O sorriso de um fenômeno: Quartararo calou a boca dos seus críticos. (Fotos MotoGP.com_
Etapa italiana do mundial de motovelocidade foi marcada pela perda do jovem Jason Dupasquier.
Competições motorizadas tem um risco inerente. Isso todo mundo sabe, mas faz de conta que não sabe. Essa certeza salta à vista só quando o mundo recebe a pior das notícias: a morte de um piloto. O trauma é ainda maior quando acontece ao vivo e transmitido para todo o mundo. Neste momento aquela certeza do risco desperta tanto nos fãs quanto nos pilotos.
O GP da Itália, disputado domingo no circuito de Mugello, na bela região da Toscana, foi marcado por esta tristeza. Jason Dupasquier, suíço de 20 anos, sofreu um acidente na segunda perna da curva Arrabiata e teve graves lesões torácidas e cranianas. Chegou a ser socorrido para o hospital em Firenze, mas no domingo veio a má notícia: ele se foi. Filho de um grande piloto de motocross, começou no Supermotard, depois passou para a motovelocidade sempre com bons resultados e estreou na Moto3 em 2020. Nesta atual temporada estava evoluindo a cada etapa até sofrer o acidente em Mugello.
Ainda sem saber da notícia os pilotos da Moto3 largaram no domingo com expectativa de um grande duelo entre Jaume Masia (KTM), Gabriel Rodrigo (Honda), Pedro Acosta (KTM) e o surpreendente Denis Foggia (Honda). Com o tradicional pega entre os pilotos, esta é a categoria mais emocionante do fim de semana. O nível de competitividade é tão alto que menos de um segundo separaram o vencedor do oitavo colocado.
Para os italianos foi a única oportunidade de ouvir o hino nacional com a emocionante vitória de Denis Foggia, seguido pelo espanhol Jaume Masia e do argentino Gabriel Rodrigo. A grande sensação da categoria, Pedro Acosta, chegou a liderar, mas terminou em oitavo lugar. Mesmo assim ele continua liderando o mundial com muita folga (111 pontos) à frente de Jaume Masia (59) e Ayumu Sasaki (57).
Um pega por milímetros de asfalto que premiou o italiano Denis Foggia (7).
Moto2
É pódio ou chão! Assim pode ser resumida a atuação de Sam Lowes (Marc VDS) em 2021. Veterano da categoria, ele está sempre entre os primeiros. Mas constantes quedas comprometeram sua posição no campeonato. Na etapa italiana não foi diferente. Depois da largada, o espanhol Raul Fernandez (KTM) partiu com Lowes e Remy Gardner (KTM) na cola. Os três trocaram de posição até faltarem seis voltas, quando Lowes caiu e abandonou.
A partir daí a briga ficou entre os “colegas” Gardner e Fernandez. Nos últimos metros Gardner conseguiu uma microscópica vantagem e venceu a primeira do ano e pela nova equipe. A apenas 0,014 segundo chegou Raul Fernandez, muito distante do terceiro na linha de chegada, o americano Joe Roberts (Italtrans). Mas ele foi punido por ter “alargado” a pista e perdeu a posição para o italiano Marco Bezecchi (VR46). No campeonato, Remy Gardner continua liderando, com 114 pontos, seguido de Raul Fernandez (108) e Bezecchi (88).
Filho de peixe: Remy Gardner segue os passos do pai, Wayne Gardner.
MotoGP
O circuito de Mugello é o único do calendário mundial que eu conheço muito bem. Em 2012 passei um dia inteiro pilotando uma superbike da Ducati. É uma pista maravilhosa, que gira no sentido anti-horário e tem a maior reta dos circuitos do mundial. As motos passam de 350 km/h para uma forte frenagem no final. Além de sequências de “S” que confundem o piloto. Desafiadora é uma das pistas preferidas de quase todos os pilotos, especialmente os italianos.
Mais do que o quintal dos pilotos locais, Mugello é a casa da Ducati, a mais veloz moto do circo da MotoGP. Mas quem fez a pole-position foi o surpreendente e renovado Fabio Quartararo (Yamaha), seguido pelo esquadrão Ducati formado por Francesco Bagnaia e Johann Zarco.
Quartararo nadando de braçada na Itália e franco favorito ao título de 2021.
Foi nesta categoria que os pilotos receberam a notícia do falecimento de Jason Dupasquier. Fizeram um minuto de silêncio e os pilotos mostraram muita comoção antes de darem a partida nas motos.
Logo após a luz verde três pilotos se destacaram: Bagnaia, Quartararo e Zarco. Quando todos acreditavam que os três duelariam até a bandeirada Bagnaia caiu e deixou o caminho livre para o francês Fabio Quartararo vencer com larga vantagem. A boa surpresa foi o bom desempenho da KTM com o português Miguel Oliveira. Ele conseguiu passar Joan Mir (Suzuki) e terminar em segundo, com Mir colado na sua roda traseira. Curiosamente os dois foram punidos por terem excedido os limites da pista, mas como a punição foi para os dois acabaram mantendo duas posições.
O ídolo local, Valentino Rossi (Yamaha) terminou em 10º já cada vez mais perto da aposentadoria aos 43 anos. E mais uma etapa que Marc Márquez (Honda) não marcou pontos após mais uma queda.
Não houve festa no pódio e Quartararo disse depois da corrida que pensava muito no jovem Dupasquier sempre que passava no ponto da pista onde houve o acidente. Ne teve como comemorar a consolidação de sua liderança na MotoGP, agora com 24 pontos de vantagem sobre Johann Zarco (que terminou em quarto) e 26 sobre Pecco Bagnaia.
Depois de uma temporada de altos e baixos em 2020, causada não apenas pelo problema - já corrigido - da síndrome compartimental no braço direito, Fabio Quartarato foi crucificado por uma boa parte dos "especialistas", embora tenha vencido três etapas. Em 2021 está em ótima fase e montado numa Yamaha capaz de se adaptar a qualquer circuito. Não é a mais veloz, mas é a mais eficiente. E nas competições nem sempre a mais veloz é a mais rápida.
Uma carreira promissora interrompida por uma queda: RIP Jason Dupasquier.
A dor e a glória de uma modalidade que traz o risco ou o sucesso em cada curva.