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Diavélica

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De Diavel na chuva... só eu mesmo! (Foto: Renato Durães)

Pilotar a Ducati Diavel é uma surpresa a cada curva

Confesso que sempre torci o nariz para a Ducati Diavel. Esse pneu traseiro muito largo, guidão esquisito, ausência de para-lama traseiro, muito motor e ciclística para andar em linha reta. Eu olhava pra isso e pensava: "hummm moto de coxinha poser, tipo Yamaha V-Max, deve ser ruim de curva e pior ainda de freio"... mas quis o destino que eu fizesse um mega super hiper teste com essa moto, que faço questão de contar desde o princípio!

A Ducati lançou no Brasil as novas Diavel e a Monster 1200, ambas com duas versões de acabamento e preço que vai de R$ 64.900 na versão normal a R$ 74.900 na bela versão Carbon. Como eu andava em crise de personalidade e chilicado com a minha profissão, não fui chamado para o evento de lançamento como jornalista, mas como "puxador", o cara que vai na frente dos jornalistas controlando o ritmo e organizando para que tudo funcione direito. Sorte minha, porque acabei rodando mais do que o previsto com as motos e ainda tive a chance de olhar cada centímetro delas nas vezes que fui correndo lavar as motos antes de os jornalistas chegarem!

 

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Versão Carbon: bem legal, note a capa do banco na garupa.

Tudo começou na garagem da concessionária Ducati Caltabiano, na zona Norte da cidade. Cheguei pontualmente às 8:12h para receber uma Diavel com apenas 120 km rodados. Uma mocinha, novinha, com hímen e tudo. Nestas horas me sinto um estuprador de moto. Ainda bem que motos tem hímen complacente!

Assim que montei na Diavel deu aquela sensação de "acho que isso não vai dar certo". Não sabia nada a respeito da versão 2015, não sabia que o guidão estava um pouco mais alongado, chegando mais perto do piloto, nem que o banco tinha sido redesenhado para criar um encosto e segurar o piloto na hora do seguuuuura peão! Em italiano se chamaria um para-culo, ou segurador de bunda!

Braços bem abertos, pedaleiras numa posição não muito recuada, o sistema de partida tem sensor de presença. Não precisa colocar a chave em nenhum buraco, basta chegar perto, acionar e segurar o comando da ignição por dois segundos e... pre-pa-ra!

 

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 Fala se esse escapamento não é uma obra de arte?

Música...

Sabe aquele papo de o som do motor da Harley-Davidson ser patenteado, porque as duas bielas são fixadas no mesmo munhão e bla-bla-blá? Esquece, filho. Esqueça tudo que você já ouviu. Esqueça o som do motor quatro cilindros em linha cruzando o comando. O cara que desenvolveu o escapamento da Diavel fez pacto com o tinhoso, só pode!

Basta ligar para perceber que vai ser difícil manter uma pilotagem racional. E o motor estava amaciando! Eu vou explicar o que é pegar uma moto como essa com a recomendação de não socar a bucha: é a mesma coisa que ir para a lua de mel com o pai da noiva do lado. Você morre de tesão, mas tem de ficar no papai-mamãe.

Saí da Caltabiano com 162 cavalos no meio das pernas, louco para colocar todos eles pra gritar, entrei na marginal Tietê e... tudo parado! Imaginei que seria um sufoco serpentear no meio de carros e caminhões, mas isso durou apenas alguns poucos quilômetros porque depois de me entender com os 240 kg (em ordem de marcha) comecei a dar calor nos motoboys que não podiam acreditar naquela coisa preta fungando no cangote, soltando um ronco de bicho bravo. Com dois radiadores colocados nas laterais do tanque de gasolina o calor do motor é sentido pelo piloto, mas sem exageros nem gerar desconforto.

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 Painel cheio de luzes e funções 

Claro que nada cai de graça no colo de um jornalista testador de moto e mal cheguei no começo da rodovia Castelo Branco para desabar um toró típico paulistano, com direito a enchente e todo o pacote completo. Com capa de chuva segui no trecho urbano com o módulo de injeção na posição "urban". São três opções: urban, touring e sport. Na primeira posição a moto fica imitada a 100 cv e o funcionamento do motor é mais suave, com crescimento progressivo e uma distribuição de força mais modulável. Eu recomendo o uso da Urban também na chuva. Na posição Touring a potência vai a 162 CV, mas de forma gradual, com controle de tração e freio mais atuantes. Já na Sport o cabra precisa ter braço, porque libera os 162 cavalos a 9.250 RPM sem a menor vergonha na cara, além de alterar também a atuação do freio ABS, que entra mais perto do limite, liberando a traseira para algumas indelicadas derrapagens ao gosto do estilo drift.

Logo depois, com a Castelo inteira na minha frente, asfalto seco, braços abertos, vento todo no capacete e a Diavel revelou que gosta mesmo é de pista livre. A posição de pilotagem permite ficar horas ao guidão, controlando a velocidade por meio do acelerador sem cabo (wireless).

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Curva no molhado só no modo Urban, que limita a 100 CV. (Foto: Renato Durães) 

Nas curvas

Com tanta potência e torque (13,3 Kgf.m a 8.000 RPM) ultrapassar é moleza. Nem precisa reduzir marcha, pode deixar em sexta e girar o acelerador que o motor cresce de giro. Obviamente que troquei para o módulo "sport" para sentir toda a cavalaria em ação e a retomada de velocidade é uma delícia típica dos motores de dois cilindros em V, ou em L, nesse caso.

O motor é novo em relação à primeira versão que chegou em 2012. Trata-se do 1.198 cc Testastretta que equipa também a Monster 1200. É um motorzão nascido para ser esportivo, por isso fica difícil estabelecer uma categoria para a Diavel. Ela não é uma touring, nem streetfighter, nem custom... Seria uma roadster no melhor estilo blockbuster. Dessas de tirar racha na farol de uma avenida de Las Vegas.

Depois de mais uma tempestade (pense num clima de outono esquisito...) fizemos a sessão de fotos com um belo fim de tarde, mas o piso ainda molhado. Não é divertido fazer as curvas, posando de piloto, no piso molhado, com uma moto de R$ 65.000 ameaçando sair de baixo a cada inclinada. Porém, na volta, pude avaliar o novo farol com leds que é uma das novidades da nova versão. O aspecto é meio feioso, admito, mas funciona muito bem!

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Farol esquisiténho, mas funciona! 

Na hora das fotos é o melhor momento para prestar atenção nos detalhes da moto. O painel é show, com várias funções no cristal líquido e informações personalizáveis. Nem dá para explicar tudo, porque no Manual do Proprietário (disponível para download no site da Ducati italiana) o capítulo do painel tem mais de 40 páginas! São nove luzes de advertência, com conta-giros por barra horizontal e o velocímetro é digital. Não é fácil ler o conta-giros, mas esqueça dele e fique de olho no velocímetro porque a aceleração é brutal e piscou já está a 150 km/h tomando multa! Nos comandos dos punhos pode-se mudar os modos de injeção. Para isso nem precisa parar a moto, basta desacelerar e segurar o botão de seleção por dois segundos.

Ainda com a moto parada fiz aquela ronda em volta para observar o belo trabalho de acabamento da balança monobraço, da suspensão dianteira invertida, da bela roda traseira que monta um pneu Pirelli Diablo Rosso Corsa na medida exclusiva 240/45-17. O escapamento é outra obra de arte, com as curvas em metal cru, fixado por molas e na configuração 2x1x2. O ronco, bom ainda não chegou a hora de descrever.

Na manhã seguinte coube a mim a missão de conduzir o comboio de dois grupos de seis jornalistas, todos bons de braço e loucos por asfalto e curva. Especialmente para eles o roteiro levantado pelo colega Minhoca tinha mais curva que um intestino delgado, na região entre Tatuí e Iperó. E o roteiro teve de tudo: curvas de alta, de baixa, retas e 1.863.920 lombadas. Algumas delas disfarçadas, outras no meio da curva, tipo lombada-surpresa!

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Garupa nessa moto é uma prova de amor! 

Foi a vez de ver como a Diavel se comportaria em curva, com uma distância entre-eixos de 1.580 mm e cáster de 28º seria de se esperar uma moto ruim de curva. Que nada, com um grupo de testadores profissionais babando atrás de mim com a outra diabólica Monster 1200 o jeito foi acelerar, mantendo um bom grau de responsabilidade. Para minha total surpresa ela enfrenta as curvas com sobra de limite. De vez em quando as pedaleiras raspam no asfalto, mas até chegar nesse ponto a diversão é garantida e o sensor de cagada avisa antes. Claro que no limite a frente dá um sinal de alerta para maneirar, mas ela se saiu bem melhor do que a concorrente da categoria a Harley-Davidson V-Rod.

A cada lombada tínhamos de exigir dos freios e felizmente, no modo sport, o ABS atua de forma discreta e sem comprometer a sensibilidade do piloto. São dois discões na dianteira e um na traseira. O mais legal é que a Diavel consegue ser uma moto com um ronco delicioso tanto na aceleração quando na redução! E finalmente a Ducati se livrou daquele antigo e barulhento sistema de embreagem a seco e aderiu ao multidisco em banho de óleo, com sistema deslizante. Além de ajudar a reduzir a força na manete, esse conjunto hidráulico suaviza o efeito redutor do motor quando fecha o acelerador. Mesmo assim a redução é bruta.

Em uma das lombadas o piso estava coberto de areia, condição de piso muito pior que molhado. Na reaceleração fiz questão de testar o controle de tração, girando o acelerador com violência em cima da terra e... bendita eletrônica! Funciona mesmo é pode-se sentir o motor limitar o giro enquanto o pneuzão traseira busca aderência.

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Escolha bem que modo quer usar! 

Falando em ronco, o original já é de arrepiar, mas você pode se arrepiar mais ainda ouvindo o ronco com escapamento Termignoni clicando aqui.

Em suma, a Diavel foi uma boa surpresa. Aconselho a entrar no site e destrinchar todas as informações, fotos e vídeos, inclusive da versão Carbon, com peças especiais e um pouquinho mais cara, mas muito linda também. Leia tudo sobre essa moto porque vale a pena e se eu ficar aqui descrevendo o texto fica enorme e ninguém lê.

E sei o que você, pão duro, está se perguntando: qual o consumo? Não sei, porque não sou taxista pra me preocupar com essas coisas, mas posso garantir que é bem melhor do que um motor de 1.198 cm3 poderia sugerir. Eu chutaria algo na faixa de 12 a 15 km/litro sem a menor preocupação com o acelerador.

Ah sim, está faltando o IPM - Índice de Pegação de Muié (ou Mano). Olha, o banco não é lá muito garupa friend, e aquele espaço entre a placa e o banco sem proteção vai molhar as costas de quem viajar atrás. O engenhoso sistema de pedaleiras da garupa até funciona, mas não é para ficar ali, pendurada por muito tempo. Como ela vem com uma capa opcional que transforma o banco em monoposto, sugiro esquecer esse modelo para viajar com a muié. Mas é extremamente xavecável na cidade e nos rolêzinhos até 100 km.

Mesmo assim é uma moto que impressiona pelo estilo único e diria que tem um alto IPM, algo perto de 8,5, naquela velha escala de 0 a 10. Porque mulher gosta de coisa exclusiva e tem horror a barata, a moto barata!


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