Alguma dessas peças está problema, mas qual?
Quem nunca passou por isso: deu na partida e... nada!
Coisas mecânicas são assim mesmo: está tudo funcionando direitinho até que, do nada, resolve parar. Os motores de motos (e todos os outros) evoluíram muito. Hoje a eletrônica comanda quase tudo e já existem tantos componentes eletrônicos que uma oficina já tem uma série de tem instrumentos digitais como ferramentas.
Aí quando o motociclista acorda sábado de manhã, louco para dar um rolezinho, gira a chave, aperta o botão da partida elétrica e... nada! Aperta de novo e nicas! E de novo e de novo até começar a pensar seriamente nos efeitos de um palito de fósforo aceso dentro do tanque de gasolina. Calma, antes de explodir sua motoca vamos tentar desvendas esse mistério chamado motor!
O motor a combustão só precisa de duas coisas pra funcionar: combustível e eletricidade. A eletricidade é o estopim de uma explosão que acontece dentro da câmara de combustão. Se um desses elementos falhar a combustão não acontece e a moto não pega.
Como o mundo se divide em motos carburadas e injetadas e estas últimas são mais simples, vou começar por elas.
As injetadas
Antes e mais nada verifique se TEM combustível! Tá bom, eu sei que é óbvio, mas você ficaria surpreso pela quantidade de vezes que fui socorrer um amigo motociclista para descobrir que o tanque estava vazio! Nas motos mais modernas o tanque nunca seca totalmente para não queimar a bomba de gasolina (n.d.r: vou usar “gasolina” como genérico de combustível, mas tem etanol também, tá?), por isso o motociclista abre a tampa, chacoalha a moto, ouve o som de líquido, mas a bomba não puxa mais nada. Por isso, nas motos injetadas jamais deixe o nível chegar na reserva, mantenha sempre acima de ¼ de tanque.
Se tiver combustível e mesmo assim não pega é preciso saber se está chegando no motor! Como as motos injetadas tem bomba de gasolina é preciso checar a bomba. Ao ligar a moto, a bomba faz um zumbido baixo, mas audível, tipo um biiiizzzzzz. Se não fizer esse som ainda não se desespere porque tem um detalhe que faz muita gente se descabelar sem motivo. Verifique o corta-corrente (se tiver), é aquele botão que fica no punho direito, geralmente vermelho, também conhecido como “engine-stop” (pára-motor). Sim, eu sei que parece bobagem, mas uma vez vi um cara empurrar uma moto por quilômetros só porque o corta-corrente estava desligado. Pior, sob um sol de torrar os miolos.
Antes de botar fogo na moto veja se o engine stop está ligado!
Se o engine-stop estiver na posição “on” e a bomba não emite o zumbido aí sim pode se descabelar, porque é sinal que a bomba queimou e não há o que fazer a não ser chamar o guincho.
Tem combustível, a bomba está funcionando, a bateria está carregada, o motor de partida funciona e a moto não pega! Então deve ser problema elétrico. Se a bateria está boa é sinal que a eletricidade não está chegando na vela. Só tem um jeito de conferir: retire a vela, coloque no cachimbo e deixe perto do motor. Não segure no cabo nem no cachimbo nem na vela porque vai passar uma corrente elétrica e dar um choque da p***. Repare se a vela produz faísca, se não produzir é realmente alguma pane no sistema que está impedindo a eletricidade de chegar ao motor, pode ligar pro guincho. Se tiver produzindo faísca e chega combustível então só chamando um padre exorcista, porque deveria funcionar! Mas antes de partir para as lidas espirituais, faça uma última checagem: se a moto tem bloqueador ou chave geral. Já paguei os pecados tentando ligar um scooter porque desliguei a chave-geral sob o banco e esqueci... pior: foi na Itália, à noite e num domingo, sem uma viv’alma pra me ajudar!
Retire a vela, encaixe no cachimbo, fique longe e dê a partida: precisa fazer uma faísca.
Outro sistema que costuma dar pau é o sensor do cavalete lateral. Algumas motos tem um sensor que impede a moto de ligar se ela estiver engatada com o pezinho abaixado. É comum em scooters o dono esquecer e tentar ligar sem recolher o pezinho ou apertar a manete de freio. Um amigo meu desmontou metade de um Burgman 400, trocou a bateria para descobrir que o “defeito” era o pezinho abaixado! Também pode acontecer de esse sensor estar pifado e impedir a moto de ligar.
E não esqueça: algumas motos só acionam o motor de partida com o câmbio em ponto morto e outras com a embreagem acionada, mesmo se estiver em ponto-morto.
Carburadas
Aqui você pode se desesperar de verdade. Motores carburados tem muito mais peças que podem dar problema do que o injetado. A vantagem é que, ao contrário da injeção, o carburador sempre tem conserto. Enche o saco, mas tem!
As primeiras atitudes são as mesmas do motor injetado, ou seja: veja se sem combustível! Depois verifique se não esqueceu o engine-stop desligado ou o pezinho lateral abaixado. Verifique ainda a torneira de combustível, porque ela pode estar fechada. Sim, isso acontece com todo mundo... Conferiu tudo isso, comece sempre pelo mais fácil, que é a faísca da vela. Retire a vela, encaixe no cachimbo e dê a partida (mesmo que seja no pedal) para ver se aparece a faísca. Se o ambiente estiver muito claro será difícil de ver, tente pedir ajuda pra alguém.
Recoloque a vela e vá para a pior parte: o carburador!
Primeiro retire a mangueira que sai do tanque de gasolina e veja se desce o líquido. Às vezes, de tão suja, aquela pequena peneira da torneira entope de não deixar chegar o combustível. Se está chegando gasolina no carburador e a moto não pega pode ser uma miníscula, mas pentelhíssima peça chamada agulha da bóia. Às vezes a gasolina resseca dentro do carburador e essa agulha emperra. O sintoma de agulha emperrada é que sai gasolina direto pelo respiro da cuba. Numa situação de emergência dê umas pancadinhas na cuba do carburador para ver se solta a agulha. Se não soltar prepare o saco e leia esse ARTIGO.
O carburador é um emaranhado de mistérios e cheio de pequenas peças que podem dar pau. Às vezes na estrada – se o motociclista tiver ferramenta – pode-se até sair do sufoco usando apenas uma chave philips e conhecimento.
Mas se a moto insiste em não pegar, mesmo com eletricidade e gasolina, pode ser o excesso de gasolina que está atrapalhando. Algumas motos com carburador a vácuo ou em diafragma injetam um pouco de gasolina quando se abre o acelerador, mesmo que seja mínimo. Essa gasolina “engasopa” a entrada dos giclês ou do coletor e “afoga” o motor. É fácil perceber porque fica um cheiro de gasolina por todo quarteirão. Basta esperar um pouco até a gasolina secar.
A voz do dono
Sabe aquela história de que o cachorro reconhece a voz do dono? Tem motociclista que jura de pés juntos que a moto reconhece quando é ele que está em cima. OK, não vamos chamar o Pinel, ainda, mas se tiver um Lexotan por perto pode ministrar.
No tempo das motos com partida a pedal alguns motociclistas sabiam exatamente como colocar o pistão no PMS (ponto morto superior) para bombar o acelerador e ... pimba! Dar a pedalada mágica. Lembro quando a Honda tirou o pedal de partida da CB 450 e um leitor me escreveu indignado, porque ele tinha um ritual diário: com a ignição desligada, ele dava duas a três “pedaladas”, depois girava a chave e só assim acionava o botão da partida elétrica. Segundo ele isso servia para lubrificar o motor antes de entrar em funcionamento.
Nessa época eu não era muito paciente com leitores (não diga!) e respondi com uma pergunta: e você também faz isso com seu carro? Espeta uma manivela no eixo do girabrequim, dá duas ou três voltas e só depois dá a partida? Claro que não! Não precisa, assim como não precisa fazer isso com as motos!
Mas eu lembro de uma velha moto que só eu conseguia fazer pegar na primeira tentativa. Não tinha a ver com o “reconhecimento do dono”, mas eu sabia exatamente o momento certo para girar o acelerador enquanto montava no pedal de partida. Se não pegasse na primeira, ai, ai... toca pedalar!
Algumas dicas extras para quando a moto se recusa a pegar:
- Quando a bateria estiver descarregada cuidado ao tentar dar o “tranco”, porque algumas motos com injeção eletrônica precisam de eletricidade para fazer a bomba injetora funcionar. Mesmo que empurre quilômetros a fio e pulando no banco a moto não vai pegar porque não tem corrente elétrica suficiente.
- Pelo mesmo motivo fique esperto com a tal “chupeta”, porque se inverter os pólos positivo e negativo pode queimar a ECU da moto.
- Também fique esperto com o tal calço hidráulico. Geralmente acontece só em motos carburadas porque de tanto tentar ligar a moto o motor fica encharcado de gasolina. Aí quando o pistão sobe encontra o líquido lá dentro e dá um calço capaz de entortar a biela.
- Não tente, jamais, rebocar a moto com corda ou cabo de aço. A corda pode entrar na roda e causar graves acidentes. Se parou chame um guincho ou empurre no braço mesmo.
Recomendo também a leitura desse outro TEXTO.