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Primeirão

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Pode anotar: temos mais um monstrinho na MotoGP: Brad Binder. (Foto: MotoGP.com)

Primeira vitória da KTM e de Brad Binder na MotoGP

Desde os tempos da faculdade de jornalismo meus professores de rádio e TV me desestimularam a trabalhar na mídia eletrônica. Segundo eles, minha voz era tão ruim que eu precisaria fazer de tudo para ser um bom redator. Fiz mais do que isso: fui um ótimo redator e um excelente fotógrafo. Porém a vida me conduziu até aqui aos 61 anos para fazer comentário justo onde: na televisão!

Logo depois da primeira transmissão a FoxSports me ofereceu os serviços de uma fonoaudióloga por conta da casa. Pobre moça está com uma dura missão de me transformar no William Bonner, pelo menos a voz, porque a cara... Toda semana de corrida ela me chama no zap e ficamos estudando como melhorar minha voz. Desta vez ela aconselhou acordar mais cedo, ingerir muito líquido e fazer gargarejos com água morna. Fiz tudo isso que ela recomendou, por isso tive de sumir da transmissão três vezes na Moto2 para fazer xixi!

Isso é só pra você tentar entender como é fazer transmissão em regime de home office. Além disso eu fico com três computadores ligados na minha frente. Um com a plataforma de reunião virtual. Outro com o site da MotoGP no live timing e um terceiro para acessar o Google e descobrir porque o alemão Pit Beirer estava numa cadeira de rodas no box da KTM. Ainda tenho de ficar com o cursor em cima do botão de silenciar o microfone porque a qualquer momento meus cachorros poderiam acordar e sair latindo freneticamente. E tem gente que reclama dos comentaristas...

Para esta quarta etapa do Mundial de Motovelocidade (terceira da MotoGP) eu consegui acordar uma hora mais tarde porque não teve a MotoE. Obrigado Eric Granado! Por isso dessa vez consegui até tomar café da manhã! Comentar alimentado é muito melhor...

A programação começou com a eletrizante Moto3. É a categoria adrenalina com testosterona. Estudei todos os treinos e dois pilotos se destacaram: Raul Fernandez e Gabriel Rodrigo. Nesta categoria a competitividade é aquela velha briga de foice no elevador com a luz apagada. O pega pra capar começou na largada e logo de cara o argentino deu uma escapada de traseira que minou a confiança. Daí em diante foi ladeira abaixo. Isso não é anormal; o psicológico de um piloto fica realmente afetado depois de um quase tombo. Menos para os super homens que voltam ainda mais rápidos. O que não é o caso do Gabriel.

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Magistral: Dennis Foggia dominou a Moto3. (Foto: MotoGP.com)

Desta vez Albert Arenas correu pensando no campeonato e fez a lição de casa direitinho. Pilotou para fazer o maior número de pontos e nem ameaçou a liderança do Dennis Foggia, que foi magistral! Ele teve a corrida o tempo todo sob controle. Às vezes parece que eles estão se matando, mas nesta categoria a troca de vácuo faz muita diferença, por isso alguns pilotos percebem que podem liderar, mas preferem ficar ali no meio do bolo para atacar só no final. Na maioria das vezes dá certo, mas na segunda prova de Jerez o Arenas espirrou da pista porque estava embolado.

O que eu não comentei no ar: que o Albert Arenas é favoritaço ao título e mostrou isso neste domingo ao correr usando mais a cabeça e menos o punho direito. Que o Gabriel Rodrigo me fez queimar a língua de novo!!! Nunca mais aposto neste moleque!

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Vitória de ponta a ponta: é raro, mas acontece muito! (Foto MotoGP.com)

Moto2

Mais uma vez estudei todos os tempos de todos os treinos e cravei a vitória no Sam Lowes. Estudei e levei pau. Porque ninguém neste mundo de meu Deus poderia imaginar o que o Enea Bastianini fosse liderar de ponta a ponta. Isso é que nem meteoro: acontece a cada 60 anos. O Sam Lowes veio na toada e conseguiu arrancar um segundo lugar depois de tirar quase dois segundos de diferença e cometer pequenos erros. Experiente (o mais velho dos três primeiros) decidiu colocar a cabeça no lugar e garantir o segundo posto.

O Joe Roberts é um mistério. Vem de três temporadas medíocres, fez a pole na primeira etapa no Qatar, depois foi 17º nas duas corridas de Jerez e agora fez a pole de novo. Como entender um piloto com mais altos e baixos do que um eletrocardiograma? Dessa vez ele literalmente suou o macacão para se manter em terceiro nas últimas voltas.

O que eu não comentei no ar: o estado deplorável ao final da corrida do vencedor Bastianini e do terceiro colocado, Roberts, enquanto o “véio” Sam Lowes ( faz 30 anos no mês que vem) estava absolutamente inteiro, como se tivesse chegado de um passeio no parque. Lowes é veterano na Moto2, chegou na MotoGP pela claudicante Aprilia e regressou à Moto2 para dar calor nas crianças.

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Pol Spargaró foi alvejado por Johan Zarco.(Foto: MotoGP.Com)

MotoGP, hímens rompidos

Mais uma vez apostei no cara errado. Antes da corrida eu joguei todas as fichas no Fabio Quartararo. Porque vinha de duas vitórias convincentes. Mas o que vimos foi a largada perfeita de Franco Morbidelli que fez todos os treinos muito regulares, sempre entre os primeiros. Outro que fez treinos muito consistentes foi o francês Johan Zarco (sim, amigo, se ele é francês a pronúncia correta é Joãn Zarcô, qualquer outra é invenção), de Ducati 2019. Ele esteve sempre dentro do mesmo décimo de segundo do melhor tempo. No treino de classificação encaixou uma volta voadora (pegou vácuo) e fez a pole. Foi a primeira vez que dois franceses ocuparam os dois primeiros lugares na largada da categoria máxima.

Enquanto isso, Brad Binder fazia apenas o sétimo tempo nos treinos... que mineirinho!

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Antes da largada o Téo José pergunta a todos os comentaristas qual palpite para o vencedor. O Edgard Mello Filho cravou Quartararo. O Alexandre Barros sugeriu Franco Morbidelli, mas deixou claro que as KTM estavam muito fortes. E eu cravei Quartararo. Veio a largada e o Morbidelli sumiu lá na frente. Zarco não durou nem 200 metros na liderança e ainda cometeu um pequeno erro que o jogou lá pra trás.

Tudo sinalizava para um flag-to-flag do Morbidelli, mas as KTM começavam a aparecer tanto com Binder quanto com Pol Spagaró. Neste bolo o Zarco também perdeu contato e estava se segurando entre os cinco, mas na alça de mira do Pol. Nesta briga o Pol alargou uma curva e quando voltou tentou fechar a porta do Zarco, que de bonzinho não tem nada e acertou o espanhol e mandou lá pra brita.

Quando Binder assumiu a segunda colocação estava a mais de dois segundos do Morbidelli. Diferença que simplesmente pulverizou em três voltas. Era visível que a KTM freava bem mais dentro do que a moto do Franco. Do jeito que chegou, passou e deu um abraço pra galera. Foi um festival de primeiras vezes: primeira vitória de um sul-africano no mundial de motovelocidade; primeira vitória de Binder na MotoGP e primeira vitória da KTM na MotoGP. E olha: se o Zarco não tivesse alvejado o Pol a KTM teria duas motos no pódio. E adivinha quem a KTM quer contratar em 2022? Um tal de Marc Marquez.

Falando nele, que grande, enorme, incomensurável cagada! Querer puxar ferro com uma placa de titânio parafusada no osso é coisa de cabaço no mais alto nível. Claro que a placa não aguentou e obrigou uma segunda cirurgia. Agora esquece 2020 (aliás, o ano que não existiu) e pode pensar em 2021. O mais patético da semana foi o coach Alberto Puig (se pronuncia púichi) vir a público afirmar que MM teve um acidente doméstico ao abrir uma janela! Fala sério, só se ele morar num castelo medieval!

Decepção gigantesca da dupla Honda/Repsol que conseguiram os dois últimos lugares no grid. Comentei no ar que a Honda pagou pelo preço de ter feito uma moto sob medida para o Marc Marquez (como já tinha feito com Casey Stoner). Deu certo por sete anos, mas neste domingo vimos que foi uma aposta arriscada. Tudo bem que o Stefan Bradl não estava familiarizado com a moto, mas Alex Marquez já está desde janeiro treinando e fazer o pior tempo do fim de semana certamente vai mexer com a cabeça do irmãozinho.

O que eu não disse no ar: que a KTM abandonou o quadro tubular de treliça e adotou o quadro perimetral. Além disso o motor V-4 é extremamente compacto, o que deixa a moto muito fina. A mudança do quadro + um motor compacto deixaram a moto mais maneável em pistas de média velocidade e deram mais retomada em saída de curva. A frenagem absurda do Binder pode ser creditada ao piloto e à escolha do pneu dianteiro.

Também não comentei o fiasco das Ducati oficiais. No caso do Dovizioso acho que tem grana no meio. Ele sabe que Jorge Lorenzo anda rondando os boxes da Ducati que nem mosca de padaria. Sabe que ele vai pedir um caminhão de dinheiro e que a Ducati pode aceitar. Isso realmente mexe com os intestinos da pessoa e reflete na falta de competitividade. Mas a Ducati de fábrica ver uma equipe satélite fazer pole e ainda chegar em terceiro é um golpe duro.

Para o campeonato não poderia ter sido melhor. Afastou uma possível hegemonia da dupla Yamaha-Quartararo, jogou luz em cima de motos que estavam “esquecidas” e vai prender a atenção até a última etapa, que ninguém sabe onde e quando será.


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