um velho motor novo

Um dos fatos mais intrigantes para as fábricas japonesas, é o sucesso do mo tor Ducati nas pistas. Afinal trata-se de um propulsor italiano de origem lá no passado, mas que continua eficiente alté hoje. Enquanto os "quatro grandes do Japão" (Honda, Yamaha, Kawasaki e Suzuki) apostam no sucesso dos quatro cilindros em linha, a Ducati se mantém fiel ao dois cilindros em "L", com um comando de válvula de nome complica do (desmodrômico).

As vantagens desse motor Ducati quatro tempos vão desde o posicionamento de um cilindro deitado, que abaixa o centro de gravidade e melhora a estabilidade, até conquistas em desempenho. A principal característica é o comando com duplo ressaltos, um para comandar a abertura das válvulas e outro para fechá-łas, eliminando assim as molas de retorno. Como consequência o motor pode até "passar de giro" sem ocorrer a "flutuação" de válvulas. No comando convencional as molas não efetuam bem sua função após determinada rotação, ficando semiabertas. Com o comando desmodrômico, elas abrem e fecham sempre, nem que seja "na marra", empurradas pelo comando para fecharem completamente.

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Traseira feia que dói!

No caso da Ducati Monster, o motor de exatos 904cc tem refrigeração mista ar+óleo. O cabeçote é refrigerado a ar, enquanto os cilindros são refrigerados a óleo. Por isso o motor é cheio de mangueiras de aço passando por todo lado.

Outro vantagem é que a configuração de dois cilindros em "L" (ou em V) tem um fornecimento de torque mais linear, evitando que a roda traseira derrape, o que ocorre quando o torque é "despejado” de forma muito violenta. Enquanto os pilotos de motos japonesas têm de dosar o acelerador para não do desgarrar de traseira, os pilotos das Ducati podem acelerar a vontade, sem medo de "perder' a traseira. Empinar também se torna muito fácil, justamente por ter essa capacidade de "jogar" a potência para o chão sem que a roda traseira patine.

G.S.

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