"Minha" Honda 125 réplica da RC 110 de 1962. Foto: Carlos Patrício
Evento clássico PNT reuniu carros e motos de coleção com pegas na pista
Realizado desde 2011 o evento Pé na Tábua, mais conhecido como PNT, saiu do seu palco principal, o kartódromo de Barra Bonita, SP, para o autódromo particular na Fazenda Dimep, do empresário e entusiasta do automobilismo, Dimas de Melo Pimenta. É um evento criado por e para entusiastas, mas o dono da batuta que rege toda a estrutura é o apaixonado Tiago Songa que decidiu, anos atrás, colocar os veículos clássicos para rodar na pista e não apenas expostos imóveis. Afinal são automóveis.
– Em um encontro tradicional de clássicos os veículos ficam parados e os entusiastas circulam por eles. No PNT são os veículos que circulam – explica Tiago.
A exemplo do tradicional evento clássico de Goodwood, na Inglaterra, a ideia era incentivar também a restauração de veículos clássicos de corrida. Com direito a uma corrida oficial, com pódio e troféus. Rapidamente a modalidade se espalhou que nem catapora em jardim da infância. Tanto que, em 2014, decidiu chamar o amigo e também apaixonado por clássicos, Jairo Portilho, para incluir as motos no evento, que recebeu o sobrenome TT, inspirado nas tradicionais Tourist Trophy inglesas. E é aí que eu entro nesta história.
Jairo (à esquerda) e Tiago: entusiastas que regem o evento. Foto: Tite
Para esta edição de 2021 Jairo decidiu me convidar para participar como piloto, a bordo de uma de suas quatro motos. Para mim seria reservada a honra de pilotar uma réplica da Honda RC 110, de 1962, feita a partir de uma Honda CG 125 de 1976. Curiosamente eu vi esta moto nascer quando fui visitar o Jairo cerca de três anos antes.
O convite veio 45 antes do evento e eu aceitei imediatamente. O evento foi de 9 a 12 de outubro, porém não poderia participar de todos os dias, apenas da data da corrida que foi numa segunda-feira, imprensada no meio do feriado de 12 de outubro. Nestes 45 dias tive a missão de emagrecer cerca de 5 kg para conseguir vestir de volta meu macacão de couro.
O pega com o Leonardo Freitas (29) durou até a bandeirada. Foto: Carlos Patrício.
Volta clássica
Fazia exatos 22 anos da minha aposentadoria como piloto de moto, em 1999, embolsando o vice-campeonato brasileiro da categoria 125 Especial, na qual competi com uma Honda RS 125 dois tempos. Naquela corrida derradeira eu tinha 39 anos e 59 quilos. Nesta segunda-feira de outubro estava com 62 anos e consegui chegar no necessário 69 kg pra vestir o equipamento de couro sem estourar o zíper.
Sem poder treinar cheguei e fui direto para as cinco voltas do warm-up. Já conhecia o circuito, mas a pista fora recapeada e estava mais veloz. Só tive tempo de calibrar os pneus, ajustar a posição das pedaleiras e larguei em último. Foram sete voltas de pura diversão. Nenhum dos participantes tinha experiência como pilotos “de verdade”, mas são colecionadores que gostam de curtir a emoção de acelerar uma clássica restaurada por suas próprias mãos.
Pilotar motos pequenas é muito mais difícil do que se pensa! Foto: Carlos Patrício.
Por isso não foi difícil assumir a ponta na quarta das sete voltas e vencer, sempre com o Leonardo Freitas colado na minha traseira. Segundo o locutor – o próprio Tiago Songa – foi a prova mais emocionante do dia porque teve disputa até a bandeirada. Pra mim foi uma diversão e certeza de que fui inoculado pelo vírus da restauração.
Fórmula de sucesso
No total foram cerca de 70 motos divididas em quatro categorias: até 125cc dois tempos, Fórmula Honda 125, Fórmula Honda 400 (conhecida como Cachorrão), e até 350cc dois tempos, onde correram as maravilhosas e lendárias Yamaha TZ 350 e TD 350.
Jairo na Yamaha TZ 350, engasgou na largada e chegou em segundo. Foto: Tite
Nos boxes pude voltar no tempo ao ver peças de coleção muito bem restauradas como Yamaha RD 50cc, Honda CB 125S, Suzuki A50II, Suzuki GT 550 e até uma raríssima Harley-Davidson Motovi 125 dois tempos! Mas a principal aposta do organizador está nas duas categorias monomarcas da Honda: as fórmulas 125 e 400. Criadas em 1976 e 1981, respectivamente, estas duas categorias foram responsáveis pela formação de toda uma geração de pilotos de motovelocidade.
Como são motos mecanicamente simples e fáceis de encontrar é certo que as duas categorias crescerão exponencialmente nos próximos eventos. E o “barato” é montar réplicas idênticas das motos que competiram, como a do piloto José Cohen, montada e pilotada pelo Jairo Portilho, e a réplica da moto do Adilson Cajuru Magalhães, restaurada e pilotada pelo empresário Alexandre Simões Zaninotto.
Fórmula Honda 400 réplica da moto usada por José Cohen. Foto: Tite
Da minha parte já pensei em vários projetos, continuarei o regime alimentar para reduzir um pouco mais o “air-bag” abdominal e melhorar um pouco a Hondinha 125. Certamente estarei no próximo e levarei mais colegas pra categoria.
Kombi todo mundo
Dentro da programação estavam duas categorias de carros VW: Kombi e SP2, dois clássicos que fazem a cabeça de qualquer colecionador do mundo. Os SP2 desfilaram, mas também competiram! Todos restaurados no maior rigor possível e obviamente as disputas foram no ambiente cavalheiro, afinal eram peças de coleção disputando frenagens!
Corrida de Kombi? Sim, temos! Foto: Carlos Patrício.
Já com as Kombi foi diferente. Com o saboroso trocadilho que batizou a categoria, a King Kombi tem preparação livre. Tão livre que Dimas de Mello Pimenta III preparou nada menos que uma Kombi com motor de Opala seis cilindros, pneus slicks e até aerofólio. Uma aberração! Também largaram Kombi com motor Porsche, com motor Subaru e algumas totalmente originais. Chegou a assustar ver as peruas entrando nas curvas fechadas, rodas ao ar, mas tudo sob controle. Um desafio às forças da gravidade, felizmente sem nenhum registro de capotamento.
O clima não poderia ser mais festivo, com barracas de camping, muito churrasco, presença de famílias inteiras (incluindo os pets), bem no espírito das corridas dos anos 1970. Sem regulamentos rígidos, muita poça de óleo, parafusos e porcas em fuga pela pista, com o saboroso toque de amadorismo que o evento exige.
Nunca vi tanto SP2 juntos. Foto: Tite
Obviamente a referência ao Festival Goodwood é exagerada, mas tudo tem um começo. Um dos mais animados era justamente o anfitrião, Dimas, que já iniciou as obras para aumentar o autódromo (passar de 2 para 5 quilômetros de extensão) e mais boxes, justamente para começar a receber carros e motos de corrida mais potentes. Outro entusiasta que já apareceu no evento é Nelson Piquet. Dono de uma respeitável coleção de carros e motos, ele é um dos incentivadores da modalidade.
Já eu, não consigo parar de pensar no próximo!
TZ 350 impecável. Foto: Tite
Pegas em todas as categorias. (Foto: Tite)
Parece que voltamos no tempo. Foto: Tite
Replica da moto de Kenny Roberts. Foto: Tite