(Molezinha, média horária de 8 km/h em SP)
Profissionais de Recursos Humanos começam a olhar torto para as motos
O deslocamento para ir e vir do trabalho faz parte das estatísticas de acidente de trabalho. Mais do que isso, causa um tremendo impacto em uma rede produtiva que pode ser desde um simples comércio e uma complexa linha de montagem industrial. Essa preocupação já está tão presente nas relações trabalhistas que alguns profissionais de Recursos Humanos começam a selecionar quem tem carteira nacional de habilitação na categoria "A", para motociclistas. Selecionam para excluí-los do cadastro de admissão.
Parece exagero, mas sabe-se desde sempre que a recuperação de uma vítima de acidente de moto pode demorar 30 dias ou mais, o que causa um tremendo abacaxi para a área de recursos humanos. Imagine se a vítima for um operário que realiza um trabalho complexo e importante em uma linha de montagem. A falta imprevista desse profissional vai mexer diretamente na produção até que se consiga deslocar um "reserva"à altura, com mesmo grau de especialização e intimidade com o equipamento.
Segundo a pesquisa patrocinada pela Abraciclo e realizada em conjunto com a área de saúde de São Paulo, 68% das vítimas de acidente com moto não são os frotistas (moto-boys), mas sim pessoas que compraram moto em busca de mobilidade urbana. Em um artigo do advogado André Garcia, publicado na revista CIPA, em 2013, o tempo de percurso exagerado, a baixa qualidade do transporte público e o alto custo são as condições que contribuem para o uso da motocicleta como forma de se movimentar uma cidade como São Paulo, que tem uma das piores médias horárias de deslocamento do mundo.
No exemplo usado pelo advogado, um trabalhador que more em São Bernardo do Campo e trabalhe no centro financeiro de São Paulo, pode gastar de 1h40min até duas horas e R$ 12, 20 por dia só em deslocamento. Se ele usasse uma moto utilitária gastaria pouco menos de R$ 4,0 e 30 minutos para fazer o mesmo itinerário.
(Palestras teóricas ajudam a conscientizar a segurança veicular)
Ah, mas ele pode se acidentar... Sim, pode, porque o sistema de habilitação é ridiculamente falho e não há forma de se especializar depois de "habilitado". Sem contar nos 28% de motociclistas que rodam pela cidade sem passar pela formação mínima necessária. Sem nem sequer ter carteira de habilitação.
Nesse contexto de necessidade de mobilidade eficiente e risco de acidente no ir e vir do trabalho é que deveria entrar o papel da iniciativa privada. Claro, porque nem dá para sonhar a curto prazo com uma alternativa apresentada pela administração pública, que joga contra moto desde que inventaram a roda. Qualquer cidadão que tenha estudado a história recente do Brasil sabe o quanto o País foi loteado à indústria automobilística, a ponto de se boicotar qualquer intenção de oferecer transporte público de qualidade.
(Aula prática é fundamental)
Em outras palavras, quem quiser se mover que se vire!
Já que não podemos esperar nada de efetivo das vias políticas, a esperança é que a iniciativa privada faça esse papel. E aqui vão alguns conselhos para quem trabalha com recursos humanos e se arrepia diante de uma habilitação de motociclista.
1) Leve informação - não espere que um neo-motociclista procure saber tudo sobre segurança e técnica de pilotagem logo depois de pegar sua habilitação. Ele(a) vai montar na moto e aprender pela pior maneira possível: na prática. Existem empresas e profissionais especializados em realizar palestras e cursos para neo-habilitados. Tenho conhecimento de redução de até 90% nos casos de acidentes com motociclistas depois de realizado um permanente trabalho de conscientização em uma grande empresa.
2) Incentive o uso de equipamento - curiosamente a maioria dos neo-motociclistas que trabalha em indústria já usa os EPIs - Equipamentos de Proteção Individual. Mas tiram antes de montar na moto e voltar para casa. Um dos argumentos para o relaxamento no uso dos equipamentos é o custo de aquisição. Já defendi até um financiamento consignado. A empresa empregadora compra os equipamentos diretamente do fornecedor a preço subsidiado e revende em suaves prestações aos funcionários. Mas para que isso dê certo é preciso fiscalizar...
3) Curso - nem sempre as palestras teóricas são suficientes para desmistificar alguns preconceitos ao pilotar uma moto, que é um veículo naturalmente mais difícil do que um carro. O exame para aprovar um novo motociclista é tão ridículo que nem sequer colocam a segunda marcha. Também existem cursos que recebem os novatos assim como profissionais que vão até a empresa e ministram cursos "in loco".
4) Prevenção sempre - é importante promover as semanas de prevenção de acidente de trânsito, mas lembrar que o tema "moto" deve permear todas as palestras, porque mesmo quem não pilota deve saber como reagir perto de uma.
5) Blitz educativa - nomeie um profissional da CIPA para fazer blitz periódicas no estacionamento das motos e verificar como está a manutenção. Itens como pneus e freios devem ser observados regularmente.
6) Não é lazer - existe um preconceito sobre motociclistas: todo mundo acha que nós amamos tomar chuva, voar nos buracos, levar cusparada de motoristas de ônibus ou fugir de cachorros. Nada disso, quem usa moto em São Paulo e grandes cidades o faz por necessidade. Muitos sonham mesmo é ter um carro, mas a moto é mais acessível, só por isso!
7) Família - ensine os neo-motociclistas que a família é o porto seguro deles. Voltar para casa inteiro e saudável é tão importante quanto manter um padrão de vida.
8) Tempo investido - quem recorre às motos pode economizar até uma hora e meia por dia. Aproveite para dar a estes profissionais a oportunidade de fazer um curso, praticar esportes, investir na carreira etc. O tempo que se economiza em deslocamento pode e deve ser investido em qualidade de vida.
E última dica: este ano será realizada de 8 a 10 de outubro, em São Paulo, a XX FISP - Feira Internacional da Segurança e Proteção, voltada aos profissionais de área de segurança no trabalho. É uma boa forma de conhecer o que existe na área de segurança veicular.