Play it again, Sam: terceira seguida de Sam Lowes na Moto2. (Foto: MotoGP.com)
Sam Lowes vence pela terceira vez consecutiva na Moto2, Franco Morbidelli vence pela segunda vez na MotoGP e Jaume Masiá ganha a segunda na Moto3 em Teruel
Outro domingo para tirar o fôlego de quem gosta de motovelocidade. Foram três provas que embolaram mais ainda o campeonato, abriu disputa nas três categorias e ainda restam 75 pontos em jogo. Nada está decidido e havia muitos anos que o público não tinha um campeonato de MotoGP tão equilibrado.
Tudo em função da ausência de Marc Márquez (Honda) que fraturou o úmero na primeira etapa e viu piorar a gravidade com uma segunda fratura no mesmo local. Só relembrando, Marc quebrou o braço na primeira etapa na Espanha no dia 19 de julho. Menos de uma semana depois tentou voltar à pista, sentiu que seria impossível e foi pra casa. De forma irresponsável começou a malhar feito louco e poucas semanas depois teve uma segunda fratura no mesmo local, alegando que “foi abrir uma janela”. Daí em diante sua recuperação é uma incógnita, porque a equipe blindou o piloto. Fala-se em uma nova cirurgia, que seria para retirada da placa que sustenta o osso, portanto ele só volta mesmo em 2021.
Eu trabalhei em hospital por 18 meses como fotógrafo e cinegrafista. Vi dezenas de cirurgias de osso e aquilo parece uma funilaria e pintura das quebradas. Quando um osso quebra duas vezes no mesmo lugar – com placa de platina – os médicos precisam abrir de novo, alinhar o chassi e pregar a placa de volta. Essa placa é parafusada e não se pode parafusar duas vezes no mesmo local para não fragilizar o osso. Então toca fazer mais furos, com uma furadeira mesmo, broca, lixa, que nem remendo de lataria de Fusca.
Se não calcificar é preciso abrir o cabra de novo, inclusive no quadril, retirar um pequeno pedaço da osso do quadril (perto da crista ilíaca) e fazer um enxerto. Isso mesmo, tipo uma roseira de jardim. Isso acelera a formação do “calo ósseo”, mas a placa continua lá. Não foi o caso do Marc, mas fala-se em uma quarta cirurgia (melhor colocar logo um velcro no cara) para a retirada da placa. O que não sabemos é a extensão das lesões em nervos e tendões. Se houve lesão é grande a chance de perda da capacidade preênsil da mão direita, justamente a mais solicitada por causa do acelerador e freio dianteiro. Em suma, quem for das lidas religiosas, reze; quem não for, torça, porque o quadro é preocupante. Vai precisar muita fisioterapia e treino com moto para voltar em 2021 com ritmo.
Com ele na pista, em 2019, a seis etapas do fim já era campeão antecipado. Aliás, 2019 foi um campeonato com uma das maiores diferenças de pontos entre campeão e vice, chegando a impensáveis 150 pontos! Para 2020 tudo mudou. Sem o bicho papão da categoria tivemos oito vencedores em 11 etapas e somente Morbidelli e Fabio Quartararo venceram mais de uma vez, ambos da equipe Yamaha-Petronas.
Já Valentino Rossi continua se recuperando do Covid-19. Deve estar tomando cloroquina, Arlequina, estricnina, qualquer coisa pra poder voltar ainda nesta temporada mas, claro, sem ritmo.
Jaume Masiá faturou com autoridade a segunda seguida. (MotoGP.com)
Jaume demasiado veloz
A programação do GP de Teruel começou com a eletrizante Moto3. A categoria mais equilibrada de todas largou com pinta de que o espanhol Albert Arenas (KTM) cruzaria em primeiro para ampliar a vantagem sobre o segundo, o japonês Ai Ogura (Honda). Antes da metade da primeira volta os cinco primeiros colocados já tinham trocado de posição pelo menos meia dúzia de vezes. Este foi o tom da corrida. Eu ficava com um olho na tela e outro na tabela do living time. Uma loucura. Tive pena do Hamilton Rodrigues...
Caiu? arranhou o macacão de couro? Não se desespere, clique na foto aí em cima porque tem conserto!(MotoGP.com)
O piloto Sergio Garcia (Honda) largou na última fila, em 28º lugar e na metade da corrida estava em quarto! Deu até a entender que poderia vencer, mas acabou caindo por culpa do japonês Tatsuki Suzuki (Honda) na penúltima volta!
Faltando duas curvas para a bandeirada Albert Arenas estava em segundo e parecia ter um pódio garantido, mas um pequeno erro, milimétrico, o fez perder duas posições e cruzar em quarto. Ainda lidera o mundial de Moto3 e é o franco favorito, só que agora com 19 pontos sobre Ogura e 20 sobre o italiano Celestino Vietti (KTM), quinto colocado na prova. Jaume Masiá tinha um pouquinho mais de velocidade no final da reta e ficou com a merecida vitória, que teve um marco importante: foi a 800ª vitória da Honda em provas do mundial desde 1961.
Este final de campeonato vai ser aquela briga de foice no elevador com a luz apagada, vale a pena acordar cedo.
Dai Franco! Segunda vitória de Morbidelli o coloca na briga pelo título. (MotoGP.com)
Franco atirador
A MotoGP fez a segunda prova do dia, com o surpreendente japonês Takaaki Nakagami (Honda) na pole-position. Um feito notável para uma equipe satélite e que colocou a Honda de volta no topo de um grid de largada desde 2019. Ao lado dele o italiano Franco Morbidelli (Yamaha) e o espanhol Alex Rins (Suzuki). No sábado eu li uma entrevista do Nakagami afirmando que já na etapa anterior o engenheiro da HRC passou uma “cola” pra ele com a telemetria de MM93. Com isso o japa estudou tudo que MM93 fazia e fez igual. Foi difícil, claro, mas conseguiu, o que mostra que tudo é possível com um pequeno esforço e alguma espionagem.
Nakagami era o favorito, tido como franco atirador, porque tinha um bom ritmo nos treinos e, sem chance de título, poderia correr apenas pensando na vitória. Pena que essa alegria durou apenas duas curvas, pois ele caiu logo depois da largada, por conta do pneu dianteiro ainda frio. Morbidelli largou muito bem, assumiu a ponta e não perdeu mais até a bandeirada, impondo um ritmo frenético. Alex Rins que saiu em terceiro, até tentou, mas não conseguiu chegar nem perto do italiano, terminando em segundo. Joan Mir (Suzuki) largou em 12º, fez uma corridaça e fechou o pódio em terceiro, ampliando a liderança no campeonato. Ele pode se tornar o segundo espanhol a conquistar um título mundial sem vencer nenhuma prova. Antes dele foi Emilio Alzamora, em 1999, campeão mundial na 125cc, sem nenhuma vitória.
Brilhante corrida de Alex Rins, mas não conseguiu buscar Morbidelli.(MotoGP.com)
Bom, aqui cabe uma explicação: Alzamora realmente foi campeão e eu vi, porque estava lá no Rio de Janeiro. Mas o vice foi o Marco Melandri, com cinco vitórias na temporada. As carreiras de ambos seguiram. Alzamora foi ladeira abaixo e caiu no esquecimento. Melandri foi campeão mundial na 250cc em 2002, venceu cinco corridas na MotoGP e curtiu a aposentadoria vitoriosa na Superbike. E Alzamora? Virou “coach” do Marc Márquez pro resto do tempo. Dizem que foi ele que descobriu o pequeno gênio espanhol. Isso prova que nem sempre o título vai pro melhor, mas para aquele que erra menos.
Ótimo trabalho de Johan Zarco com uma Ducati velhinha (MotoGP.com)
Fantástica prova do francês Johan Zarco (Ducati) que se manteve sempre entre os primeiros e conseguiu segurar o ímpeto do português Miguel Oliveira (KTM) nas últimas voltas para arrancar um excelente quinto lugar, atrás do também surpreendente Pol Espargaró (KTM).
Com esta vitória, Morbidelli se coloca como um dos candidatos ao título, porque agora tem apenas 25 pontos de desvantagem para o líder, Mir. Por outro lado, Fabio Quartararo (Yamaha) mais uma vez fez uma corrida decepcionante, mas ainda marcando pontos pelo apagado oitavo lugar.
Sobre o Morbidelli, mais uma vez: tecnicamente falando, ele só pode ser chamado de ítalo-brasileiro se tiver dupla cidadania. Eu duvido que ele tenha passaporte brasileiro, dada a inutilidade perante ao da Comunidade Europeia. Senão um quinto dos paulistanos nascidos nos anos 40 e 50 poderão ser tratados como ítalo-brasileiros ou luso-brasileiros porque esta cidade foi praticamente povoada por imigrantes italianos e portugueses (inclusive eu, que seria um ítalo-luso-brasileiro). Como eu não sei se ele tem cidadania brasileira, nem nunca li nada a respeito (se alguém souber me avisa), continuarei a tratá-lo como ITALIANO, nascido em Roma. Porque sou avesso a pachequismo!
Mineiramente Joan Mir vai se consolidando na liderança da MotoGP. (MotoGP.com)
Play it again, Sam
Desta vez ninguém precisou cair para Sam Lowes (Marc VDS/Kalex) vencer de ponta a ponta. Largou na pole, ignorou os adversários e colocou abissais 8,5 segundos sobre o segundo colocado, o italiano Fabio Di Giannantonio (Lightech/Speed Up). Surpreendente terceiro lugar de Enea Bastianini (Italtrans/Kalex). Quem fez a prova mais divertida foi o espanhol Jorge Navarro (Lightech/Speedup). Saindo na segunda posição, ele se desconcentrou na largada, deixou a moto empinar e caiu para a 15ª posição. Fez uma corrida de recuperação fantástica e terminou em quinto bem perto do australiano Remy Gardner (Onexox/Kalex).
Mais certinho que Big Ben: Sam Lowes correu como um relógio, sem falhas. (MotoGP.com)
Mais uma decepção na conta do italiano Luca Marini (VR 46/Kalex). O meio-irmão de Valentino Rossi teve um começo de temporada fulminante, mas com duas provas sem marcar pontos viu sua liderança ser pulverizada. Na prova de Teruel até começou bem, mas perdeu ritmo e terminou em 11º a 24 segundos do vencedor. Pra mim tem a ver com a ausência do irmãozão, porque nas duas provas que o VR46 faltou ele despencou ladeira abaixo.
Com este resultado Sam Lowes assumiu a liderança com 178 pontos, sete a mais do que o segundo, Enea Bastianini. Marini ainda está em terceiro, com 155 pontos e com 75 pontos ainda em disputa. Esta terceira vitória consecutiva do inglês Lowes deu-se 49 anos depois de Phil Read conseguir três em seguida para a Inglaterra na categoria intermediária (na época 350cc).
A próxima etapa será dia 8 de novembro, em Valência, Espanha. A título de curiosidade, muita gente pergunta porque muda o nome da prova se é realizada na mesma pista. Por isso mesmo: para não confundir qual “GP da Espanha” estamos nos referindo. Mas também por questões de direitos autorais de marca. Cada GP tem um registro e não pode haver mais de um com o mesmo nome. E de quebra, dá-se a oportunidade de mudar de patrocinador e faturar duas vezes.
Outra curiosidade: por que não tem mais as (sem adjetivos qualificativos) grid girls? Por causa da maldita pandemia que voltou com tudo na Europa. Sinto muita falta daquelas mocinhas pouco vestidas da Monster Energy. Eu e todos vocês!
E hoje não tem bastidores porque meu único incidente foi cortar o dedo no café da manhã. Dessa vez correu tudo bem! Até a próxima! Açulera Brasil!!!
Pow, Naka Sam, relaxa porque você pilotou muito! (MotoGP.com)