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Educação de trânsito nas escolas? Não, obrigado

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Adultos aprendem e ensinam as suas crianças. (Foto: Mario Bock)

Porque sou contra ensino de trânsito para crianças

Primeiro porque precisamos parar de uma vez por todas de acreditar que escola substitui a família. Que me desculpem os pais preguiçosos, “ocupados” ou negligentes, mas quem deve dar educação para os jovens é a família – e entenda por família qualquer composição entre adultos responsáveis e crianças. A escola deve dar formação, ENSINO e eventualmente educação formal em sociedade. Mas um ser social bem educado é formado pelo núcleo familiar.

Esqueça o trânsito, esse amontoado de veículos, dirigido por pessoas que deveriam respeitar leis e regras de convício social. Esquece isso. Pense na sociedade sem carros. Pense na sua casa, ou no condomínio onde vive. Foi preciso que alguém de fora da sua família entrasse em sua casa para dizer aos seus filhos que eles precisam lavar as mãos antes das refeições? Foi preciso pedir para um vizinho explicar aos seus filhos que ele tem de arrumar o quarto? Ou ele aprendeu tudo dentro de casa?

Esqueça ainda o trânsito e pense na escola. Naquela escola tradicional, ou mesmo a “experimental”, moderna. Pense nas disciplinas que os jovens precisam estudar: matemática, história, geografia, física, química, biologia, língua portuguesa, literatura, educação física, artes, língua estrangeira etc. Alguém acha sinceramente que hoje em dia, com a dificuldades naturais de ministrar o currículo atual, caberia introduzir mais uma disciplina como trânsito? Sem falar que existem projetos para introduzir também outras disciplinas como “educação sexual” (que, na verdade, dever-se-ia chamar “higiene e saúde”).

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Os cursos de pilotagem funcionam como pós-graduação dos CFCs. 

Continue esquecendo do trânsito. Pense no futuro da mobilidade urbana, com valorização e ampliação do transporte público, com o desinteresse cada vez maior dos jovens em usar veículos motorizados, com a condenação dos veículos movidos a combustão e no novo desenho que as cidades deverão ganhar com a racionalidade do transporte público. Talvez a disciplina “educação de trânsito” seja uma no nata, que pode morrer antes mesmo de nascer.

Agora sim, pense no trânsito como ele é. Qual deveria ser a principal preocupação das autoridades de trânsito? Essa resposta é fácil: reduzir o número de vítimas de acidentes. Mas esta não é nem de longe a principal preocupação, senão já teríamos ações efetivas nesse sentido. O grande – para não dizer o ÚNICO – interesse das autoridades que gerenciam o trânsito (incluindo a categoria política) não é reduzir o número de vítimas e acidentes, mas sim se aproveitar da PUBLICIDADE gerada pela redução de vítimas.

Basta ver como agiram o governador e o prefeito de São Paulo. Ambos anunciaram as grandes conquistas obtidas na redução de vítimas de trânsito, destacando a redução da velocidade nas principais avenidas da capital. E só!

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Palestras educativas em empresas é uma forma de espalhar o conceito de segurança. 

O departamento de comunicação do Detran-SP envia press-releases quase diários contabilizando as blitzes de Lei Seca e eventualmente os flagrantes em auto-escolas que fraudam exames e vendem habilitações. É o departamento de trânsito fazendo a publicidade. Mas os motoristas continuam se envolvendo em acidentes. Porque só a redução de velocidade não resolve, como já escrevi (e vários colegas).

Só a título de exemplo, já contei aqui mesmo a história do especialista espanhol que veio a São Paulo contar como a Espanha conseguiu reduzir em mais de 50% o número de vítimas de acidentes de trânsito. Foram tomadas 440 medidas que resultaram em um compêndio de mais de 1.000 páginas. Entre as mudanças propostas – e realizadas – estavam: mudança no sistema viário, pavimentação, mudança profunda no sistema de habilitação, redução da velocidade am algumas vias etc.

Aí, voltamos para São Paulo do século 21 e vemos que a tentativa (e consequente publicidade) para reduzir vítima de trânsito se resumiu a UMA medida: reduzir a velocidade nas vias. As outras 399 propostas que fiquem engavetadas, porque dão trabalho e custam caro.

Por tudo isso acho realmente infantil querer introduzir a disciplina “educação de trânsito” nas escolas como forma de criar futuros motoristas melhores. A preocupação número 1 dos educadores em geral é formar cidadãos melhores, que automaticamente serão motoristas melhores, pedestres melhores, ciclistas melhores e até motoristas de frota mais bem educados.

É isso que muda o comportamento de uma sociedade: empenhar-se ao máximo em formar cidadãos mais bem educados socialmente e todo resto vem na carona. Mas olhe em volta, repare nas frases escritas nos vidros dos carros, do tipo “Deus deu a vida para que cada um cuide da sua” e pense se o que precisamos é realmente de ensino de trânsito?

A educação de trânsito já existe, pelo menos no papel. Trata-se das auto e moto escolas. Se elas são chamadas de “escola”, em seu currículo deveria ter um enorme espaço para educação e cidadania. Mas quem se atreve a dizer que os CFCs hoje são capazes de formar cidadãos educados socialmente? Todo mundo sabe que ministro aulas de pilotagem de moto há três décadas. Semanalmente recebo alunos já habilitados que jamais teriam capacidade de enfrentar o trânsito de São Paulo, no entanto eles foram habilitados. Que escola é essa?

Sinceramente, não acho que devam ensinar trânsito para as crianças, porque o que vai contribuir muito para uma sociedade mais equilibrada e educada é espalhar o conceito de CIDADANIA! Mostrar para as pessoas que sim, Deus deu a vida, mas não para que cada um cuide apenas da sua, mas também zele pela a dos outros à sua volta.

 


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