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Os bastidores da segunda etapa do Mundial de Motovelocidade.

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Eric, Eric, Eric Granado do Brasiiiiiiiiiillll! Narrei uma vitória brasileira no Mundial!

Como foi a jornada da primeira etapa completa do mundial de Motovelocidade

Acordei atrasado! Simplesmente esqueci de colocar o despertador para 4:30 da manhã e quando despertei já era mais de 6:00 hrs! Mandei um whatsapp desesperado para o produtor da FoxSports que laconicamente me disse que eu tinha sido substituído por outro comentarista. Desesperado liguei a TV e realmente tinha outra pessoa comentando e eu estava definitiva e eternamente fora da Fox!

Felizmente isso foi um sonho, na verdade um pesadelo. Acordei desesperado, olhei no relógio e era 3:05. Nada daquilo tinha acontecido de fato. Voltei a dormir e acordei pontualmente às 4:25 com o despertador de verdade.

Toda véspera de um avento importante sempre me gerou pesadelos horríveis. Perdi a conta de quantas vezes sonhei que estava faltando um minuto pra largada e tinha esquecido o capacete em casa. Isso dá uma dimensão do tamanho da responsabilidade que me coloquei ao ser chamado para comentar as provas do mundial de motovelocidade. Foi uma overdose de adrenalina na primeira etapa três meses atrás e outra nesta madrugada. Assim como as corridas, espero que isso pare com o tempo, mas encharquei o pijama de suor!

Jornalistas, pilotos, campeões mundiais, médicos, advogados, engenheiros são pessoas normais como eu, você e a dona Maricota que mora no interior do Pernambuco. E pessoas normais tem os mesmos medos e expectativas. O medo de um comentarista ou narrador de eventos ao vivo é errar. Porque uma vez que a palavra sai da boca não tem mais como colocar de volta. Já saiu, ganhou a liberdade como um passarinho que fugiu da gaiola. Não tem volta. Já era.

Essa pressão mexe até com o mais experiente profissional de mídia eletrônica. Sou jornalista de mídia impressa há quase 40 anos. Impresso pode ser conferido, lido e revisado um zilhão de vezes, mas eletrônico ao vivo não. Temos de pensar, elaborar, editar um texto na nossas cabeças enquanto estamos falando. E quando o narrador chama “o que você acha, Tite Simões?”, o texto precisa estar revisado, relido, corrigido e editado antes de eu abrir a boca. E nunca sai como pensei!

Neste domingo, 19 de julho de 2020 fiquei das 5:00 às 10:00 diante de um monitor de notebook criando, editando, corrigindo e narrando pequenos textos para milhares de ouvintes. Só tenho uma coisa a pedir: desculpe se eu errei.

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Eric Granado do Brasiiiiiiiil

Na transmissão da primeira etapa eu fui até o estúdio da FoxSports no Rio de Janeiro e fizemos de dentro de uma cabine, com equipamentos profissionais, diretor, produtor, tudo ali perto. Desta vez cada um estava na própria casa, usando os equipamentos caseiros e sujeitos a todo tipo de interferência caseira como campainha que toca, cachorro que late, vizinho que ouve Los Hermanos etc.

No sábado eu não pude comentar os treinos porque estava dando aula na ABTRANS. No final do dia fizemos uma reunião online para ajustar microfones, luz ambiente e coordenar as pautas. Nesta reunião o Téo José estava aborrecido porque estavam criticando demais as pronúncias dos nomes dos pilotos. Conheço o Téo há quase 40 anos. Trabalhamos juntos em várias ocasiões e sei do esforço que ele dedica nas transmissões. Não é do tipo de fazer piadinhas e é extremamente estudioso. Ele fez um trabalho apurado de pesquisar os 100 nomes dos quatro grids de largada para saber como era a pronúncia nas línguas de origem de cada um. Ele faz isso com futebol, basquete, vôlei, qualquer esporte que narra. Confesso que eu jamais teria essa paciência. Mas ele teve. Mesmo assim estava sendo criticado. Porque o público ficou 13 anos acostumado com outras pronúncias, sem se dar conta de saber quem estava certo ou errado.

Tentei contemporizar explicando que não tem como acertar a pronúncia de 100 nomes de diversos países. E olha que eu estudei alguns idiomas esquisitos na minha vida! Mesmo assim ele estava super chateado com as críticas. Por isso no domingo ele desabafou no ar sobre esse assunto.

O meu pesadelo quase se tornou realidade porque na manhã de sábado um caminhão baú passou na minha rua e arrancou os fios do poste. Os três: da luz, internet e TV a cabo!!! Isso é de enfartar qualquer cidadão. Felizmente foi só uma descarga de adrenalina a mais porque as três empresas vieram rapidamente e consertaram tudo. Mas eu perdi alguns meses de vida...

Domingo pontualmente às 5:00 da madrugada eu estava no ar junto com Edgard Mello Filho e Téo José Auad para a largada da categoria Moto-E com o Eric Granado largando na primeira posição. Eu sempre brinco com ele dizendo que “te conheço desde quando você era um heterozigoto” e é verdade! O pai dele já corria de moto no meu tempo de piloto e chegamos a dividir a pista em duas ou três ocasiões. Ver ele ali no grid de largada em primeiro mexeu com meus intestinos!

Depois da largada recebi uma mensagem do pessoal técnico que meu áudio estava ruim! Eu não tenho um microfone direcional e meu som estava muito “sujo”. Tive de sair correndo pela casa, com a corrida rolando, para achar pelo menos uns fones de ouvido. Achei mas perdi parte da corrida da Moto-E. Quando voltei o Eric já tinha mais de dois segundos de vantagem. No final da corrida tive de controlar a emoção. Na hora do Hino Nacional também deu aquele nó na garganta. Espero acostumar com isso, mas fico imaginando os narradores e comentaristas que tiveram de controlar a emoção diante das conquistas dos brasileiros em diversas categorias. Galvão Bueno está perdoado pelo éééé teeeeetra, éééééé teeeeetra!

A corrida todo mundo viu: Eric perdeu a liderança só nas primeiras curvas porque deixou a moto empinar na largada. Depois passou o Dominique Aergeter e sumiu. No intervalo entre a Moto3 e a Moto2 conseguimos entrevistar Eric ao vivo. Ele contou que na primeira volta lançada conseguiu ser um segundo mais rápido do que seu tempo da pole-position! Isso não é pra qualquer um e mostra que as corridas da Moto-E são 7 voltas de classificação pura! Que corrida!

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Albert Arenas fez outra corrida totalmente sob controle. (Foto: MotoGP)

Na Moto3 tudo levava a crer que Albert Arenas não repetiria a vitória da primeira etapa no Qatar, porque estava cometendo muitos erros. Que nada, depois de quase se arrebentar ao sair da pista em plena reta, o espanhol focou no pelotão da frente e conseguiu ultrapassar na última volta. Que corrida e que vitória, a segunda consecutiva e que abriu uma larga vantagem sobre o segundo colocado na tabela geral. Nesta categoria vimos muitas quedas e é normal porque são tudo uns retardadinhos cheios de hormônios. Mas já era um indicativo que a pista de Jerez é bem traiçoeira.

Moto2 - Luca Marini: 'O meu sonho é correr na MotoGP com Valentino ...

O irmão do campeão: Luca Marini tem DNA de Valentino Rossi nas veias. (Foto: divulgação)

Na Moto2 eu já comecei pisando na bola ao elogiar o americano Joe Roberts. O desgraçado andou o tempo todo lá atrás e fez eu queimar a língua pela primeira vez ao vivo. Pelo jeito, aquela pole dele no Qatar foi o que se chama de voo de galinha: dura pouco!

O Edgard cantou a bola antes da largada ao sinalizar que o mais constante nos três dias de treinos tinha sido o Luca Marini, mezzo-fratelo do Valentino Rossi. Ele mandou na prova do começo ao fim e quando o Nagashima tentou chegar perto deu duas escorregadas de enfartar, acalmou e manteve a segunda posição. O que foi ótimo porque sai desta etapa líder tranquilo do campeonato.

&%$@#$**& Marquez!!!

Nunca fui muito de idolatrar piloto, nem ninguém na verdade. Mas tenho de admitir que Marc Marquez é tudo aquilo que se admira num piloto: é rápido, divertido, super simpático, ri o tempo todo e tem aquele plus a mais que só as grandes estrelas tem. Mas é doido! Se normal fosse, piloto não seria.

A pole do Quartararo não abalou nem surpreendeu ninguém. Todo mundo vai ouvir isso muitas vezes, mas a posição de largada na motovelocidade não é tão decisiva quanto no automobilismo ou kartismo. Por isso todos nós sabíamos que MM93 partiria para a liderança em pouco tempo. E foi assim, liderando o pelotão que ele exagerou e deu aquela desgarrada de frente que só não terminou em tombo porque Deus não quis. Revendo a cena várias vezes percebe-se que ele apoiou o cotovelo e o joelho esquerdos para trazer a moto de volta, coisa de sobrenatural. Perdeu várias posições, voltou em 16º na frente só do irmãozinho, a 8,5 segundos do primeiro colocado.

O que se viu nas 20 voltas seguintes só foi crível porque o mundo todo estava vendo: nunca vi um piloto baixar o tempo de volta ultrapassando outros pilotos. Ele se impôs um ritmo tão fora do normal que passou 13 pilotos como se fossem de uma categoria menor. Estava em terceiro lugar com o Maverick Viñales na mira quando passou com o pneu dianteiro na zebra interna e foi arremessado que nem um míssil Exocet. Caiu e foi atingido pela própria moto quebrando-lhe o braço direito.

Na hora que a câmera mostrou ele pedindo para o fiscal desafivelar o capacete já vi que era grave, mas fiquei na minha. Não queria ser o arauto da desgraça, mas mandei um recado pelo chat interno avisando que era caso de fratura, mas achei que era punho ou escafoide. Não deu outra, foi o úmero.

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Quarta, El Diablo, venceu a primeira de muitas provas na MotoGP. (Foto: MotoGP)

Fabio Quartararo administrou a vantagem sobre Viñales e quem deu o pulo no gato nas últimas voltas foi Andrea Dovizioso arrancando um ótimo terceiro lugar, mesmo com o ombro recém operado.

Foi uma corridaça, que poderia ter entrado para a História se MM93 não tivesse caído. Mas... não existe “se” no mundo das corridas. Foi um erro (causado por outro erro) que vai custar caro porque foram 50 pontos jogados fora, na premissa de que venceria as duas etapas. Domingo que vem será mais emocionante ainda porque as equipes já sabem o que corrigir pra segunda etapa. Aposto nas Yamaha de novo porque a Ducati não vai bem nesta pista e a Suzuki ficou sem Alex Rins. Não sabemos se a Honda chamará alguém para pilotar a moto do Marc Marquez nesta segunda etapa. Agora era um bom momento para chamar Casey Stoner e ver como o australiano está pilotando.

Depois da bandeirada fomos informados que a transmissão seria encerrada às 10:05, quando eu e o Edgard faríamos os comentários finais. Mas para nossa surpresa entrou uma chamada antes e não pude agradecer três pessoas especiais que ajudaram na transmissão: Nenad Djordjevic (este sobrenome é difícil), Eduardo Minhoca Zampieri e Marco Granado.

Também queria dizer aos PENTELHOS de plantão que um cara que fica narrando QUATRO categorias seguidas ao vivo pode se permitir cometer erros. Fiquei puto ao ler alguns mega especialistas comentando que o Téo José falou "manete do acelerador". Porra, vamos cobinar que manete e manopla são palavras bem parecidas e o cara deve ter falado dois milhões de palavras nestas cinco horas, errar UMA está totalmente dentro das expecativas. Pelo menos ele não te chamou de pobre ao vivo ao comentar que sua televisão foi comprada nas Casas Bahia em 24 prestações, ou gritou pra você aumentar o volume e acordar a avó, como fazia o outro locutor...

Semana que vem tem mais, vamo que vamo!


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