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A segurança higiênica

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Houve um tempo que se morria por falta de higiene. Não existia esgoto, o lixo era jogado nas ruas, as pessoas não tomavam banho com frequência e as doenças pipocavam em pragas que atingiam caráter epidêmico como a peste bubônica, que no século 14 causou a morte de 75 milhões de pessoas na Europa.

 

O controle de pragas e o conceito de sanitarismo praticamente acabaram com a possibilidade de uma pandemia como a que varreu 1/3 da população européia 700 anos atrás. Hoje a epidemia que desafia a humanidade é a morte por acidente, seja no trânsito ou no trabalho e que vai exigir a mesma filosofia de combate aplicada nas doenças transmissíveis: a prevenção, que gerou a famosa frase "é melhor prevenir do que remediar".

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Neste mês de outubro participei da FISP 2014, uma feira internacional voltada à segurança e prevenção de acidente no trabalho. É quase 100% dedicada a empresas que produzem equipamentos ou fornecem serviços na área de segurança no trabalho. Participei com a Abtrans, empresa especializada em segurança do trabalhador, mas com uma enorme diferença: éramos o único expositor focado na segurança antes e depois do expediente!

 

Como se sabe há décadas, os acidentes de itinerário entre casa-trabalho-casa entram nas estatísticas de acidente de trabalho. E as vítimas recebem indenizações tanto da empresa quanto do Estado, dependendo do tempo de afastamento. No entanto entre as 700 empresas que participaram direta ou indiretamente dessa feira a Abtrans era a única voltada à segurança viária, aquela do ir e vir do trabalho.

 

Nesta feira, que é bienal, tive a oportunidade de conversar com vários especialistas em segurança no trabalho e o resultado dessas entrevistas (jornalista não conversa, entrevista) foram algumas pílulas de segurança:

 

- A preocupação com segurança no trabalho atingiu o ponto de quase uma paranóia. Desde o piso anti stress até equipamentos e sensores ultra modernos, existe uma cadeia de produtos que movimenta uma enorme quantidade de dinheiro. Prova de que o investimento na prevenção, apesar de parecer grande, é muitas vezes menor do que o gasto com indenizações por afastamento.

 

- Desde uma simples reforma em casa, até o trabalho em enormes usinas a preocupação com a segurança deve permear toda ação. Pena que essa preocupação ainda se limite ao perímetro do local de trabalho.

 

- O custo de um afastamento do trabalho não é só a indenização salarial, mas vai muito além: um funcionário a menos em uma linha de montagem pode atrasar a produção, mesmo que seja substituído. Causa problemas muito maiores do que só perdas materiais. Segundo uma diretora industrial, demora alguns dias até a linha voltar ao ritmo normal e afeta diretamente a produção.

 

- O impacto psicológico que um acidente - sobretudo fatal - causa no ambiente de trabalho demora muito tempo para ser absorvido. Em alguns casos é preciso trabalhar com psicólogos para retomar o ritmo normal.

 

- Centenas de jovens estudantes estão investindo na carreira de técnico de segurança no trabalho, que pode vir a ser um campo ainda em expansão nos países em desenvolvimento. Mas, conversando com o presidente de uma empresa multinacional ouvi a seguinte teoria: "a segurança no trabalho será um conceito tão arraigado quanto a higiene; ninguém precisa falar para tomar banho ou escovar os dentes, todo mundo aprende isso desde criança e pratica. Com a segurança a tendência é todo mundo aprender e praticar sem necessitar de um técnico. Hoje nos países desenvolvidos existe a auto-regulamentação espontânea: o colega chama a atenção de quem está se expondo a risco". Bingo é isto!

 

Já escrevi algumas vezes que em alguns países europeus existe essa auto-regulamentação inclusive no trânsito. Motoristas são advertidos por pedestres, que são advertidos por ciclistas que recebem bronca de motociclista e todos dividem a responsabilidade pela segurança da coletividade! E, ao contrário do que acontece no Brasil, ninguém considera a bronca como "tomar conta da vida alheia", pelo contrário, respeitam e agradecem.

 

Pena que essa consciência de segurança ainda não atingiu a mobilidade. A forma como os trabalhadores vão e voltam do local do trabalho ainda é tratada como uma questão secundária. Quem nunca viu caminhões da Prefeitura transportando funcionários na caçamba? Quem garante que ao usar o ônibus fretado da empresa o funcionário usa o cinto de segurança? Quem fiscaliza se os veículos particulares (carros, motos ou bicicletas) usados pelos funcionários estão conservados?

 

E anote aí para cobrar depois: com o incentivo ao uso das bicicletas o número de acidentes pode aumentar porque não estou vendo investimento na instrução desses ciclistas que, por enquanto, percorrem ruas e avenidas como se não houvesse regra.

 

Nos últimos cinco anos o Brasil apresentou um dado alarmante, com média de mais de 55.000 mortes/ano. O que pouca gente sabe é que só se considera tecnicamente "morte no trânsito" a vítima que vai a óbito no local do acidente. Se for transferida para o hospital essa vítima não entra na estatística fatal. Portanto esse número é muito maior e mais assustador. É uma epidemia, claro, porque não se conhece uma doença que provoque 55.000 mortes por ano no Brasil.

 

Acredito que um dia a segurança pessoal chegará ao mesmo patamar de naturalidade da higiene, como previu o presidente da multinacional. Mas até lá é preciso investir na informação e qualificação. Segundo dados de especialistas em segurança de trabalho, para cada um real investido na qualificação e prevenção são economizados quatro reais em indenização.

 

Portanto, se não for pela fator humanitário, que seja pelo financeiro!

 

 

 


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