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Pelo uso de moto-taxi em São Paulo

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Desde que bem feito o moto-taxi pode ser um bom serviço em São Paulo.

São Paulo não pode abrir mão desse tipo de transporte

Quando minha mulher precisou sair de casa, na zona sul, para ir até o bairro do Bom Retiro, no centro de São Paulo, pensou na possibilidade de usar transporte público. Pesquisou e viu que, de ônibus + metrô levaria 90 minutos para percorrer os 16,5 km. Depois desistiu e pensou em usar o carro. Demoraria o equivalente a 50 minutos se não tivesse qualquer problema no percurso. Então acabou usando os meus serviços de moto-marido e o percurso foi feito em 25 minutos sem qualquer estresse.

Durante quase 10 anos dei carona para mulher e as filhas, sempre de moto e sempre com o argumento de “chegar mais rápido”. Minhas passageiras nunca reclamaram do clima, do conforto ou da insegurança. Rodei alguns milhares de kms nesse ofício de levar e buscar, sempre de moto.

Lembrei de outro episódio interessante. Meu colega de trabalho precisava sair da Lapa e pegar um avião em Guarulhos para o lançamento de uma moto em outro Estado. Pior: o vôo era na hora de maior tráfego na cidade. Pegou um taxi e quando chegou na marginal Tietê estava tudo parado. Fez um cálculo de média horária e descobriu que naquela velocidade chegariam muito depois da hora. Foi então que teve uma ideia brilhante: pagou o taxista, desceu do carro, vestiu o capacete que estava na bagagem, parou um motoboy e ofereceu 20 reais pra levá-lo até o aeroporto. O cara topou na hora e meu colega embarcou pontualmente.

Então me ocorreu voltar a um velho tema: moto-taxi em São Paulo. Por que foi proibido?

Lembro que na época da homologação dos moto-taxis a prefeitura de São Paulo vetou sob os seguintes argumentos:

  1. Aumentaria o número de acidentes.
  2. Falta de equipamento de segurança para o passageiro.
  3. Falta de higiene nos capacetes.
  4. Necessidade de motos especiais para transporte de passageiro
  5. Facilidade de roubo do veículo.

Bla-bla-bla e mais bla-bla-bla...

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Moto-taxi no Paquistão (foto: Wikipedia) 

Durante algum tempo também defendi essa proibição, mas hoje em dia, olhando para o caos que se tornou o transporte público e o tempo que se perde em deslocamentos comecei a mudar o ponto de vista e imaginar que todos os argumentos usados contra moto-taxi em São Paulo são totalmente falaciosos.

Para cada argumento contra há uma defesa coerente. Mas como já escrevi dezenas de vezes, proibir é o jeito mais fácil de resolver um problema difícil. Está evidente que cidades com grandes problemas de deslocamento precisam contar com o máximo de soluções que retirem os carros particulares de circulação. Transporte público eficiente, malha cicloviária, calçadas amigáveis são algumas propostas para melhorar a mobilidade urbana, mas a moto geralmente é deixada de lado como solução, até nos fóruns específicos ela só é lembrada na hora de computar os dados sobre acidentes. A moto pode ser uma solução de mobilidade, desde que bem usada.

Ainda sugiro uma solução simples para aumentar a segurança. Hoje existem transponder de tudo que é finalidade, tamanho e preço. Com um mecanismo simples de rastreamento por satélite é possível criar um tacógrafo virtual que mede a velocidade da moto no trecho em tempo real. O moto-taxista que desrespeitar a velocidade máxima permitida perde a licença e ponto final.

O mesmo transponder pode ser usado para precificar o serviço, sem depender de taxímetro. A cidade pode ser dividida por regiões e a cobrança seria de acordo com o perímetro da viagem. Tudo muito simples.

Vou analisar cada argumento contra moto-taxi.

  1. Número de acidentes – A própria prefeitura, junto com a Escola Paulista de Medicina e a Abraciclo referendou uma pesquisa na qual ficou claro que apenas 22,7% das vítimas de acidentes com motos na capital paulista eram motociclistas profissionais (motoboys). Os demais eram motociclistas iniciantes, geralmente com menos de um ano de habilitação e na maioria dos casos que aprenderam a pilotar sozinhos ou com amigos. Ou seja, em vez de argumentar com base em nenhum estudo é preciso olhar mais de perto esses dados. Acredito fielmente que um motociclista bem treinado, educado e socialmente ajustado seja perfeitamente capaz de conduzir uma moto, com ou sem passageiro, com absoluta segurança. Transportei minhas filhas por mais de 10 anos e nunca tivemos nenhum acidente. Sou um cara super sortudo? Ou apenas aprendi a pilotar de forma preventiva? Portanto esse argumento é puramente preconceituoso. Além disso, o profissional candidato a moto-taxista deverá passar por um treinamento rigoroso e exigente, não apenas com técnicas de pilotagem, mas também com noções de cidadania.
  2. Equipamentos – Hoje em dia existem equipamentos (cotoveleiras e joelheiras) que podem ser colocados por fora da roupa. Não precisa obrigar o uso de jaquetas. Esses equipamentos podem ser lavados e higienizados. Se o passageiro se recusar a usar não sobe na moto. Outro argumento derrubado.
  3. Higiene – Basta usar o exemplo das pistas de kart de aluguel: toucas ou balaclavas descartáveis. Custam centavos e se o passageiro for usuário recorrente pode até ter seu próprio capacete. Nas duas vezes que usei moto-taxi no Nordeste eu usei o meu capacete. O capacete também pode ser higienizado periodicamente. Outro argumento derrubado.
  4. Motos especiais – Sim, claro! Pode até ser criada categoria de moto-taxistas desde os mais simples com motos de 125/150 cc, passando pelas de 250/300cc, já com um baú específico para esse fim, com banco especial de dois níveis, com mais conforto, e até uma espécie de Über-bike com motos maiores para transporte de executivos, por exemplo, para o aeroporto. E o Estado poderia dar os mesmos benefícios oferecidos aos motoristas de taxi comum para ajudar na compra e manutenção das motos. Obviamente que nem todo mundo pode ou consegue usar moto-taxi; pessoas obesas, com problemas de mobilidade ou idosos terão uma natural dificuldade de subir e descer da moto. Não é um transporte para todo mundo.
  5. Roubo é uma questão de segurança pública! Mas até para isso existe solução: o mesmo transponder que irá controlar a velocidade serve para localizar o veículo em caso de roubo ou furto. Para todo problema existe uma solução, só precisa ter boa vontade.

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Você não pegaria esse taxi? (moto-taxi em Londres. Foto: Wikipedia) 

Insisto que devemos voltar ao tema moto-taxi em São Paulo da maneira equilibrada e responsável, sem preconceito. Eu seria facilmente usuário de moto-taxi até mesmo por uma questão de racionalidade. Já usei esse serviço e até fiz um relato na revista Cycle World sobre a experiência. Só em uma ocasião, na cidade de Currais Novos (RN) perdi a paciência com meu moto-taxista, mandei ele parar e perguntei quanto ele cobrava a corrida. Quando ele respondeu “dois reais” ofereci cinco se ele me deixasse pilotar. Nem pestanejou, pegou a grana e falou: “pode tocar”.

Acredito que o principal fator de impedimento seja os taxistas regulares. Da mesma forma que forçaram o fim do Über em São Paulo, apelando para o velho argumento corporativista da concorrência desleal (que não é), eles certamente forçariam “seus” vereadores a votarem contra a legalização dos moto-taxis. Mas lembro que no Nordeste aconteceu algo parecido. No começo os taxistas tentaram impedir o trabalho dos moto-taxistas, até que perceberam que poderiam lucrar com a ideia. Alguns motoristas compraram motos e entregaram para funcionários. Em vez de perder mercado, ganharam em cima de um novo serviço, algo que pode se repetir com as cooperativas de taxi de São Paulo.

Como se vê, quando se olha para o assunto sem corporativismo e com lucidez sempre há solução. Fica lançada a proposta.

 

 

 


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