Com o skate fui parar nas nuvens!
Skatite
Primeiro deixa explicar o antes. Uma manhã qualquer subi naquela maldita balança de banheiro e me vi com 78 kg! Para um pixote de 1,68m significa 10 kg a mais do que o desejável. Mais do que isso, percebi que meu macacão de couro estava cada vez mais apertado e nas fotos eu saía sempre com uma protuberância avantajada na altura do abdômen. Pior: minha calça que antes era 38, passou para 40 e chegou no 42.
Como nunca fui vaidoso, jamais me renderia a uma academia, como fiz na década de 90, quando competi de moto e pesava 60 kg. Isso mesmo, 60 míseros quilos! Minha mãe jurava que eu estava escondendo alguma doença grave.
Assim que parei de correr de moto comecei a engordar. Mas não muito, porque logo em seguida veio a fase da escalada em rocha e me mantive nos 66~68 kg sem muita preocupação. Escalada é um ótimo exercício aeróbico, só que é preciso força e isso faz os músculos crescerem e pesarem na balança. Mas eu realmente confesso com a maior das sinceridades do mundo que nunca me preocupei com isso, até o dia 11 de junho de 2016.
No skate eu emagreço me divertindo e me divirto emagrecendo.
Foi nesse dia que levei os exames de rotina para meu médico geriatra (não ria!). Ele olhou, olhou, fez aqueles hums e hãns e começou a receita da desgraça:
- Seus índices de colesterol, triglicérides, HDL, PGBL, GLBT estão tudo muito acima do normal, só a pressão está boa. Precisa mudar alimentação, fazer atividade física e blábláblá...
Em suma, meu motor estava na faixa vermelha, quase cortando giro e prestes a explodir!
Desde meu acidente na escalada, em 2014, confesso que fiquei meio preguiçoso. Nada a ver com o acidente em si – se eu me assustasse com acidentes não pilotava moto nunca mais na vida. Mas a vida profissional, com a criação da ABTRANS, começou a me exigir mais tempo e dedicação e isso foi adiando meu projeto “emagreça, porra!”.
Fiz um rack para carregar o skate na Honda PCX 150.
Até que o médico esclareceu não se tratar de estética, mas de saúde. Cáspita, só uns 12 kg a mais causa tudo isso? Não, na verdade o sedentarismo causa tudo isso.
Sou um completo anti-academia. Não vou, não vou e não vou! Puxar ferro, correr em esteira, malhar, ecah. Sou o melhor cliente de academia, porque pago por um ano e vou três meses. Eles ganham nove meses de grana sem a minha suada presença.
Quando saí do consultório cheguei em casa com essa missão: fazer atividade física. Abri o Facebook e lá estava o anúncio de uma amiga jornalista, de partida para a Amazônia, vendendo um skate. Skate é legal, pensei, e a gente emagrece se divertindo.
E também para a Harley-Davidson.
Skatista de raiz
Minha experiência com skate remonta lá nos anos 70, na adolescência. Meu vizinho comprou uma revista americana de surf e ficamos babando numa novidade: prancha com rodinhas! Skate! Mas não tinha ainda no Brasil. Foi aí que entrou em cena a minha capacidade de improviso (ou de gambiarra, como diz minha mulher).
Olhei as fotos e vi que os eixos (trucks) pareciam de patins de quatro rodas. Minha irmã tinha um par de patins que nunca usava. Adivinhe? Serrei o patim Torlay no meio, aparafusei em uma prancha de madeira compensada e estava feito o skate com o qual eu me divertiria muito nas ruas do Morumbi e deixaria alguns metros de epiderme no asfalto.
Surf-skate: com o truck especial dá pra andar rápido mesmo no plano.
Quando já estava ficando bom, fazendo manobras e aperfeiçoando as pranchas, o kart entrou na minha vida e esqueci completamente o skate por 42 anos!!! Até que vi o anúncio no FB.
No dia 12 de junho de 2016 comprei um skate com um formato totalmente diferente do que eu conhecia. Não sabia nada sobre shapes, trucks, amortecedores, pads, rolamentos de cerâmica, nada de nada sobre nada.
Coloquei um capacete de escalada (sempre protejo a cabeça seja qual for a atividade) e fui para a ladeira do Parque da Independência, no Ipiranga, conhecida como Skate Park. A meca do skate em Sampa City.
Engraçado como a vida de piloto interfere em tudo que faço. Comecei testando os meus limites e do skate de baixo para cima, aumentando a subida a cada tentativa. É igual bicicleta mesmo: a gene nunca esquece! No final do dia já estava descendo carveando e fazendo as mesmas manobras que fazia com 15 anos de idade. Mas isso emagrece?
Bom, nem todo mundo emagrece com skate...
A descida não, mas a subida... quanta caloria queimada! Fiz umas contas rápidas: a rampa tem 300 metros, se fizesse 10 subidas seriam 3.000 metros. Coloquei um frequencímetro e percebi que na subida o coração chegava a 115~120 bpm (e na descida 70, uhuuu). Cada subida demora em média 5 minutos x 10 = 50 minutos na frequência de queima de gordura e 20 minutos na frequência de gostosura. Comecei a fazer 90 minutos de atividade, três vezes por semana e a cintura começou a diminuir...
O vírus do skate inoculou de tal forma na minha corrente sanguínea que fiquei me perguntando por vários dias: por que eu parei de fazer uma atividade tão legal? Se você já foi skatista não pare, aliás, nunca pare de fazer as coisas que te dão prazer. Recentemente voltei a velejar depois de 25 anos e me fiz a mesma pergunta: por que parei? Acho que o segredo é não parar nunca de fazer as coisas que gosta, sem se tornar escravo delas.
Depois do primeiro mês já percebi uma diferença na balança e até no ânimo. Comecei a frequentar o Skate Park três vezes por semana, por pelo menos duas horas. Além disso descobri o Minhocão aos domingos e outras skate points em SP.
Biathlon skate + bike: se você não emagrecer assim só apanhando!
Para encurtar, fui reparando que minhas calças estavam ficando largas e que os meus cintos cada vez mais apertados. Até que numa manhã subi na balança e levei um susto: pela primeira vez nos últimos 15 anos estava pesando aqueles mesmos 66 kg. Foram quase 12 kg em quatro meses de atividade. Com o detalhe de nem alterar muito a alimentação, que é o capítulo seguinte.
Seja sensato!
Existem várias dificuldades para quem quer emagrecer. A primeira é provocada inconscientemente pelo cérebro. É preciso educar seu cérebro a pensar com “cabeça de magro”. O segredo não é parar de comer, mas regular o que e quando comer. Nunca fui muito glutão, mas me amarro em doces e cerveja. Por isso comecei pelo menos sacrificante e reduzi muito o açúcar da minha vida. Depois evitei jantar. Por conta da profissão de jornalista, somos convidados frequentemente para jantares maravilhosos, pantagruélicos e nababescos. Como resistir? Usando o velho truque de se empanturrar de salada antes de mais nada. E cortar aquelas sobremesas deliciosas.
Outro truque é manter seu organismo achando que você está sempre satisfeito. Coma alguma coisa de 3 em 3 horas, pequenas porções, mas de alimentos leves e funcionais. Não vale comer um pudim inteiro de 3 em 3 horas. Frutas secas, milho e até pipoca funcionam.
O resto é aquilo que todo mundo já sabe: comer como um rei pela manhã, como um lorde no almoço e como um plebeu à noite. Quem pesquisar na internet vai encontrar zilhões de receitas para emagrecer. Esqueça todas elas. Saiba apenas uma coisa: não se emagrece apenas com alimentação, nem fazendo apenas exercícios. O ideal para um emagrecimento saudável é reunir as duas coisas.
Hoje também adotei a bicicleta para percursos próximos de casa. Por mais que tenha um scooter Honda PCX 150 olhando pra mim todo santo dia, resisto e pego a bike para rodar pelo bairro e pretendo em breve ir de bike para o meu “serviço”.
Já fiz um teste e demora apenas 25 minutos usando as ciclovias e um pouco de rua. Acredite, é quase o mesmo tempo que demoro para ir de scooter! Porque São Paulo é uma cidade que tem um tesão inenarrável por semáforos. Em um trecho de 500 metros deste percurso tem NOVE semáforos!!! Calcule um minuto em média parado em cada um e só neste pedaço são 9 minutos parado.
Escalada em rocha: emagrece e tonifica os músculos!
Portanto, a melhor dica para quem quiser emagrecer sem sofrimento é fazer uma combinação de reeducação alimentar, com atividade física. Mas importantíssimo: sem sacrifício! Se o regime começar a te trazer tristeza e depressão procure um especialista de verdade para entender o que seu corpo precisa exatamente.
O segredo está naquele neuro-hormônio chamado endorfina. Praticar uma atividade que libere endorfina é meio caminho para atingir as metas de redução de peso e vida saudável. Para os over-55, que é meu caso, é importante que a atividade tenha atuação da gravidade, porque ajuda a combater, entre outras coisas, a osteoporose. Pedalar e nadar são ótimos exercícios cardio-vasculares, mas não sofrem ação direta da gravidade. É preciso colocar os pés no chão mesmo, por isso a caminhada ladeira acima do skate também contribuiu nesse sentido. Bem como a “remada”, termo que jamais usaria para algo que se move no chão, mas é como os skatistas se referem ao impulso. Eu chamaria de patinada mesmo!
Não tenho a menos intenção de ser um guru do emagrecimento, nem da vida saudável, mas é só um exemplo de como pode-se ajustar a vida e o tempo para manter certo equilíbrio físico. Se hoje minhas calças estão largas e folgadas não foi da noite pro dia, tudo tem um começo e agradeço à minha amiga que um dia decidiu vender o skate.