Na medida para cidades pequenas. (Foto: Caio Mattos)
Nova geração da Honda Biz 110 e 125 chega mais segura, moderna e bonita
Algum tempo atrás, escrevi uma avaliação da Honda Biz 125 com o sugestivo título de “A melhor moto do mundo”. Claro que deu uma baita polêmica, mas o recado era muito simples: a melhor moto do mundo é aquela que está na sua garagem e pronto! Mas o que mais me impressionou ao reler o teste da Honda Biz 125+ de junho de 2008 é dos quatro itens que eu sugeri mudanças a Honda realizou os quatro! Só para começar bem essa avaliação, veja quais foram os itens que anotei nove anos atrás e que a Honda mudou na nova Biz.
- Gancho porta sacola no escudo frontal: agora a Biz conta com esse gancho escamoteável, ainda melhor e mais seguro do que o que eu sugeri à época.
- Abertura do banco pela chave: cheguei a mencionar que a trava do banco na lateral arranhava a pintura.
- Eliminação do pedal de partida: naquela época a Honda justificou a manutenção do pedal porque a Biz era uma moto ainda muito usada nas casas de veraneio e que algumas passavam muito tempo desligadas, descarregando a bateria. Agora o perfil do dono de Biz mudou e o sistema elétrico está mais confiável. Eliminaram o pedal de partida!
- Pedaleira de garupa colocada no quadro fixo: agora a nova Biz não causa tanto desconforto para quem roda na garupa.
Pode parecer muita pretensão, mas acredito que meus pitacos foram na mosca!
Freio CBS (na preta): mais segurança. (Foto: Renato Durães)
Como é?
Diz a lenda que ao criar o conceito CUB, Soichiro Honda teve como premissa primordial que deixasse uma das mãos livres. Por isso optou pelo câmbio sequencial, porém com embreagem automática. E o motivo era para poder pilotar e transportar alguma sacola, coisa que os japoneses faziam com naturalidade lá em 1958.
A quantidade de Honda CUB que saiu das linhas de montagem é inacreditável: ela alcançou a cifra de 100 milhões de unidades vendidas em 160 países nestes 60 anos. Aqui no Brasil elas chegaram importadas no começo dos anos 1960 – aprendi a pilotar motos em uma CT 90cc – e finalmente em 1992 a Honda do Brasil começou a trazer do Japão e nacionalizar a C 100 Dream, nossa primeira CUB feita em Manaus.
Mas a grande revolução viria em 1998 quando os engenheiros brasileiros perceberam que poderiam reunir o melhor das CUB com o melhor dos scooters e o Brazil´s Project virou a Biz (pela sonoridade da sigla B's), com porta-capacete sob o banco como um scooter e câmbio seqüencial como nas CUB. Para conseguir esse resultado foi preciso usar uma roda traseira de 14 polegadas, grande sacada e marca registrada da Biz até hoje, que já largamente copiado por fabricantes chineses, indianos etc.
Eu avisei: coloca a pedaleira de garupa no quadro fixo. (Foto: Caio Mattos)
A nova Biz
De todo esse processo, chegou-se à nova geração da Biz inicialmente com motor 100cc, depois 125 (2005), injeção eletrônica (2007) e tecnologia flexível (2011). Agora é a vez do sistema de freios combinados CBS, solução relativamente simples que dá muito mais segurança para quem pilota.
O primeiro impacto positivo é no novo conjunto ótico, com lanternas de LED e farol com formato bem mais moderno (lembra um gatinho). Ficou com aparência mais de scooter e menos de utilitária. Os painéis também são totalmente novos e na 125 tem o acabamento Blackout todo cheio de informações coloridas. Nas duas o painel tem um indicador de economia batizado de E-Lamp. Quando a luz está acesa indica o melhor consumo naquela condição. Para um pão duro como eu isso faz muita diferença. Não chegamos a fazer teste de consumo, mas pode-se calcular facilmente algo perto de 45 km/litro com gasolina. Em ambas o tanque é pequeno, com apenas 5,1 litros, mas que em termos de autonomia passa de 270 km.
Para conhecer melhor essa motoquinha que já faz parte do cenário brasileiro, fiz um teste em duas fases: primeiro dentro da área do CETH da Honda em Indaiatuba (SP) e depois nas ruas da cidade. Pude rodar nas duas versões: 110 e 125cc, ambas com freios CBS, mas a Biz 110i é oferecida apenas com freio dianteiro a tambor. Sim, você poderia se perguntar “mas por que ainda se faz motos com freio a tambor em pleno século 21?”. E a resposta é a mais prosaica possível: porque em pleno século 21 ainda tem gente que morre de medo de usar moto com freio a disco na dianteira!
Honda Biz 110i: rodas raiadas e freio a tambor. (Foto: Caio Mattos)
A mudança mais importante na nova Biz é o sistema de freios CBS. Este sistema já está presente nas novas CG 160 e agora foi a vez das Biz. Funciona da seguinte forma: se o motociclista acionar apenas o freio traseiro cerca de 20% do freio dianteiro também é acionado ao mesmo tempo. Isso veio para corrigir uma falha de postura da maioria dos motociclistas brasileiros que costumam usar apenas o freio traseiro com medo de a moto capotar de frente (o que não acontece!).
Só para ter uma ideia da eficiência. A 60 km/h, usando apenas o freio traseiro, a Biz 110i com freio comum a tambor precisa de 35,6 metros para imobilizar, enquanto na Biz com CBS ela freia em 30,6 metros. Já Biz 125i com freio a disco essa distância cai de 36,1 para 29,4 metros. O CBS acaba atuando como um tipo de ABS porque impede o travamento das rodas.
A diferença de potência entre as duas é pequena. Na 110 ela desenvolve 8,3 CV, enquanto na 125 a potência é de 9,2 CV. As velocidades máximas também se equivalem, com 97,6 km/h para a 110cc e 99,5 km/h na 125cc (com etanol). O modelo 110 é fornecido apenas na opção a gasolina.
Porta objetos está maior. (Foto: Caio Mattos)
Em termos de dimensões e pesos ambas são praticamente iguais (veja as fichas técnicas), então o que justifica ter duas opções tão próximas? O preço! A 110cc custa R$ 7.590 (sem frete) e a 125 é R$ 9.390. Essa diferença aparentemente pequena fica enorme na hora de aprovar o crédito para financiamento.
Para quem pilota a maior diferença entre ambas está no freio dianteiro. O sistema a tambor é realmente coisa do passado, mas tem que prefira e sua majestade o consumidor é quem manda. Os espaços de frenagem com disco são menores, claro, mas nem é isso o fator determinante a favor desse sistema, porém o freio a tambor tem uma manutenção mais complicada e a sensação mais “borrachuda” da manete.
Sempre que tiver de escolher entre freio a tambor e a disco prefira o disco. Punto e basta!
Conjunto ótico lembra algo como Pokemon, Pikatchu, sei lá. (Foto: Caio Mattos)
Outra diferença entre a 110 e a 125 está nas rodas raiadas da 110 e de liga leve na 125. É estranho ver uma roda de liga leve montar pneu com câmera, afinal uma das vantagens da liga leve é justamente usar um pneu tubeless. Mas a Pirelli, fornecedora de pneus, não desenvolveu produtos específicos para esse tipo de roda. Decerto que a demanda não justifica, apesar de a Biz ser a moto mais vendida em cerca de 500 cidades do Brasil! Fica aí a dica para os fabricantes de pneus concorrentes...
Já a roda raiada, apesar de aparentemente mais arcaica, tem uma vantagem de transmitir menos os impactos dos buracos para o piloto, uma vez que os raios atuam como amortecedores. Mas neste tipo de roda convencional não há como montar pneu sem câmera. Quer dizer, até dá, mas custa uma fortuna!
Painel da 125 ficou chique e tem dedo duro de economia. (Foto: Caio Mattos)
Bora dar um rolê
Chega de descrições técnicas que só dão sono ao leitor. Importante é saber por que, afinal, a Biz é uma moto tão querida, sobretudo pelas mulheres que representam uma enorme fatia das vendas. Primeiro porque é simpática. Sim, tem aquela carinha de moto simples e fácil de pilotar, com um pingo de ar retrô, como um Fiat 500. Segundo porque é uma forma de ter um veículo pequeno e prático sem recorrer ao scooters, que ainda sofrem resistência de quem mora nas cidades mais afastadas e zona rural. Terceiro porque é muito econômica. Fiz uma experiência uns cinco anos atrás e para uma viagem de São Paulo a Santos (cerca de 120 km ida e volta) gastei apenas R$ 7,50 que na época era 1/3 do valor do pedágio para carros! Quarto: liquidez imediata! Sair de Biz nova e bem conservada é receber proposta de compra quase todo dia e a baixa desvalorização é um dos pontos favoráveis na hora de optar entre ela e um scooter. Enfim, tem motivo de sobra!
Se você nunca pilotou uma CUB vai estranhar a falta de uma manete de embreagem. Tem gente que afirma não ter embreagem, como o câmbio CVT dos scooters, mas na verdade tem sim, só que o acionamento é automático quando se aciona a alavanca do câmbio. E a posição das marchas também é diferente, com todas as quatro marchas para baixo. E tem um sistema rotativo que ao parar em quarta basta um toque pra baixo e volta ao neutro. A alavanca de câmbio é acionada pela ponta do pé e pelo calcanhar, assim só precisa lembrar e cutucar pra baixo!
O curso de suspensão é pequeno, como nos scooters, só que as rodas maiores a deixa mais estável e confortável. Na verdade nem dá para comparar os dois veículos, porque são bem diferentes na forma e função, mas é sempre uma pergunta que acabo recebendo: qual escolher entre uma Biz e um scooter? Eu mesmo rodo em SP de scooter, mas sou fã de carteirinha das CUB.
Tomada 12V para carregar gadgets: moderna e prática. (Foto: Caio Mattos)
Mais sofisticada
As novas Biz ficaram um pouco mais sofisticadas, especialmente a 125 que até ganhou uma versão bicromática. Um dos itens que vai ajudar muito é uma tomada 12V sob o assento, que serve tanto para carregar um celular quanto para alimentar um GPS. O porta objeto ficou maior e agora comporta uma pasta formato A4 (ah, nos meus tempos de motoboy isso fazia muita falta!). O desenho do escudo frontal está mais suave e ficou ligeiramente maior para proteger mais as pernas e os piscas traseiros continuam integrados à lanterna, mas distanciados para atender a legislação. Por fim, as alças de alumínio do garupa estão mais ergonômicas. Aliás, como sou um pitaqueiro profissional, aqui vai uma sugestão para a próxima geração: um babageiro como o do scooter SH 150, já com encaixe para bauleto.
Já ouvi todo tipo de histórias sobre as Cub. Eu mesmo conto uma que me surpreendeu na época que editava revistas. Um casal de japoneses deu a volta ao mundo em duas CUB de 100cc. Quando perguntei o motivo de um veículo tão pequeno para uma viagem tão longa eles justificaram que era para ter mais tempo de olhar a paisagem. Aprendi que cada um tem um motivo para ter uma CUB na garagem!
Só falta o já mundialmente e esperado IPM - Índice de Pegação de Mina (ou Mano). Acho que a Biz até pode ser um bom argumento de convencimento na hora do "vamos dar uma voltinha?". Mas a realidade mostra na maioria das vezes cada um tem a sua. Mesmo assim, para defender aqueles que a usam como meio de transporte xavequeiro, daria nota 6,5 para a 110 e 7,0 para a 125, especialmente a cor de laranja metálica que ficou até com leve ar esportivo. Sinceramente, já estou de olho nessa laranja mecânica e pensando o que eu mudaria… Mas dessa vez só escrevo se a Honda me contratar!!!
Ficha Técnica da Biz 110i
Ficha Técnica da Biz 125i
Teste de skatabilidade: aprovada! (Foto: Renato Durães)
* Equipamentos do teste:
Capacete Shoei
Jaqueta Tutto
Calça HLX