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Sustos e emoção no GP da Áustria de motovelocidade

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Andrea Dovizioso: desempregado e vitorioso. (Foto: Ducati)

Dovizioso na MotoGP, Jorge Martin na Moto2 e Albert Arenas na Moto3 foram os vencedores

Sempre imaginei como seria para um locutor ou apresentador quando tem de narrar/comentar um grave acidente ao vivo. Bom, neste domingo (16) acabei de saber: dá vontade de desmaiar, gritar, chorar, vomitar e mijar. Tudo isso, não necessariamente nesta ordem. Quando vi o malaio Hafizh Syahrin (não acertei uma vez a pronúncia deste cara) rolando no asfalto, que nem um boneco de posto de gasolina, lembrei na hora do Marco Simoncelli e quase me borrei.

Quando um piloto cai consciente (eu sei bem disso porque já caí umas 200 vezes) o corpo adquire uma postura defensiva. Os membros mantêm uma dinâmica típica de quem sabe que vai se levantar. Mas quando o piloto cai e rola inconsciente o corpo parece uma mariola rolando no chão. Braços e pernas ficam molengas e isso é um péssimo sinal. O nosso cérebro tem uma chavinha que diante de um trauma “desliga” o resto do corpo como forma de proteção, tipo “fica quieto e espera esse liquidificador acabar”. Não significa necessariamente trauma crânio-encefálico, pode ser uma concussão, quando o cabra levanta pegando a Globo no 13. Depois volta ao normal.

Nos acidentes de moto a pior situação é essa: a moto ou o piloto ficam na pista e o resto do pelotão vem atrás. Atropelar ou ser atropelado nunca termina bem. Por isso eu gelei na hora da transmissão e só relaxei quando apareceu a informação de que todos os pilotos estavam conscientes. Vamos às corridas!

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Albert Arenas: o piloto mais calculista da Moto3, deu o bote na última volta! (Foto: MotoGP.com)

A programação começou como sempre pela Moto3, a categoria mais equilibrada do fim de semana. Durante os treinos livres e na classificação dois pilotos se destacaram pela velocidade e regularidade: os espanhóis Raul Fernandez e Albert Arenas. Do primeiro ao 16º colocado a diferença era de menos de um segundo, o que já previa uma corrida de fortes emoções.

De fato, da primeira à última volta não era possível prever quem venceria. Nesta categoria é normal ter várias trocas de posição em cada volta. O narrador não pode nem piscar que perde lances importantes. Na metade das 23 voltas um pelotão se destacava com os espanhóis Arenas, Jaume Masia, o turco Deniz Oncu, os italianos Celestino Vietti, Toni Arbolino e o sul africano Darryn Binder. De repente surgiu no meio desse povo o japonês Ai Ogura e esse grupo ficou embolado até a última curva da última volta, quando Albert Arenas conseguiu sair do terceiro para o primeiro lugar praticamente na linha de chegada.

Pecado a punição para Celestino Vietti, que fez treinos consistentes, estava com ritmo para vencer, mas na última volta passou o limite da pista para cruzar em terceiro e foi punido com acréscimo de tempo, caindo para a sexta posição. Melhor para John McPhee, que deixou para atacar nas voltas finais e foi premiado com a terceira posição. Vietti chegou a ser entrevistado no final da prova, mas não subiu ao pódio. Excelente segundo lugar para Jaume Masia que tem um estilo muito agressivo, principalmente nas ultrapassagens, e liderou até quase a última curva. Mas deixou o recado pra todo mundo.

O campeonato viu Albert Arenas abrir uma enorme vantagem de 28 pontos sobre John McPhee (95 a 67), mas tem muita água ainda pra passar por baixo dessa ponte.

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O que você não viu: quando a transmissão vai para o intervalo o sinal da geradora de imagens continua chegando para os narradores e comentaristas. Por isso vimos as entrevistas pós-corrida. O Celestino Vietti chegou a ser entrevistado como terceiro colocado. Estava lá todo feliz quando alguém chegou e disse que ele tinha sido punido por ter superado os limites da pista na penúltima curva. Sinceramente, acho um exagero porque não foi nem um palmo que passou do limite, mas como já tinha duas advertências acabou acrescentando tempo ao final, o que o derrubou para o sexto lugar.

Você também precisa parar de cobrar do narrador TODAS as ultrapassagens que rolam nesta categoria. Imagina 30 motos largando, com pilotos que ainda não tem dente do siso, comendo o fígado um do outro. Não tem como narrar todas as ultrapassagens, são inúmeras por curva! E tem de anunciar a programação do canal, ler as mensagens dos assinantes, chamar os patrocinadores etc. Sempre vai escapar um ou outro lance.

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Na Moto2 deu Jorge Martin do começo ao fim! (Foto: KTM)

Moto2

A maior surpresa do treino foi a pole do Remy Gardner. Esse piloto é filho do campeão mundial Wayne Gardner (1987) mas parece que não recebeu muito do DNA campeão. Ele comete muitos erros, cai muito e nunca é uma aposta. Eu não falei no ar, mas nunca botei a menor fé nesse cara. Dito e feito: ficou pra trás logo na largada e depois caiu! A corrida estava super equilibrada até a abertura da quarta volta quando Enea Bastianini escorregou de traseira na saída da curva 1 e caiu, deixando sua moto no meio da pista. Os pilotos passaram muito perto, mas o turco Hafihz Syahrin acertou em cheio. O piloto caiu já apagado e pregou um susto em muita gente. A prova foi interrompida para limpeza da pista e feita uma nova largada com a ordem que as motos estavam na volta número 3.

Nesta nova largada Jorge Martin partiu muito bem e sumiu na frente de todo mundo, com Luca Marini o tempo todo na cola e Marcel Schrotter em terceiro. Seguiram assim até a bandeirada. O inglês Sam Lowes se atrasou, corroeu o pneu traseiro em derrapagens insanas, mas conseguiu cruzar em quarto, com Xavi Vierge em quinto. Estes dois se enroscaram a partir da metade dessa prova, chegaram a bater carenagens, mas terminaram inteiros.

Para o campeonato o tombo do Bastianini não poderia ser melhor. A liderança passou ao mezzo-fratello Luca Marini com 78 pontos, seguido por Bastianini, com 75 e a dupla Jorge Martin/Sam Lowes com 59.

O que você não viu, ou espero que não tenha visto: neste domingo foi minha vez de errar feio. Na briga entre Sam Lowes e Marco Bezecchi eu falei Bastianini, o cara que caiu na terceira volta. As motos são iguais e vamos combinar que esses nomes italianos todos se parecem. Bezecchi, Bastianini, Balestrieri etc. Se fosse Silva e Pereira eu não teria errado.

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Dovi: o demitido mais rápido do domingo! (Foto: Ducati)

MotoGP: o milagre

“Esta noite vou rezar”, assim Valentino Rossi, 41 anos, desabafou depois de ver a cena do terrível acidente entre Johan Zarco e Franco Morbidelli. Como explicado no primeiro parágrafo, Zarco mudou de trajetória de repente e Morbidelli não teve como desviar. Na pancada Zarco foi arrancado da sua Ducati, que continuou sozinha até bater na proteção e atravessar a pista bem entre Valentino e Maverick Viñales. A prova foi interrompida e isso foi decisivo para o resultado.

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Repare o estado que ficou o capacete do Morbidelli: che spavento! (Foto: Petronas)

Até o acidente tudo caminhava para uma grande atuação de Pol Espargaró com a KTM. A marca austríaca vinha de vitória na prova de Brno e corria em casa, porque a pista de Spielberg é sede da equipe. Desde o começo do ano, o piloto de teste da KTM, Dani Pedrosa, já deu mais de 300 voltas nesta pista, desenvolvendo a moto nova que não tem um parafuso da versão 2019. Mudou tudo: motor, quadro, suspensão, rodas e pneus.

Mas veio o acidente e a prova foi interrompida. Enquanto os fiscais limpavam a pista a geradora de imagens mostrou a expressão do Valentino Rossi ao ver o quanto ele ficou perto de uma lesão muito mais grave. Acho que ele não teve uma noite de sono muito tranquilo nesta noite de domingo. Não me surpreenderia se ele anunciar a aposentadoria no final do contrato, mesmo que já tenha avisado que vai para a Petronas, pilotos do quilate dele podem parar a hora que bem entender, sem dar satisfações pra ninguém. Vide Nico Rosberg na F-1.

Para a segunda largada alguns pilotos aproveitaram a colocaram pneus macios na roda traseira, sabendo que seriam apenas 20 voltas. Esse foi o pulo do gato para as motos Suzuki e a Ducati de Andrea Dovisioso. Jack Miller disparou na frente na largada, trazendo Dovizioso na cola e Pol Espargaró conseguia um ritmo muito forte, junto o português Miguel Oliveira. Mas as duas Suzuki começaram a aparecer, ganhar posições e numa manobra fantástica Alex Rins ultrapassou a Ducati de Dovi assumindo a primeira posição. Nem teve tempo de comemorar, porque logo em seguida forçou demais e caiu, deixando o caminho livre para Dovizioso.

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O que o Pol Espargaró tem de rápido tem de afobado: duas quedas em duas provas. (Foto: MotoGP.com)

Pol Espargaró até assinalava para uma chegada no pódio, porém preferiu largar com os pneus médios, errou uma curva, perdeu a trajetória e, ao voltar, acertou Miguel Oliveira. Duas KTM abandonaram na mesma curva! Na casa da KTM... O Pol Espargaró é um caso à parte: o que tem de veloz tem de desequilibrado e deixou escapar dois grandes resultados pelo excesso de afobação.

A prova caminhava para um final com Dovizioso, Miller e Joan Mir até a última curva, quando Miller alargou demais e Mir conseguiu roubar a segunda posição numa manobra de levantar a plateia (se existisse). Foi o primeiro pódio de Mir e serviu para também apresentar o cartão de visitas da Suzuki. Equipada com motor de quatro cilindros em linha, é uma moto que vai bem nas pistas de alta velocidade.

As Yamaha e as Honda novamente decepcionaram. A melhor Yamaha foi a de Rossi, em quinto lugar. Fabio Quartararo ficou sem freios nas primeiras voltas e só terminou em oitavo lugar porque conseguiu arrumar a moto pra segunda largada. E Maverick Viñales teve problemas com a embreagem logo após a largada. Teve de esperar esfriar para voltar a atacar, encerrando em 10º. Já com as Honda oficiais é só tristeza: Alex Marques até conseguiu fazer treinos convincentes, mas na corrida ficou sempre de 14º pra trás. Stefan Bradl já deve sonhar com a volta de Marc Marquez porque seu desempenho é sonolento. Terminou em último entre as motos que cruzaram a chegada.

Esta vitória de Dovizioso sela uma curiosa coincidência. Em 2019 na semana que a Ducati anunciava a despedida de Jorge Lorenzo o espanhol foi pra pista e venceu. Hoje, horas depois de anunciar a demissão de Andrea Dovizioso o piloto italiano foi lá e venceu também. Jeito estranho de estimular os pilotos!

O campeonato ganhou mais equilíbrio, com Quartararo ainda em primeiro, com 67 pontos, seguido do “rei de Spielberg” Andrea Dovizioso, com 56 e Viñales com 48. No próximo domingo, dia 23 terá mais uma etapa em Spielberg e Marc Marques ainda não estará no grid de largada.

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Acho que Valentino Rossi vai pensar muito sobre a chance que a vida lhe deu. (Foto: MotoGP.com)

O que você não viu: o cachorro do Alexandre Barros desandou a latir feito louco!!! Eu ouvia e mandei um aviso pelo chat da plataforma de transmissão, mas ele não conseguiu calar o bichinho. Acho que este áudio não vazou para o público, mas eu entrei em pânico.

Tenho acompanhado os comentários dos fãs nas redes sociais. Ainda tem um monte de viúvas do SporTV. Mas parece ninguém percebeu que esta foi apenas a QUARTA transmissão dessa equipe, enquanto a dupla anterior trabalhou junto na motovelocidade por 13 anos. Espero estar bem melhor nos próximos 12 anos e meio, estou me esforçando muito para melhorar a voz, a dicção e decorar os 110 pilotos que participam de todo o fim de semana. Só preciso de um pouco mais de treino!

 


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