Quantcast
Channel: @Motite
Viewing all articles
Browse latest Browse all 291

À espera de um paradigma

$
0
0

 

 

Só uma nova ordem mundial para restabelecer o equilíbrio

 

Contam os historiadores que o primeiro paradigma universal foi o cristianismo, a ponto de dividir a História da humanidade em antes e depois de Cristo. O segundo paradigma de caráter universal foi a percepção de que a Terra é arredondada e que o Sol é o centro do sistema solar.

 

O conceito de paradigma é um fenômeno - ou conhecimento - que muda radicalmente tudo que se conhecia antes. Dizem os cientistas que estamos prestes a viver o terceiro paradigma universal que é a reprodução humana assexuada, algo que vai tornar esse mundo muito mais sem graça...

 

Só que existe ainda a suspeita de que um terceiro paradigma está próximo de se revelar e que vai mudar nossa forma de ver o mundo: contato com extra-terrestres! Há quem diga que eles já estão entre nós, mas vamos deixar as suposições e viagens doidonas de lado.

 

O que tudo isso tem a ver com o trânsito?

 

Muito simples: só um grande paradigma é capaz de reverter o quadro epidêmico que chegou o comportamento humano sobre rodas. No Brasil são 44.000 mortes em acidentes de trânsito por ano. Cinco por hora. São números inaceitáveis sob qualquer justificativa.

 

Para ficar só na cidade de São Paulo (região metropolitana) foram 1.152 óbitos em 2013, divididos em 512 pedestres (atropelamentos), 200 com automóveis (motorista+passageiro), 403 motociclistas (e garupa) e 35 ciclistas. A desproporcionalidade de motociclistas chama a atenção, porque a frota de moto é menos de 1/4 da de automóveis.

 

Sempre que o tema "acidente de trânsito" surge em pauta aparecem explicações que procuram tirar a responsabilidade de ser humano. É um tal de criticar as estradas, os veículos, a educação, etc. Mas por trás de todo acidente está o elemento fundamental causador, que é o fator humano. Apenas cerca de 4% dos acidentes entre veículos são atribuídos a problemas nas vias ou defeito nos veículos.

 

Alguns dados revelados pelo Relatório Anual de Acidentes do CET de São Paulo ajudam a direcionar a verdadeira responsabilidade. O primeiro dado que salta à vista é com relação aos dias da semana. Sábado e domingo são os dias mais violentos no trânsito da Capital. Para quem trabalha com segurança viária isso não é novidade, porque existe uma velha expressão: "durante a semana as pessoas se acidentam, no fim de semana elas morrem". E o motivo é fácil de acertar: bebida alcoólica e outros alucinógenos.

 

O segundo dado que passa despercebido pelas autoridades é com relação ao horário dos acidentes. Nos finais de semana eles acontecem com mais frequência das 23:00 às 8:00 horas, ou seja, na volta da balada, já doidão! Já durante os dias de semana o pico de acidentes é às 8:00 horas, o que indica que a vítima estava saindo de casa para o trabalho ou estudo.

 

Ainda analisando esse estudo, que é enorme, aparece um dado que entristece a todos nós. Os motociclistas que morrem no trânsito estão principalmente na faixa de 20 a 29 anos. Já entre os pedestres - e isso é uma grande surpresa - está acima dos 40 anos. Com relação às profissões, entre os motociclistas a maioria é de estudante e só bem depois aparecem os motoboys, ao contrário do que se imaginava.

 

Uma análise bem simplificada desses números pode ajudar a reduzir essa guerra civil que virou o trânsito de São Paulo. Em primeiro lugar é urgente que se intensifique a fiscalização, sobretudo nos fins de semana e de madrugada. Hoje só se vê blitz de trânsito até às 18:00 horas, depois parece que encerra o expediente. E também ampliar exponencialmente a figura do agente de trânsito para tirar da polícia militar essa função de tomar conta de motoristas e motociclistas. É preciso criar um policiamento específico para o trânsito, formado por pessoas que tenham treinamento educacional e não repressivo e que seja extensivo aos ciclistas e pedestres. As pessoas não nascem criminosas, elas se tornam por falta de orientação e educação.

 

No caso dos atropelamentos de pedestres fica evidente que a idade é um fator contribuinte e o que pode estar gerando essa situação é a falta de investimento nas vias, como a construção de passarelas e semáforos efetivamente inteligentes. Aí sim o poder público tem de trabalhar. Quanto mais idoso, mais lento é o ser humano e um semáforo de pedestres precisa levar isso em conta. O mesmo para passarelas que exigem esforço físico.

 

Pelo menos um número soa esperançoso: em relação a 2012, o ano de 2013 apresentou uma redução de 8% nas vítimas fatais no trânsito. Mesmo com o aumento da frota. Mas aonde entra o paradigma?

 

Querer reduzir os números de vítimas fatais no trânsito apenas com medidas burocráticas é um trabalho inócuo. O maior objetivo das campanhas de prevenção de acidentes deve acertar no alvo que é o fator humano. A cada dia que passa vemos uma decadência nas relações humanas, exposta até mesmo nas redes sociais. Parece que existe uma sintonia cósmica que transforma as pessoas em dois grupos: os do contra e os a favor. E com isso desaparece o grupo de pessoas mais necessário nessa missão, que é dos agregadores e cooperadores.

 

A sociedade está se baseando cada vez mais no conceito maniqueísta de que só pode haver dois lados para tudo: o certo e o errado, mas o problema é o caráter de quem julga. O que é certo ou errado? Está certo dirigir alcoolizado, falando no celular ou usar película escura proibida? Está certo pilotar uma moto a 90 km/h no corredor entre os carros? Está certo pular uma cerca para não ter de andar 200 metros e atravessar pela passarela? Para quem está atrás do volante, do guidão da moto ou a pé o conceito de certo ou errado é muito particular e adaptável à sua comodidade.

 

Aí que entra a minha esperança em um grande e transformador paradigma universal: só diante das crises o cidadão se mostra solidário. Uma ameaça de extermínio da humanidade, ou uma grande revolução na ordem social podem acabar com esse egoísmo predominante que se aflora no trânsito na forma do "esse veículo é meu, paguei por ele e ninguém vai me dizer como dirijo" (frase lida no vidro de um carro em SP).

 

Talvez um pequeno cataclismo para lembrar os cidadãos que somos humanos, filhos da mesma raça e que só evoluímos como espécie por meio da cooperação e soma de esforços. Em outras palavras, o que precisamos é de mais gentileza e cordialidade! Que venham os ETs!

 

 


Viewing all articles
Browse latest Browse all 291