Sim, ela deita muito!
Família Yamaha MT fica completa com a MT-03
Alguém deve lembrar que já houve uma MT-03 no passado, mas com o motor da XT 660, um modelo versátil, bem resolvido e que tive o imenso azar de ser assaltado com uma! Coisas de quem vive em São Paulo... Agora a nova MT-03 tem motor de dois cilindros arrefecido a líquido, de 320cc, baseada na R3 e se apresenta como uma opção bem viável para quem busca uma moto pequena, de caráter esportivo.
Tive a chance de avaliar a MT-03 apenas no autódromo de Velo Cittá, no interior de SP. Como sempre, avaliações em autódromos servem apenas para facilitar a vida de quem convida, mas limita muito o alcance da análise porque o piso é perfeito, só se anda em regime de alta rotação e o tempo dedicado à moto é curto.
Olhos de pantera!
Portanto, primeiro vou descrever como ela é, pra contar depois como se comporta na pista... mas não tente fazer isso em casa!
A Yamaha fez um belo plano de marketing ao lançar primeiro a versão R3 com a presença do piloto espanhol campeão do mundo Jorge Lorenzo. O barulho na imprensa foi grande, repercutiu nas mídias sociais e gerou um bom retorno. Tanto que em pouco tempo superou a Kawasaki Ninja 300 que reinava sozinha nesse segmento. Mas vamos lembrar que a Yamaha tem um número muito maior de concessionários!
Desde que o executivo de marketing da empresa retirou a capa e revelou a MT-03 na apresentação à imprensa fiquei besta com o estilo. Como uma solução tão aparentemente simples pode ter ficado tão bonita? É basicamente uma R3 sem carenagem, inclusive com o mesmo painel, mas com o guidão colocado na mesa superior, apoiado em duas castanhas. A moto é de arrancar suspiros apaixonados, especialmente na combinação prata e azul.
Nem liguei pra calça jeans!
Durante a exposição dos detalhes uma ilustração mostrou a diferença da posição de pilotagem das duas versões, MT e R3 e de fato muda pouca coisa. O guidão ficou 1,9 cm mais alto, 3,9 cm mais próximo do piloto e 4 cm mais largo. Para minha nanicoestatura (1,69m) a posição pareceu sob medida. Claro que pilotos mais altos sofrerão um pouco, mas bem menos do que na versão com semi guidões.
Diferença entre a posição da R3 e da MT-03
Chiquitita, pero...
Valente! Ainda observando a MT-03 parada percebe-se o requinte de acabamento bem acima das motos populares de 250/300cc. Aliás, aqui vai uma bronca do tio. Cara (ou mina), pare com essa patuscada de julgar motos apenas pela capacidade volumétrica (popular “cilindrada”). A cilindrada é apenas um dado numérico que interfere pouco na potência e desempenho, já tem Zé Mané escrevendo verdadeiros tratados de como sua MT-03 despachou a CB 300 dozamigos! Acorda, fio(a), larga o Facebook e volta pro mundo real.
Um dos charmes desse desenho é ser quase 100% herdado da esportiva R3, com poucas exceções. A balança assimétrica tem um desenho totalmente inspirado nas versões maiores, mas apesar da aparência é de aço.
Pense numa moto bonita!
Deixando essa descrição estática de lado (tem as fotos pra olhar melhor) vamos ao que interesse e que faz o sangue ferver e a cabeça sair de giro: como anda?
Avaliar motos em autódromos pode ser muito divertido, mas em termos de apuração técnica fica muito a desejar. O ideal é sempre misturar pista com estrada e cidade. Mas... era o que tínhamos para o momento.
A posição de pilotagem é realmente menos cansativa que a irmã esportiva. O tronco fica mais ereto, os braços menos esticados, mas as pernas ficam iguais. O banco do garupa é exatamente o mesmo e tem um ressalto carinhosamente apelidado pelos jornalistas machistas e ogrocéfalos de “pussy grip”, que impede de a pessoa (com ou sem pussy) de escorregar para a frente nas frenagens. E precisa, porque essa moto freia muito!
Painel completo com indicador de marcha e de consumo.
Cavalete lateral recolhido (não tem o central), botão de partida acionado, primeira engata e lá fui eu. O funcionamento de motores de dois cilindros em linha sempre me incomodaram um pouco, porque é difícil encontrar um compromisso entre a defasagem do virabrequim e os níveis de vibração. É um papo técnico chato pacas, mas o motor da 03 é defasado em 180º o que exige um belo trabalho de balanceiros para eliminar parte das vibrações. Mesmo assim alguma coisa passa ao piloto, especialmente sentidas nas pedaleiras e extremidade do guidão quando o motor passa de 4.500 RPM.
Já cansei de escrever que não existe milagre em mecânica. Para eliminar a vibração o custo pode ser a perda de desempenho. Em uma moto touring isso não faz a menor diferença, mas em uma moto com esse caráter o desempenho é bem mais importante.
Não dá vontade de parar de andar.
E nisso o motor de 320,6 cm3 arrefecido a líquido nada de braçada. No teste em autódromo algumas medições ficam comprometidas. Por exemplo, na reta só consegui chegar a 146 km/h de velocímetro porque senão eu sairia da pista e cairia num matagal. Mas fui buscar informação com colegas italianos que fizeram medição com aparelhagem e a velocidade máxima chegou a 164 km/h, aferidos. Ou seja, a moto corre bem mais do que as 250/300 de um cilindro “a ar”.
A velocidade realmente não é o dado definitivo, apesar de todo moleque perebento fazer essa pergunta assim que coloca os olhos na moto, o que me deixou mais intrigado foi a retomada de velocidade. Essa sim é uma informação relevante para uma moto que se propões ser de uso urbano. E qual foi minha surpresa ao perceber que não era bem o que esperava.
Pode deitar mais e mais
Antes de mais nada vamos por partes. Essas categorias de motos esportivas na faixa de 300 a 400cc são uma criação pensada em alguns importantes mercados europeus e asiáticos. Pela legislação de alguns desses países a habilitação para motos é dividida por categorias e até 400cc os valores são mais baixos e a idade mínima é menor. Daí a criação de motos de 300 a 390cc com alto desempenho que mais se aproximam de uma 500cc.
Portanto nem pense em comparar com a Yamaha Fazer 250, por exemplo, que é um motor de um cilindro, arrefecido a ar e duas válvulas por cilindro. Se quiser uma moto urbana simples, barata, econômica e com baixo custo de manutenção é a Fazer, que tem um motor de ótima retomada de velocidade. Mas se optar por uma MT-03 ou uma R3 pense que vai ter de acelerar muito!
Em curva para a esquerda raspa o cavalete lateral.
Mesmo em uma pista “travada eu fiz o teste de dar a volta completa em sexta e última marcha. O motor começa a retomar aos 2.000 RPM, mas só vai acordar de fato depois dos 4.500, fica mais legal aos 6.000 RPM, mas emoção mesmo só aos 9.000 RPM porque o torque máximo de 3,0 kgf.m só aparece na plenitude nessa rotação. O motor corta a 11.000 RPM. Parece um motor dois tempos.
Outro ponto a se destacar é o equilíbrio em curvas. Foram nos soltar justamente em uma pista com um asfalto deliciosamente aderente e livres para voar. Só lamento que a Yamaha do Brasil tenha feito tanto segredo sobre o modelo e acabei levando um equipamento mais “civil” com uma calça jeans (com joelheiras internas) e um casaco de poliéster.
Juro que sempre prometo a mim mesmo manter a calma e racionalidade durante estes testes em autódromo, mas como soltar uma criança em loja de doce, não em jeito. Depois da volta de aquecimento já estava sabugando a pobre 03 nos costumes SpeedMaster. Chamou atenção o grande grau de inclinação, especialmente para a direita, porque para a esquerda raspava o cavalete lateral mais cedo.
O conjunto de suspensões tem um trato bem esportivo mesmo, com bengala Kayaba de 41 mm, rodas de liga leve com 10 raios e pneu traseiro 140. Receita na medida para proporcionar diversão com segurança na pista. Não sei como se comporta com garupa, porque ninguém quis passear na pista comigo, fica para uma próxima avaliação. Os freios também são muito bem balanceados com um tato ideal para os 168 kg (em ordem de marcha). Só usei a versão com ABS e soquei os comandos como um débil mental sem nem sombra de travamento.
É claro que os gênios do Facebook já estão loucos pra meter um pneu traseiro 160 ou até 180, porque o que não falta no mundo é gente lesa. Aliás, como diz aquele carioca: gente lesa gera gente lesa. E onde tem mais lesado no mundo é nas comunidades de Facebook. Fica minha dica: pneu mais largo só melhora em carro, nas motos piora. Se num autódromo, fazendo curva a 140 km/h os pneus “sobraram” pra que usar um mais largo?
O painel completíssimo tem o dedo-duro do consumo, que registra a medida instantânea. Na tocada mega esportiva claro que nem levamos em conta, mas pelos testes europeus a média ficou entre 25 e 27 km/litro. Pode parecer alto para uma 320cc, mas lembra que esse motor gosta de viver em alta rotação e é preciso usar muito o câmbio de seis marchas. Aliás, se alguma crítica é possível a essa moto, fica por conta do curso muito longo do pedal de câmbio. A embreagem é muito suave, mas o câmbio exige um esforço acima da média. É bom evitar andar de Crocs!
Uma das perguntas mais perguntadas desde que essa moto foi lançada é: vale a pena ou é melhor uma Honda CB 500F? Bom, eu nunca fui adepto de comparativos, porque o livre arbítrio é um direito universal e está até na Bíblia. Cada um que decida o que comprar! Também não acho justo comparar o preço de uma moto zero km com uma usada maior, afinal por R$ 20.900 (com ABS) pode-se comprar até uma moto 1.000 cc dos anos 80! Mas como é uma pergunta que surge até no concílio papal, acho sinceramente que a única explicação para escolher uma 300 em vez de uma 500 com quase o mesmo preço é aquele sistema de habilitação que citei lá no começo. Aqui no Brasil não existe (ainda), portanto o que vai definir a preferência pela 300 é o tesão mesmo ou a paixão pela marca. Se eu fosse jovem hoje em dia escolheria a MT-03 ou a R3 porque elas são absurdamente lindas. E jovem não pensa com a cabeça mesmo...
Para encerrar o já mundialmente esperado e cultuado IPM – Índice de Pegação de Mina (ou Mano). Como bem disse um cabra miserável, a vantagem de andar de 300 é que todo mundo acha que é uma 600! Mas sem gastar tanto dinheiro. Pelo porte e beleza natural merece um 8,5. Só não ganha nota mais alta porque o banco do garupa é pequeno e duro pra caramba. Haja amor!
Ficha Técnica
Dimensões
Comprimento Total 2.090 mm
Largura Total 745 mm
Altura Total 1.035mm
Altura do assento 780 mm
Distância entre-eixos 1.390 mm
Altura Mínima do solo 160 mm
Peso seco* 150 kg
Peso líquido* 166 kg / 169 (com ABS)
Raio mínimo de giro 2.700 mm
Motor
Refrigeração líquida, 4 Tempos, DOHC, 8 válvulas
Cilindros 2
Cilindrada real 320,6 cm3
Diâmetro X Curso 68 × 44.1 mm
Taxa de Compressão 11,2 : 1
Potência Máxima 42,01 cv (10.750 rpm)
Torque Máximo 3,02 kgf.m / 9.000 rpm
Sistema de partida Elétrica
Sistema de Lubrificação Cárter Úmido
Capacidade do Óleo do Motor 2,4 L
Tipo de Combustível Gasolina
Capacidade do Tanque (reserva) 14 L (3 L)
Tipo de alimentação Injeção Eletrônica
Transmissão
Transmissão Primária Engrenagens
Transmissão Secundária Corrente
Tipo de Embreagem Úmida, Multi-Disco
Relação
6 velocidades
1ª Marcha 2,500(35/14)
2ª Marcha 1,824(31/17)
3ª Marcha 1,348(31/23)
4ª Marcha 1,087(25/23)
5ª Marcha 0,920(23/25)
6ª Marcha 0,800(24/30)
Chassis
Tipo Diamante
Ângulo do Cáster 25 ° 0′
Trail 95 mm
Pneu Dianteiro 17M/C × MT2.75
Pneu Traseiro 17M/C × MT4.00
Freios
Dianteiro
Disco hidráulico (Sem ABS)
Disco hidráulico com sistema antibloqueio (ABS)
Diâmetro dos discos Dianteiros (externo) 298 mm
Traseiro
Disco hidráulico (Sem ABS)
Disco hidráulico com sistema antibloqueio (ABS)
Diâmetro do disco Traseiro 220 mm
Suspensão
Dianteira Garfo telescópico
Curso da Roda 130 mm
Traseira Balança Traseira
Curso da Roda Traseira 125mm
Elétrica
Sistema de Ignição TCI (Transistor controlled ignition)
Bateria 12v 6 Ah
Velocímetro
Hodômetro Total
Hodômetros Parciais (1 e 2)
Hodômetro de Reserva de Combustível
Hodômetro de Óleo
Indicador de Combustível
Consumo Instantâneo de Combustível
Consumo Médio de Combustível
Indicador de Marcha
Indicador de Temperatura
Relógio
Luz Indicadora de marcha
Visor do Controle de Luminosidade
Sobre a Yamaha do Brasil
A marca dos três diapasões – menção ao conhecido escudo com