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Vibração, essa companhia indesejável

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Superbonder nas obturações e manda bala! (Ilustração: Walter Junior)

Por que os motores vibram? Saiba a origem e como reduzir esse efeito indesejável.

Começa com um formigamento nas mãos, depois são as solas dos pés que passam a ficar insensíveis. De repente, parece que o mundo todo está tremendo. Este efeito indesejável é a consequência natural do funcionamento do motor. As vibrações variam de acordo com o tipo de ciclo do motor (dois ou quatro tempos), o número de cilindros (quanto mais cilindros, menor a vibração), a capacidade volumétrica (a cilindrada) e o investimento de cada fábrica no sentido de atenuá-las. Eliminar de vez é impossível.

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O pé da biela é onde se encaixa o pistão, no círculo menor.

Existem dois tipos de movimento atuando dentro de um motor: o alternado e o rotatório. A única exceção feita a estes dois tipos é a biela, um caso particular porque uma parte move alternadamente (seu pé) junto com o pistão, enquanto outra (a cabeça) move rotatoriamente junto com o virabrequim. A biela tem três partes, sendo chamada de cabeça a parte que se prende ao virabrequim; pé é a parte que se prende ao pistão e a haste, que é a ligação entre o pé e a cabeça. Muita gente costuma trocar o pé pela cabeça.

Como surgem

Os movimentos do motor criam forças*, divididas basicamente em três: força inercial, provocada pelo movimento alternado, e pseudo-força centrífuga, provocada pelo movimento rotatório. A terceira força é criada pela variação de pressão dentro da câmara de combustão.

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Motor de um cilindro: muita vibração!

Todas estas forças se descarregam sobre o bloco do motor, quadro e mancais de apoio, sendo que a centrifuga e a força motriz têm uma elasticidade que fazem o motor efetuar pequenos deslocamentos, que se repetem ciclicamente conforme o regime de rotação. Tais deslocamentos pequenos, rápidos e contínuos são definidos exatamente como vibração.

Para eliminar a vibração no virabrequim é tecnicamente simples: basta criar uma rotação igual e contrária para obter uma resultante nula. Para isso basta colocar contrapesos correspondentes a cada mancal do virabrequim, divididos em massas e que somadas têm a mesma massa dos componentes em rotação. Muitas motos usam esse recurso, caso das CB 400/450.

Por isso é que os preparadores gastam seus neurônios tentando aliviar o peso das peças móveis. Isto diminui a força inercial e aumenta o regime de rotações, elevando a potência.

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Motor boxer de seis cilindros da Honda Gold Wing 1800: vibração praticamente nula.

Todo cilindro tem sua fase ativa, a cada duas voltas do virabrequim (motor quatro tempos) ou a cada volta (motor dois tempos). Durante a fase ativa, a combustão gera um impulso sobre o pistão, de forte intensidade e breve duração. Por causa da pequena inclinação da biela, este impulso se descarrega em parte sobre o virabrequim e parte na parede do cilindro, criando a tendência de o motor girar sobre si mesmo, em torno do eixo do virabrequim.

Ai entram em cena peças importantes: os apoios do motor ao quadro (alguns com coxins de borracha) que impedem motor de dar cambalhotas por todo lado. Mas não conseguem impedir totalmente que parte destes movimentos estranhos se transmita ao veículo. Existem formas de minimizar este fenômeno (além do uso de coxins de borracha, é claro) dividir a cilindrada em vários cilindros, reduzindo assim a intensidade dos impulsos. Ou colocá-los de forma opostas, como no motor boxer da BMW. O movimento de um pistão ajuda a equilibrar o outro, em um vai-vem eficiente.

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Motor seis cilindros em linha da Honda CBX 1050: baixa vibração e muito conforto.

Combate à vibração

Uma vez que não é possível acabar com a vibração, é preciso reduzir seus efeitos. A solução mais simples seria aumentar o número de cilindros. Em segundo lugar, acrescentar um ou até dois eixos balanceiros. No primeiro caso, a força inercial de um cilindro é anulada pelo outro correspondente. Diminuindo-se a cilindrada de cada cilindro, diminui-se também os pesos em movimento alternado, o que reduz as vibrações. Por isso, um motor Four (de quatro cilindros) vibra menos que um de apenas um cilindro.

No caso dos eixos balanceiros, coloca- se dentro do motor um "falso virabrequim", um eixo rotativo que gira no sentido contrário ao virabrequim "verdadeiro". Desta forma o balanceiro vai criar forças opostas às criadas pelo virabrequim. Com isso são balanceadas as vibrações primárias (de alta freqüência), as mais prejudiciais. Mas, não são eliminadas as vibrações secundárias (de baixa freqüência). Para se obter um equilíbrio maior seriam necessários dois eixos balanceadores ligados entre si, uma solução utilizada no velho motor da Honda 400/450.

Em alguns motores modernos os comandos de válvula também têm eixos balanceiros para eliminar ainda mais as vibrações. A solução mais confortável para o motociclista é isolar a transmissão das vibrações do motor para o quadro, utilizando mancais elásticos. Estes mancais elásticos são peças de metal e borracha que ficam entre o bloco do motor e os pontos de fixação no quadro.

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Contrapeso separado do virabrequim: solução complexa, mas eficiente.

Uma boa manutenção periódica do motor também contribui para reduzir as vibrações. Quando o motor começa a apresentar perda de potência, de compressão ou for vítima de um travamento, o melhor remédio é fazer uma retífica, trocando de anéis nintivibraços o motociclista é isolar a transmissão das vibrações do motor para o quadro, utilizando mancais elásticos. Estes mancais elásticos são peças de metal e borracha que ficam entre o bloco do motor e os pontos de fixação no quadro.

Uma boa manutenção periódica do motor também contribui para reduzir as vibrações. Quando o motor começa a apresentar perda de potência, de compressão ou for vítima de um travamento, o melhor remédio é fazer uma retífica, trocando anéis, pistão e juntas para deixar o motor "justo". As folgas nas bielas são as maiores contribuintes para aumentar a vibração de um motor.

Constantemente as fábricas investem em pesquisa e desenvolvimento em tudo que produz vibração (combustão, balanceamento de componentes, mancais, etc), sem levar em conta o que é viável ou não industrialmente. Depois é que se analisa a relação custo-beneficio para aplicar o desenvolvimento às motos de produção.

Num passado distante, tanto a Kasinski quanto a Sundown apresentaram modelos de 125 e 150 cc equipados com balanceiros. A tentativa é aliviar o sufoco de quem passa o dia inteiro montado em uma moto de um cilindro. Sobretudo aqui no Brasil, onde a maioria dos motociclistas só conhece o acelerador na posição tudo aberto!

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Motor de três cilindros: baixa vibração com volume compacto.

Como ajudar

Ao contrário do que se pensa, a vibração é mais sentida quando o motor está "caindo” de rotação e não subindo. Para medir se uma moto apresenta um nível alto de vibração, coloque-a no cavalete central (ou lateral) e ligue o motor. Acelere até a rotação de potência máxima e solte o acelerador. Quando a rotação estiver perto do torque máximo, será o momento de maior vibração. Repare como a imagem refletida nos espelhos fica tão embaralhada que mal da pra ver alguma coisa. Se a moto não tem conta-giros, sem problema, basta acelerar e soltar para sentir a vibração. Alguns cuidados podem reduzir os efeitos e desconfortos provocados pela vibração. Uma simples tira de borracha (de câmara de pneu) entre a placa e o suporte já serve para reduzir a transferência da vibração, que normalmente faz a placa quebrar ao meio. Outra solução simples é adotar as proteções de borracha nas pedaleiras das motos fora de estrada ou até mesmo uma manopla de espuma mais macia. Parece óbvio, mas as manoplas gastas aumentam barbaramente a sensação de vibração. Já existem até manoplas de espuma bem macias. Neste caso, o uso de um bom e novo par de luvas também colabora bastante. Quando for lavar a moto em casa, aproveite para verificar aquelas borrachas que ficam entre o tanque de gasolina e o quadro. Algumas delas ressecam, endurecem e não conseguem absorver as vibrações. Trocá-las e fácil e custa pouco. Ultimamente até as motos mais simples – como Sundown Web 100, Honda Biz 125 ou Suzuki Burgman 125 ­– contam com ponteiras de metal na extremidade do guidão. Estas ponteiras também têm a finalidade de eliminar parte da vibração sentida nas mãos. Por isso não se deve retirá-las, nem trocar por peças de plástico, mais leves. Nas motos fora-de-estrada elas devem ser mantidas mesmo se for usado o protetor de mão.

Parafusos em fuga

Os parafusos e porcas da sua moto estão se despedindo por conta da vibração? Na linha de montagem as motos são montadas com uma carga específica de torque em cada porca ou parafuso. Nas manutenções é vital que os mecânicos reapertem tudo com auxílio de uma ferramenta chamada torquímetro que serve justamente para colocar a carga certa de força em cada item. Quem não tem essa ferramenta aperta no “olhímetro” e isso pode fazer alguns deles pularem fora. Quando envolve itens de segurança essa preocupação com o torque correto pode salvar vidas. Nos outros casos pode representar apenas um prejuízo financeiro.

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Porca parlock: bucha de náilon trava os movimentos.

Algumas dicas espertas para evitar espalhar pedaços de moto pelas ruas.

– Se gosta de fazer manutenção em casa adquira um torquímetro e baixe o Manual de Oficina da sua moto para saber o torque em cada item.

– Dê preferência para as porcas “parlock” em peças que se movimentam, ou estão sujeitas a muita vibração como as manetes de freio e embreagem ou a placa.

– Hoje existem adesivos de porcas e parafusos, mas atenção: são oferecidas várias opções de aderência. Nos casos mais extremos nunca mais vai conseguir soltar a porca ou parafuso. Escolha o adesivo recomendado para cada componente.

– Verifique periodicamente os coxins e borrachas da moto. O uso constante do querosene na lavagem ataca as borrachas que se rompem e perdem a capacidade de absorver as vibrações.

– Mantenha balanceamento das rodas sempre que reparar um furo nos pneus.

*(Nota do Redator) Este texto foi escrito e publicado em dezembro de 2005. Hoje convencionou-se chamar de pseudo-forças todas que não são ligadas à geração de energia. Por isso, termos como “força centrífuga”, foram rebatizados, no caso, por aceleração centrífuga, ou simplesmente centrífuga. Se a fórmula da força é massa vezes o quadrado da aceleração, um virabrequim, por exemplo, tem uma massa e aceleração variável. Seria lógico entender que o movimento dele resultaria em uma força. Mas não é mais. Para manter o texto original deixei com a nomenclatura da época, mas se te incomodar demais pode trocar apenas por “pseudo-forças”.

O equilíbrio entre escrever “certo” e escrever “fácil” sempre atormenta a vida de qualquer jornalista especializado. Na época da revista Duas Rodas tínhamos o Josias, matemático e profundo conhecedor de mecânico, o Gabriel Marazzi, engenheiro acostumado às nomenclaturas e eu, jornalista que gostava de motos! Para escrever um artigo técnico na época pré-Google, tínhamos de entrevistar engenheiros e todo tipo de técnico. Que despejavam toneladas de termos técnicos que só os diplomados na FEI entendiam e cabia a mim transformar isso em algo digerível para leitores comuns.

Neste processo de “traduzir” os textos, muitas vezes tivemos de passar ao largo da nomenclatura técnica para usar termos do conhecimento popular. A própria palavra “cilindrada” não existe tecnicamente, cujo nome correto é capacidade volumétrica. Mas ninguém pergunta: “qual a capacidade volumétrica dessa moto?”. Então, nesse processo de popularizar expressões sempre aparece (e sempre aparece mesmo) um PENTELHO que fez engenharia naval, civil, elétrica, pra dizer “ain, o jornalista escreveu força, que burro, mimimimi”. A esta gente eu aviso: deixa de ser mala, senão vou procurar seus textos pra achar um monte de erros de português!!!


Uma segunda de primeira, como foi o PNT 2021

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"Minha" Honda 125 réplica da RC 110 de 1962. Foto: Carlos Patrício

Evento clássico PNT reuniu carros e motos de coleção com pegas na pista

Realizado desde 2011 o evento Pé na Tábua, mais conhecido como PNT, saiu do seu palco principal, o kartódromo de Barra Bonita, SP, para o autódromo particular na Fazenda Dimep, do empresário e entusiasta do automobilismo, Dimas de Melo Pimenta. É um evento criado por e para entusiastas, mas o dono da batuta que rege toda a estrutura é o apaixonado Tiago Songa que decidiu, anos atrás, colocar os veículos clássicos para rodar na pista e não apenas expostos imóveis. Afinal são automóveis.

– Em um encontro tradicional de clássicos os veículos ficam parados e os entusiastas circulam por eles. No PNT são os veículos que circulam – explica Tiago.

A exemplo do tradicional evento clássico de Goodwood, na Inglaterra, a ideia era incentivar também a restauração de veículos clássicos de corrida. Com direito a uma corrida oficial, com pódio e troféus. Rapidamente a modalidade se espalhou que nem catapora em jardim da infância. Tanto que, em 2014, decidiu chamar o amigo e também apaixonado por clássicos, Jairo Portilho, para incluir as motos no evento, que recebeu o sobrenome TT, inspirado nas tradicionais Tourist Trophy inglesas. E é aí que eu entro nesta história.

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Jairo (à esquerda) e Tiago: entusiastas que regem o evento. Foto: Tite

Para esta edição de 2021 Jairo decidiu me convidar para participar como piloto, a bordo de uma de suas quatro motos. Para mim seria reservada a honra de pilotar uma réplica da Honda RC 110, de 1962, feita a partir de uma Honda CG 125 de 1976. Curiosamente eu vi esta moto nascer quando fui visitar o Jairo cerca de três anos antes.

O convite veio 45 antes do evento e eu aceitei imediatamente. O evento foi de 9 a 12 de outubro, porém não poderia participar de todos os dias, apenas da data da corrida que foi numa segunda-feira, imprensada no meio do feriado de 12 de outubro. Nestes 45 dias tive a missão de emagrecer cerca de 5 kg para conseguir vestir de volta meu macacão de couro.

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O pega com o Leonardo Freitas (29) durou até a bandeirada. Foto: Carlos Patrício.

Volta clássica

Fazia exatos 22 anos da minha aposentadoria como piloto de moto, em 1999, embolsando o vice-campeonato brasileiro da categoria 125 Especial, na qual competi com uma Honda RS 125 dois tempos. Naquela corrida derradeira eu tinha 39 anos e 59 quilos. Nesta segunda-feira de outubro estava com 62 anos e consegui chegar no necessário 69 kg pra vestir o equipamento de couro sem estourar o zíper.

Sem poder treinar cheguei e fui direto para as cinco voltas do warm-up. Já conhecia o circuito, mas a pista fora recapeada e estava mais veloz. Só tive tempo de calibrar os pneus, ajustar a posição das pedaleiras e larguei em último. Foram sete voltas de pura diversão. Nenhum dos participantes tinha experiência como pilotos “de verdade”, mas são colecionadores que gostam de curtir a emoção de acelerar uma clássica restaurada por suas próprias mãos.

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Pilotar motos pequenas é muito mais difícil do que se pensa! Foto: Carlos Patrício.

Por isso não foi difícil assumir a ponta na quarta das sete voltas e vencer, sempre com o Leonardo Freitas colado na minha traseira. Segundo o locutor – o próprio Tiago Songa – foi a prova mais emocionante do dia porque teve disputa até a bandeirada. Pra mim foi uma diversão e certeza de que fui inoculado pelo vírus da restauração.

Fórmula de sucesso

No total foram cerca de 70 motos divididas em quatro categorias: até 125cc dois tempos, Fórmula Honda 125, Fórmula Honda 400 (conhecida como Cachorrão), e até 350cc dois tempos, onde correram as maravilhosas e lendárias Yamaha TZ 350 e TD 350.

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Jairo na Yamaha TZ 350, engasgou na largada e chegou em segundo. Foto: Tite

Nos boxes pude voltar no tempo ao ver peças de coleção muito bem restauradas como Yamaha RD 50cc, Honda CB 125S, Suzuki A50II, Suzuki GT 550 e até uma raríssima Harley-Davidson Motovi 125 dois tempos! Mas a principal aposta do organizador está nas duas categorias monomarcas da Honda: as fórmulas 125 e 400. Criadas em 1976 e 1981, respectivamente, estas duas categorias foram responsáveis pela formação de toda uma geração de pilotos de motovelocidade.

Como são motos mecanicamente simples e fáceis de encontrar é certo que as duas categorias crescerão exponencialmente nos próximos eventos. E o “barato” é montar réplicas idênticas das motos que competiram, como a do piloto José Cohen, montada e pilotada pelo Jairo Portilho, e a réplica da moto do Adilson Cajuru Magalhães, restaurada e pilotada pelo empresário Alexandre Simões Zaninotto.

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Fórmula Honda 400 réplica da moto usada por José Cohen. Foto: Tite

Da minha parte já pensei em vários projetos, continuarei o regime alimentar para reduzir um pouco mais o “air-bag” abdominal e melhorar um pouco a Hondinha 125. Certamente estarei no próximo e levarei mais colegas pra categoria.

Kombi todo mundo

Dentro da programação estavam duas categorias de carros VW: Kombi e SP2, dois clássicos que fazem a cabeça de qualquer colecionador do mundo. Os SP2 desfilaram, mas também competiram! Todos restaurados no maior rigor possível e obviamente as disputas foram no ambiente cavalheiro, afinal eram peças de coleção disputando frenagens!

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Corrida de Kombi? Sim, temos! Foto: Carlos Patrício.

Já com as Kombi foi diferente. Com o saboroso trocadilho que batizou a categoria, a King Kombi tem preparação livre. Tão livre que Dimas de Mello Pimenta III preparou nada menos que uma Kombi com motor de Opala seis cilindros, pneus slicks e até aerofólio. Uma aberração! Também largaram Kombi com motor Porsche, com motor Subaru e algumas totalmente originais. Chegou a assustar ver as peruas entrando nas curvas fechadas, rodas ao ar, mas tudo sob controle. Um desafio às forças da gravidade, felizmente sem nenhum registro de capotamento.

O clima não poderia ser mais festivo, com barracas de camping, muito churrasco, presença de famílias inteiras (incluindo os pets), bem no espírito das corridas dos anos 1970. Sem regulamentos rígidos, muita poça de óleo, parafusos e porcas em fuga pela pista, com o saboroso toque de amadorismo que o evento exige.

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Nunca vi tanto SP2 juntos. Foto: Tite

Obviamente a referência ao Festival Goodwood é exagerada, mas tudo tem um começo. Um dos mais animados era justamente o anfitrião, Dimas, que já iniciou as obras para aumentar o autódromo (passar de 2 para 5 quilômetros de extensão) e mais boxes, justamente para começar a receber carros e motos de corrida mais potentes. Outro entusiasta que já apareceu no evento é Nelson Piquet. Dono de uma respeitável coleção de carros e motos, ele é um dos incentivadores da modalidade.

Já eu, não consigo parar de pensar no próximo!

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TZ 350 impecável. Foto: Tite

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Pegas em todas as categorias. (Foto: Tite)

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Parece que voltamos no tempo. Foto: Tite

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Replica da moto de Kenny Roberts. Foto: Tite

 

O primeiro amor: a história da Honda CG

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A pioneira de toda uma geração. Foto: Tite

Uma jovem senhora de 45 anos

Uma breve história da Honda CG, o veículo mais vendido do Brasil

Em 1976 a moeda era Cruzeiro Novo, a inflação era de mais de 1.000% ao ano e saber o valor das coisas era um grande exercício de adivinhação. O dólar nesta época equivalia a cerca de 10 Cruzeiros Novos ou NCr$ 10,00, como se grafava. O regime político era a ditadura militar e o presidente o general Ernesto Geisel. Minha grande preocupação nesta época era como fazer para me tornar um piloto de Fórmula 1. A segunda era qual faculdade fazer

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Honda CB 125S, com motor de 14,5 CV e câmbio de cinco marchas, uma lenda!

Lembro claramente quando vi a primeira Honda CG 125 em 1976. Já esperava o lançamento, mas na verdade imaginava que seria a CB 125S, com o motor quatro tempos de 125cc,, comando OHC, câmbio de cinco marchas com engate tradicional. O que veio foi a CG 125 com o motor 4T de 125cc, mas comando OHV e câmbio de quatro marchas com todas pra baixo. Foi quase uma decepção, porque a CB 125 S era mais esportiva e tinha desenho mais moderno, como uma espécie de miniatura da CB 750Four.

Da decepção inicial veio a surpresa totalmente aleatória. Um amigo comprou uma assim que chegou na concessionária Fórmula G. Mas o objetivo era usar em Ilhabela e foi lá que andei pela primeira vez. O câmbio estranho com as quatro marchas pra baixo nem foi o que mais chamou atenção, mas o motor, que tinha bastante força em baixa, porém era barulhento e vibrava muito.

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Painel da primeira CG com a trava de capacete. Foto: Tite.

Pouca gente sabe, mas os motores 125cc quatro tempos daquela época tinham uma elevada potência específica. No caso da CG 125 o motor tinha 12,5 CV o que equivalia a 100 CV por litro. E a CB 125S tinha 14 cavalos! Isso só era possível porque naquela época não havia a preocupação com as emissões de poluentes que temos hoje em dia.

O sucesso foi imediato e fez contraponto com a Yamaha, produtora de motos com motores dois tempos. A insistência (ou teimosia) da Yamaha no motor dois tempos seria determinante no eterno papel de coadjuvante da marca no Brasil. Aliás, uma das bobagens postadas nas redes sociais atualmente é que a Honda detinha a patente dos motores quatro tempos, o que teria prejudicado a Yamaha. Uma besteira sem tamanho, porque a Honda também produzia motos com motor 2T e a Yamaha produzia motos com motores 4T no Japão. Na verdade a Yamaha não acreditou no potencial do mercado brasileiro e quando percebeu o erro já era tarde demais.

O resultado da aposta certeira da Honda é que hoje, 45 anos depois da primeira CG sair da linha de montagem de Manaus mais de 13 milhões vieram atrás, tornando-se o veículo mais vendido da história da indústria brasileira.

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CG 150 Titan no curso Abtrans: a moto que ensinou os brasileiros a pilotar. Foto: Tite

A mãe de todos

Com Pelé como garoto propaganda a Honda apostou todas as fichas na produção de uma moto simples, econômica e com mecânica robusta. O sucesso da CG 125 foi imediato e deu frutos, com os lançamentos das irmãs ML 125 e Turuna 125, esta última com um estilo esportivo que agradou em cheio.

Por mais de quatro décadas o nome CG virou sinônimo de moto. Mais ainda, de primeira moto e sonho de consumo de uma geração de brasileiros. Difícil encontrar algum motociclista que não tenha dados os primeiros passos em uma CG, porque é a moto mais usada pelas moto-escolas de todo do Brasil.

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Pelé foi o garoto propaganda da primeira CG 125.

E não foi a professora apenas de motociclistas comuns, muitos bons pilotos são filhos da Fórmula Honda 125, categoria criada no final dos anos 1970 e que levou mais de 50 motos para um grid de largada em Interlagos. Desta categoria saíram pilotos de projeção nacional. Hoje a Honda CG está nas pistas em uma categoria para formação de jovens pilotos.

Muita coisa mudou na CG. As primeiras unidades ainda tinham muitos componentes fornecidos pela indústria brasileira. Como não havia fábrica de motos, os fornecedores eram da indústria automobilística, o que gerou alguns problemas. Motores de motos vibram mais e os fornecedores não conseguiam produzir peças mais resistentes. Além disso, o mercado de motos cresceu exponencialmente nos anos 1990. Saltou de 90.000 motos produzidas por ano para 60.000 motos produzidas por mês! Os fornecedores tradicionais não deram conta desse crescimento.

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CG 160 Titan atual: nada a dever às motos produzidas em qualquer país do mundo. Foto: Tite 

A solução adotada pela Honda foi a verticalização da produção. Atualmente a Honda fabrica praticamente 90% da CG e alguns dos poucos componentes que ainda não são feitos na planta de Manaus vem de algum fornecedor que tem a Honda como sócia investidora. Talvez só os pneus e a vela de ignição são de fornecedores externos, porém vizinhos à unidade de Manaus.

Moderna e eficiente

A evolução da CG 125 através do tempo foi surpreendente. O motor passou por várias atualizações para se adaptar às exigências ambientais. Veio a injeção eletrônica, o catalisador e na garupa dessas necessidades foi preciso um incremento na capacidade volumétrica (cilindrada) para compensar a perda de potência. Dos 124cc iniciais passou para 149 e hoje tem 162,7 cm3 e potência de 15 CV. Mais do que o aumento de volume, este motor atingiu um grau de eficiência difícil de ser encontrado. Todas as peças móveis são roletadas, o que reduz o atrito e aumenta a durabilidade. Feito para aguentar o ritmo alucinado dos quase 400.000 motofretistas que circulam em São Paulo e que elegeram a CG como veículo de trabalho.

Depois da precursora, chamada carinhosamente de CG “bolinha”, vieram a CG “quadrada” até o estilo atual, mais curvilíneo, com curvas suaves e laterais que lembram as irmãs maiores Twister e CB 500.

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Suspensões e banco macios para rodar por horas seguidas. Foto: Caio Mattos.

Para celebrar os 45 anos de vida, a Honda lançou a geração mais nova da CG, agora com motor de 162,7 cm3, flex e convidou os jornalistas para um teste em São Paulo.

A mais nova

Descrever uma CG é um desafio porque é um dos produtos mais conhecidos do Brasil. Na linha 2022 toda família CG recebeu novidades no desenho e pequenos detalhes. Desde a simples Start 160 até a “luxuosa” Titan, todas tem freio combinado. Isso é uma forma de corrigir um erro histórico dos motociclistas brasileiros que não são acostumados a usar o freio dianteiro. Com o “combi brake” se o motociclista acionar apenas o pedal do freio traseiro parte do freio dianteiro também atua.

Só para exemplificar o que isso significa, uma CG 150 com freios convencionais a 45 km/h percorre 24 metros quando acionado apenas o freio traseiro. Na CG 160 com freio combinado essa distância cai para a metade quando se aciona apenas o freio traseiro.

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Versão Fan, mais simples, mas a minha preferida. Foto: Caio Mattos.

Um dos aspectos que chama atenção em toda linha CG é o acabamento mesmo para uma moto simples. Sem exagero, qualquer modelo da CG poderia facilmente ser vendida na Europa sem deixar nada a desejar. Só não é mais exportada porque a produção precisa atender o mercado interno.

Outro item que mudou muito na CG é o conforto. Lembro claramente quando viajei com uma das primeiras CG 125 e cheguei “desmantelado”. E olha que tinha 40 anos a menos. Na CG atual o banco tem espuma tão bem calculada que até parece de gel. O conjunto de suspensão evoluiu e isso ajuda muito principalmente quem tem de passar até oito horas por dia trabalhando.

Evolução também no quadro, que passou de tubular para chapa estampada. Aqui a mudança foi puramente visando o processo de produção: estampar é muito mais rápido do que soldar um monte de canos. Como “efeito colateral” o quadro estampado deu flexibilidade e ajudou a reduzir as vibrações e melhorar o conforto. Na versão Cargo este chassi é reforçado para receber o baú.

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Painel atual: sofisticação e muita informação. Foto: Caio Mattos.

Para mim, uma das grandes conquistas em termos de conforto foi a impressionante redução do nível de vibração e ruído. Quando ainda vemos alguma CG antiga rodando chega a assustar pelo ruído do escapamento. Nem dá pra acreditar que era original!

Depois da relação custo x benefício, o argumento de compra mais lembrado da família CG é a economia de combustível. De fato, acho que ninguém testou mais CG do que eu, já que tenho 40 anos como jornalista especializado. Sempre foi surpreendente o consumo, que ficou ainda melhor com a chegada da injeção eletrônica. Como eu mesmo tenho duas CG, uma 150 e outra 160, posso atestar que o consumo melhorou muito com o novo motor. Na Titan 150 eu fazia médias de consumo na faixa de 35 a 38 km/litro sem preocupação com economia. Já na Start 160 atual eu já consegui mais de 47 km/litro pilotando de forma suave, sem exceder os limites do bom senso.

Os modelos Titan, Cargo e Fan têm tanques com 16,1 litros de capacidade, já a Start tem tanque de 14,8 litros, o que projetam autonomias gigantes de mais de 600 km. Chega-se mesmo a esquecer da última vez que a moto foi abastecida.

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Gráfico de vendas mostra que a CG é o veículo mais vendido do Brasil. 

Um produto com tanto tempo de mercado e desenvolvimento é difícil achar uma crítica, mas tem. É estranho ver no século 21 uma moto que ainda conta com freios a tambor na roda dianteira. Até as bicicletas já usam freios a disco hidráulicos. Mas a explicação transcende a engenharia. Pode colocar na conta do Denatran e sua ridícula homologação das moto-escolas. Graças a um ensino totalmente precário e equivocado, os brasileiros não sabem usar os freios dianteiros. Mais ainda: no Nordeste os motociclistas têm tanto medo de acionar o freio dianteiro que alguns chegam a retirar a manete! Ninguém me contou, eu vi!!!

Quando a Honda retirou a CG 125 Fan do mercado, substituindo pela Titan com freio a disco, muitos motociclistas no Nordeste deixaram de comprar a moto. Sim, acredite, porque nas minhas andanças pelo Brasil para ministrar cursos cansei de ouvir que o freio dianteiro a disco da Titan fazia a moto “encapotar”, um verbo que só ouvi naquela região. Isso obrigou a Honda a voltar atrás e “relançar” uma versão com freio a tambor, batizada de Start. Graças ao freio combinado ainda corrigiu o transtorno do medo de usar o freio dianteiro.

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Honda Turuna 125, um dos meus sonhos de consumo da época. Foto: Caio Mattos.

Para encerrar, as cores e preços. Lembrando que os valores são como base o Distrito Federal e não incluem despesas com frete ou seguro. As cores disponíveis para a CG 160 Start são prata metálico, vermelho e preto. Na CG 160 Cargo o branco, enquanto na CG 160 Fan as opções são o azul perolizado, vermelho e preto. Já a CG 160 Titan pode ser escolhida entre opções cinza metálico, vermelho perolizado e amarelo perolizado.
Os preços públicos sugeridos são os seguintes: CG 160 Start: R$ 10.520,00; CG 160 Fan: R$ 11.760,00; CG 160 Cargo: R$11.900,00; CG 160 Titan: R$ 13.040,00
A garantia é de três anos, sem limite de quilometragem, além de sete trocas de óleo gratuitas.

A lenda da CG vermelha

Nos anos 1980 era difícil criar pautas depois que as motos entraram na lista de supérfluos da câmara de comércio e as importações foram proibidas. Com uma indústria nacional ainda muito incipiente os jornalistas tinham de apelar para a criatividade.

E um dos testes mais criativos surgiu na Duas Rodas, da cabeça do Gabriel Marazzi. Muita gente suspeitava que às vezes duas motos iguaizinhas poderiam ter rendimentos diferentes. Atribuía-se essas diferenças ao ainda embrionário controle de qualidade das fábricas.

Para comprovar – ou não – essa teoria, Gabriel pegou duas Honda CG 125 exatamente iguais, com a mesma quilometragem, apenas com cores diferentes: uma azul e uma vermelha.

Levou as duas para a pista de teste e a CG vermelha foi melhor em todas as medições. Nada demais, mas esse teste causaria uma revolução na história da CG. Ficou a certeza que o rendimento melhor era por causa da cor! Foi assim que nasceu a CG “encarnada”. Essa crença foi tão além que em alguns Estados do Brasil, especialmente no Norte-Nordeste, a CG usada vermelha tem maior valor de revenda do que uma igual, mas de cor diferente. E quando a Honda tirou a CG vermelha de linha ­– uma decisão infeliz – as vendas caíram tanto que tiveram de voltar correndo com a cor vermelha na linha de produção.

Até hoje existe essa crença cega na supremacia da CG encarnada!

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CG Today ("quadrada"): comparada com a Ninja 1100. Foto: Tite

Comparativo absurdo

Ainda na linha da falta de assunto, o diretor da Duas Rodas, Josias Silveira, teve outro insight: comparar a Honda CG 125 com a Sport Touring Kawasaki Ninja ZX-11. Uma aberração, claro, mas no mundo corporativo manda quem pode e obedece quem tem juízo, neste caso, o ajuizado era eu mesmo! Sim sobrou pra mim fazer o teste “comparativo”.

Confesso que fui morrendo de vergonha, mas fiz todo o teste conforme o rigor da época, com medições e todo aparato instrumental. A muito custo escrevi o texto, tentando manter o estilo mais profissional e isento possível, afinal era uma moto de 12,5 CV contra uma de 150 CV.

Dentro do teste fiz questão de colocar nosso motoboy, CGzeiro de vocação, para passar um dia inteiro trabalhando com a Ninja 1100 para depois relatar como foi. Ele adorou a experiência, mas na hora de abastecer quis voltar pra CG.

Quando a revista foi à banca me deu vontade de desaparecer do mundo. Aguentei zoação de quase todos os jornalistas do planeta. Fui ridicularizado de toda forma, até passar uns dois meses e recebermos o relatório de vendas da distribuidora e... surpresa: foi uma das edições mais vendidas da década! Confesso que na época fiquei com cara de tacho, mas o sábio Josias explicou do jeito sempre meigo: “porra, todo mundo tem uma CG na garagem, mas sonha com uma Ninja, agora ele sabe qual a diferença entre as duas. Graças a você!!!”.

Quanto aos comentários maldosos das revistas concorrentes daquela época a História se encarregou de dar a resposta: todas fecharam e só a Duas Rodas continua todos os meses na banca até hoje.

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Minha CG Titan 150 carregada com dois skates! 

Minhas CGs

Sempre quis ter uma CG desde que foi lançada. Depois meu sonho era a Turuna 125, mas nesta época eu já tinha uma Honda CB 400Four que me etendia perfeitamente. Só que a vontade de ter uma CG nunca passou. Tanto que tive três: duas Titan 150 e hoje rodo pela cidade com uma Start 160.

Os pontos altos da minha CG Start atual é o nível elevado de acabamento, o banco macio, as suspensões que até parecem de moto trail e, cereja do bolo, a inacreditável economia de gasolina. Nas medições que faço sem rigor técnico já consegui 51 km/litro!!! E passei a viajar com ela para percursos pequenos, deixando minha Triumph Bonneville SE na garagem morrendo de ciúmes. Em uma dessas viagens consegui chegar a impressionantes 135 km/h (no velocímetro). Em outra levei minha filha na garupa que sentiu mais confortável do que na Bonneville (banco muito duro, pai!). 

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Minha CG 160 Start, durante a semana me transporte, no fim de semana ensina novos motociclistas na ABTRANS. Foto: Tite

 

Uma vez enrevistei um casal de japoneses que estavam dando a volta ao mundo em duas Honda 70cc. Quando perguntei a razão de usarem uma moto tão pequena a explicação foi surpreendente: "queremos ver a paisagem, numa moto grande não dá".

Cada dia gosto mais da CG e agora que descobri o evento PNT-TT estou prestes a montar a Fórmula Honda 125 para competir nas corridas clássicas. Aguarde!

 

 

Lendas do mercado: a Honda CBC 450

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Esta moto é uma verdadeira salada mista, mas elegante. (Fotos: Mário Bock)

HONDA CBC 450, uma lição de como fazer moto!

Em meados de 1987 o mercado brasileiro de motos era limitado a poucos modelos. Tão poucos que motos na faixa de 350/450cc eram chamadas de motos "grandes". Uma das sensações desta época era a Yamaha RD 350LC que deixou a Honda CB 450 com cara de museu. Só mesmo quem odiasse motores 2T escolhiam a CB 450, porque a RD representava a esportividade máxima dentro da categoria.

Os concessionários Honda começaram a pressionar a fábrica para lançar um produto que pelo menos se aproximasse da RD 350, já que a CBX 750F custava quase o dobro! Um destes concessionários era ninguém menos que Denisio Casarini, piloto super bem sucedido de motovelocidade e motocross, que encarregou outro gênio, Victor Macaya, de projetar o que ele imaginava ser uma concorrente à altura da RD 350. Assim nasceu a Honda CBC 450, o segundo "C" de Casarini, claro.

O Victor Macaya era quase um professor para mim. Eu passava horas na oficina dele, a Moto Mavi, na avenida Moema, quando era adolescente. Aprendi demais com ele, principalmente a ser uma pessoa humilde e batalhadora. Quando a moto ficou pronta ele fez questão que eu fizesse o teste pra revista Duas Rodas. Com isso, levamos a CBC 450 para Interlagos, juntamente com uma Yamaha RD 350LC e uma Honda CBX 750F. Já deu pra imaginar nossas intenções...

Bom, não vou dar spoiler, mas depois que esta matéria foi publicada o departamento de engenharia da Honda Brasil examinou essa CBC 450 de tudo que é lado. Alguns meses depois chegou ao mercado a CBR 450SR, com muita semlehança com a moto criada pela dupla Casarini-Macaya. Até mesmo a carenagem criada pelo meu amigo Toya Ponzio serviu de inspiração. Na versão "oficial" as rodas vieram com 17 polegadas e optou-se pelo escapamento 2x1. Mas não dá pra negar que foi muito inspirada na CBc 450. Acompanhe o teste! (O texto original é de minha autoria e foi mantido da época).

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Na capa da revista. Os escapamentos eram da CBX 750F importada.

Honda CBC 450

Duas Rodas antecipa com exclusividade como a Honda poderá modernizar sua CB 450: três discos de freio, aro dianteiro de 16”, novo tanque e muitos outros detalhes.

Ela é preta, tem aro dianteiro de 16", dispositivo antimergulhante, suspensão traseira Pro-Link, motor quatro tempos, velocidade acima de 180 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 5,5 segundos. Esta moto não é nenhuma importada superesportiva, mas uma Honda CB 450TR, que o piloto de competição Denísio Casarini desenvolveu em sua revenda, antecipando a nova CB 450 que a Honda Motor do Brasil deverá lançar em novembro. A nova moto da Honda não deverá trazer todas as inovações existentes na moto de Denísio, mas revela bem as possibilidades que a CB 450 ainda pode ter no Brasil, mantendo a mesma estrutura básica, como o motor e o quadro.

As modificações realizadas na CB 450 original são tantas que é mais rápido listar o que não mudou, ou seja, a parte elétrica, a parte dianteira do quadro, câmbio, carburação, comandos e espelhos retrovisores. O resto é tudo diferente.

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Capitão Gemada e o famoso macacão amarelo. O tanque e as laterais são da Honda VF 400R

Começando pelo mais atraente da moto, que é o estilo. A transformação, realizada por Victor Macaya e Carlos de Souza, incluiu muitas peças importadas, como tanque, laterais, rabeta, banco, balança traseira, amortecedor traseiro, velocímetro, contagiros, lanterna traseira e
escapamentos da Honda VF 400R. A carenagem é nacional, fabricada pela Toya, as rodas foram produzidas sob encomenda pela Scorro e são de liga leve. A suspensão dianteira, os discos de freio, pinças de duplo pistão e piscas traseiros são da Honda VF 500R.

O resultado final foi uma grande semelhança com a Honda CBR 600. Para reunir todas essas peças numa moto, Victor Macaya precisou modificar a parte traseira do quadro, utilizando tubos de secção quadrada, e realizar soldas tão bem acabadas quanto às das motos de fábrica. Para instalar o amortecedor Pro-Link foi preciso mudar a posição da bateria, que ficou de lado e não transversal, e o filtro de ar foi suprimido, adotando dois copos com elemento filtrante em cada carburador. Não foi preciso alterar a coluna de direção para instalar a roda dianteira de 16” porque a suspensão dianteira foi concebida para receber esta rodagem (a roda original da CB 450TR tem diâmetro de 19'').

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Coincidentemente meses depois a Honda lançou a CBR 450SR com carenagem integral.

Motor bravo

Para que a moto não ficasse apenas com visual de superesportiva, foi realizado um trabalho no motor de dois cilindros e quatro tempos, elevando a potência e a cilindrada. Os cilindros foram retificados no limite máximo de tolerância, abrindo 1mm no diâmetro, que passou de 75 para 76 mm, mas manteve o curso de 50,6 mm, com isso a cilindrada passou para 459cc. O comando de válvulas foi trabalhado e a moto passou a desenvolver 48 CV a 8.500 rpm (potência estimada a partir de cálculos matemáticos), contra 43,3 CV a 8.500 rpm (dados declarados) da CB 450 original. Porém, o consumo melhorou: a 80 km/h a CBC fez 24,4 km/litro, contra 19,9 km/litro da CB 450TR.

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Eu na CBC 450 e o Zé Cohen na RD 350: um pega divertido em Interlagos.

Para ter um dado comparativo, já que concorre na mesma faixa de mercado, foi levada para a pista de testes a Yamaha RD 350LC com novo desenho realizado pelo também piloto José Cohen. Desta forma, foram colocadas lado a lado uma Yamaha RD 350, com mecânica original contra uma Honda CB 450 com motor preparado. O resultado foi surpreendente. A velocidade máxima da CBC 450, na melhor passagem, foi de 183,6 km/h para um motor ainda não amaciado, com apenas 300 km rodados contra 195 km/h da RD 350. Na aceleração de 0 a 100 metros a CBC gastou 5,33 seg na melhor passagem, contra 5,80 seg. da Yamaha RD 350. Na aceleração de 0 a 100 km/h a CBC 450 gastou 5,50 seg. contra 6,13 seg. da RD.

Para enriquecer mais ainda o comparativo, foi levada também a nova Honda CBX 750F para a medição, que gastou 5,53 seg. para ir de 0 a 100 km/h. Conclusão: a CBC 450 foi a moto mais rápida na aceleração de 0 a 100 km/h. Esta aceleração pode ser explicada pela utilização de um pinhão menor, com 15 dentes (o original tem 16), o que reduziu a relação secundária de 2, 25:1 para 2,40:1. Com a relação original esta CBC poderá passar dos 190 km/h.

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Foi neste dia que eu abri um buraco no macacão amarelo ao raspar o joelho no asfalto.

Presa ao chão

Depois de analisados os detalhes (cuidadosos) de acabamento, como as soldas do quadro, tampa esquerda do motor alongada e uma presilha na guarnição da bolha, que impede a borracha de sair voando em alta velocidade (detalhe esquecido nas Yamaha RD 350 de fábrica), chegou o momento de experimentar a moto em movimento. E nada mais adequado do que levá-la ao Autódromo de Interlagos, onde pode-se andar mais à vontade nas curvas e retas.

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Gabriel Marazzi na 750; Cohen na RD 350 e eu na CBC 450. Os Teletubies da imprensa.

Logo nos primeiros metros dá para sentir uma diferença na dirigibilidade graças à roda dianteira de 16". A suspensão dianteira é composta de garfos telescópicos oleopneumáticos, com curso de 140 mm e na bengala esquerda fica o dispositivo antimergulho Trac. A sensação ao pilotar alternadamente uma CBC 450 e uma CBX 750 nacionalizada é que na primeira a roda dianteira está mais "solta” e a frente fica mais "na mão", mesmo em curvas a alta velocidade. A frente não oscila nem um milímetro e a segurança para inclinar é total. Já na CBX 750F, com aro de 18", suspensão dianteira convencional, a sensação é de que a frente está "mais longa" e nas curvas é mais demorada para descer ao limite.

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Sim, fizemos medições de verdade, com aparelhos sofisticados.

A suspensão traseira Pro-Link com curso de 115 mm é justa e garante uma estabilidade à moto, só comparável às CBX 750F importadas (aquelas saudosas motos com suspensão traseira regulável, aro 16" entre outras “melhorias”). O comportamento desta CBC 450 não lembra nem de longe as sacolejantes CB 450TR com suspensão traseira bi-choque e dianteira “normal”. Jamais uma CB. "original" proporcionaria tamanho prazer ao pilotar quanto esta CB Casarini.

A CB 450TR quando levada ao limite nas curvas apresenta uma vibração lateral que pode assustar um motociclista desavisado. Até os pilotos que corriam na extinta Fórmula Honda 400/450 cansaram de reclamar do jingado dessas motos nas curvas. Por outro lado, a CBC 450 fica tão agarrada ao solo que chega a ser um convite a uma pilotagem mais esportiva, abusando da aceleração nas saídas de curvas, permitindo que se exija dos freios nas tomadas. Aliás, os freios merecem atenção especial.

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Os detalhes em preto&branco. As rodas são quase iguais às da versão oficial.

Frenagens no limite

Experimentando a moto em Interlagos foi possível avaliar o excepcional conjunto de freios. Na dianteira estão instalados dois discos com pinças de pistões duplos. Na traseira existe apenas um disco com duplo pistão. O resultado aferido nas medições comprovaram as primeiras impressões. Para não arriscar uma queda com esta moto única, Duas Rodas abriu uma exceção e permitiu que o próprio Denísio Casarini fizesse as frenagens.

Logo de início ficou evidente que os freios eram “demais” para essa moto leve (190 kg a seco, contra 177 kg da CB 450TR), nas frenagens a 40 km/h e 60 km/h a roda dianteira travou de tal forma que chegou a desequilibrar a moto, mas sem derrubar o piloto (felizmente).

A título de comparação, a CBC 450 percorreu 4,7 metros para imobilizar a 40 km/h, enquanto a CB 450TR com apenas um freio dianteiro a disco na frente e a tambor na traseira, gastou 8,5 metros na mesma velocidade. A 60 km/h a CBC freou em 9,6 metros, e a CB 450TR em 16,0 metros. Uma CB 450TR a 100 km/h percorre 41,0 metros até parar, ou seja, 2,6 metros a mais do que a CBC. Por aí dá pra imaginar o que representa em termos de segurança, um conjunto de freios mais eficiente.

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A velocidade máxima foi de 183,6 km/h!

A intenção principal de Denísio Casarini era apenas mostrar para a Honda o que é possível fazer com a CB 450TR, que a rigor se mantém a mesma desde o lançamento em 1980. Como resultado ele conseguiu mais do que isso. Ao ser apresentada aos projetistas da Honda, a moto foi muito elogiada e feitas muitas fotografias de detalhes como a suspensão traseira, o quadro e a suspensão dianteira. Para a Honda lançar uma CB 450 bem melhorada e concorrer mais eficazmente com as RD 350, não seria necessário um alto investimento e atrairia o público que gosta de moto esportiva, mas não consegue comprar uma CBX 750F, ou não gosta de motor dois tempos.

Ao que tudo indica, a nova CB 450 virá com duplo freio a disco, carenagem integral e suspensão traseira monoamortecida Pro-Link. Outros equipamentos vão depender de a fábrica acreditar, ou não, na Economia do País.

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Carenagem Toya em uma CB 450 normal serviu de inspiração pra Denisio Casarini.

RRRaivosa: como é a Honda CBR 1000RR-R SP de 216 cavalos

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Deita muito: nas mãos de um piloto de verdade chega a 60º de inclinação. (Fotos: Divulgação)

Ela vem pronta para entrar na pista: 216,2 CV para você

Assim que coloquei a Honda CBR 1000RRR em pé, na saída de uma curva de baixa velocidade no autódromo Fazenda Capuava, lembrei do briefing feito pelo piloto Rafael Paschoalin, quando ele disse: “acelera até acender todas as luzes do shift light”! Bem que tentei, mas a frente subiu, os semiguidões chacoalharam de um lado pra outro e só consegui acelerar até 13.750 RPM. O corte se dá com 14.500 RPM, mas eu tinha ainda muitas voltas pra tentar controlar o punho direito.

Antes de contar o que aconteceu quando finalmente vi as luzes acesas, deixa explicar o que é esta nova Fireblade. É totalmente diferente de todas as antecessoras, desde que a Honda lançou a primeira versão em 1992. É simplesmente a mais esportiva da história da Honda, com absurdos 212,2 CV a 14.500 RPM. Se quiser saber o que isso significa, basta entender que aquelas motos 500cc dois tempos que competiram nos anos 80/90 chegaram ao máximo de 180 CV. Não é uma moto para amadores.

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Comigo no cockpit ela só chegou a 54º de inclinação. (Foto: Digital da Lata)

Não se trata de uma melhoria da CBR 1000RR anterior, mas um projeto totalmente novo do qual não se aproveitou nem a tampinha dos pneus. Inteligentemente a Honda levou a CBR 2020 e a novíssima 2021 para os pilotos poderem comparar a evolução. Alerta de spoiler: são completamente diferentes.

Antes de contar como foi o soco no estômago ao acelerar até 240 km/h em terceira marcha, vou detalhar a nova CBR aos pedaços.

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É a mais esportiva Fireblade produzida desde 1992. (Foto: Divulgação)

Motor– Bom, a Honda tem uma moto super esportiva, a RC 213V-S que é uma MotoGP disfarçada para rodar na rua. Este foguete tem moto V-4, arquitetura que a Honda adotou na moto de corrida, mas para a CBR preferiu investir em um novíssimo quatro cilindros em linha extremamente compacto. É o menor e mais leve quatro cilindros já produzido pela marca.

Os dados de diâmetro e curso são impressionantes: o diâmetro tem indecentes 81mm para um cursinho de 48,5 mm. O pistão é praticamente um grande Sonrisal com anéis. São exatamente as mesmas medidas da RC 213V que Marc Márquez se diverte nos fins de semana. Números não significam nada, mas interpretá-los sim. Resumidamente, quanto maior o curso, mais torque em baixa tem um motor. Por isso as motos custom tem grande valor de curso e pequeno de diâmetro. Nas motos esportivas o importante é força em alta rotação, por isso os motores tem menos curso e mais diâmetro. Mas nesta CBR exageraram um pouco, como vou explicar melhor na parte dinâmica deste adorável (e interminável) texto.

Para reduzir o máximo os atritos, a Honda encheu o motor de rolamentos em praticamente todas as peças que se mexem. Tem rolamento de esfera, de agulha, todo tipo. Além disso tanto cilindro quanto pistões recebem tratamento de superfície diamantado. Não, não é o mesmo diamante do anel de noivado, mas lembre que o diamante nada mais é do que um carbono que se deu bem na vida. Quando usado como tratamento de superfície garante maior dureza e menor atrito.

Mas o ponto alto deste motor é o sistema de comando de válvulas híbrido, com corrente e cascata de engrenagem juntos. O objetivo é eliminar parte do efeito giroscópico das massas rotantes do virabrequim e comando de válvulas. Num motor convencional o virabrequim e o comando de válvulas rodam no mesmo sentido. Isso soma os efeitos giroscópicos no mesmo sentido (que é o mesmo das rodas). O resultado é a tendência de a moto “alongar” a trajetória nas curvas, especialmente nas de baixa velocidade.

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Na pequena reta do circuito cheguei a 240 km/h em terceira marcha. (Foto: Digital da Lata)

Para entender isso lembre dos carrinhos de fricção. A gente dá impulso e dentro dele tem uma engrenagem que aumenta a velocidade de um corpo circular. Quando colocamos o carrinho no chão ele sai andando pelo chão pelo efeito giroscópico da pecinha que está lá dentro. Se colocarmos uma engrenagem com um segundo corpo circular girando ao contrário o carrinho ficaria parado no lugar.

No caso do motor da CBR 1000RRR o comando de válvulas girando no sentido contrário ao do virabrequim reduz essa tendência de a moto alargar a curva. Por isso foi tão importante testar as duas CBR no mesmo dia e na mesma pista: pude sentir essa diferença na prática e não na teoria.

Bom, a potência e torque estão na ficha técnica. Mais do que os números, é preciso entender que o comportamento de um motor com estes dados de diâmetro e curso não foi feito para passear no quarteirão. Foi feito para desfrutar em alta rotação. Alta mesmo, pra lá de 13.500 RPM.

Uma das frescurites desta moto é a chave smart key, que dispensa aquele contato tradicional no painel. Sem o volume adicional no painel a Honda teve uma sacada genial: montou a coluna de direção em formato aerodinâmica de gota (ou asa). Também conseguiu um duto de indução de ar tão gigantesco que eu enfiei o braço inteiro (tem filme no stories do meu instagram @titesimoesoficial). A indução de ar funciona como uma espécie de “compressor dinâmico”, quanto mais rápido, maior a pressão do ar nos coletores de admissão.  

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Dá para colocar o braço inteiro no duto de entrada de ar! (Foto: Renato Durães)

Quadro– Uma obra de arte, feito quase de forma artesanal, com dupla trave superior e balança traseira derivada diretamente da MotoGP. Não só na escolha de materiais e medidas, mas também pela forma aerodinâmica. Toda a CBR 1000RRR foi criada e desenvolvida pensando na forma mais fluida e que permitisse um efeito downforce para segurar a moto no asfalto. Além disso a distância entre-eixos aumentou em um centímetro na esperança de fazer a moto empinar menos nas acelerações bruscas.

As dimensões foram totalmente alteradas em relação à versão anterior. Além de mais “longa”, ficou mais estreita e o piloto ganhou um tiquinho mais de espaço. Os semi-guidões ficaram mais abertos e mais confortáveis. Incrível como alterações quase imperceptíveis deixaram a CBR mais ergonômica especialmente para pilotos na faixa de 1,70m e 70 kg.

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Dimensões compactas, também da moto. (Foto: Caio Mattos)

Suspensões– Totalmente regulável e eletrônica. Na real o piloto escolhe qual programa de pilotagem quer usar e a eletrônica se encarrega de ajustar tudo. O destaque é que a Honda deixou de usar a marca Kayaba japonesa e partiu para a Öhlins porque a coisa agora é outro patamar. O piloto pode personalizar os ajustes da suspensão e guardar na memória do processador. Por exemplo, se vai rodando de casa até a pista do track-day pode-se sair com um ajuste mais “cidadão” e ao chegar na pista ajustar no modo “retardado total” com apenas um click.

Mais uma vez vou agradecer pela sábia decisão em levar o modelo anterior, porque seria impossível comparar as duas suspensões sem pilotar uma depois da outra. Vou explicar em detalhes mais na frente, mas por enquanto posso resumir da seguinte forma: bendita seja a eletrônica!

Aerodinâmica– Sabe aquelas “asinhas” laterais nas motos da MotoGP? então, elas chegaram nas motos de série. No caso desta CBR 1000RRR estas aletas tem mais de uma função. Além de ajudar a manter o pneu dianteiro em contato com o asfalto, ela também ajuda no arrefecimento do motor e direcionar o ar quente para longe das pernas do piloto.

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As aletas laterais realmente funcionam para estabilizar e direcionar o ar para o radiador. (Divulgação)

Muitas pessoas perguntaram se essas asas atuam mesmo em baixa velocidade. Aqui vai um esclarecimento: a aerodinâmica é o estudo do vento em relação ao veículo. O corpo pode estar em movimento ou não. Por exemplo: quando a criança solta pipa, num dia de vento forte, a pipa está parada, presa a uma linha, mas o vento passa por ela e a faz subir, virar, fazer manobras etc.

No caso dos veículos a velocidade do vento mais a velocidade do veículo ampliam o efeito das aletas. Não precisa estar a 289 km/h. Assim que a moto se desloca já está valendo. O piloto pouco sente na prática, mas aerodinâmica é assim mesmo: a gente não sente, mas ela está sempre ali atuando.

Além das aletas, pode-se perceber pequenos recortes no para-lama dianteiro, na carenagem, ou então curvas inexplicáveis na balança traseira, na carenagem e por todo lado. Tudo para forçar o ar passar no lugar certo para obter o efeito de melhorar arrefecimento, fluidez, velocidade etc.

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Total confiança nos pneus Pirelli Supercorsa. (foto: Digital da Lata)

Chega de conversa

Fiquei quase uma semana sem dormir quando soube que iria pilotar esta que foi considerada pelos principais jornalistas do mundo como a esportiva mais radical da atualidade. Para acabar com meus nervos a previsão do tempo era de chuva. Não tenho medo algum de pilotar na chuva em autódromos, pelo contrario, sou meio pato, porque gosto de pilotar no molhado. Mas o autódromo de Capuava é muito estreito e pouco amigável com os erros.

Sorte que a chuva parou ao meio dia e o asfalto secou. Mas os pneus de chuva estavam ali, à espera.

Rafael Paschoalin é um piloto que confio plenamente. Conheço ele praticamente desde que nasceu e se tornou um monstro que pilota qualquer coisa. Ele fez o briefing técnico e explicou que faríamos primeiro algumas voltas com a CBR 1000RR anterior e já deu alguns spoliers sobre suspensão, freios e o coice da abertura do acelerador.

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A nova (ao alto) e a "velha". Ótima ideia levar as duas para comparar. (Fotos: Digital da Lata)

Foi uma decisão muito inteligente levar as duas motos, porque nem os jornalistas gringos tiveram essa chance e a constatação de que são motos absolutamente diferentes.

Depois do “aquecimento” com a versão anterior, confesso que não consegui fazer todo o miolo da pista em primeira marcha, como aconselhou o Rafael, mas em segunda, porque esta CBR ainda tem um motor mais “civilizado” com torque em baixa.

Desci da “velha” e assim que assumi o cockpit da nova já deu pra perceber que a nova é mais estreita, os pés ficam mais encaixados e os pedais de freio e câmbio mais curtos. O guidão é mais aberto e a posição de pilotagem ligeiramente mais confortável (se dá pra falar em conforto em moto de corrida...).

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Painel com sensor de inclinação. (divulgação)

Motor acionado e surpresa: vibra menos! Isso mesmo, com faixa de rotação mais alta imaginei um motor mais áspero, mas nada disso. Primeira engatada, a embreagem só pra sair, porque o câmbio tem quick-shift (regulável) tanto para marcha crescente quanto decrescente.

A primeira volta ainda estava meio me achando, mas respeitei o conselho do Rafa para fazer todo o miolo em primeira e acelerar tudo na reta. Logo nas primeiras curvas foi possível confirmar o menor efeito giroscópico do motor, porque sumiu a tendência em alargar a trajetória. Mas nem quis olhar o conta-giros antes de chegar na reta e aff...

Tive de readaptar meu estilo de pilotagem porque nas motos com controle de tração o piloto precisa colocar a moto em pé rapidamente para avisar a central eletrônica que já pode acelerar.

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Nos punhos estão os comandos de seleção e controle dos mapas de pilotagem. (Divulgação)

A exemplo da Africa Twin, esta CBR 1000RRR tem uma centralina IMU de seis coordenadas. A posição da moto é monitorada o tempo todo e determina quando o motor pode entregar toda a potência ou quando o freio dianteiro tem de ser amenizado no meio de uma curva, por exemplo, ou controlar a entrada do ABS.

Sobre o freio ABS, nas voltas com a CBR anterior foi possível sentir a atuação do ABS na roda traseira (eu uso muito freio traseiro em pista), mas na versão RRR é imperceptível mesmo quando acionado com toda violência do mundo. Também a exemplo da Africa Twin, esta RRR tem o valioso e desejado ABS cornering, que distribui a frenagem durante a curva. Tive a chance de testar quando me distraí na sessão de fotos e fui parar na grama!

Outra percepção que só foi possível ao pilotar as duas versões no mesmo dia foi o trabalho da suspensão inteligente. Em um trecho da pista passávamos por dois “bumps”. O Rafael me deu a dica: “percebe a diferença ao passar no bump”. Realmente a diferença é totalmente sensível: com a nova RRR a moto absorve totalmente e parece que alisaram a pista!

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Akrapovic original de série: nem pense em mudar este escapamento. (divulgação)

Depois da primeira sessão de testes o Rafael veio dar outra dica: segundo ele eu estava demorando muito para colocar a moto em pé nas saídas de curva e dosando muito o acelerador. Ele aconselhou colocar a moto em pé e abrir TODO acelerador de uma vez na saída de curva. Será?

Na segunda bateria de testes colocaram o modo de pilotagem no “Racing-Deus-te-proteja”. Uma das opções do painel é exibir um gráfico de inclinação da moto em curva. E nesta segunda bateria saí com mais intimidade e de olho em tudo que o Rafael fazia.

Bom, havia muitos anos que eu não pilotava nada com mais de 200 CV em duas rodas. Confiar na eletrônica exige muita frieza e certeza que não vai dar pau em nenhum processador. Assim, fiz exatamente o que o Rafael aconselhou e na primeira saída de curva de baixa coloquei a moto em pé o mais cedo possível, abri todo acelerador e senti meu estômago quase sair pela boca.

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A CBR 1000RRR é estreita e compacta: pouca área frontal. (Divulgação)

A frente levantou alguns centímetros do chão, os semi-guidões viraram de batente a batente (abençoado amortecedor de direção eletrônico) e a moto deu uma estilingada absurda, mas totalmente controlável.

Na primeira passagem pelo retão consegui esticar a segunda e terceira marchas e o velocímetro indicou 240 km/h. E ainda tinha mais três marchas! Segundo o vídeo de um jornalista italiano que vi no YouTube, ela chega a 299 km/h em quinta marcha. A velocidade é controlada eletronicamente, mas já existe remap da própria HRC que libera a velocidade máxima. Calcula-se que supere os 320 km/h.

Só a título de curiosidade, a inclinação máxima para a esquerda foi de 54º, enquanto para a direita foi de 49º. Eu realmente não gosto de curvas para a direita. Mas eu vou um velhinho de 62 anos. Um piloto profissional chega fácil a 60º de inclinação.

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Suspesões Öhlins e freios Brembo: Honda foi buscar o que existe de melhor. (Divulgação)

Por indicação do Rafael, usei só a primeira marcha durante todo o miolo do circuito. Isso deixa as reações da moto muito nervosas e só fiquei totalmente à vontade em uma curva de raio longo para a esquerda, quando pude levar ao limite os confiáveis pneus Pirelli Supercorsa. Na única vez que tentei usar a segunda a moto ficou xoxa, sem aquele empurrão nervoso. Na CBR anterior ainda se pode trabalhar em médios regimes, mas na RRR esquece: se quiser vigor tem de subir além de 11.500 RPM.

Um item que deve permanecer absolutamente original é o belíssimo escapamento Akrapovic 4-2-1. Tanto o desenho quanto o ronco são o que existe de mais adequado à esta moto esportiva que beira a perfeição. Claro que para competição existem versões mais esportivas, sem respeitar os limites de emissões.

Depois de três sessões de treinos cheguei à conclusão de que esta é a mais esportiva moto vendida ao público. Claro, existe a Ducati V4 S Panigale, mas ela concorre, de fato, com a Honda RC-213V S, que também adota motor V4. Entre as motos da categoria Superbike de motor quatro-em-linha esta é uma versão que basta retirar a lanterna traseira, as setas e ir para o track-day. Ou, se preferir, pode ir rodando mesmo. Também concluí que já não tenho idade nem técnica para extrair o máximo de uma moto com mais de 200 CV sem acordar no dia seguinte com dores pelo corpo todo.

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A "velha" CBR 1000RR tem motor mais elástico. (Foto: Caio Mattos)

Não imagino alguém comprando uma moto desta para passear de fim de semana e menos ainda para ir e voltar do trabalho. Com ajuda dos programas de pilotagem até melhora a distribuição de força em médios regimes, mas da mesma forma que ninguém compra um cavalo puro sangue campeão do GP Brasil para passear no sítio, esta é uma moto que não nasceu para rolêzinhos. É pra levar na pista e acelerar em local seguro.

Pilotar essa moto em um autódromo travado como o Fazenda Capuava foi como saltar de asa delta da mesa da cozinha. Espero ter a chance de pilotar em uma pista maior “de verdade”, como o Circuito Panamericano (entendeu a indireta?) ou mesmo Interlagos. No filme do jornalista italiano ele pilota no circuito de Losail, no Qatar. Na longa reta ele só conseguiu engatar a quinta marcha, porque a relação original é “longa” para aquela pista. Pensa num absurdo!

Deixei pra revelar o preço no final, senão a pessoa para de ler no primeiro parágrafo, mas pode preparar o cofre porque são R$ 159.000. E certamente vai ter briga porque não foi informada a quantidade que virá para o Brasil. Se continuarem as dificuldades para produzir e fornecer os semicondutores a CBR 1000RRR já nasce com o status de colecionável porque a produção será pequena. Ela é fabricada pela Honda do Japão, que vai abastecer os principais mercados do mundo.

Para saber mais, preço atualizado, ficha técnica, garantia etc, clique AQUI.

 

 

Moto com modos: como ser um motociclista educado

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Sim, é possível ser Harleyro, descolado, sem fazer estardalhaço!

Tenha motos e modos

Como ser uma pessoa educada no uso das motos e scooters

Imagine se seu avô, 60 anos atrás, chegasse em um restaurante e colocasse o chapéu panamá em cima da mesa! Isto causaria um tremendo mal estar no local e certamente o gerente pediria para retirar o chapéu e o avô. Porque naqueles distantes anos 1950 uma das regras de etiqueta da sociedade era jamais colocar o chapéu em cima da mesa, por uma questão de higiene e bom modos. Mas não é bem assim que fazem os motociclistas de hoje.

Basta olhar em volta para perceber que as motos dominaram o cenário. Junto com elas todo tipo de motociclista, desde o novato, o entregador, o experiente, esportista etc. E tem coisa mais chata do que criar “regras de etiqueta” para quem usa moto/scooter? Nada disso seria necessário se as pessoas praticassem o mais elementar dos preceitos humanos: o bom senso. Pena que a sensatez é uma qualidade cada vez mais rara nos dias de hoje. Daí a necessidade das tais “regras”.

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Capacete em cima da mesa? NUNCA!

Da mesma forma que em 1950 os homens não depositavam os chapéus em cima da mesa, hoje os motociclistas também não devem chegar em um local público, restaurante, bar, lanchonete, e colocar o capacetão em cima da mesa, por mais novo e caro que seja. Não é higiênico, não pega bem e demonstra falta de asseio. Nestes locais pegue uma cadeira a mais e coloque o capacete. Ou deixe no baú da moto, preso no helmet holder (se tiver), ou prenda com um cadeado, qualquer coisa, menos colocar sobre a mesa ou balcão.

No Brasil não é comum o uso de cabideiros em locais públicos, mas alguns bares de motociclistas estão introduzindo a “capacetaria”, semelhante à antiga chapelaria. Tem coisa mais chata do que ficar circulando pelos locais públicos com aquela trapizonga presa no cotovelo? Existem formas de prender o capacete na moto com segurança.

Etiqueta na calçada

São cada vez mais comum os barzinhos que colocam mesas nas calçadas. Inclusive alguns frequentados por motociclistas. Aí a pessoa chega com sua moto custom de 1600cc, com escapes livres, soltando ruído e fumaça e estaciona com a traseira voltada para a calçada... onde pessoas estão comendo. É uma tremenda falta de educação e bom senso.

Para evitar isso basta DELIGAR a moto e estacionar calmamente, sem fazer força, usando a inclinação natural das ruas. Na hora de sair com a moto nada de ligar e despejar fumaça e barulho em quem está nas mesas. EMPURRE a moto até o meio da rua e só então ligue. Ah, mas sempre tem o(a) fracote que argumenta “ain, mas a minha moto é muito pesadain”... Então por que comprou uma moto que não consegue nem manobrar?

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Se não aguenta o peso da moto compre outra mais leve ou estacione longe das mesas!

No caso de pessoas desprovidas de força (ou vontade) a regra é mais simples ainda: pare longe das mesas! Do outro lado da rua, por exemplo. Simples assim. Na hora de sair pode ligar e desfilar toda fumaça e barulho longe das pessoas.

Agora, se não quer parar a moto longe das pessoas, nem manobrar, aí nem sequer é questão de ser bom ou mau motociclista, é uma questão de ser ou não uma boa PESSOA!

Sobre os escapes abertos nem vou prolongar no tema porque quase 100% das pessoas que usam motos com escapes barulhentos defendem o fim dos fogos de artifício para não maltratar os animais. Sim, filho (ou filha) o som do seu escape também arruína a vida de animais e pessoas, mas pra você é normal.

Só um lembrete, especialmente para os homens: a exposição constante ao ruído causa não apenas perda da audição, mas já foi comprovado que também causa disfunção erétil (opa!).

Sai da frente!

Uma coisa que os motociclistas precisam entender definitivamente é que o sistema viário não pertence a eles. Chama-se via pública porque atende TODO o público: pedestres, ciclistas, motociclistas, motoristas de carros, ônibus e caminhões, passando por carroceiros, cadeirantes, skatistas, patinadores etc. Tudo que se move – incluindo animais – utilizam as vias públicas. Portanto este não é um espaço de propriedade dos motociclistas.

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Imagine esse monte de moto buzinando entre os carros!

Quando o trânsito fica lento, ou mesmo pára, formam-se espaços entre os carros, chamados de “corredores”, por onde passam as motos, scooters e bicicletas. Neste momento é que podemos identificar quem é motociclista educado e quem é o sociopata, desequilibrado (em todos os sentidos). O motociclista educado usa este espaço a uma velocidade baixa, cuidando para não esbarrar em nenhum outro veículo e, se acontecer, pede desculpas e segue a vida. Motos não foram feitas para ganhar tempo, isso é uma ilusão; motos foram pensadas para não perder tempo. Ou seja, basta rodar entre 30 e 40 km/h que já está três a quatro vezes mais rápido que qualquer veículo de quatro ou mais rodas.

Mas... tem as bactérias! Bactérias é um nome que inventei para identificar o motociclista que quer correr mais do que a luz. Utilizam este corredor a 60, 70 até 90 km/h com o dedo cravado na buzina, infernizando e causando o caos por onde passam. E não são apenas os entregadores (motoboys) não! Vejo muito motociclista “comum” (inclusive donos de motos grandes e caras) adotando a mesma estratégia da mão na buzina ou acelerando a moto como um ensandecido para “abrir caminho” entre os carros.

Aprenda: buzina é para advertência, não é um salvo conduto para correr feito doido. Não é uma sirene. Não é para fazer os carros sumirem da frente. O resultado desse uso indiscriminado da buzina é que banalizou o dispositivo. Agora os motoristas ouvem o piiii-piiii-piii e nem se abalam mais. Obrigado aos sociopatas por atrapalharem a minha vida!

Ainda no tema buzina, a sociedade precisa começar a educar os entregadores que buzinam nas portas das casas. Eu faço a minha parte: só atendo a porta quando ele toca a campainha. Ainda reclamo, dou bronca e causo treta mesmo. Em compensação, quando o motociclista age de forma educada e toca a campainha eu dou gorjeta e às vezes um par de luvas ou um boné de brinde. A maneira mais eficiente de educar é pelo prêmio e não pelo castigo. Se todo cidadão parar de dar gorjeta aos entregadores que buzinam na porta e premiarem os que usam a campainha eu aposto que esse comportamento acaba. Mas precisa ser claro e explicar que buzinar é falta de educação.

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É preciso educar os entregadores para não buzinarem nas portas das casas/comércios!

No mundo todo um dos elementos para identificar o grau de desenvolvimento de uma sociedade é pelo ruído que produz. Quanto mais silenciosa é uma sociedade, maior o senso de coletividade e respeito. Aí o brasileiro urbano deseja um ambiente melhor e mais saudável como? Buzinando o tempo todo, ouvindo música (ruim) em volumes insanos e incomodando o máximo possível quem está em volta. Não tem como esperar a construção de uma sociedade melhor com este tipo de pessoa.

Amigos de verdade  

Uma das curtições de ser motociclista ou scooterista é pertencer a moto clubes ou grupos de que se reúnem para viajar, passear etc. Seja um colega educado e colabore para que o grupo fique ainda mais unido e na paz. Começando por não atrasar a vida de ninguém! Tem coisa mais irritante do que um amigo que chega meia hora atrasado? Elaborei algumas regras de etiqueta/segurança para quando for rodar em grupo:  

Regras de etiqueta para viagem em grupo.

1) Seja pontual, mesmo se acordar de ressaca!

2) Marque o PE (ponto de encontro) em local seguro, de fácil acesso.

3) Chegue com a moto já ABASTECIDA e com pneus calibrados.

4) Confira se todos os documentos estão em ordem antes de sair de casa.

5) Se quiser tomar café, comer mingau ou ovos mexidos faça ANTES de chegar ao PE, ou chegue com muita antecedência.

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Quando viajar em grupo ocupe apenas uma faixa da rodovia. 

6) Quem tem líder é torcida, quem vai na frente é quem conhece o caminho e pronto. Se a estrada tiver pedágio para motos, será este que deverá pagar o pedágio para todos, assim ocupa menos tempo da cabine. Só não esqueça de pagar ele...

7) O grupo deve ocupar APENAS UMA FAIXA da rodovia. Não espalhe as motos porque isso irrita os motoristas e pode causar acidentes.

8) O piloto da frente é responsável pelo de trás. Precisa manter o(a) colega(o) à vista pelos retrovisores. Se a pessoa de trás sumir avise o da frente.

9) A forma de rodar em grupo é com as motos posicionadas como se fosse pegadas na areia. NUNCA lado a lado.

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Na hora de pagar o pedágio escolha um que será responsável por todos. 

10) NUNCA, JAMAIS, NEVER pare no acostamento para reagrupar os(as) colegas. Pare no primeiro local seguro e afastado da estrada. O ideal é marcar previamente pontos de reencontro em locais estratégicos.

11) Quem for na frente deve sinalizar radares, comando policial, obstáculos e redução de velocidade.

12) Respeite as leis de trânsito.

13) Se quiser beber álcool, tomar drogas, etc, faça, mas vai voltar sozinho(a), fora do grupo.

14) E finalmente a mais importante de todas: NÃO ENCHA O SACO!

Não é tão difícil ser um motociclista educado, basta ser uma PESSOA educada e praticar a mais rara das características humanas: o bom senso!

Pelada e esportiva: como é a Honda CB 1000R

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Pelada, muito sexy, a CB 1000R gosta mesmo é de curvas. (Fotos: equipe Caio Mattos)

Linha 2022 chega ao mercado com opção Black Edition

Houve um tempo em que as motos eram simples. Poucos acessórios, mecânica aparente, posição de pilotagem natural. Depois vieram as especificidades e surgiram desde motos super equipadas a praticamente plastificadas por carenagens integrais. Como a moda é cíclica, agora estamos vivendo a era da simplicidade novamente e a Honda traduziu muito em esse conceito com a família batizada de Neo Sports Café, que começa com versões de 125 cc e chega à esta CB 1000R. No Brasil temos duas representantes desse conceito: a CB 650R e a CB 1000R que você vai conhecer agora e que ganhou uma versão customizada chamada de Black Edition.

Nem seria um exagero afirmar que a CB 1000R é praticamente um motor com uma moto em volta. Como era outro ícone do segmento streetfighter, a Yamaha V-Max 1200. A ideia é essa mesmo: fazer uma moto na qual o motor seja a peça principal. E trata-se de um propulsor de respeito, derivado da CBR 1000RR Fireblade, que teve pequenas alterações no mapa de injeção para chegar a 142,8 CV a 10.500 RPM e ao torque de 10,2 Kgf.m a 8.250 RPM. Se estes números não te dizem nada pense que ela tem uma retomada de velocidade tão eficiente que permite pilotar em sexta e última marcha quase o tempo todo.

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Versão cinza (ou prata) mais simples, mas igualmente divertida.

Extremamente compacta, é leve (apenas 201 kg) tanto para manobrar, quanto para pilotar. Mas a exemplo das motos esportivas atuais, é alta, com 833 mm de distância do banco ao solo. O que chama atenção é a pequena distância entre-eixos, de 1.452 mm, apenas 3 mm a mais do que a 650. Visualmente ela se parece mais com uma pacata 600 do que com uma nervosa 1000.

O que dá o charme “novidadeiro”, especialmente na versão Black, é a assinatura da luz do farol, formando uma ferradura e o banco bipartido que recebe uma capa para transformar em monoposto. Acompanha o bando de garupa, sem alguém tiver coragem de ocupar esse espaço. Como diferencial, a versão Black segue a tendência de zero cromado, mas com um detalhe bem “chique” que são alguns raios das rodas diamantados, bem como nos contornos dos cilindros do motor.

São três opções de cores, vinho, prata e a preta e os preços vão de R$ 71.900 a R$ 79.970.

Na estrada

Pra quem gosta de dados técnicos aconselho olhar a ficha técnica detalhadamente. Vamos focar em como ela se comporta na cidade/estrada porque isso sim é divertido. Esta avaliação foi feita no interior de São Paulo, passando pela cidade de Socorro, onde fomos visitar o Museu Duas Rodas, por estradas deliciosamente sinuosas.

Enquanto na indústria automobilística a expressão downsizing é largamente usada para indicar a redução do tamanho dos motores, no mundo das motos isso nem é ventilado. O motor da CB 1000R é um compacto quatro cilindros em linha, configuração que tem como principal atributo o baixíssimo índice de vibração. Entre as motos, os motores de três cilindros já são usados em larga escala pela Triumph e Yamaha, mas é o consagrado quatro-em-linha é que faz a cabeça dos engenheiros e usuários.

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Motor de quatro cilindros em linha: todo mundo merece um deste!

O motor é “liso” e apresenta força já a partir de 1.500 RPM. A partir de 2.500 RPM entrega uma boa dose de potência, mas a alegria acontece a partir de 8.000 RPM quando tudo em volta passa muito rápido. O câmbio de seis marchas é típico das motos japonesas com as três primeiras bem curtas. Rodando na estrada a 100 km/h o conta-giros revela 4.100 RPM. A 120 km/h o motor está apenas a 5.000 RPM. Por isso é um motor com muita resposta em baixas e médias rotações e até econômico para a categoria. Com ajuda do computador de bordo pudemos conferir que o consumo médio fica por volta de 18 km/litro se conduzida com a delicadeza necessária. Porém o tanque é pequeno (16,1 litros) o que projeta uma autonomia média de 280 km.

O problema é conseguir pilotar com delicadeza. Mesmo com o escape original o ronco do motor é música para ouvidos sensíveis. Quando chegamos no trecho sinuoso foi impossível manter a fleuma com o câmbio quick-shifter (que permite trocas de marcha sem embreagem). As sucessivas acelerações fizeram o consumo cair para menos de 15 km/litro. Mas quem se importa com consumo numa moto de caráter tão esportivo?

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Farol com "assinatura" de leds: chique e eficiente.

Analisando apenas os dados da ficha técnica seria fácil imaginar uma suspensão rígida, que sacrifica a coluna. Que nada, ela é supreendentemente confortável. Claro que o banco esportivo é duro e o traseiro do piloto sente isso depois de algumas horas, mas surpreendentemente os pneus esportivos da Michelin aceitam bem as irregularidades do piso.

O trecho de serra foi a cereja do bolo. A central eletrônica oferece quatro modos de pilotagem: Standard, Sport, Rain e User. Na opção Standard a entrega de potência é mais suave, o controle de tração fica mais atuante e o motor mais econômico. Mas eu mesmo não aguentei muito tempo nesse modo e passei para o Sport para sentir o motor em sua plenitude. O asfalto era bom, estava um dia ensolarado e a ideia foi desfrutar deste prazer. Passei num trecho de areia pra testar e controle de tração e quase enfartei, porque no moto Sport ela permite um pouco de derrapagem.

A opção Rain é indicada para piso molhado ou mesmo para motociclistas iniciantes que estão dando os primeiros passos em uma moto de alta performance. Já no modo User, o usuário escolhe os parâmetros de controle de tração, frenagem e velocidade do quick-shifter. Este sistema de trocas de marchas apareceu nas corridas de motovelocidade e rapidamente ganhou as ruas. Com ele é preciso acionar a embreagem apenas para sair, depois as trocas são feitas apenas no câmbio, tanto ascendente quando descendente. É ótimo para estradas sinuosas que as trocas são constantes. A principal vantagem do quick-shifter é reduzir o tempo das trocas de marcha – que faz diferença em uma situação de competição – mas como as acelerações são absurdas esse sistema dá mais confiança ao pilotar porque se pode manter as mãos envolvendo as manoplas o tempo todo. Nas trocas com sistema comum o piloto tem de tirar quatro dedos da manopla esquerda sempre que trocar de marcha.

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Na cor vinho, sem quick-shifter: mais acessível.

Claro que a posição de pilotagem não poderia ser mais padrão, com os pés bem recuados, braços esticados para a frente e tronco levemente inclinado. Para mim, que tenho 1,68m veste como se fosse sob medida, só se mostrou um pouco alta (ou eu que sou um pouco baixo) na hora de manobrar. Também exige atenção nas manobras em baixa velocidade porque o guidão esterça pouco por causa do grande radiador. Uma das mudanças na linha 2022 foi nas aletas que envolvem o radiador. Elas estão menores e funcionam como defletores para desviar o ar quente das pernas do piloto. E funciona!

Outro ponto alto são os pneus Michelin, nas medidas já comuns neste segmento (120/70 na dianteira e 190/55 na traseira) com aros de 17 polegadas. Além de permitir inclinar até o limite das pedaleiras, esses pneus têm sulcos assimétricos para acelerar o escoamento da água no piso molhado. Curioso é que dá pra ouvir um ruído nas curvas, quando esses sulcos “grudam” no asfalto.

Versátil

Justamente por ser compacta, leve e com motor de ampla distribuição de força, esta CB 1000R em todas as versões também é desfrutável no uso urbano. Até mesmo no sufocante trânsito de São Paulo, porque o guidão é estreito e passa entre os carros numa boa.

Outra facilidade de uso para quem vive entre cidade e estrada é o sistema de compartilhamento de dados com o celular, disponível nestes modelos. Batizado com o cabeludo nome de HSVCS – Honda Smartphone Voice Control System – permite o amplo uso dos dados do celular usando o reconhecimento de voz e pelos comandos colocados no punho esquerdo. Sob o banco do garupa tem um estojo com entrada USB C para carregar o aparelho, mas a transmissão de dados é sem fio. É necessário instalar um dispositivo por fora do capacete.

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Pneus Michelin Power 5 grudam, mas faz um barulhinho engraçado.

Pudemos testar o sistema e efetivamente é bem funcional, especialmente para quem usa muito os apps de navegação. No entanto qualquer objeto no capacete gera ruído com o vento, especialmente acima de 120 km/h. Confesso que preferi retirar porque também sou de uma geração que prefere pilotar no silêncio. Já existe no mercado sistemas de transmissão de dados do celular tão finos quanto um adesivo, que não geram esse ruído.

Também no uso urbano foi possível avaliar o eficiente trabalho das suspensões Showa. Na frente os tubos invertidos são cromo preto, completando a missão de deixar tudo black. Na traseira o monoamortecedor é ligado direto na balança monobraço. Cheguei a pegar pisos bem irregulares sem pular como uma carroça. Não sei como será quando os pneus estiverem mais gastos, mas por enquanto foram bem macias.

Duro mesmo é o banco. Depois de três horas de pilotagem a espuma mais densa cobra seu preço. Se a ideia for viajar por horas seguidas (o que não estava nos planos dos engenheiros), talvez seja o caso de incluir uma camada de gel no banco de caráter bem esportivo. Bom, se é ruim pra quem pilota, pra quem vai naquela condição de garupa é melhor que seja um trajeto bem curto.

Já é mais do que clichê os freios ABS nesta categoria de moto. A diferença na CB 1000R é o uso de pinça de duplo pistão na traseira – enquanto o normal é pinça simples. Na maior parte do tempo optei por usar apenas o freio traseiro, especialmente em baixa velocidade, e foi mais do que suficiente. Quando se aplica os freios com força as luzes das setas traseiras começam a piscar para avisar quem vai por trás. Falando nelas, essa Honda tem desligamento automático das setas (por acelerômetro), algo que deveria ser obrigatório em todas as motos.

As concorrentes da CB 1000R são a Ducati Monster 1200, com motor V2 de 147 CV a R$ 95.000 e, com alguma restrição, a Yamaha MT-09, com motor de três cilindros em linha de 115 CV a R$ 58.000.

Para saber mais, ficha técnica etc, clique AQUI.

 

 

Outros 500: como são as novas Honda CB 500X e F

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Com que roupa eu vou? Difícil escolher qual das duas é mais legal. (Fotos: Digital da Lata)

Honda muda as CB 500F e CB 500X, mas deixa de produzir a CB 500R

Novas suspensões, rodas, geometria e as Honda CB 500F e X chegaram em 2022 com fôlego para manter – e até aumentar – a liderança no segmento. Como diriam na Roma antiga, in medius virtus, ou “a virtude está no meio”, em latim. E quando se trata de motos, a cifra 500 cc representa justamente o meio entre as grandes 1.000/1.200cc e as pequenas 150/160cc. Elas chegam ao mercado ao preço de R$ 39.100 a 500F e R$ 41.600 a 500X.

Já houve um tempo que no Brasil 500cc era moto grande. Felizmente é passado. Hoje temos uma realidade com super motos acima de 1.200cc e as 500 viraram mais pra pequenas do que pra média. Mas veja as vantagens: tem as dimensões de uma moto maior, só que mais leve e bem mais econômica. Por isso as 500cc sempre foram vistas como porta de entrada para as motos grandes. Daí a preocupação da Honda em aproximá-las mais das CB 650, como vou explicar mais adiante.

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Modelo X, mais versátil. Para meu gosto poderia ter o guidão um pouco mais alto.

Nosso teste foi realizado na região de Campinas, uma grande cidade do interior de São Paulo, com mais de 1,2 milhão de habitantes e muitas opções de passeios. Comecei na CB 500X, modelo que nasceu com roda dianteira de 17 polegadas em 2014, mas ganhou a importante roda dianteira de 19 polegadas montada em uma roda de liga leve.

A principal novidade está na suspensão dianteira Showa que agora tem bengalas invertidas, mais modernas e eficientes do que as convencionais. O dado importante dessa suspensão é o sistema de divisão de tarefas das bengalas. Com o cabeludo nome de SFF-BP, significa que uma bengala tem a função hidráulica e a outra leva a mola. Comum nas motos grandes e de competição, essa tecnologia começa a aparecer em vários modelos. Qual a vantagem? Reduzir massa e o diâmetro dos tubos.

Essa mexida forçou uma pequena mudança na geometria alterando a distribuição de massa entre os eixos dianteiro e traseiro. Pouca coisa, imperceptível a um motociclista comum (como eu), mas que ajudou a fixar mais a frente no chão.

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Freio dianteiro com duplo disco e pinça radial de dois pistões; bengalas invertidas.

Também o freio dianteiro é novo, com pinças radiais e o tão solicitado segundo disco de freio. Nos dois modelos a pinça agora é radial mas mudam as pinças. Na X conta com dois pistões, enquanto na F tem quatro pistões opostos.  E no lugar do disco único de 310 mm entraram dois discões tipo wave de 296mm cada. Aqui eu peço licença para dar um pitaco bem dado: tenho lido muitos comentários nas redes sociais criticando as motos que têm apenas um disco dianteiro. E a crítica é que “a moto puxa para um lado na frenagem”. Tremenda besteira! Cuidado com o que se lê na internet. Não puxa nada, senão as motos de corrida dos anos 80 sairiam voando a cada frenagem. Mas essa bobagem fez algumas fábricas buscarem o disco duplo só pra acabar com essa impressão. Fim do pitaco.

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Painel digital com shif light e indicador de consumo.

A balança traseira também mudou, agora com chapas mais finas que a deixou com 1,1 kg mais leve. Essas reduções de peso não mexeram no peso total da moto, mas quando se tira massa de peças não-suspensas (balança e rodas neste caso) ganha-se muito na maneabilidade.

Todo conjunto mecânico permaneceu inalterado, com o silencioso motor de 471 cm3, dois cilindros, quatro válvulas por cilindro, arrefecido a líquido. O que faz desse motor ser tão eficiente e silencioso são os balancins roletados, o tratamento de superfície de pistões e cilindros e um dado que fez muita diferença: a medida quase superquadrada de diâmetro e curso. Os pistões apresentam diâmetro de 67mm com curso de 66,8mm. Por apenas 0,2 mm ele não é um superquadrado, quando tem as mesmas medidas de diâmetro e curso.

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Mesmo motor nas duas: compacto, silencioso e econômico. Potência de 50,2 CV a 8.500RPM.

Essa configuração faz desse motor um muito bem equalizado compromisso ente desempenho, torque e economia. Em baixa rotação é capaz de recuperar em sexta marcha já a partir de 2.000 RPM e cresce muito rápido até a rotação máxima de 8.500 RPM. Tem até shiftlight pra avisar a hora da troca de marcha. A consequência de um motor com esse grau de “elasticidade” é a economia de gasolina. No painel pode-se acompanhar um dedo-duro que avisa o consumo instantâneo. Na minha tocada normal, sem exagerar, mas também sem parecer uma velhinha indo pra feira, fiz média de 25 km/litro nos dois modelos.

Vamos pra terra

Quando saímos para o teste o dia estava sombrio com ameaça de chuva. No trecho de cidade parei num semáforo (sinaleira ou farol) e comentei com o jornalista do lado. “Nossa, que câmbio macio!”. E ele respondeu “sim, é Honda!”. Esta resposta confirmou uma lenda (que não é lenda, pelo jeito) que ouço desde criancinha: o câmbio das motos Honda é mais macio. Como eu tinha acabado de descer de uma Triumph a diferença foi espantosa.

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Sim, pegamos terra, lama, chuva e foi bem divertido!

E ainda bem que é macio, porque a relação entre as seis marchas é muito próxima e rapidamente colocamos sexta. Mas pode trocar de marcha à vontade, seu dedão do pé esquerdo vai agradecer. O acionamento da embreagem também é muito suave, tanto que nem parece ser por um prosaico cabo de aço.

No trecho de reta da rodovia D. Pedro fiz a medição para conhecer a personalidade do motor. Rodando em sexta a 100 km/h o contagiros indicava 4.800 RPM, já a 120 km/h indicava 5.800 RPM. Não dá pra dizer que é um motor que gira “baixo”, mas está na média, uma vez que a rotação máxima é 8.500 RPM. O nível de vibração é muito pequeno, sentido mais nas pedaleiras quando se desacelera, totalmente dentro do normal.

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Conforto na estrada e média de consumo de 25 km/litro.

Um dos pontos altos de qualquer moto on-off road é o conforto! Uma posição de pilotagem que permite rodar por horas a fio. Guidão tubular de secção variável largo e com bom ângulo de esterço, mesmo com radiador. O pequeno para-brisa pode ser regulado, mas só com ferramentas. Pra mim poderia ter uma opção um tiquinho mais alta para desviar o vento do capacete.

Antes de pegarmos o aguardado trecho de terra veio a chuva. E de uma vez só, sem avisos. Fiquei molhado antes mesmo de conseguir vestir a capa de chuva. E a estrada que era de terra virou de lama. Grudenta e escorregadia. Ótimo para testar os pneus Dunlop e os meus nervos.

A última CB 500X que pilotei na terra ainda tinha roda de 17 polegadas. A diferença é brutal. Agora passa a sensação de estarmos a bordo de uma trail mesmo. Minha primeira observação neste trecho foi o ótimo trabalho das suspensões. A dianteira não tem mais regulagens (ainda bem porque ninguém sabe mexer mesmo). E a traseira tem cinco regulagens na carga da mola. Estava na intermediária. Apesar das rodas de liga leve (mais “duras”, se comparadas com as raiadas) pude perceber que o conjunto absorve bem as pancadas secas.

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Não rodamos à noite, mas esse farol promete! O para-brisa pode ser regulado.

Outra característica das motos Honda é o ABS mais permissivo nos modelos com intenção de passear na terra. Fiz várias simulações e o freio permitia frear muito antes de o ABS entrar em ação. Claro que não é uma moto para um fora-de-estrada severo, mas tenha certeza que é bem melhor do que uma Naked.

Quando chegou o momento de pilotar mais agressivamente, em pé, forçando os joelhos no tanque, senti falta de um guidão um pouco mais alto. E olha que sou baixo! Nos trechos mais severos a X passou de boa. Só mesmo na lama deu um certo medo porque os pneus ficaram cobertos de lama. O que impede a lama de grudar nos pneus fora de estrada é a largura e profundidade dos sulcos. Só que estraga o tal compromisso entre asfalto e terra. Sulcos espaçados e profundos reduzem a aderência no asfalto e produzem muito ruído. Então o jeito é acertar no asfalto, onde o uso será mais frequente, e deixar que o piloto se vire na terra. Eu me virei muito bem. O que pode complicar o uso no barro é o para-lama dianteiro muito rente ao pneu, que pode grudar e travar a roda.

Terminado o trecho de terra voltamos para o asfalto bem numa região de serra repleta de curvas. Pode confiar plenamente, porque o limite de inclinação nas curvas é bem alto. Não é impossível tocar o asfalto com as pedaleiras, mas como estava úmido decidi não tentar.

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Mais um pouco de lama, elegantemente vestido de capa de chuva! 

Uma das dúvidas mais frequentes sobre a X é com relação à possibilidade de pilotar por pessoas prejudicadas verticalmente (leia-se baixinhos). Bom, eu tenho 1.68m e fiquei inteiramente à vontade. Mas hoje em dia existem empresas que rebaixam o banco sem alterar a estética nem o conforto por apenas R$ 150! Deixar de comprar uma moto por causa de altura é coisa do passado.

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Com a F as curvas ficam mais fáceis!

500F, com F de fácil

Uma das dúvidas que mais respondo aos novos motociclistas é justamente sobre a dificuldade de começar por uma moto de 500cc. Algumas décadas atrás o processo era como uma “escada”, começando numa pequena e leve 125cc e ir dobrando o tamanho aos poucos. Hoje em dia não é bem assim, porque as motos na faixa de 250/500cc ficaram tão leves e fáceis de pilotar que é perfeitamente possível sim começar nestas categorias, desde que devidamente treinado. Só as aulas de CFC não servem nem pra pilotar um ciclomotor!

Esta CB500F é leve, compacta e bem fácil de pilotar. Parece uma 250cc vitaminada. Veja só, esta 500 pesa 173 kg e a altura do banco é de 789mm. A Honda CB 250F Twister pesa 137 kg e tem 784 mm de altura do banco ao solo. O mais importante para controlar uma moto em baixa velocidade é a altura e não o peso. Elas têm praticamente a mesma altura. Quem pilota uma 250 é perfeitamente capaz de curtir uma 500, só depende do saldo bancário.

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Na F o freio radial tem pinças de quatro pistões opostos.

Muitos itens são comuns às duas versões, como o painel blackout, quase igual ao da linha 650. Os faróis são totalmente de Leds e ambas contam com o sistema que mantém as setas dianteiras ligadas, ao estilo das motos americanas. Aliás, esta já deveria ser uma obrigação em todas as motos, porque aumenta muito a segurança. À noite, o motorista consegue identificar se o que vem atrás é uma moto ou um ônibus com um farol queimado.

Dessa vez o roteiro foi inverso e começamos pela mesma sinuosa e deliciosa serra. O piso tinha trechos molhados e secos e isso permitiu mais uma vez comprovar a eficiência dos pneus Dunlop, como também a qualidade dos meus nervos. Pilotar motos no piso molhado não é assim tão complicado, principalmente graças à enorme evolução dos pneus, mas tem horas que coloca em risco a integridade da roupa de baixo.

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Teste na chuva é bom, mas só porque os pneus são novinhos!

Já tive a chance de pilotar as 500F em autódromo e posso garantir que o limite em curvas é muito além do que imaginamos. Ela é fácil de inserir nas curvas, leve e realmente fácil de pilotar. É o que costumo chamar de moto “perdoável”, que aceita alguns erros de julgamento por parte do piloto sem arremessá-lo longe.

A nova suspensão deu aquela sensação boa de ver um buraco de repente, se preparar para a pancada, mas sentir apenas um “tuff”, sem a impressão de estar montado num cavalo chucro. Por isso mesmo ela também se desenvolve muito bem nas áreas urbanas mais esburacadas que a zona rural. Só não dá mesmo para se enfiar num fora de estrada severo (se bem que fiquei com vontade!).

O trabalho de alteração do balanço de massa entre os eixos dianteiro e traseiro normalmente deixa a frente mais “fincada” no asfalto. Como não tínhamos a versão anterior para comparar fica difícil avaliar se deu resultado, ou não, mas certamente um engenheiro não gastaria horas de queimação de neurônios à toa.

Os dados de rotação em última marcha e consumo são iguais aos da X, porque ambas têm a mesma relação final de transmissão, inclusive a mesma medida de pneu traseiro. O que muda muito pouco é a autonomia porque o tanque da 500X comporta 17,7 litros, enquanto na F tem 17,1 litros. Em ambos os casos a autonomia passa fácil dos 400 km.

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Na F o farol também é full Led. O tanque é um tiquinho menor que na X. 

Sobre os pneus, mais um pitaco. Não entendo muito a opção pelos Dunlop. Na verdade eu sei que é resultado de milhares de horas de teste. Só que no Brasil não tem um revendedor Dunlop em cada esquina como nas cidades européias. Aqui o cliente tem de escolher duas opções: comprar o original em concessionária a peso de ouro; ou correr para as outras marcas. Mas nunca será 100% igual à moto que saiu da concessionária.

Admito que fiquei bem animado com essas novas 500cc a ponto de não saber qual delas escolher. Sempre fui mais adepto das trail, mas estou gostando cada vez mais da felicidade de colocar os dois pés no chão ao mesmo tempo. É uma escolha que depende somente do gosto pessoal. As opções de cores da 500X são vermelho, prata metálico e verde fosco. Na 500F as opções são vermelho, prata metálico e cinza fosco.

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Painel da F, com os mesmos recursos e informações.

Encerramos o teste na mesma rodovia, infelizmente cheia de radares, mas que pude calcular uma velocidade máxima na faixa de 180 km/h o que é mais do que suficiente nos tempos atuais. Diria que esta geração 500 da Honda pode agradar em cheio tanto o motociclista que está subindo da faixa 250/300, quanto para quem cansou de carregar quase 250 kg e gastar mais gasolina nas 1.000/1.200. Lembre dos romanos: a virtude está no meio.

A parte triste é a descontinuidade do modelo CB 500R. Segundo um bate papo informal, o motivo foi para não ficar muito próxima da linha 650. Mas eu desconfio que o motivo é outro: as motos carenadas estão cada vez mais em baixa em todos os mercados. Estão mais limitadas aos praticantes de track-days.

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Banco bipartido: mais esportivo, mas quem vai na garupa tem de agarrar com força.

Bom, nosso mundialmente famoso IPM – índice de pegação de mina (ou mano) – eu diria que a X tem uma cotação um pouco maior por causa do banco mais confortável para garupa. Merece uma nota 8,2. Já a F, que tem o banco bipartido pode atrapalhar a vida de quem vai grudado na parte de trás, por isso recebe nota 7,5.

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Equipamentos do teste

Capacete MT

Jaqueta, luvas, calça, segunda pele e capa de chuva HLX

Bota Tutto Moto

A parte chata, cheia de números está abaixo.

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Gordura boa: Como é passear com a Harley-Davidson Fat Boy 114

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Um ícone em duas rodas: a Fat Boy é um dos modelos mais vendidos da marca no mundo.

Das telas do cinema para a garagem da sua casa, esta é a nova Fat Boy 114

Por Tite Simões

Fotos: Divulgação e Luna B. Simões

Antes de mais nada é preciso ser realista: comprar uma Harley não é uma decisão racional, mas 100% emotiva. Isso é ruim? Nada disso, é a confirmação de um dos mais eficientes trabalhos de construção de imagem do século 20. A marca Harley-Davidson saiu de duas falências para um dos maiores ícones da história moderna. O sucesso dessa construção passa obrigatoriamente pela emoção. E nenhum modelo é mais icônico do que a Fat Boy.

A história da recuperação da Harley deve muito à Fat Boy, modelo que foi parar nas telas de cinema, pilotada pelo exterminador Arnold Schwartzenegger na sequência Terminator 2, de 1991. Aquela Fat ainda tinha motor arrefecido a ar, com motor de 1.337 cm3, vibrante e barulhento. Felizmente ela evoluiu muito.

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Em movimento nas ruas da Ilha Porchat: fácil dominar os 317 kg em ordem de marcha. (Foto: Luna B. Simões)

A Fat Boy atual só tem a mesma aparência: grande, mas fácil de pilotar; clássica, mas com tecnologia; comprida, mas estável em curvas. Para entender a longevidade desse modelo, fomos dar uma volta ao litoral de São Paulo, visitar um local que também já foi clássico, viveu o apogeu e uma falência e agora está ressurgida em grande estilo: a Ilha Porchat, em São Vicente.

Pela segunda vez na vida peguei uma Harley absolutamente zero km. A primeira vez foi em 1991! Dessa vez montei em uma Fat Boy modelo 2022 com apenas 4 km rodados no hodômetro. Pensa numa responsabilidade! Ante de acionar o motor – por chave presencial, porque felizmente sumiu aquele seletor que parecia um regulador de fogão a gás – observei que o filtro de ar é de elemento seco. Como já passei um sufoco danado com uma Harley debaixo de um mega toró, questionei sobre o acessório necessário, chamado de “meia”. Sim, ele vem e deve ficar muito bem guardado sob o banco! É necessário porque o filtro de papel não pode molhar, senão a moto – literalmente – afoga.

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O melhor jeito de curtir a Fat Boy é na estrada, sem limites! (Foto: Luna B. Simões)

Sou da época que Harley era raiz. Nada de coxins, peças usinadas, motor barulhento e beberrão. Esquece! Apertei o botão esperando o chacoalho típico e... nada! A vibração ainda existe, claro, não tem como deslocar 1.868 cm3 sem vibrar. Não existe mágica. Mas essa vibração é mais sensível em marcha lenta, principalmente nos espelhos retrovisores. Em movimento a vibração reduz muito.

Os primeiros quilômetros foram logo de cara na assustadora Marginal Pinheiros, em pleno rush e tive a oportunidade de infernizar um batalhão de motoboys. Ou entupindo o corredor que nem uma rolha de poço, ou grudado neles no mesmo ritmo. Sim, porque depois de perceber que os 317 Kg (em ordem de marcha) ficam bem “controláveis” mesmo no caos urbano, passei a pilotar normalmente como se fosse uma moto “normal”.

Muita gente questiona se uma Harley pode ser a moto de uso diário em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte. Nada demais, conheço muitos donos de Harley que rodam como se estivesse em uma prosaica utilitária. Só não vá esperar uma tremenda economia de gasolina, nem saia muito atrasado. Também jamais saia de bermudas, porque o calor gerado por essa usina de 95CV vai fritar qualquer parte do corpo que encostar.

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Tanque de 18,9 litros e velocímetro com display multifunção. (Foto: Tite)

Get your kicks on route

Em qualquer estrada que quiser, porque o habitat dessa Gorda é uma bela e interminável rodovia. Ela foi feita para engolir estradas. Aliás, se quiser uma experiência de vida de grande inspiração vá até a Califórnia e alugue uma Harley para fazer o trecho histórico da mítica e celebrada Rota 66. Esqueça os pacotes, vá por conta própria, pendure uma bandeira dos Estados Unidos e veja como é ser bem tratado no exterior. Os caminhoneiros todos te acenam!

Achei meio exagerada a medida do pneu traseiro: 240 de largura é mais do que muito carro por aí. Precisa um pneu tão largo? Não, claro que não, mas é de novo o pessoal do marketing infernizando a vida da turma de engenharia. Os americanos começaram com essa mania de aumentar a largura dos pneus traseiros a ponto de modificar a balança traseira para caber monstruosidades de quase 300mm. Não tem qualquer justificativa técnica, porque pneus de motos não arrastam para os lados, não tem necessidade de largura. Pneus de moto precisam ângulo de inclinação, mas este é um assunto que os americanos não gostam, senão não veríamos motos touring com pneus de carro na roda traseira.

A saída de linha da V-Rod, que já nasceu com pneuzão, forçou a marca a introduzir essa tendência nos modelos mais roadsters. Hoje isso significa uma preocupação a mais: onde achar pneus de reposição com essa medida absurda? Fabricado pela Michelin, os pneus da Harley recebem a marca Harley-Davidson em baixo relevo nas laterais. Uma das reclamações ouvidas atualmente é a dificuldade em encontrar os pneus originais e a saída tem sido recorrer às marcas concorrentes para reposição.

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Roda de liga leve com raios: mudança necessária para melhorar o conforto. (Foto: Tite)

Em linha reta é uma beleza. A posição de pilotagem da Fat Boy não mudou muito desde os vôos do Schwarzenegger: braços abertos como que recebendo a estrada direto no coração, pernas esticadas pra frente, pés repousados em plataformas generosas e banco largo. Minha velha coluna não sentia muitas saudades das Harley, mas mudou muita coisa. Esqueça as motos duras e secas, esta Fat Boy tem uma suspensão só “parecida” com as primeiras, porque é tudo novo e pode ser ajustada.

No primeiro buraco que peguei fiquei esperando a pancada seca e... nada! Absorveu de boas. Também o pneu traseiro largo ajuda nessa missão de dissipar o impacto, apesar de o perfil ser baixo (240/40-18). Bom, um jogo de pneus com apenas 15 km de vida é sempre delicioso.

Nesta primeira estrada levei minha filha na garupa para ajudar nas fotos. Ela agradeceu pelo sissy-bar que veio na moto avaliada, mas que é acessório. Aconselho fortemente a incluir na lista de compra, porque faz toda diferença pra quem vai pendurado atrás. Se um dia eu tivesse a minha Fat Boy arrancaria fora o banco do garupa (sai fácil), porque ela fica linda com apenas o banco do piloto.

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O modelo avaliado estava equipado com o necessário sissy-bar. (Foto: Tite)

Este trecho de estrada pela rodovia dos Imigrantes é ótimo para alguns testes. O primeiro é a grande eficiência do câmbio de seis marchas. A sexta é overdrive, só pra ajudar a economizar. Nesta marcha a 100 km/h o conta-giros revela meros 2.250 RPM, enquanto a 120 km/h nem sobe muito: 2.750 RPM. Lembre-se que este motorzão tem potência máxima a 4.750 RPM e torque máximo (absurdos 16 Kgf.m) a meros 3.000 RPM. Não fiz medição de consumo – quem se importa? – mas o tanque de 18,9 litros projeta uma autonomia de cerca de 350 km sem erro.

Aí você vai ver as fotos e pensar “esse cara tá louco, não tem conta-giros!”. Tem sim. O imenso velocímetro no tanque abriga um pequeno display com várias opções de informação, incluindo rotação do motor, autonomia, hodômetros parcial, e total, hora, entre outros.

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Tomada para conectar o carregador de bateria: ideia ótima para quando fica parada por muito tempo. (Foto: Tite)

Ao contrário das motos japonesas, na Harley o escalonamento de marchas é bem espaçado e não é raro esquecer de engatar a sexta. Por isso, uma das informações do display é a marcha engatada. Acredite, ajuda muito!

Um dos pontos altos é realmente o motor. Batizado (sim a Harley nomeia também os motores) de Milwaukee Eight é silencioso e tem uma retomada de velocidade deliciosa. Na estrada quase não sai da sexta marcha. Ainda bem, porque o curso da alavanca de câmbio é muito longo e a embreagem não é a coisa mais macia do mundo. No trânsito intenso, quando o motor esquenta, fica muito difícil engatar o ponto-morto. Precisa insistir.

Então chegou a serra, com todas aquelas curvas. E minha impressão sobre o pneu traseiro largo se confirmou: ela é pesada para inserir na curva. Tem de usar a técnica de contra-esterço porque só a cintura e as pernas não dão conta. Ainda bem que o guidão largo ajuda. Com as pernas pra frente o piloto não consegue fazer força adutora no tanque e precisa, literalmente, usar o guidão como uma alavanca. Ou diminuir muito a velocidade. Mas pode confiar, porque o limite em curva é bem alto e a moto não balança no meio da curva como faziam suas antecessoras.

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Banco largo, macio e pedaleiras de plataforma: para pilotar sem parar. (Foto: Luna B. Simões)

Não exagerei nas curvas porque a moto estava absolutamente zero e fiquei com dor no coração de gastar as pedaleiras. Fiquei bem longe do limite dos pneus. A filha na garupa nem foi o impedimento, porque ela está super acostumada com a insanidade do pai. Foi por dó de estragar as pedaleiras novinhas, cromadas e lindas.

Outra marca registrada da Fat Boy são as rodas “cheias”, de liga leve. Em nome do conforto e maneabilidade, hoje continuam de liga leve, mas com alguns raios. Na verdade, essas rodas cheias eram uma das principais razões para a sensação de “dureza” da Fat Boy. Parecia mesmo que estávamos em uma carroça com rodas de madeira. Perdeu um pouco em tradição, mas ganhou muito no conforto.

Mesmo não sendo um fã de motos custom, poderia rodar por horas nessa Fat Boy, de tanto que ela melhorou em relação às primeiras. Mas acho que a maior conquista veio mesmo da modernização do chassi, suspensões e motor. Definitivamente não vibra mais como antes e o ronco do escapamento original só serve mesmo para tirar a moto da concessionária.

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Não dá pra rodar com uma Harley com escape original. Também não é pra estourar os tímpanos de quem está na rua. Entre o silêncio sem graça e as trombetas do apocalipse existem escapes que só engrossam o som original, sem causar estardalhaço. Só uma dica: exposição ao ruído por muito tempo causa surdez permanente! E outras mazelas...

Leve pra casa

Uma das perguntas que mais ouço é justamente se a Harley é muito pesada pra pilotar. Bom, se tiver de empurrar numa subida ou manobrar com o motor desligado, sim, prepare-se pra fazer força bruta. Nada descomunal, mas o que ajuda muito é a pequena altura do banco ao solo, de apenas 675mm. Por isso é preferida por algumas pessoas de pernas curtas. Uma vez em movimento o peso da moto não é problema, deixe que a Física ajude.

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Claro que uma moto de mais de 300 kg não foi feita para ser pilotada por iniciantes, mas não é assim tão difícil. Algumas técnicas básicas facilitam muito a pilotagem e hoje já existem instrutores especializados em grandes custom. Posso garantir que é preciso muito mais manha do que força bruta.

Nosso passeio incluiu a subida sinuosa e estreita da Ilha Porchat. E mais uma vez confirmei que esta é uma moto que não gosta muito de curvas de baixa, mas dá pra encarar. Pense no dublê do Arnold Schwarzenegger que teve de se virar pra fazer a moto deitar, pular, saltar, voar etc. Ah, e a moto do filme foi arrematada em leilão, em 2018, por US$ 480 mil! Devia estar inteira!

Esta não chega a tanto. Os valores dependem do pacote de acessórios e até das cores, mas começam em R$ 118.000. As cores disponíveis são a vinho (que eu usei), azul, preta e um interessante verde fosco. E a lista de acessórios é interminável. Um detalhe interessante presente neste modelo é o engate para battery tender, um carregador bem pequeno para alimentar a bateria da moto quando fica parada por muito tempo. O terminal é fácil de acessar e fica bem discreto.

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Alguns detalhes que a deixaram moderna, como o farol por Leds, não comprometeu o desenho clássico, porque tiveram a sacada de manter o aspecto arredondado das mais antigas. O mesmo para o velocímetro no tanque, que manteve o padrão, mas recebeu muitas informações. Não gosto da posição, porque é preciso desviar muito o olhar para ver a velocidade, mas admito que tem tudo a ver com a moto.

Ops, aliás, desculpe, classificar a Harley Davidson Fat Boy como moto é quase uma heresia. Ninguém compra esse modelo (e qualquer Harley) pensando na moto. Chega a ser ingênuo pensar na Harley como apenas “uma moto”. O que se adquire na verdade é um estilo de vida.

Para Ficha Técnica clique AQUI.

De Manaus para o mundo

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Theatro de Manaus: símbolo de uma era de ouro da borracha, que hoje é da indústria. (Foto:Tite) 

A convite da Abraciclo visitamos quatro fábricas em Manaus

Desde criança quando ouvia falar em Manaus e Amazônia minha imaginação corria solta. Rio Amazonas, pororoca, encontro das águas, vitória-régia, boto cor de rosa, peixes enormes e floresta instransponível. Essa era a Manaus da minha infância. Mas a vida me mostrou uma nova Manaus.

A capital do Estado do Amazonas serviu de berço para a indústria brasileira de motos e por isso tive a chance de conhecer não só a cidade, mas o rio Amazonas, a pororoca, o encontro das águas, peixes enormes (e deliciosos), como também a história e grandeza da produção brasileira de motos.

Desde a minha primeira visita como jornalista, em 1992, até esta ocasião a cidade cresceu muito, a economia sofreu vários sobressaltos e novas marcas chegaram ao mercado. E foi para falar de mercado que visitei mais uma vez a calorosa (literalmente) Manaus. A convite da Abraciclo fui participar do evento de apresentação dos dados do primeiro semestre e, de quebra, conhecer algumas fábricas.

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Realmente uma mente brilhante. (Selfie: Tite)

O mercado de motos e de bicicleta está crescendo de forma gradual e saudável. Para o segmento de moto, que já atingiu 2,1 milhões em 2011, falar em 1,3 milhão pode parecer pouco, mas é muito se comparado com o terrível ano de 2017 quando bateu em 883 mil.

A maior preocupação do setor foi escancarada pelo presidente da FIEAM – Federação das Indústrias do Estado da Amazônia – Antônio Silva. Ele deixou claro que o Polo Industrial de Manaus (PIM) está trabalhando sob liminar, porque o ministro da Economia, Paulo Guedes, quer estender a isenção de IPI (imposto sobre Produtos Industrializados) para as fábricas instaladas em qualquer canto do Brasil, ameaçando a subsistência do PIM. Uma medida visivelmente eleitoreira para arrefecer os efeitos de uma crise mundial.

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Números do mercado desde 2011: altos e baixos. 

Ou seja, todo investimento feito nas instalações em Manaus pode virar pó e causar um tremendo colapso sócio-econômico em toda região, que gera cerca de 52 bilhões de Reais por ano e mantém 105.000 postos de trabalho direto.

Tente imaginar o que seria de Manaus sem o PIM. Nos anos 1980 a região foi considerada “zona franca”, o que permitia vender produtos importados com isenção de impostos. Era a festa de quem queria eletrônicos bem mais barato do que nas lojas fora da zona franca. Paralelamente o governo federal incentivou por meio de todo tipo de subsídio a instalação de fábricas do setor automotivo. Foi onde a indústria de motos prosperou.

A implantação da ZFM foi em 1967, em pleno regime militar, que tinha como objetivo incentivar o crescimento e o desenvolvimento de uma região que já tinha sido o umbigo do Brasil durante o ciclo de ouro da borracha. A ZFM não se restringe somente ao Estado do Amazonas, mas vai muito além e atinge também Amapá, Rondônia, Roraima e Acre.

A ideia original era também reduzir as diferenças sociais entre os Estados da Amazônia e os do Sul/Sudeste. Hoje a ZFM conta com 600 indústrias e emprega cerca de meio milhão de pessoas.

Deixando a batatada do Paulo Guedes de lado, os setores de bike e moto estão saudáveis, empregando e gerando receita. É só o governo não atrapalhar. Mas pode ajudar! Uma proposta que tramita nas esferas estaduais é a isenção de IPVA (imposto sobre propriedade de veículo automotor) das motos até 170cm3. Seria uma forma de reduzir o impacto da inflação no preço das motos pequenas, que são as mais procuradas pelos jovens que estão sem colocação no mercado de trabalho, popular desempregados!

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Da esquerda para direita: Antônio Silva (FIEAM), Paulo Takeuchi e Marcos Fermanian (Abraciclo).(Foto:Tite)

Que a moto é uma ferramenta de inserção social no período durante e pós pandemia não é novidade. É por isso que estava em Manaus: meu artigo sobre o papel da moto durante a pandemia recebeu o prêmio Abraciclo e como forma de agradecimento me enfiaram num avião e levaram pra lá visitar algumas fábricas de motos e bicicleta.

Neste momento a tarefa da Abraciclo é sensibilizar 27 governadores a abrirem mão deste imposto (que na moto é baixo) e buscar sanear suas contas usando responsavelmente os recursos, em vez de descarregar tudo nas costas do contribuinte/eleitor.

Quer saber os números?

As bicicletas devem chegar a 750.000 unidades em 2022, que é uma ninharia perto do tamanho do nosso mercado. Mas devo lembrar que esse número se refere às empresas associadas à Abraciclo, portanto pode ser subnotificado.

As motos devem chegar a 1.320.000 em 2022, que representaria um crescimento de 10,5% em relação à 2021, mas o mais surpreendente veio das elétricas. O setor de bicicletas elétricas (não entram motos, nem scooters) cresceu espantosos 393% se comparado com 2019, com 26 modelos disponíveis e representando 1,6% do total da produção. Aqui devo alertar que este número assombroso é mais fruto de uma base muito baixa do que volume. E mais uma vez alerto que são apenas das marcas associadas à Abraciclo, o que pode ser maior porque muito produto vem direto dos países asiáticos para cá.

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A mais vendida: Honda CG 160 Fan. (Divulgação).

No campo das estatísticas, o mercado continua monopolista, com a Honda detendo a fatia de 79,8% do mercado e dona da moto mais vendida, a CG 160 Fan, enquanto a Yamaha mantém o segundo lugar com 16,2%. Isso significa que as outras oito marcas instaladas no Polo Industrial de Manaus somam 4% do mercado.

Dentro da categoria “e outras” a BMW conseguiu os melhores resultados no primeiro semestre de 2022, seguida bem de perto pela JTZ (que monta Hao Jue e Kymco) e pela Kawasaki.

Visitas ilustres

Como parte do meu prêmio Abraciclo de melhor artigo inscrito no concurso, tive direito de escolher três fábricas de Manaus para visitar. Minha primeira vez na cidade, como jornalista, foi em 1992 e de lá, em 30 anos, voltei tantas vezes que perdi a conta, mas todas elas a convite da Honda. Portanto, foi minha chance de ouro de visitar outras fábricas.

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Na Honda, da esq. para direita: Lourival Barros, eu, Keithy Garcia e Patrícia Quitéria. 

Na minha lista estavam a Honda, Caloi e Kawasaki. Mas ao chegar em Manaus, o meu amigo Afonso Cagnino, executivo de Relações Institucionais da Yamaha, praticamente me sequestrou para visitar também a Yamaha e, assim, acabou com a única folga que eu teria para fazer compras...

Padaria Honda

A primeira vez que visitei a Moto Honda da Amazônia o mercado ainda estava gatinhando. Mesmo assim a fábrica já era quase uma cidade dentro de Manaus. A última visita tinha sido em 2012. Impressionante perceber como a linha de montagem evoluiu em 10 anos. Trata-se de uma fábrica de fato: entra lingote de alumínio e sacos de polímeros de um lado e sai moto do outro. Uma moto a cada 23 segundos! Tipo padaria mesmo.

Aliás, nem vou estender em números e dados da fábrica da Honda, mas para ter uma ideia da dimensão, a padaria localizada no refeitório produz 16.000 pãezinhos por dia! Ou tem muita gente trabalhando lá dentro, ou o povo gosta muito de pãozinho!

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Linha de montagem da Honda: limpa, silenciosa e climatizada. Lourival, eu e Chafic Baydoun. (Foto: Honda)

O incrível das linhas de montagem da Honda é que quase não se vê gente. Tem muito processo automatizado, mas o número de contratações só aumenta. Sinal que alguns processos exigem menos pessoas, mas o aumento da produção gera mais postos de trabalho. Outra característica da linha é o conforto térmico e a limpeza. Quem conhece Manaus sabe que o clima só é agradável se você for um réptil pecilotérmico, mas pra seres humanos é cruel. Por isso os quatro sites da Honda são 90% climatizados. Em termos de limpeza, me sentiria muito mais seguro em fazer uma cirurgia de ponte de safena no chão da Honda do que em muitos hospitais!

Yamaha

Quando a Yamaha chegou ao Polo Industrial de Manaus a Honda já nadava de braçada naquelas águas. Por isso a unidade é naturalmente menor, mas não menos intensa. Também é uma fábrica de fato: entra matéria-prima pela portaria e saem motos embaladas no final da linha.

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Fábrica da Yamaha: espaço para produzir muito mais! (Divulgação)

Como a visita foi meio às pressas, fizemos um roteiro mais curto, mas pude conhecer a usinagem, processo que só fábricas de fato desenvolvem. As linhas são mais presenciais e vê-se mais pessoas trabalhando e menos mecanização. O que não interfere na qualidade final do produto. Não canso de repetir que nossas motos feitas nas duas grandes fábricas têm nível de qualidade tão alto que podem ser vendidas em qualquer mercado do mundo.

Tanto Yamaha quanto Honda têm produção muito verticalizada, ou seja, que dependem muito pouco de fornecedores. Nos modelos básicos a verticalização é de mais de 90% porque as fábricas ainda não fazem pneus nem baterias. Por enquanto.

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Da esquerda para direita: Rafael Lourenço, eu e Afonso Cagnino.

Verde madura

Depois de circular pelas linhas de montagem das duas gigantes do mercado, fiz questão de conhecer uma unidade que trabalha inteiramente em PPB – Processo Produtivo Básico. Dentro deste princípio os componentes chegam de várias partes do mundo e são montadas aqui. É tipo um enorme kit Tamya de plastimodelismo.

Por isso parem com essa bobagem de chamar todas as fábricas de “montadoras”, porque existem as fábricas, que transformam matéria-prima em produto final; e existem as montadoras, que recebem os componentes e aqui juntam, colam, aparafusam e soldam para virar uma moto.

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A bela vista ao lado da planta da Kawasaki, às margens do rio Negro. (Foto: Tite)

Meus sinceros parabéns ao executivo que escolheu o local da planta da Kawasaki. Fica às margens do rio Negro, exatamente onde ele se encontra com o rio Solimões, gerando o mundialmente conhecido “encontro das águas” (lembrei da minha professorinha).

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Da esquerda para direita: Márcia Pontes (Abraciclo), Satoshi Fujimoto (Kawasaki), Analuiza Tamura (SD Press) e eu.

Neste cenário tivemos a chance de conhecer a linha de montagem extremamente silenciosa e confortável, porque não tem fornos, nem prensas, nem cadinhos escaldantes com alumínio derretido. É uma estrutura grande, arejada, mas muito produtiva. Nela são montadas desde a queridinha dos jovens a Ninja 400, passando pelo lançamento Z 650SR, pela desejada Z 900RS e até as motocross.

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A Kawasaki é uma marca querida pra mim porque foi minha patrocinadora por três anos!

Fábrica de ciclistas

Uma das fábricas mais antigas do Brasil é de bicicleta. Sim a Caloi iniciou como loja ainda no século 19. Mas a primeira fábrica foi inaugurada em 1945, no bairro paulistano do Brooklin. Coincidentemente era bem perto da minha casa quando eu morei no mesmo bairro. Aliás foi esse o motivo de eu ter escolhido a Caloi: é a marca que participa da minha vida desde que nasci!

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Primeira fábrica da Caloi no Brooklin, do lado da minha casa.

Pouca gente sabe, mas o pioneirismo da Caloi se repetiu ao ser uma das primeiras marcas a se instalar no Polo, em 1975, antes mesmo da Honda! E a idade se revela na linha de montagem. Claro que é uma instalação que acusa o peso da idade, mas o que chama atenção é a produção totalmente artesanal. São poucos os processos mecanizados.

A maior surpresa aparece no final: o elevadíssimo nível de qualidade e acabamento das bikes. Não é à toa que a fábrica foi escolhida para produzir as bicicletas da Decathlon, empresa francesa de varejo conhecida pelo rigor na contratação de fornecedores. Também produz as famosas Cannondale, GT e Schwinn. Tive a chance de ver o rigoroso cuidado técnico para montar uma Cannondale de R$ 40 mil!

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Na fábrica de ciclistas, da esquerda para a direita: Márcia Pontes (Abraciclo), eu e André Luiz (Caloi).

O parque instalado tem capacidade para produzir até 600.000 bikes por ano, mas hoje a realidade é de 420.000/ano, suficientes para dar o título de maior fabricante de bicicletas fora da Ásia. Nessa planta que visitei são produzidas bikes de aço e alumínio, que hoje representa a maior parte da linha, mas em breve pode começar a produzir também as sofisticadas bikes de carbono.

Isso porque aquela fábrica inaugural já saiu das mãos da família Caloi há muitos anos. Teve 70% comprada pela Canadense Dorel, mas também já mudou de novo. Hoje ela pertence à holandesa PON Holdings, maior fabricante de bicicletas do mundo, dona das marcas Gazelle, Santa Cruz, Cervélo, entre outras. Ou seja, hoje temos uma fábrica em Manaus que irá produzir algumas das melhores bicicletas do mundo! Bem aqui do lado!

Para saber os dados completos basta clicar AQUI.

Troca-troca: A Harley da BMW e a BMW da Harley

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A BMW R18 começa a ser vendida no Brasil por R$ 140 mil. (Foto: divulgação) 

Harley entra no mercado da BMW que entra no mercado da Harley

Parece confuso, mas não é. Desde sempre Harley Davidson e BMW disputam o chamado mercado de luxo de motos. A marca alemã domina o segmento das big trails, enquanto a marca americana navega tranquila no mercado de custom/cruiser. Mas sempre ficou aquela pergunta no ar: por que elas não “invadem” o mercado uma da outra?

Já tivemos algumas tentativas. A primeira foi a BMW que apareceu com uma custom em 1997. De aparência muito elegante a 1200C foi um case de fracasso da marca alemã. E mais uma vez o problema estava na falta de “pilotabilidade”. Nem mesmo uma participação honrosa (e caríssima) num filme de James Bond salvou o modelo do fracasso comercial. Hoje só que tem essa moto acha boa. Mas pelo menos se tornou colecionável e seu valor de mercado disparou.

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BMW R 1200C a primeira tentativa de furar o mercado da Harley. Deu errado. 

Depois foi a vez de a Harley, quando forneceu motores para Erik Buell projetar e produzir motos de uso misto no começo dos anos 2000. Na teoria era uma beleza, mas na prática aquele motor V2 de 1.200cc arrefecido a ar (com uma barulhenta ventoinha) era muito antiquado para uma estrutura muito avançada (e eficiente). Hoje só quem tem Buell acha a moto boa! E o valor despencou pra baixo do quinto subsolo.

Tive a chance de pilotar as duas e antes de me acusarem de falsidade ideológica advirto que o que se lia nas revistas impressas nem sempre refletia a opinião sincera do jornalista-testador. Havia uma dependência muito grande da publicidade e algumas críticas mais pesadas acabavam sendo amenizadas pelos editores e pelo departamento comercial que, em alguns casos, eram a mesma pessoa.

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Primeira tentativa da Harley no mundo big trail com a Ulisses. Deu errado.

Lembro bem da primeira BMW 1200C que pilotei, já na Revista da Moto! O que mais me chamou atenção na época era para a dificuldade de fazer curvas. Tinha de usar muito o contra-esterço para conseguir inclinar e o comportamento em curvas era muito estranho. Cheguei a ouvir relatos de usuários experientes que se acidentaram em curva sem nenhuma explicação plausível, suspeitando-se até de um problema de projeto. Não gostei (e continuo não gostando até hoje), mas admito que tinha estilo muito bonito e por isso se tornou peça de coleção. Mas eu mesmo jamais compraria.

Já a aparição da Buell XB 12 Ulisses no Brasil foi num salão da moto (não lembro o ano) e cercada de muita curiosidade. O projeto era revolucionário e o construtor, Erik Buell era um engenheiro e piloto de corridas de moto, o que ajudou a criar um quadro extremamente confiável. Com uma distância entre-eixos muito curta era excelente de curva, mas oscilava demais nas retas. O freio a disco dianteiro era perimetral o que permitia frear no meio da curva sem a moto levantar. Mas o grande problema era o motor antiquado, barulhento e vibrante (no mal sentido).

Outras eras

Felizmente tudo isso é passado. O que estamos vendo hoje são motos muito mais modernas, fabricadas já dentro de um conceito de máximo prazer ao pilotar e produtos de muita pesquisa.

Começando pela Harley Panamerica, que tive a chance de pilotar no Festival Duas Rodas. Ao contrário da Ulisses, esta é uma moto feita inteiramente pela Harley Davidson e, felizmente, foi criado um motor totalmente novo, mas mantendo a configuração V2. Tirando o aspecto visual – que não dá pra chamar de linda – essa “caça-BMW” ficou muito boa e efetivamente pode incomodar o mercado da marca alemã, sobretudo nos Estados Unidos, onde o nacionalismo exagerado ainda define o consumo.

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Harley Panamerica big trail: agora pode dar muito certo.

Não se trata de uma moto “adaptada”, mas muito bem projetada, com desempenho e comportamento que em nada lembram as Harley tradicionais. Nem mesmo a centenária correia de transmissão foi mantida, dando lugar a “careta” corrente de aço. O resultado é uma moto mais fácil de pilotar do que as pesadas e paquidérmicas BMW 1250. Excetuando os casos doentios de pessoas que defendem uma marca apenas pela marca, a Harley Panamerica pode sim morder uma fatia do mercado da BMW.

E eis que chega em terras brasileiras a BMW R18, resultado de dois anos exaustivos de projetos, estudos e pesquisas. Não sei onde foram feitas as pesquisas, mas suspeito que foram concentradas nas mídias sociais, porque esse é um produto totalmente feito para gerar likes.

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Lançamento da BMW R18 em evento very liker. (Foto: Tite Tok)

Minha especulação encontra base sólida em todo material promocional e no evento de lançamento do Brasil. Tudo foi feito em cima de “influencers”, motociclistas “posers”, antenados, descolados, tatuados e geradores de likes. O que parece ser uma tendência mundial: especialistas sendo substituídos por “tik-tokers”. Eu mesmo estou pensando em criar o perfil "Tite Tok" pra entrar neste mundo.

Analisando o produto em si posso tranquilizar a Harley-Davidson porque se depender dessa BMW o mercado dela está mais do que assegurado. Não vai atrair os donos e fãs da marca americana, o foco é nos novos usuários milionários que tem na moto um estilo de vida cheio de gadgets. O valor de R$ 140 mil não é nada para quem tem um carro de R$ 500 mil ou um milhão. Será um brinquedo de luxo como a Triumph Rocket 3 de 2.500cc. Motos para rodar pouco e de forma like way of life.

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A versão brasileira será com banco e pedaleiras de garupa.

Mas é linda! Foi inteiramente projetada pensando no vintage e dá mesmo para sentir a presença das primeiras BMW produzidas. Apesar de a marca alemã ter se notabilizado no segmento big trail, as primeiras motos da BMW eram simplesmente “normais”. Aos poucos ela foi se afastando da simplicidade e apostando na versatilidade até perceber que estava na hora de voltar às origens.

O resultado é uma moto estilo “cruiser”, sem as pedaleiras avançadas, porque o gigantesco motor (de quase 100 kg!) tem configuração boxer com os cilindros opostos posicionados bem na frente dos pés do piloto. Apesar de um pequeno radiador de óleo colocado discretamente à frente do motor, as aletas de arrefecimento estão presentes para dar o aspecto vintage e, claro, ajudar a refrescar as canelas. Tecnicamente, portanto, este motor é arrefecido a ar+óleo.

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Guidão largo e painel com apenas um instrumento redondo. (Foto: Tite Tok)

O motor representa grande parte do visual, por isso no kit de opcionais oferecidos no exterior tem capas de cilindro em preto-fosco (lindo, por sinal), com aletas cromadas. No Brasil o pacote de opcionais será menor, mas a nossa versão de série vem com banco e pedaleiras para garupa.

Com exatos 1.802 cm3, este gigantesco boxer desenvolve 91 CV a 4.500 RPM. Portanto um motor que gira baixo. O torque descomunal de quase 16 Kgf.m aparece já a 3.000 RPM e pelos primeiros testes realizados na gringolândia, a 100 km/h, em sexta marcha, o conta-giros mostra parcos 2.000 RPM. Deve ser uma delícia na estrada! Comparada com a Harley Fat Boy, na mesma velocidade a moto americana se mantém a 2.250 RPM. Ainda comparando com a Fat Boy, esta nova BMW pesa 345 Kg enquanto a Harley pesa 317 Kg.

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Transmissão por cardã todo cromado, um luxo! (Foto: Tite Tok)

Outro detalhe que agradou muito alguns, mas foi odiado por outros, são os escapamentos em formato de rabo de peixe, que remetem ao mais clássico desenho dos anos 1950. Gostei e digo que seria um crime de lesa pátria mudar esses canos originais. Também as bengalas da suspensão dianteira são cobertas por uma capa para referenciar as primeiras motos BMW.

Destaque para a transmissão por cardã que fica exposto, sem capa. Tudo cromado e brilhante! O que não curti muito foram as rodas. OK, tem de ser raiadas para preservar a identidade com o passado, mas poderiam ter usado pneus sem câmeras. Não dá pra aceitar pagar 140 paus numa moto com pneus tubetype!

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Suspensão dianteira com capa no estilo vintage. Mas pneus com câmera, fala sério! (Foto: Tite Tok)

Claro que vem com todo pacote de eletrônica como controle de tração, “hill assist” (pra sair na rampa), modos de pilotagem etc.

Em suma, estamos entrando numa guerra quente entre as duas marcas preferidas dos motociclistas descolados. Vai ser interessante analisar como vão se comportar as vendas da Panamerica, já chamada de “BMW da Harley” e da R18 chamada de “Harley da BMW”.

 

O bom ficou melhor: nova Honda PCX 160

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Honda apresenta a PCX 160 com novo motor, controle de tração e mais confortável

Esqueça aquela bobagem de “em time que está ganhando não se mexe”. Isso não funciona nem no futebol! Por isso a terceira geração da PCX ficou ainda melhor. O motor passou para 160 (156,9 cm3, pra ser mais exato), com comando simples e cabeçote de quatro válvulas, e potência aumentada para 16 CV a 8.500 RPM. O que isso quer dizer? Vamos entender logo mais.

Deve ser difícil escolher um local para os testes de produtos pela imprensa. Mas a Honda acertou na mosca ao optar pela cidade balneária de Santos, a 60 km de São Paulo. Apelidada de “a pérola do Atlântico”, Santos fez muito sucesso nos anos 60. A vizinha Ilha Porchat, em São Vicente, que chegou a ter cassinos era a escolhida pelos recém casados em lua de mel. Pra mim foi ainda mais especial porque é minha segunda cidade e tive a chance de passar dias de turista e não de morador.

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Novo conjunto ótico para ver e ser visto. (Fotos: Digital da Lata)

Hoje a baixada santista vive cada vez menos do turismo e a população fixa passa de 1,8 milhão de habitantes. Uma das características mais marcantes da região é o grande número de scooters, especialmente conduzido por mulheres de todas as idades. Além disso Santos carrega o título de a cidade com o menor índice de acidentes por usuário de motos.

Portanto, a escolha foi mais do que acertada porque muitos paulistanos ainda não conhecem a modernização que Santos está vivendo com a recuperação do centro histórico e a balneabilidade de suas praias. Num dos meus passeios pela praia vi mariscos e tatuís, que são os primeiros que desaparecem na poluição! Sem falar em um belo parque de esportes na Divisa, com pista de skate. Neste cenário tivemos a chance de rodar com a PCX dia e noite.

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Painel moderno e mais "automobilizado".

Boas novas

Só para esclarecer: trata-se de uma nova scooter. Por mais que preserve muito da aparência da segunda geração, esta 160 é totalmente nova. Dentre as novidades destaco as seguintes:

– Motor: tudo novo! Agora com maior capacidade volumétrica (pop. cilindrada), comando simples de quatro válvulas, nova relação diâmetroxcurso do pistão, potência de 16 CV e torque de 1,5 Kgf.m a 6.500 RPM. Com mais diâmetro (60 mm) do que curso (55,5mm) este motor se aproxima mais das motos esportivas, com ênfase no desempenho em alta rotação. Para não perder torque em baixa o escapamento foi totalmente desenhado para manter pressão de saída.

– Suspensão: os amortecedores traseiros são novos e estão posicionados em um ângulo mais reto. A ideia é afastar da linha da coluna do piloto a resultante dos impactos vindos da roda traseira. Aqui uma questão complexa, porque desde sempre a posição do amortecedor mais inclinado suaviza a transferência de impacto para o motociclista. Mas como o scooter tem muita massa concentrada na traseira, ai inclinar o amortecedor o movimento se afasta da coluna do piloto. Na verdade a melhor forma de suavizar a suspensão de um scooter seria adotar o monoamortecedor, aproveitando o motor como balança.

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Amortecedores, rodas, pneus e escapamento tudo novo!

– Pneus: agora são Pirelli Diablo Rosso Scooter e com novas medidas. O traseiro ficou mais largo, passando de 120/70 para 130/70 e a roda traseira mudou de 14 para 13 polegadas. E o pneu dianteiro também aumentou, passando de 100/80 para 110/70. A característica principal desses pneus é o rendimento em piso molhado e maior durabilidade.

– Quadro: continua tubular, com o tanque de gasolina no piso. Para compensar o pequeno aumento de peso do motor o quadro ficou mais leve.

– Controle de tração: novidade que deve chegar também à futura ADV 160, atende um requisito de segurança, especialmente no molhado. Pode ser desligado por meio de comandos no painel.

– Painel: totalmente novo, mais moderno, incrivelmente bem desenhado e mais próximo aos dos automóveis. Destaque para as luzes da seta!

– Chave presencial: agora em todas as três versões. Guarde o código como se fosse sua vida, porque a perda dessa chave vai causar um baita prejuízo.

– Porta-luvas: está maior, mais largo e com entrada USB de verdade e não mais aquela gambiarra em forma de acendedor de cigarro. Eu testei e funcionou.

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Porta luvas com entrada USB.

– Porta-volume: também ficou maior porque o perímetro total do conjunto roda/pneu traseiro ficou um pouco menor. Agora cabe os capacetes fechados sem forçar o banco.

– Novo grupo ótico: já era full LED, mas agora mudou o desenho tanto dos faróis e setas, quando da lanterna traseira.

– Carenagens e banco: receberam pequenas mudanças para um ar mais moderno e o banco foi revisto para aumentar a capacidade do porta-volume. A maior mudança foi na parte frontal, com uma bolha menor.

Vamos pra rua

Em uma decisão inédita, a Honda começou nosso teste à noite! E foi uma escolha sábia porque pudemos atestar que o conjunto ótico ficou ainda mais luminoso, as lanternas traseiras são visíveis mesmo à distância e o painel realmente ficou muito bonito.

Logo de cara o que mais impressionou foi a resposta do novo motor. Não precisei mais do que 30 metros pra sentir uma enorme diferença. Tive um PCX 150 por um ano e realmente o ganho de potência e torque fez o PCX ficar muito mais esperto e próximo ao desempenho de uma moto da mesma categoria.

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Pneus esportivos para curvas mais ousadas.

Aliás, vale ressaltar que os scooters com túnel central (chamados também de “jet”) são mais parecidos com uma moto do que os scooters de fundo plano (ou motonetas). Com os novos pneus Pirelli Diablo Rosso Scooter essa semelhança com motos ficou reforçada. Na manhã seguinte seria a vez de avaliar outros itens.

Nosso roteiro passou por pontos turísticos, mas também um trecho de rodovia. Neste caminho pegamos as ruas de paralelepípedos do centro velho, passando pela antiga Bolsa do Café e confesso que não senti tanta diferença nos novos amortecedores. O ideal seria confrontar com a versão anterior nas mesmas condições. Mas foi perfeitamente possível perceber que os novos pneus ajudaram muito não só no conforto, mas nas frenagens e nas curvas.

A posição de pilotagem mudou tão pouco que seria exagero fazer qualquer análise, mas continua sendo um scooter com as características de todos eles: não gostam muito de pisos irregulares. Se for pegar muito caminho ruim é melhor partir pro ADV. O que reforça a sensação de “dureza” dos scooters na verdade está ligado ao tipo de veículo. Nos scooters o piloto se posiciona sentado e não montado como numa moto. Isso impede as pernas de atuarem como extensão dos amortecedores.

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Lanterna traseira maior e mais visível.

Surpresa mesmo foi a chegada na rodovia, felizmente com radares muito bem sinalizados, porque consegui chegar a 122km/h de velocidade no velocímetro. Segundo os testes feitos pelo Instituto Falcon Bauer, a velocidade máxima foi de 111 km/h. Pelo aplicativo do celular da colega Suzane Carvalho alcançamos 119 km/h.

Mais do que a velocidade anotada o importante foi perceber que o novo motor permite ultrapassar caminhões com mais segurança e até manter uma velocidade de cruzeiro de 100 km/h sem forçar muito. Ou seja, este motor deu muito mais tranquilidade para ultrapassagens em longos trechos de subida, sem perder desempenho.

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Boa na estrada e muito boa na cidade.

Em termos de consumo, o painel tem um computador de bordo, mas nem dei muita atenção porque nosso ritmo de teste foi pouco civilizado. Mas pode acreditar que o motor “maior” não comprometeu o consumo que neste scooter passa facilmente dos 40 km/litro.

Confesso que não gosto do sistema “idling stop”, que desliga o motor quando a PCX para por mais de dois segundos. Tanto que na minha PCX eu mantinha desativado. Segundo a Honda chega a melhorar o consumo em 5%. Sinceramente acho que esse número é exagerado, mas o melhor deste sistema é zerar as emissões enquanto fica parado no semáforo, por exemplo. A Greta Thunberg agradece.

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Freio dianteiro a disco com ABS.

Já que não me deixaram entrar na praia do Gonzaga, procurei por um trecho de areia pra testar o controle de tração. Que apareceu logo depois de atravessar a ponte pênsil na Praia Grande. Funciona! Pode girar o acelerador na areia que o sensor entra em ação impedindo a derrapagem. O maior benefício desse sistema será em piso molhado, porque o novo motor acelera muito!

Por outro lado o novo PCX continua com ABS apenas na roda dianteira. É um tema polêmico, eu sei, porque a principal concorrente, Yamaha NMax 160, tem ABS de dois canais. Mas posso atestar que é muito difícil travar a roda traseira do PCX porque além de o peso estar mais concentrado no eixo traseiro, se o piloto frear certo (os dois ao mesmo tempo) dificilmente a roda trava mesmo no molhado.

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Versão CBS com freio traseiro a tambor.

Já fiz várias simulações de frenagens e realmente precisa errar muito pra travar a roda traseira, principalmente pelo pneu mais largo e macio. Freio ABS de dois canais em motos pequenas e leves é mais um apelo de marketing do que eficiência. O freio combinado em motos leves é mais eficiente. Por isso a Honda ainda manteve a versão CBS com freio traseiro a tambor e frenagem combinada. Nas versões ABS e DLX ABS os freios são a disco nas duas rodas.

Muita gente me cobra um comparativo com a Yamaha NMax 160. Mas eu sou contra comparativos feitos separadamente. A última vez que pilotei uma NMax foi no lançamento trocentos anos atrás. Para um comparativo ser efetivo tem de ser feito no mesmo dia, local e com as versões mais atuais. Como a Yamaha me boicota como jornalista então não tem chance.

Em suma, a PCX que já era boa, confirmada pela liderança absoluta do mercado, ficou melhor, mais confortável e segura. Continuo não gostando de chave presencial em motos e scooters. Essa necessidade de “automobilizar” motos e scooters é uma tentativa de atrair os donos de carros. Além de desnecessário, a perda de uma chave dessa acarreta um inferno na vida do usuário. Uma chave simples codificada já funciona muito bem e dificulta o furto. Nada impede, mas dificulta.

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Versão branca CBS. 

Se já era um produto ajustado para o uso urbano, como veículo versátil e econômico, agora com o motor mais forte já dá para pensar em voos mais altos como viagens por estradas de limites mais altos de velocidade. Com uma curva de torque mais suave, reduziu a vibração nas manoplas, o que permite pilotar por mais tempo.

A parte chata sempre é comentar preço. Ainda mais em uma época de mercado maluco no mundo inteiro. Mas variam de R$ 15.460 na versão CBS, R$ 17.000 na versão ABS e R$ 17.400 na ABS DLX. Todas têm três anos de garantia e sete trocas de óleo. As cores são a tradicional branco perolizado que nunca sai de moda, cinza metálico e a questionável azul fosco. Pintura fosca está na moda até nos carros de F-1, mas um produto caro como esse foi feito pra brilhar.

Ficha técnica, cores e preços clique AQUI.

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Santos!!!

O que é aventura pra você?

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A foto de página dupla da abertura mostra a imensidão do deserto diante de dois ingleses corajosos.

Viajar de moto hoje em dia é tão aventureiro quanto 40 anos atrás?

Recentemente recebi uma mensagem pelo Whatsapp sobre uma palestra de um motociclista para ensinar a viajar de moto. Oi? Pensei, as pessoas hoje em dia precisam “aprender” a viajar de moto? Com toda tecnologia ao alcance de um smart phone, mapas, GPS, endereço de hotel, restaurante, borracheiro, oficina, farmácia a pessoa ainda precisa de alguém para dar dicas de como viajar? Hoje? Século 21! estradas perfeitas, guincho à disposição, comida da melhor qualidade pelo caminho. Ah não, né? Pega a moto e vai!

Quando foi a última vez que alguém deu dicas de “como viajar de carro”? A pessoa faz 18 anos, tira habilitação, pega o carro, abastece, calibra os pneus e tchau! Por que pra viajar de moto precisa ter um “professor”? Menos, pessoal, menos. A humanidade evoluiu a ponto de hoje em dia ter tutorial até pra abrir tubo de pasta de dente!

 Na minha infância motociclística não existia revistas de moto no Brasil. Se eu quisesse ler alguma coisa sobre motos tinha de ir no Aeroporto de Congonhas e comprar revistas gringas, de preferência italianas ou francesas que eu conseguia ler alguma frase inteira. A parte que eu mais gostava era dos relatos de viagens. Tremendas aventuras pela África, Ásia, norte da Europa, sempre com roubadas cinematográficas, risco de todo tipo, conflitos armados, assaltos, doenças etc.

 Então, em 1975 surgiu a primeira revista brasileira de motos, a Duas Rodas e uma das editorias era “Aventura”, nome que se mantém até hoje. Nela eu li relatos de viagens – em português, viva! – que reforçaram minha vontade de ser um desses aventureiros.

 Quis o destino que um dia eu estaria sentado na redação da revista Duas Rodas, recebendo e escrevendo os relatos de viagens desses aventureiros. Algumas memoráveis, como a de um senhor que, em 1966, saiu de São Paulo e foi até a Bolívia, numa Jawa 175cc dois tempos, só porque não acreditou quando a professora disse que a água do lago Titicaca era salgada! Nunca mais esqueci desse homem, porque ele, já idoso, foi pessoalmente na redação me contar essa história, ilustrada por fotos coloridas feitas em Ecktachrome (slide).

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A segunda página da dupla de abertura.

Estes dias, pensando nisso, achei uma das primeiras Duas Rodas, mais precisamente número 18, de outubro de 1976, com uma aventura marcante: dois ingleses foram da cidade do Cabo, África do Sul, até a Inglaterra, passando pela África e Índia, em um roteiro de sete meses. Sem GPS, acampando no meio do nada, passando por conflitos armados, enfrentando um inferno de burocracia em cada fronteira, doenças e mal chegaram já embarcaram em outra aventura. Não precisaram de tutorial, nem de “aulas” de como viajar de moto. Montaram nas motos e foram. Trocaram pneus, abriram motor, rebocaram a moto, mas não desistiram.

O jornalismo naquela época era diferente. As pessoas queriam mais ler e menos ver. Os textos eram enormes: 32.000 caracteres hoje em dia é livro! Mas a leitura é imparável. Quase nenhuma foto, porque naquela época dava-se a volta ao mundo e tudo era registrado em 40 ou 50 fotos. Hoje a pessoa vai até a padaria e faz 125 fotos. Depois desta, pretendo resgatar outras aventuras de verdade para fazer você levantar dessa cadeira, subir na moto e pegar a estrada. Boa leitura.

* Importante: o texto foi mantido integralmente, apenas algumas correções de ortografia. Os valores estão em Cruzeiros, para converter para Real multilique por 25,3%.

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 O mundo é pequeno para quem sonha grande.

De moto através da Índia, Paquistão, Afeganistão, Turquia, até a Europa

A incrível viagem de Rodney Fors e John Carter, com uma Honda 350 e Triumph 650, através de desertos, guerrilheiros, calor...

Rodney For e John conheceram-se na Cidade do Cabo – África do Sul – numa companhia de construções, onde trabalhavam como engenheiros. Nenhum dos dois tinha moto. Mas Rod vivia falando de uma viagem que queria fazer até a Inglaterra, quando seu contrato terminasse. John já fizera uma viagem semelhante – da Inglaterra à Cidade do Cabo – num jipe Land Rover, e não queria voltar pelo mesmo caminho. Depois de muita conversa, ficou decidido que comprariam as motos. Rod comprou uma Honda CB350,1971, usada, e John uma Triumph 650, também 71 e usada.

Em seguida, decidiram o roteiro. Sairiam da Cidade do Cabo e iriam até a Inglaterra através da Índia, Paquistão, Afeganistão, Turquia e finalmente a Europa, antes que o inverno começasse. A viagem durou sete meses até a casa de John, em Coventry, uma cidadezinha da Inglaterra. A quilometragem total não é exata: "talvez uns 30.000 km" diz Rod, sem se preocupar muito com este detalhe uma vez que, depois da Inglaterra e de um telefonema internacional para o Canadá, onde moram os pais de Rod, os dois combinaram vir do Canadá para a América do Sul, com duas Norton 850, novinhas.

Rod e John chegaram a São Paulo, no começo de junho, depois de seis meses de viagem, onde estão descansando e trabalhando, para logo em seguida, eles sabem quando, saírem para um novo roteiro "talvez até Manaus". O relato da viagem pela Índia, Paquistão e Afeganistão até a Inglaterra é feito por Rod. Começou num domingo, 14 de março de 1973:

Tínhamos duas mochilas e duas caixas de metal na traseira das motos; numa levávamos peças e ferramentas e na outra comida. Saímos da Cidade do Cabo em direção a Johannesburg. Precisávamos ir primeiro para Botswana pois os documentos das motos, tirados na África do Sul, não serviam para os países da África do Oeste. A viagem durou uma semana em estrada pavimentada, sem nenhum problema mecânico ou de abastecimento. As estradas, de cascalho e areia, que atravessam Botswana, (cerca de 400/km) eram muito difíceis para andar com as motos. Assim que nos acostumamos com a pavimentação, depois de um tombo cada um podíamos andar a 80 km/h. Atravessamos vilarejos e duas pequenas cidades. Os nativos tratavam-nos entre curiosos e amigáveis e estavam sempre prontos para dar qualquer tipo de ajuda.

De Botswana à Rodésia levamos apenas meio dia. O primeiro vilarejo chamava-se Bullawan e possuía estradas muito largas, devido ao grande número de carros de bois cada uma tinha parelhas de até 8 bois que precisavam de espaço para fazer retornos ou virar para alguma estrada. A pé demorávamos quase cinco minutos para atravessá-las. Ficamos dois dias e seguimos para Salisbury, a capital, uma boa cidade com grandes árvores jacarandás – dentro da cidade. Passamos uma semana acampando e admirando grandes montanhas de pedras. Era interessante admirar pedras enormes "balançando-se" sobre outras. De Salisbury precisávamos ir até Malawi, mas para isso tínhamos de atravessar o norte de Moçambique que, nesta época, estava tentando sua emancipação de Portugal.

Para atravessarmos 200 km, levamos cinco dias. Um dia da fronteira até Tete – a cidade mais velha da África – considerada a capital do Norte de Moçambique - onde existe uma hidroelétrica imensa. Fomos escoltados pelo exército até Tete, onde esperamos dois dias por um outro comboio que nos escoltaria até a fronteira do Malawi. Esses comboios eram necessários devido ao grande número de guerrilheiros que controlavam determinadas regiões, fora das cidades que eram controladas pelos portugueses.

Na viagem até a fronteira do Malawi, a estrada era muito ruim, pois era impossível o governo mantê-las em bom estado devido aos constantes ataques dos guerrilheiros da Frelino que, durante a noite, minavam toda a estrada. Assim, pessoas iam na frente, a pé, com detectores, durante os 80 km que faltavam. Tínhamos de andar entre 6/8 km/h, o que nos deixava um pouco preocupados com o motor, pois o calor era muito forte.

Depois de meio dia de viagem, o carro militar, que ia a uns 100 metros à frente, passou sobre uma mina e explodiu. Tivemos muito medo, mas não saímos dos nossos lugares pois se afastássemos um centímetro da trilha feita pelos carros, que já havia sido detectada, talvez pisássemos noutra mina. Depois do estouro, que destruiu totalmente o veículo, tivemos de dormir na estrada pois, para desimpedi-la, demoraram mais de três horas. Às cinco horas da manhã, o comboio a avançar e viajamos até as sete horas da noite para chegarmos na fronteira de Malawi Cinco quilômetros antes começou a chover e logo tínhamos quase 30 centímetros de lama para vencer e 30 colinas, atrás de uma fileira de caminhões, com constantes falhas na minha Honda que tinha as velas molhadas com a chuva.

Depois de atravessar o território entre Moçambique e Malawi, tivemos que trocar as placas e os documentos das motos pois, acima de Malawi, ninguém mais iria aceitar os documentos da África do Sul. Com tudo trocado, preparávamo-nos para ir até a próxima cidade quando o fiscal da imigração nos chamou a um canto: Seus cabelos estão muito compridos.

Tivemos que cortá-los porque é contra a lei em Malawi, país governado por puritanos, onde as mulheres não podem usar calças compridas e vestidos curtos. Segundo eles, isto ajuda a manter a país tranquilo e longe dos hippies que pretendem se dirigir para lá. Com a luz da moto, pois não havia luz elétrica, e uma pequena tesoura, cortamos nossos cabelos.

Depois de cinco quilômetros, numa estrada totalmente escura, avistamos uma placa. Bar, e bem ao longe um pequeno ponto de luz. Dirigimo-nos para lá e encontramos uma casa de família com uma boa sala de estar, excelente cerveja, e onde os viajantes podiam ficar à vontade. Depois das cervejas armamos nossa barraca ao lado da casa e dormimos até às 10 horas da manhã seguinte, quando saímos rumo a Blantyre, que não é capital, mas é a maior cidade de Malawi, e onde estão localizadas muitas fábricas de tecidos. Em Blantyre aproveitamos para fazer turismo em volta da cidade, cercada de plantações de cânhamo. Ficamos hospedados em casas e apartamentos, construídos pelo governo em vários pontos do país para turistas, pagando em média 10 cruzeiros (duas pessoas) por pernoite.

De Blantyre fomos para Zamba, capital do Malawi, no centro do país, uma pequena cidade onde fica a residência do presidente e dos ministros. Perto de Zomba atravessamos um planalto 1.000 metros acima da capital, durante a noite, onde vimos muitos leopardos atravessando as tortuosas estradas 3 ou 4 metros distantes de nós. Em Zomba, John teve um pequeno problema. Quando passeava pelo mercado municipal foi parado por um policial que, discretamente chamou-o de lado e o levou para a prefeitura. O oficial pediu para que ele cortasse os cabelos, mas John não entendeu por que teria que fazê-lo novamente. "Aqui - disse o oficial - é necessário o corte; senão deixe o país imediatamente". John dirigiu-se ao barbeiro- que existem em grandes quantidades, lado a lado, no mercado e cortou-os tão rentes que mal dava para perceber que ele os tinha na cabeça.

Depois de Zomba fomos para Lake Malawi, 300 Km adiante, um lago imenso e uma pequena vila. Até agora, as motos tinham se comportado muito bem. Encontramos alguns americanos que viajavam de carona e tinham feito amizade com nativos. À noite, nos divertíamos alimentando hipopótamos, que saíam do lago e chegavam até ao lado do hotel onde estávamos acampados. Durante o dia, íamos ver uma infinidade de peixes tropicais no lago e que podiam ser vistos da superfície com diferentes tamanhos e cores. Passamos uma semana na tranquila no lago e seguimos para Zâmbia, numa viagem sem problemas, em estradas pavimentada até a capital, Usaka, onde no acampa.
mento encontramos um jipe Land-Rover com seis pessoas que estavam vindo da Africa do Sul e se dirigiam à Inglaterra. Ficaram muito assustados quando dissemos que também íamos para lá, de motocicleta. Dizíamos que não tínhamos medo, mas não dissemos que percebemos que eles estavam ficando irritados, entre eles, e que estavam mais assustados que nós com seis pessoas apertadas dentro de um jeep.

Em Usaka, tive o primeiro problema com minha moto: a articulação da balança traseira se gastara e fazia a moto balançar muito. Tive sorte em encontrar a peça, pois em Usaka não existiam peças para motos acima de 350 cc. Depois da troca, nos preparamos para enfrentar 1.000 Km, sem postos de gasolina, até a fronteira da Tanzânia. Procuramos latas de óleo com capacidade para cinco litros em firmas de petróleo e conseguimos oito latas. Nosso problema agora era trocar os passaportes pois o que tínhamos era da Africa do Sul e este também não servia nos países da África do Leste. Troquei meu passaporte no Consulado do Canadá, pois John já havia trocado o seu em Botswana. Saindo de Usaka, fomos até o último posto da estrada, a 100 Km, e enchemos as latas.

Na primeira noite, descobrimos que duas latas estavam vazando: perdemos 10 litros de gasolina. No dia seguinte chegamos a outro posto e enchemos os tanques. No terceiro dia foi a vez dos abutres. Estávamos com fome e resolvi come-los. Acelerei a moto a uns 80 Km/h e saí em perseguição do bando. Consegui matar um com uma capacetada mas, infelizmente não consegui comê-lo pois a chuva que começou a cair não deixava acender o fogo, John ria o tempo todo.

No quarto dia atravessamos a fronteira com a Tanzânia, sem problemas, com a gasolina quase no fim e sem perspectiva de encontrar um posto por perto. Depois de trinta quilômetros acaba a gasolina de John e eu segui mais uns vinte km para achar gasolina. O problema no vilarejo onde encontrei gasolina foi como pagá-la, uma vez que ninguém conhecia o dinheiro chamado dólar. Depois de muita conversa consegui trocá-lo numa das lojas da vila. John, que esperava perto de uma ferrovia que estava sendo construída por chineses, foi confundido por eles como espião. Através de um nativo, ele conseguiu se explicar e os chineses levaram-no até um posto oficial onde lhe arranjaram um pouco de gasolina. O problema agora era que os chineses não tinham lata apenas uma bateia rasa que, quando cheia precisava de muito malabarismo para despejar a gasolina no tanque. Mas, assim mesmo, quase toda a gasolina era derramada sobre a moto e muito pouco ia para o tanque.

Continuamos até a capital da Tanzânia, Dar El Salam por uma estrada de terra conhecida como "Estrada do Inferno”, que ligava o porto até Usaka, sem nenhuma variante, onde durante 24 horas por dia o trânsito era de caminhões pesados. Os motoristas dos caminhões causavam muitos acidentes esta época pois segundo seus contratos com ss companhias, quanto mais trabalhavam mais ganhavam. A estrada era quase toda pavimentada e havia muitos problemas políticos entre a Rodésia e Zâmbia: a fronteira estava fechada e o trânsito era intenso, com muitos caminhões carregados de cobre vindos de Zâmbia. De vez em quando apareciam grandes buracos na pista que deixaram as molas traseiras das motos mais fracas ainda, pois tínhamos muito peso nas bagagens.

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O incrível Taj Mahal 

A estrada atravessava uma reserva florestal com muitos animais desde elefantes e girafas até tigres e leões. Resolvemos acampar no parque pois soubemos que chovia muito adiante. Fizemos fogo para o jantar e dormimos. Durante a noite acordamos com um barulho, provavelmente de um leão, arranhando uma das caixas da motocicleta onde havia comida. Ficamos quietos com medo de que o leão descobrisse que dentro da barraca havia comida melhor.

O animal, no entanto, conseguiu abrir a caixa e nossa barraca não estava totalmente fechada havia apenas uma tela, para proteção contra insetos, de onde pudemos vê-lo, na penumbra, passar três ou quatro vezes na nossa frente. Segurávamos as nossas facas, prontos para defender do ataque, pois estávamos seguros de que o faria, mas ele virou-se e foi embora. Não dormimos mais aquela noite, nem abandonamos nossas facas.

De manhã, descobrimos que não era um leão e sim uma hiena que, na realidade, é animal muito mais perigoso. E de nada nos adiantava uma arma de fogo pois teríamos que atravessar muitas fronteiras e se fossemos descobertos armados, certamente seríamos presos como contrabandistas ou guerrilheiros.

Chegamos a Dar El Salam. onde acampamos numa praia muito bonita, a 20 quilômetros, ao Norte da cidade. Encontramos novamente os dois Americanos que viajavam de carona e passamos, os quatro, muitas noites perto do porto onde havia muitos marinheiros, prostitutas a 50 e cerveja a três cruzeiros o litro. Quando cansamos deste programa resolvemos partir rumo ao Kilimanjaro, distante dois dias. Nessa parte da África existem muitas tribos de negros Masai, considerados, antigamente, como os melhores guerreiros africanos, com altura média em torno de dois metros. Avistei três deles na estrada e parei a moto para fotografá-los. Depois eles vieram e queriam cobrar, com o que não concordei. Tive que sair acelerando o máximo que podia, embaixo de uma chuva de pedras. Chegamos numa aldeia aos pés do Kilimanjaro e por três dias fizemos os preparativos para a subida. A aldeia ficava a 2.000 metros, a estrada ia até os 3 mil e a montanha até os 7 mil e tanto.

Subimos os 3 mil metros, por uma estrada ruim e cheia de pedras grandes, e deixamos as motos numa pequena aldeia. Fomos até o último refúgio a 5 500 metros de altura, em três dias, e a cada passo a escalada ficava pior por causa do frio e das constantes dores de cabeça, provocadas pela altitude e pela rarefação do ar. Do último refúgio até o topo foram mais cinco horas de caminhada difícil, enfrentando constantes quedas de barreiras. Somente John conseguiu chegar ao topo, pois eu parei na metade do caminho com fortes dores de cabeça. Depois de um belíssimo nascer do sol, demoramos dois dias para descer e mais duas semanas no vilarejo, para recuperar o fôlego.

Havíamos subido com nossas mochilas, roupas e comida, mas é possível alugar guias e carregadores para fazer esse serviço. Encontramos um guia que já havia subido 125 vezes até o topo. Mas nós fomos sozinhos pois as trilhas são muito fáceis de serem encontradas e nenhum momento fogem aos pés. Os carregadores chegam a levar 40 quilos de bagagem na cabeça, até o último refúgio, e nunca se sentem cansados de fazê-lo.

Neste vilarejo, aos pés do Kilimanjaro, encontramos novamente as seis pessoas que viajavam no Land Rover. Deixamo-los seguimos para Nairobi, com quatro ou cinco dias de viagem sem ter nenhum problema até 30 km antes de chegar: furou o pneu de minha moto. Consegui consertá-lo e enchê-lo com uma bomba e, depois de 10 km. furou novamente. Consertei e depois de 10 km furou novamente. John não aguentou mais ficar me esperando consertar pneu e seguiu adiante para arrumar acampamento. Cheguei às 9 horas da noite e depois de alguns problemas com o trânsito, estava no acampamento conseguido por John, num grande parque de Nairobi, parecido com o Ibirapuera, onde havia muitos viajantes acampados e diversos veículos: ônibus, jipes, Volkswagen e nossas duas motos. Estavam ali também os dois americanos que viajavam de carona e as seis pessoas do Land-Rover.

Ficamos ali um bom tempo, trocando informações sobre estradas com nossos amigos viajantes. Tentei comprar um par de amortecedores para minha moto, mas desisti, quando me pediram 50 dólares por um par. Consegui então, mais barato, um par de amortecedores e molas de uma Triumph 650, por 40 dólares. A suspensão era mais dura, mas com o peso da bagagem ela logo ficou boa. Ficamos duas semanas em Nairobi. Havíamos saído da Cidade do Cabo com 3 500 dólares – eu com 1 500 e John com 2.000 – e recebi mais 1 500 vindos do
Canadá, porque já não tinha mais um centavo.

Depois de dois dias de viagem, saindo de Nairobi, chegamos a Mombassa, no litoral do Quênia, uma cidade repleta de histórias da civilização africana. Havia muitos turistas alemães, italianos e portugueses por lá. Procuramos um lugar para acampar e só conseguimos depois de um dia de procura. Os campings na África são muito bons e cobram uma diária de cerca de 6 cruzeiros por estada. Nosso camping ficava num lugar chamado Kanami – com muitos trailers e barracas – pertencente ao World Churchil Organization, a uns 20 quilômetros ao Norte de Mombassa, perto de uma vila de pescadores. Do outro lado, a 1.500 metros da praia onde estávamos, ficava o hotel onde havia excelente cerveja. O local era muito agradável, gramado, com muitos coqueiros, de onde víamos, quando a maré baixara, mais de 2.000 metros de coral. Um viveiro enorme de espécimes marinhas. Passamos três semanas acampados, esperando um barco que nos levaria para Bombaim, na Índia.

O barco chamava-se State of Haryana e a única comida que se poderia encontrar nele, durante os oito dias de travessia, era curry, uma comida típica, servida duas vezes por dia. Os turistas que desembarcaram em Mombassa nos aconselharam a levar comida diferente, pois o curry é muito forte e, fatalmente, não iriamos aguentar. Levamos cocos, queijos e biscoitos. Pagamos um total de 170 dólares pela passagem e tivemos que nos acomodar nos bancos que ficavam ao lado do barco, junto com umas 1.500 pessoas. A maioria era hindus, que voltavam da África onde tinham ido visitar parentes. Não havia muitos banheiros, uns quinze talvez, de maneira que quando tínhamos que tomar banho havia pelo menos cem pessoas juntas.

Por oito dias não fizemos absolutamente nada. Havia só uma única diversão: frequentar o bar onde, pelo menos, podíamos beber cerveja. No quinto dia vimos um eclipse da lua. Chegamos em Bombaim no dia 2 de julho, durante as monções, época em que chovia tanto que não dava para acreditar. Passamos pela alfândega e pegamos um táxi para o hotel, que custava cerca de 7 cruzeiros a diária, sem refeição. Tivemos três dias de muito trabalho com papéis e documentos para retirar as motos, o que só conseguimos depois de mais de 100 carimbos e conversar com umas 40 pessoas. Demorei para fazer a moto pegar, enquanto a Triumph de John pegou na primeira. Em Bombaim pensei em trocar os pneus de minha moto, que eram muito estreitos, por outros mais largos. 300 x 18, mas não consegui, uma vez que na Índia não existe importação de motocicletas. Existem apenas duas marcas de motos: Jawa e Royal Enfield. Tive que viajar toda a Ásia com os pneus estreitos mesmo.

Na última noite em Bombaim, caí de cama: fui tantas vezes ao banheiro que não tinha mais nada para deixar lá. De manhã estava muito fraco, mas seguimos assim mesmo porque não aguentávamos mais ver chuva. No primeiro dia chegamos a Poona, no outro dia Sholapur e no terceiro, Hyderbad. As estradas eram pavimentadas mais muito estreitas e cheias de caminhões, que retardavam e impediam que fossemos mais rápidos. Íamos devagar, com medo dos motoristas loucos que mal sabiam onde estava a direção do caminhão. Hyderbad fica no planalto central da Índia, onde não chovia há três anos. O lugar era bem ruim, com um povo muito miserável. Lá discutimos o caminho que iriamos tomar. John queria ir para o Ceilão, mas eu estava mais preocupado com a distância entre Hyderbad a Inglaterra, pois estávamos no meio de julho e eu não queria chegar à Europa durante o inverno.

Viramos à esquerda, rumo Norte. Os primeiros dias foram bons, sem muito calor e sem chuva, mas depois de três ou quatro dias tivemos que atravessar três afluentes do rio Yamuna, normalmente quase secos, mas que naquela época estavam transbordando. A ponte do primeiro afluente estava submersa meio metro. Quando chegamos, vimos um ônibus atravessando e resolvemos fazer o mesmo, seguindo seu caminho. John foi primeiro, acelerando bastante a moto para que a água não entrasse no cano de escape. Na metade da ponte, como a correnteza estava muito forte, a moto de John parou com água no sistema elétrico. John desceu e foi empurrando, e eu resolvi fazer o mesmo enquanto esperava John fazer a moto pegar, o rio subiu mais uns 30 centímetros.

O segundo rio não tinha ponte e tivemos que proceder da mesma maneira, empurrando. O terceiro passava dentro de uma cidadezinha e também
não tinha ponte por que normalmente estava seco. John novamente foi na frente, empurrando, mas num lugar bem fundo. Vendo o seu esforço, desci uns 30 metros pela margem procurando um lugar mais raso. O fundo era cheio de pedras escorregadias e quando cheguei ao meio, a correnteza começou a empurrar violentamente. Nunca fiz tanta força na vida, mas, consegui chegar ao outro lado, onde John, calmamente, observava todo meu esforço. Às suas costas uma multidão de pessoas simplesmente olhava, de braços cruzados.

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O meio de transporte mais usado na África naquela época.

Quanto a isso, a Índia é diferente da África, onde as pessoas sentiam um grande prazer em nos ajudar. Nesta noite chegamos a Jhansi, completamente cansados e molhados e onde passamos dois dias descansando e secando. De lá fomos para Agra, onde durante quatro dias visitamos o mais famoso monumento hindu, o Taj Mahal, construído para ser um túmulo de um grande sultão. O monumento demorou vinte anos para ser construído e nele trabalharam mais de vinte mil pessoas. Sobre o caixão do sultão há uma tampa de mármore, de uns quinze centímetros de espessura, que fica transparente quando se coloca uma luz embaixo. Visitamos o Taj Mahal num dia de lua cheia e, embaixo de toda aquela luminosidade, é a coisa mais impressionante que se pode ver em qualquer lugar do mundo.

Em Agra trocamos alguns travellers-cheek por rúpias, moeda nacional. A transação demorou um dia inteiro e por isso achamos os hindus os mestres
da burocracia internacional. Saímos para Delhi, capital da Índia, em meio dia, acampando dentro da cidade. Fizemos a manutenção da moto e John aproveitou para pegar novos travellers-check, uma vez que os seus haviam sido roubados. Essa transação demorou dois dias. Em Delhi encontramos muitos europeus pedindo esmolas nas ruas para poder comprar drogas, que na Índia são baratas e fáceis de encontrar. Durante mais ou menos uma semana, em Delhi. o tempo esteve bom e quando começou a ameaçar chuva partimos para Panipat, 90 quilômetros adiante. Passamos aí a noite e na manhã seguinte seguimos para Chandigarh, uma cidade previamente projetada, como Brasília. Um contraste dentro da India. Não gostamos da cidade e resolvemos seguir para Kashmir que, politicamente, pertence à Índia, mas seu povo diz pertencer ao Paquistão. Isto tem causado muitas brigas.

No segundo dia, depois de Chandigarh e depois de viajar por estradas tortuosas nas montanhas, passamos através de um túnel de 3.000 metros, completamente escuro. Mesmo com o farol aceso não conseguíamos ver quase nada. Saímos do túnel e demos de frente com o vale de Kashmir, um lugar tão impressionante quanto o Taj Mahal, um verdadeiro horizonte perdido. Entramos no vale e depois de uma hora chegamos a Srinigar, capital do Kashmir. Sabíamos que havia um camping municipal e fomos procurá-lo. Em Srinigar, os turistas procuram sempre as casas, que ficam sob barcos para alugar e que custam, com criados e dois quartos, cerca de 60 cruzeiros por dia. Essas casas são muito procuradas, de maneira que, quando fomos pedir informação sobre o camping, eles sempre queriam alugar uma dessas casas. Certa hora paramos numa esquina e, de repente, havia mais de trinta pessoas a nossa volta gritando preços de casas de todos os tipos, chegando a causar um pequeno congestionamento na cidade. Por coincidência depois de rodarmos a cidade em todos os sentidos, achamos o tal camping. Ficamos dez dias visitando o vale, que é muito fértil, cheio de canais onde plantam arroz. Os muitos lagos não passavam de dois metros de profundidade. Na parte baixa das montanhas, que cercam o vale, ficam os pomares com várias qualidades de frutas. Entre as montanhas, vales escarpados e ovelhas pastando. Mais acima, os picos cobertos de neve.

Pretendíamos sair de Kashmir diretamente para o Paquistão, através de uma boa estrada, mas não deu porque, com os problemas existentes entre os dois países, a fronteira estava fechada. Voltamos então para Amritsar e atravessamos a fronteira até Lahore. Na fronteira encontramos um americano que havia feito uma viagem pelos EUA, alguns anos atrás, com uma Harley Davidson: tinha gostado da experiência, mas não podia falar o mesmo da moto, que havia tido muitos problemas.

Gostamos mais do Paquistão que da Índia, pois é um país mais moderno e nos parecia mais familiar. Havia uma boa variedade de motos e carros e as pessoas eram mais amigáveis. Os hindus são curiosos, mas não gostam de perguntas ou conversas.

De Lahore seguimos para Rawalpindi, onde passamos a noite num hotel que cobrava seis cruzeiros a diária, por duas pessoas. Os quartos eram bem pequenos, as paredes não iam até o teto. Mas, por este preço era melhor que qualquer Holliday Inn. A cerveja, entretanto, era cara demais, cerca de 14 cruzeiros, porque os paquistaneses são muçulmanos e a religião não permite a bebida no país. No dia seguinte estávamos em Peshawar, tentando conseguir vistos de entrada para o Afeganistão, mas foi muito difícil consegui-los porque o país estava atravessando uma revolução. Conseguimos os vistos depois de dois dias. O calor era muito forte, apesar do tempo úmido. Qualquer movimento mais exagerado e desprendíamos suor em abundância. A primeira cidade que chegamos foi Kabul, depois de passarmos por Khyber Pass, um lugar famoso no país por ser um centro histórico cheio de fortificações inglesas.

Esse era o único caminho possível para se atravessar a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. As outras regiões são de desertos e ninguém se aventura atravessá-los. Nessa passagem, cerca de 20 km, existem muitos bandidos de tocaia e a travessia só pode ser feita durante o dia, pois à noite a passagem é fechada pelo exército, que também não se atreve atravessá-lo. Os monumentos al não são muito impressionantes, mas, logo depois, encontra-se o desfiladeiro de Kabul, onde a estrada sobe em zigue-zague pela montanha, uma visão deslumbrante pois o caminho passa quase por cima de si mesmo, durante cerca de 25 quilômetros mais ou menos.

Kabul é a capital do Afeganistão que, nesta época, estava cheia de militares por causa da revolução e do governo que tinha acabado de ser constituído. Não tivemos problemas com eles e fomos bem recebidos pela população. Em Kabul, comemos nosso primeiro bife de carne de vaca desde que havíamos entrado na Índia, pelo qual pagamos 20 cruzeiros. Durante todo esse tempo havíamos comido só curry (peixe, frango ou carne de ovelha arroz). Tivemos muita vontade de comprar roupas típicas, mas não pudemos porque nosso dinheiro dava só para a gasolina, talvez uns 500 dólares. Passamos três dias em Kabul e saímos rumo a Kandahar, no Sul, onde chegamos em um dia. De Lahore, fronteira da Índia com o Paquistão, até a fronteira da Turquia, as estradas são boas, a maioria pavimentada, e podíamos andar em qualquer velocidade.

Perto de Kandahar passamos o Deserto da Morte onde, devido ao calor intenso e ao clima seco, colocamos casacos, capacetes, óculos e um pano amarrado no rosto para poder atravessá-lo, porque quando se anda a mais do 80 km/h o vento e o calor provocam rachaduras na pele. Parecia-nos ridículos andar com toda aquela roupa num deserto, mas essa é a melhor maneira para enfrentá-lo. De Kandahar pretendíamos chegar a Herat, 500 km adiante. Saímos bem cedo e, às 11 horas da manhã, estávamos numa pequena vila no meio do deserto, Farah, onde paramos, pois seguir viagem depois desse horário é morte certa. É impossível descrever o calor que fazia. De nada adiantava pararmos em oásis no meio do caminho e bebermos dois litros de água porque, depois de meia hora embaixo daquele sol, estávamos sedentos novamente. Paramos num hotel em Farah para almoçar e aproveitamos para beber chá quente, que nos fazia suar muito mas depois nos dava uma boa sensação de frio. No meio dessa vila havia um edifício de quatro andares, um hotel com piscina pagamos quatro cruzeiros e ficamos até as cinco da tarde dentro d'água.

Saímos às cinco, rumo a Herat, pois queríamos chegar no mesmo dia, uma vez que é muito perigoso acampar no meio do caminho, por causa dos bandidos. As nove estávamos em Herat, acampados perto de um motel. No dia seguinte estávamos em Mashad, no Irã. Entre Herat e a fronteira iraniana são 150 km de muito calor, o que nos fez levar três horas para percorrê-lo, pois o pneu da moto de John furou duas vezes. Demorou mais uma hora para atravessar a fronteira e eu comecei a me sentir mal. Paramos num restaurante para bebermos uma Coca-Cola e notamos que o termômetro marcava 35 graus, o que nos fez supor que do lado de fora estivesse além dos 40. Em Mashad, encontramos um grupo de trinta pessoas, viajando em dois caminhões do exército inglês, que tinham vindo do Canadá. Fizemos amizade e nos encontramos mais umas quatro vezes pelo caminho. De Mashad, onde ficamos três dias, seguimos para Teerã, a capital, depois de dois dias de viagem e de muito calor.

Teerã é uma cidade muito interessante e com muito dinheiro, por causa do petróleo e da sua cultura, muito diferente dos demais países pelos quais havíamos passado. Comecei a ter problemas com a corrente de comando de minha moto, com o esticador funcionando muito mal; e, não poderia substituí-lo, pois só na Grécia existem peças para Honda. Viajando rapidamente, pois o dinheiro estava acabando e estávamos quase no fim de agosto, chegamos a Tabriz. Passamos a fronteira com a Turquia e subimos até a cidade de Trabzon, porto no mar Negro, para pegarmos um barco até Istambul, pois fiquei com medo que a corrente de comando não aguentasse atravessar as montanhas da Turquia e a viagem por barco sairia bem mais barata. Colocamos todas as nossas roupas para enfrentar o frio da serra antes de Trabzon, onde chegamos às 10 horas da noite, cansados e molhados. Nessa noite, o fiscal do camping nos convidou para dormir num barracão no meio dos sacos de coco, cereais, talvez com pena da gente por causa do frio que fazia

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A capa da revista Duas Rodas de outubro de 1976

Esperamos o barco por três dias. A viagem demorou mais cinco, pois o barco fazia escalas com uma hora de parada, em vários portos do Mar Negro. Enquanto ele estava parado, descíamos e aproveitávamos para visitar as cidades, sempre muito pitorescas. No quinto dia atravessamos o Estreito de Bósforo, onde, de um lado avistávamos a Ásia e do outro, a Europa. Descemos do barco e acampamos no velho continente por cinco dias, num camping perto de Istambul. Enquanto isso John procurava um pneu novo, e eu tentava conseguir uma peça para a corrente de comando, que nesta altura, estava bem ruim. Mas não consegui.

Saímos de Istambul por uma pequena cidade na costa turca, Izmir, para tomarmos um ferry boat até Atenas. Ficamos lá uma semana acampados, pude desmontar o motor de minha moto, tentando consertar o esticador da corrente. Tive que fabricar a peça, que não existia em Atenas, assim partimos para Viena, sendo que, depois de uns 50 km o esticador quebrou de vez. Com uma corda, John me rebocou até uma pequena vila, na fronteira com a Iugoslávia onde embarquei a moto num trem para Belgrado. John seguiu com a Triumph pela costa do país até Viena, demorando quatro dias para chegar. Em Belgrado, embarquei com a moto para Viena, pois tive muita dificuldade com a língua e, além do mais, estava sem dinheiro. Encontrei John em Viena, também sem dinheiro, e ficamos esperando que o banco de John mandasse mais algum. Em Viena consegui a peça que faltava e consertei o esticador de corrente.

Depois de duas semanas estávamos em Munique e depois Frankfurt, onde passamos mais uma semana em casa de um amigo que havíamos encontrado no barco entre a África e a Índia. Quando não podíamos mais comer e beber, saímos de Frankfurt e em um dia estávamos na Bélgica. Fazia muito frio no final de setembro o tempo andava bem úmido. Ficamos 5 horas numa cidade chamada Ostende, esperando um ferry boat que nos levaria à Inglaterra. Chegamos a Dover às seis horas da manhã embaixo de chuva, porque afinal de contas, aquela era a Inglaterra. De Dover seguimos para Coventry onde moram os pais de John e onde terminou nossa viagem depois de sete meses

A primeira coisa que fiz, antes de ir para o Canadá, foi dar a Honda de presente para um amigo. Um dia, dois anos depois, em minha casa no Canadá, John liga da Inglaterra me convida para uma viagem pela América do Sul. Tínhamos terminado nossos trabalhos e respondi: "tudo bem". No começo de dezembro de 1975, eu e John, com duas Norton 850, novinhas, partimos pela América do Sul afora. No começo de junho de 76 estávamos entrando em São Paulo.

 

Yamaha DT 180 a água? Isso existiu?

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Na moto versão "de rua" não se vê o radiador. (Fotos: Mário Bock)

Sim, conheça a rara Yamaha DT 180 com arrefecimento líquido.

Mais uma do fundo do baú. Durante a arrumação dos meus armários achei a revista Duas Rodas de 1984 que inaugurou minha colaboração como jornalista especializado. Foi a minha primeira participação como colaborador, por isso guardei um exemplar. Mas mais do que isso, levei um susto quando li na capa: “teste completo Yamaha DT 180 refrigerada a água”

Já não lembrava mais que isso existiu. Pra dizer a verdade, acho que ninguém nem sabia disso. Mas existiu sim. Uma empresa de São Paulo produzia kits de arrefecimento líquido para a DT 180. Acho que não fez muito sucesso, não sei, porque o teste não foi muito convincente. E logo depois a Yamaha lançaria a DT 200 com arrefecimento líquido.

A propósito cabe uma reparação história: o termo “refrigerada” a água é um erro grave. Conceitualmente, considera-se refrigerar a condição na qual a temperatura da água (ou ar) fica mais baixa do que a temperatura ambiente. Por exemplo, o ar-condicionado refrigera um ambiente. No caso dos motores, o termo correto é ARREFECIMENTO, porque o objetivo é apenas reduzir a temperatura, mas não abaixo da do meio ambiente. Se estiver fazendo 15ºC seria impossível manter um motor a 14ºC. Também não se usa “água”, mas LÍQUIDO, porque aquilo que vai dentro do radiador é uma solução de água + etileno glicol. Mas eu mantive o texto original da época.

Outra curiosidade: a moto com kit de arrefecimento líquido apresentou um rendimento menor do que a moto original. Mas as medições foram feitas separadamente. A original foi medida pelo Gabriel Marazzi, já a “líquida” foi medida pelo pai dele, o Expedito Marazzi, maior e mais pesado. Em uma moto com motor dois tempos a massa faz muita diferença.

Curta essa raridade e aguarde porque vem mais. O texto é de autoria de Gabriel Marazzi, com copydesk de Roberto Araújo. As fotos são do museólogo Mário Bock.

Yamaha DT 180S refrigerada a água

Recurso já disponível no Exterior até em modelos menores. A refrigeração a água – criada pela Draguem em forma de kit para Yamaha DT 180S e para MX 180 – apresenta pelo menos duas vantagens em relação ao sistema convencional: mantém a temperatura do motor no nível ideal e permite melhor preparação.

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O desempenho não alterou nadica de nada.

À primeira vista parece uma Yamaha DT 180S igual às outras. Só que na parte superior do motor monocilíndrico de dois tempos não existem as aletas de refrigeração, e do lado esquerdo nota-se um radiador estreito e alto. Trata-se realmente de uma Yamaha DT 180S, só que com um kit para refrigeração líquida recurso ainda não disponível em qualquer motocicleta de linha produzida no Brasil.

Esse kit, feito pela empresa paulista Draguem, pode ser usado tanto na DT como na Yamaha MX 180 (só que para a MX o radiador é colocado na parte superior das bengalas, no local onde seria o farol). Conta com o cilindro do motor, o cabeçote de alumínio, radiador para a água, mangueiras, anéis, pinos, travas e braçadeiras. Todo o restante de peças é mantido original, inclusive pistão e biela.

A vantagem que esse sistema oferece em relação ao original aparece principalmente em locais de muita lama, onde o motor deve render o máximo e o barro que se junta no motor dificulta a passagem de ar pelas aletas, prejudicando o resfriamento e provocando uma diminuição de potência. Com o kit, além de não haver aletas que acumulam barro, não é o ar que refrigera diretamente o motor, e sim a água que circula por ele internamente. Nesse caso, a preocupação foi a de colocar o radiador a uma altura em que a lama não o atingisse, como na MX, o que para a DT implica na retirada do farol.

Em situações normais, a refrigeração à água não é tão necessária, e o sistema de refrigeração a ar original de fábrica mostra-se adequado para uso na cidade. No trail a utilização do kit para refrigeração líquida é mais vantajosa, porque permite que um motor de pequena capacidade cúbica tenha um melhor aproveitamento, em altas rotações, sem superaquecimento, e é inclusive uma solução que a própria Yamaha Japão utilizou para a sua DT 125 LC.

Motor

Uma característica do conjunto Draguem é a não utilização de bomba para impulsionar a circulação da água, como ocorre na maioria dos motores refrigerados à água de automóveis e de algumas motocicletas. Para refrigerar o motor de dois tempos e 176cc da DT, a água é impulsionada por um fenômeno físico conhecido por "termo-sifão'" e que se torna bem simples de ser aplicado em motores onde o radiador pode se situar a uma maior altura que o motor, como nas motocicletas.

O funcionamento do sistema se baseia no fato de que a água mais quente tem menor densidade que a mesma água mais fria, isto é, o mesmo volume de água quente tem menor peso que a fria. Assim, em um circuito onde há água em parte quente e em parte fria, a água fria, sendo mais pesada, tende a ocupar a parte mais baixa da canalização, enquanto a água quente ocupa a parte mais alta. Isso faz com que a água passe pelo radiador. E essa água, que se aqueceu ao refrigerar o cilindro do motor, esfria ao passar pelos tubos capilares do radiador. Desse modo, completa-se o sistema, havendo a circulação e assegurando a refrigeração do motor.

Ao preparar o kit Draguem, os construtores fizeram alterações nas janelas de admissão e expulsão dos gases que ficou com novos ângulos, o que deixou a moto em boas condições para receber um trabalho de motor (envenenamento), que pode ser feito pelo comprador.

Duas motos com kit Draguem foram cedidas a Duas Rodas. Em uma foi montado o kit na DT 180 Super, movida a gasolina, e sem nenhuma outra modificação em relação às outras DT, sendo que com ela foram feitas as medições para se ter uma idéia do comportamento em relação às outras Yamaha DT 180. A segunda, preparada exclusivamente para o fora-de-estrada, tinha o álcool como combustível, pneus tipo cross, radiador no lugar do farol, "trabalho'" de motor e escape dimensionado, o que alterou bastante o seu comportamento no fora-de-estrada.

Na moto para uso misto, com radiador de água lateral, a mudança de ângulos das janelas a fez passar dos 16,6 HP a 7.000rpm de potência máxima para 18,2 HP a 7.200 rpm. A taxa de compressão, que na DT original é de 6,5:1, passou no kit Draguem a ser de 7,1:1 (na opção para o álcool, a taxa é de 12,0:1). Todas essas informações são dadas pelos fabricantes.

Só que o modelo testado não era uma motocicleta nova, muito menos o kit de cilindro. A moto apresentava, portanto, alguns desgastes que poderiam modificar alguns dos resultados do teste de desempenho. A começar pelos instrumentos, o velocímetro apresentou um erro bastante acentuado na aferição, por volta de 20%, enquanto na DT 180S testada por Duas Rodas na edição nº 91, o maior erro foi de 11,8%, a 40 km/h. Quando o velocímetro da DT a água marcava 120 km/h, a moto rodava a apenas 96,3 km/h. Mas isso mostra apenas como o uso constante pode alterar o funcionamento de componentes. Os números do teste se referem sempre à velocidade real.

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Pilotando

Ao se ligar o motor, o barulho é o mesmo da DT, uma vez que o escapamento é o original, e as mudanças feitas no motor não são suficientes para haver alguma modificação nesse sentido. Quanto ao desempenho, talvez por algum problema de regulagem, ou acerto da carburação, havia uma falha de funcionamento do motor, que acontecia quando a rotação chegava próximo aos 8.000 rpm, e isso provocou uma perda da velocidade final, assim como a velocidade máxima em cada marcha. Além disso, dessa vez as medições foram realizadas por Expedito Marazzi, 20 quilos mais pesado que Gabriel Marazzi, que realizou as medições da DT 180S na edição nº 91.

Assim, com a DT refrigerada a água, a velocidade máxima foi de 109 km/h na melhor passagem, enquanto na DT original ela foi de 112 km/h, o que permite concluir que com uma melhor regulagem, e o mesmo piloto, a DT refrigerada a água teria uma melhor velocidade final. Por razões semelhantes, a aceleração piorou. A DT original fez de 0 a 100 km/h em 18,12 segundos, enquanto a DT refrigerada a água demorou 22,0 segundos. Já na retomada de velocidade, em algumas faixas, como de 40 a 80 km/h, houve empate em 13,9 segundos.

Usada no fora-de-estrada (teste realizado por Patrick Kiehlmann), a DT equipada com radiador a água sobre o pára-lama dianteiro, pneu tipo cross, e motor movido a álcool mostrou um comportamento muito mais agressivo do que a outra, equipada apenas com refrigeração líquida o que mostra as possibilidades de preparação da motocicleta equipada com refrigeração líquida. Isso mostra também que, colocado lateralmente, o radiador de água não evita o barro, que pode se acumular nele, como aconteceria com as aletas do motor original, além do que fica sujeito a quebra em tombos, ou ao ser atingido por galhos, no trail.

Mercado

Como está se tornando cada vez mais comum, quando as fábricas não sofisticam suas motos com equipamentos que existem nos modelos correspondentes no Exterior, os fabricantes de acessórios se encarregam de fazê-lo. E foi isso o que aconteceu com o kit Draguem para refrigeração a água. E essa empresa não está sozinha disputando essa fatia, já que outros grupos trabalham em projetos semeIhantes, inclusive trocando o sistema de termo-sifão pela bomba d'água. Esse mercado complementar parece, portanto, bastante promissor.

A proposta de comercialização da Draguem não é vender a moto completa, mas apenas o kit, por Cr$ 280.000,00 (preço de março – P.S pode considerar R$ 2.500 na moeda atual). A instalação pode ser feita por mecânicos ou pelo próprio comprador, desde que entenda um pouco de mecânica, com base em um folheto explicativo que acompanha o kit. A produção inicial ainda é pequena100 unidades por mês, mas segundo a empresa deverá crescer em breve.

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Na versão cross o radiador fica na frente, no lugar do farol, solução boa, mas feia que dói.

O kit pode ser para motores a gasolina ou a álcool. A taxa de compressão vai variar de acordo com o combustível usado. A escolha do radiador lateral ou frontal deve ser de acordo com o uso: quem pretende principalmente viajar ou andar em cidades, opta pelo radiador lateral, podendo manter o farol principal da moto; quem deseja usar a moto exclusivamente no fora-de-estrada deve escolher o frontal. Quanto à preparação (envenenamento) do motor, esse é um trabalho que fica a critério de cada comprador.

De forma geral, essa opção oferecida pela Draguem atende em parte ao interesse dos motociclistas brasileiros em ter em suas motos soluções técnicas equivalentes às existentes no Exterior, Como a refrigeração líquida. Tecnicamente, este tipo de refrigeração seria restrito a uma utilização muito severa e constante no fora-de-estrada ou em motos muito preparadas. Mas pode atender também ao público que quer apenas "passear'" com uma moto diferente.

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O kit era oferecido para montar em casa.

“Necessário não é. Mas pelo preço...”

Um motor sem aletas não e o que a gente está acostumado a ver pelas ruas brasileiras. Também o radiador é algo visto normalmente só em motos de competição ou de grande cilindrada. Inevitavelmente isso chama a atenção numa Yamaha DT 180S, e quase todos os motociclistas gostam de chamar a atenção. Além disso, tenho dúvidas sobre a real necessidade de se colocar um kit desse na DT 180, a não ser que o motociclista viaje muito frequentemente em alta velocidade ou use a moto num trail ou enduro muito puxado. Existe, porém, uma outra maneira de ver a situação: se levarmos em conta o preço de uma moto nova e o quanto os motociclistas gastam em acessórios, ele não chega a ser caro. Acho que eu colocaria um deles em minha moto.

Carlos Eduardo Guida

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A capa da revista Duas Rodas de 1984.

"O importante é que dá preparação"

Não é muito fácil sentir a diferença entre uma Yamaha DT 180S original e uma equipada com a refrige ração liquida. Ela existe, mas para ser sentida é preciso forçar o motor, exigir muito, usar a motocicleta onde uma DT original ficaria superaquecida, perdendo rendimento. E isso pode acontecer após, digamos, horas forçando a moto. Com a moto vermelha, toda preparada para o fora-de-estrada, a álcool, pneus cross, pude me "divertir" um pouco mais. Já com a preta, que era original e com o radiador colocado lateralmente, fiquei preocupado em cair ou que algum galho acertasse o radiador, danificando-o. O principal, na minha opinião, é que um motor pequeno como O da DT, tendo refrigeração líquida, possa ser muito melhor prepara do para render mais. Essa preparação é necessária para se vencer certos obstáculos só transponíveis com motos maiores. E uma solução, aliás, adotada internacionalmente. Não cheguei a fazer um teste de longa duração, mas acho que a refrigeração líquida permite ao motor trabalhar com temperatura mais uniforme e isso prolonga a vida do pistão e dos anéis, diminuindo a manutenção.

Patrick Kiehlmann

 

Curso Abtrans de pilotagem de motos e scooters

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Venha aprender a pilotar motos e scooters com os maiores especialistas de São Paulo

Comprou a moto e não se sente seguro para pilotar? Quer tirar habilitação de moto, mas antes aprender a pilotar para chegar na moto-escola mais bem preparado? Comprou um scooter mas não está confiante para pilotar? 
Para tudo isso nós temos a solução: ABTRANS - Academia Brasileira de Trânsito - com sede em São Paulo, zona norte - tem instrutores especializados em iniciantes. As aulas são sempre aos sábados, das 8:00 às 13:00 horas, nos pisos G3 e G4 do estacionamento do Shopping D, zona norte.

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Não importa o tamanho nem a potência de sua moto, qualquer categoria ou cilindrada pode fazer o curso, mesmo para quem já teve moto no passado e hoje quer voltar a pilotar na cidade ou na estrada. 

E nem precisa ser habilitado, mas atenção: não somos moto-escola! Para tirar habilitação é necessário procurar uma moto-escola e fazer as aulas normalmente. Nós damos toda atenção para quem ainda vai se habilitar, simulando as situações do exame do Detran. Não precisa ser habilitado.

Para facilitar ainda mais a sua vida, dispomos de todo material necessário: capacete, jaqueta, luvas, além, claro, das motos e scooters de 110 a 250cc.

Os cursos são divididos em dois módulos. O aluno deve escolher qual participar. 

Nível INICIANTE (cinco horas). Para quem não tem NENHUMA experiência com pilotagem de moto. Mesmo que aprovado no exame de habilitação, mas nunca pilotou moto na rua nem engatou a segunda marcha. Este módulo começa testando o equilíbrio na bicicleta!

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Neste módulo as aulas teóricas e práticas apresentam o seguinte conteúdo:

- Conhecimento da moto: controle do peso, a dinâmica, manobra desligada.

- Controle dos principais comandos: manetes, manoplas, pedais.

- Postura, posição das mãos, pés, braços e pernas. Atenção aos vícios posturais.

- Colocando a moto em movimento: saída em primeira marcha, parada e saída. Engatar segunda marcha.

- Controle em baixa velocidade.

- Slalom em segunda marcha.

- Frenagem programada.

- Armadilhas urbanas

- Pontos cegos

- Cruzamentos

- Equipamentos de segurança

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Nível INTERMEDIÁRIO (mesma carga horária de cinco horas e no mesmo dia do Iniciante). Para quem já teve moto ou pilotou moto na rua, engatou todas as marchas.

Neste programa serão ministradas aulas teóricas e práticas com os seguintes temas:

- Postura

- Frenagem programada

- Frenagem de emergência

- Curvas

- Desvio de obstáculo (contra-esterço)

- Focalização

- Armadilhas urbanas

- Importância e uso correto dos equipamento

- Pilotagem com garupa

- Pilotagem na chuva

E muito mais.

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Os valores individuais para cada módulo são: R$ 380,00 (com a moto do aluno) ou R$ 510,00 com a nossa moto (combustível incluso).

Forma de pagamento: Matrícula (R$ 120) por depósito bancário ou Pix (dados na ficha de inscrição). O restante à vista pelo Pix.

Para garantir a vaga é necessário fazer a matrícula a quinta-feira anterior ao curso. Este valor é para UM MÓDULO de curso, com cinco horas de duração. Caso o aluno precisar ou quiser fazer um segundo dia de aula os valores são combinados individualmente.

Para fazer a inscrição basta enviar um email para cursoabtrans@gmail.com solicitando a ficha de inscrição. É obrigatório o uso de equipamento básico: capacete, luvas e jaqueta. Na falta de algum item avisar com antecedência. Nós fornecemos o equipamento necessário SEM CUSTO ADICIONAL.

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PERGUNTAS MAIS FREQUENTES
Este valor é para uma hora de aula?
Não, o valor corresponde e um módulo de cinco horas. Não pode fracionar, o período mínimo de aula é de 5 horas.
E se precisar fazer mais aulas?
Pode fazer mais aulas, mas sempre o mínimo de cinco horas por dia
Posso fazer os níveis iniciante e intermediário no mesmo dia?
Não, cada nível é feito em datas diferentes
Tem este curso em outras cidades(bairros)?
Não, o curso ABTRANS é realizado exclusivamente no Shopping D, zona norte. Não conhecemos nenhum curso de pilotagem que forneça as motos e todo equipamento em outras cidades/bairros de São Paulo
Tem em outros dias de semana?
Não, exclusivamente aos sábados
Aceita cartão, pode parcelar?
Não trabalhamos com cartão de crédito/débito, mas pode usar o Pix parcelado, consulte seu banco.
Precisa ter motos e equipamentos?
Nós fornecemos as motos, scooters e todo equipamento necessário.
Precisa ser habilitado?
Não, o curso é aberto também para quem não tem CNH
Pode fazer com menos de 18 anos?
Não, só maiores de 18 anos.
Como faço para me inscrever?
Basta enviar um email para cursoabtrans@gmail.com
Se chover o curso é adiado ou cancelado?
Não. Como toda atividade a céu aberto estamos sujeitos ao humor do clima. Mas é muito mais seguro aprender a pilotar no molhado com ajuda de um instrutor do que sozinho no meio do trânsito

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ABTRANS

Tel/whats (11) 9 9458-7351 

­cursoabtrans@gmail.com


Rita Lee e eu!

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Rita: Deusa, rainha, musa, diva, sexy, nada serve para descrever o quanto eu a admirava

Como eu transformei um limão em caipirinha

Dia desses lembrei de um dos (muitos) episódios desastrosos na minha vida de fotógrafo. Eu fazia qualquer tipo de foto por qualquer tipo de pagamento. Um dos primeiros jornais formato tablóide, o Shopping News, me contratava para fotografar shows, espetáculos de dança, teatro, etc em troca de uma graninha tosca, mas eu podia entrar sem pagar, conviver com os artistas e ainda ficava no gargarejo vendo tudo de perto.

Assim aprendi a controlar a luz da máquina para se adequar à iluminação do palco, fui ficando bão e pegando mais serviços. Até acontecer o desastre.

Naquela época (começo dos anos 80) eu comprava filmes em rolos grandes e rebobinava nas bobinas pequenas de filmes 35mm (achei um esses dias). Isso economizava muito na compra de filmes. Mas – tem sempre um mas –, era preciso muita atenção – o que não combina com pessoas com TDAH –, porque as bobinas eram reaproveitadas de qualquer tipo de filme. Então podia ser uma bobina de filme colorido, mas a película dentro era P&B e vice-versa. Pra não dar treta eu colava uma etiqueta em cima com a especificação correta do filme que tinha dentro. É como empacotar tênis em caixas de sapatos finos.

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Este é um filme rebobinado: o conteúdo não é o mesmo do rótulo.

Eu estava escalado para fotografar um show da Rita Lee no Ibirapuera, que seria apenas uma noite.  Nunca fui muito de idolatrar, mas a Rita Lee foi uma exceção, porque além de linda, era engraçada, sexy, cantava muito e as letras diziam o que minha geração precisava ouvir. Ir no show dela, entrar no backstage e ainda fotografar, era um prêmio de loteria. A foto poderia ser capa do jornal, por isso preparei filmes Ektachrome (slide) e P&B. No meio da preparação aconteceu alguma coisa que me distraiu – qualquer coisa me distrai – e esqueci de colar uma etiqueta no filme cromo colorido.

Fui pro show,  controlei minha tietagem, cheguei perto dela, fiz as fotos (maravilhosas), voltei pro laboratório para revelar os filmes e joguei o filme Ektacrhome no tanque de revelação de filme colorido positivo (C-41). Terminado o processo fui olhar o resultado e... enfartei! Tinha acabado de destruir um trabalho que tinha tudo para ser capa de jornal.

Bateu aquele desespero, dor de barriga, vontade de pegar um avião pro Katmandu, morrer, qualquer coisa para não ter de ligar pro editor e explicar que não tinha foto!

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Isto é um reboninador, de onde saem os filmes rebobinados.

Mas nessa época eu era um ótimo enrolador. Lembrei de um livro de fotografia que ensinava alguns truques de efeitos especiais na época pré-Photoshop. Um deles era revelar filme cromo no processo C-41 que resultava em um efeito craquelê, como se fosse um quebra-cabeça de mil peças.

Liguei pro editor e mandei o 171:

– Cara, eu dei um efeito especial nas fotos que vc vai pirar, parece uma porcelana craquelê, estou indo te mostrar!

Cheguei tremendo na redação, mostrei as fotos pro editor que olhou, olhou várias vezes, chamou o diretor de arte, mostrou pra ele, os dois olharam pra mim (que estava pronto pra fugir) e falaram:

– Du caralho! Mas cadê as fotos normais?

Expliquei, (sempre de olho na saída de emergência), que só tinha preto&branco e essas com efeito especial.

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Este é um efeito craquelê! 

Resultado: a foto craquelada foi pra capa, salvei minha pele e ainda fotografei por muitos anos. Até acontecer o acidente com o estilete que encerrou minha carreira de fotógrafo, mas eu conto depois!

*PS - as fotos do show eu perdi numa das várias mudanças de endereço na minha vida.

 

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Descanse em Paz, Rainha!

Muito além do portão

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Qualificar é a melhor forma de garantir a saúde dos funcionários motociclistas.

O impacto dos acidentes de trajeto

Pode conferir. No estacionamento das grandes empresas tem um mar de moto! Sim, porque hoje é inegável o papel da motocicleta na mobilidade urbana. Menor preço de aquisição, baixo consumo, facilidade de deslocamento e de estacionamento são algumas das características que levam à escolha da moto. Por isso algumas empresas chegam a apontar que até 60% do seu quadro de funcionários se deslocam em motos.

Agora imagine uma indústria com a linha de montagem e o diretor industrial é informado que um dos colaboradores não chegou! A linha pronta para entrar em operação e falta um integrante importante. Até conseguirem um substituto esta operação permanecerá parada, causando atraso e prejuízo.

E por que o colaborador não chegou? Porque sofreu um acidente de moto no caminho para a empresa.

Não tem ficção nesta história. Esta é a realidade dos profissionais que trabalham com segurança e saúde no trabalho em todo Brasil. Dependendo da região, calcula-se que de 25% a até 80% do efetivo de mão de obra se deslocam em motos e bicicletas. Uma preocupação para técnicos e engenheiros de segurança.

Todo cuidado com a segurança no ambiente de trabalho pode ser jogado fora quando o colaborador passa do portão pra fora. Um dado coletado por uma das empresas pesquisadas mostrou que o número de usuários de motos e bicicletas era de 25% do total de funcionários motorizados, mas eles respondiam por 78% dos afastamentos de trabalho por acidente de percurso.

Ainda analisando as estatísticas, um estudo denominado Boletim Epidemiológico, do Ministério da Saúde, de 2021, apresentou os seguintes resultados. O perfil das vítimas de motociclistas em lesões no trânsito é predominantemente do sexo masculino (88,1%), adultos jovens com idade entre 20 e 29 anos (30,8%), de escolaridade com 8 a 11 anos de estudo (39,6%) e solteiro (57,3%).

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Os cursos podem ser realizados na sede da Abtrans ou na própria empresa.

O início

Se ampliarmos os dados de internações por acidente de moto em todo o Brasil os números são alarmantes: em 2020, das mais de 190.000 internações no Sistema Único de Saúde, por lesões de trânsito, 61,6% eram motociclistas.  O custo destas internações passou de R$ 280 milhões para o SUS.

Mas qual a origem de tanto acidente com motociclistas?

O primeiro dedo deve ser apontado para o Denatran – Departamento Nacional de Trânsito – órgão federal, responsável pela regulamentação, supervisão e educação do trânsito. Desde os anos 1960 o sistema de habilitação de motociclistas é o mesmo: resume-se a um adestramento para executar algumas manobras em baixa velocidade, primeira marcha, sem uso do freio, em local isolado do trânsito. Depois de aprovado nesse adestramento o candidato recebe uma carteira de habilitação categoria A que permite conduzir qualquer tipo de motocicleta em qualquer via pública. Nem precisa ser especialista para perceber que isso não funciona.

Diariamente a ABTRANS, empresa especializada em segurança de motociclistas e ciclistas, recebe mensagens de pessoas que foram aprovadas em exame de habilitação, mas não se sentem à vontade para pilotar nas ruas e estradas. O que é absolutamente normal. Estranho seria se fosse o contrário: sair dessa “escola” preparados para enfrentar uma estrada ou a via Marginal Tietê, em São Paulo, SP.

Quando o recém habilitado tem esse nível de consciência ainda pode procurar cursos como a ATRANS – Academia Brasileira de Trânsito – criada em 2016, voltada para a educação e treinamento de motociclistas e ciclistas. Mas nem todo mundo tem essa visão. Tentam aprender na prática e o resultado pode ser – literalmente – desastroso.

É quando o mundo corporativo entra em cena. Não tem como evitar que um colaborador se desloque em motos ou bicicletas. Não se trata apenas de uma paixão, ou gosto pelos veículos de duas rodas, mas uma necessidade. Mesmo que a empresa ofereça transporte privado, como os ônibus fretados, para muitas pessoas a moto representa a chance de levar o filho para escola, a esposa para o trabalho, dormir uma hora a mais, ou até mesmo usar este tempo para estudar. Além de ser mais barato do que o custo do fretado.

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Tite Simões, jornalista, instrutor e especialista em segurança de motociclista.

Outra solução seria simplesmente deixar de contratar funcionários que tenham habilitação categoria A (motociclista). Mas isto fere os estatutos do Ministério do Trabalho e pode acarretar em multa para a empresa contratante.

A verdadeira e efetiva solução para redução dos acidentes de percurso com motociclistas e ciclistas é a qualificação! Por meio de palestras, exibições técnicas e mesmo cursos práticos a empresa terá a oportunidade de oferecer aos seus colaboradores aquilo que o departamento de trânsito não foi capaz de fazer: ensinar de forma adequada. Não existe outra forma. E mais: tem de ser presencial.

Algumas empresas usam o método online para vários tipos de cursos, mas quando envolve segurança de trabalho e execução de manobras não tem como fazer online porque os instrutores precisam acompanhar os exercícios in loco. Da mesma forma que não se aprende atividades como mergulho, salto de paraquedas ou escalada alpina por meio online, não tem como ensinar pilotagem de moto por meio de uma tela.

Não se pode comparar com o treinamento de motorista, porque no caso de um carro, picape ou van, o erro no aprendizado acarreta um arranhão na lataria ou no para-choque. Já na moto o erro leva a um leito hospitalar. Também tem a questão da familiaridade. A maioria das pessoas tem intimidade com carros desde pequenos, enquanto a moto foi um veículo introduzido muitas vezes apenas na vida adulta.

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Empresas públicas, como o SAMU, também podem se beneficiar do treinamento especializado.

As ferramentas

Dentro do cardápio oferecido pela ABTRANS para o mercado corporativo destacam-se:

Organização de SIPAT– Na tentativa de criar impacto em seus colaboradores, algumas empresas exageram em campanhas que geram mais desconforto do que resultado. Um bom exemplo foi de uma empresa que montou em pontos estratégicos manequins ensanguentados em cima de motos destruídas. “Isto não traz resultado e ainda gera um tremendo mal estar com quem passou por este trauma”, explica Ronaldo Guimarães, sócio da ABTRANS e especialista em equipamentos de proteção. Ele complementa “se esta imagem desse resultado não existiria fumantes no Brasil, porque em cada maço de cigarro tem uma imagem impactante”.

Para isso a ABTRANS orienta, cria e desenvolve campanhas específicas para motociclistas e ciclistas, voltadas para as semanas de prevenção de acidentes de trânsito, com uma linguagem direta, sem traumas.

Palestras educativas– Nem sempre é possível realizar cursos práticos, então um recurso largamente utilizado é a palestra. Porém estudos cognitivos demonstram que a aderência em palestras é muito baixa, raramente passando de 25% de retenção das informações. Por isso a ABTRANS desenvolveu uma nova modalidade que inclui demonstrações.

Palestras demonstrativas– Neste caso, após a palestra, o instrutor convida o público para um espaço aberto e realiza alguns exercícios com a moto. Nesta modalidade a retenção mais do que dobra, porque a informação visual, presencial, reforça tudo que foi explanado na prática. São realizados exercícios de frenagem, desvio, postura, foco etc.

Curso prático– Esta sim a melhor receita para redução e até eliminação dos acidentes de percurso. Sem uma formação adequada, motociclistas e ciclistas desenvolvem vícios difíceis de eliminar. Para piorar muitos influencers postam dicas de pilotagem completamente equivocadas. O curso tem uma capacidade de retenção de 95 a 100% e corrige vários preconceitos ligados à moto e bicicleta. Para a realização do curso é preciso uma área asfaltada (ou cimento) de cerca de 2.000 m2, isolada de veículos. No curso são ministradas técnicas de frenagem de emergência, desvio (contra-esterço), curvas, pilotagem com garupa, postura, manutenção preventiva (com check-list das motos) e muito mais.

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Os treinamentos simulam as situações reais do dia a dia do motociclista.

Consultoria

A ABTRANS pode ainda elaborar um plano de consultoria que vai além dos cursos. Neste plano criam-se estratégias para o incentivo do uso de equipamentos de segurança, a importância da manutenção preventiva e até comunicados via redes internas ou mídias sociais. O objetivo é manter o foco na prevenção de acidentes, inclusive nos fins de semana, quando entra em cena um componente altamente perigoso que é a ingestão de álcool e drogas.

Para sensibilizar, os especialistas da ABTRANS realizam uma vivência com óculos de simulação de embriaguez. Com estes óculos tem-se a visão de uma pessoa que ingeriu bebida alcoólica.

“Nossa meta é zerar os acidentes de percurso com motos e bicicletas, por meio de uma conscientização dos riscos, pelo amor à vida e à família, o respeito à empresa e implantar uma filosofia de segurança que se estenda por todas as atividades”, conclui Geraldo Tite Simões, responsável didático pelos cursos da ABTRANS.

Para entrar em contato: cursoabtrans@gmail.com ou pelo WhatsApp 11 9 9458-7351

  

  

Bike Fest Tiradentes, a festa das mots

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Neste ano as motos big trail dominaram as ruas (Foto: Tite)

 

A 31a edição do Bike Fest de Tiradentes foi um grandioso sucesso

Quando morreu, acusado de conspiração, Joaquim José da Silva Xavier, se tornou o imortal Tiradentes. E deu o nome para a pacata cidade mineira de cerca de 11.000 habitantes, mas que durante cinco noites se transforma no maior encontro de motociclistas do Brasil.

Foi a 31a edição do Bike Fest Tiradentes, evento que começou como um encontro de amigos em 1992 e hoje reuniu mais de 36.000 pessoas nos cinco dias de evento, de 21 a 25 de junho. O segredo deste sucesso todo se deve a um misto de localização privilegiada, com uma organização pensada em agradar todas as tribos.

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Foram 36.000 pessoas em cinco dias de evento. (Foto: Lilian Cardoso)

A localização é estratégica, ficando entre três das maiores capitais do Brasil: a 480 km de São Paulo, 330 km do Rio de Janeiro e 200 km de Belo Horizonte. Mas a cidade recebe motociclista de 23 Estados do Brasil. São 20.000 motos passando pela região!

Minha primeira vez no Bike Fest foi em 2006, justamente o ano da virada, quando deixou de ser uma reunião entre amigos e se tornou um evento com expositores, bandas de música – notadamente rock – e uma feirinha de artesanato. Nesta ocasião gravei uma parte do documentário Alma Selvagem, já esgotado!

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O moderno e o antigo se encontram em Tiradentes. (Foto: Tite)

O que mais chamou atenção foi uma mudança no público e na “cara” do evento. O que antes era praticamente um desfile de Harley-Davidson, com as mais diferentes e inusitadas customizações, hoje os modelos que mais se veem nas ruas calçadas com pedras do século 18 são big trail. BMW GS, Triumph Tiger e Honda Africa Twin são as que mais aparecem na estatística.

Esta mudança de perfil se deve não só à natural mudança de proposta do evento, mas também teve ajuda do tipo do tipo de pavimento das ruas da cidade histórica. Feitas com granito e arenito, colocadas por escravos, a pilotagem se torna difícil e arriscada, por isso as motos passam mais tempo paradas do que circulando! Mesmo assim o desfile de motos agrada tanto quem curte motos, quanto os moradores locais, que agradecem aos visitantes pelos cerca de 58 milhões de Reais deixados no comércio da cidade.

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Ah, a comida mineira no fogão a lenha. (Foto: Tite)

Conhecida pela gastronomia (Tiradentes recebe o Festival de Cultura & Gastronomia no final de agosto), os restaurantes e hotéis comemoraram a “casa cheia”. A ocupação da grande rede hoteleira de Tiradentes e região chegou a 100%.

Um dos destaques do evento é o mini salão de moto organizado em um amplo espaço logo na entrada do centro histórico. Neste ano estiveram presentes BMW, Ducati, Honda, Royal Enfield, Kawasaki, Harley-Davidson, KTM e Triumph. Foram comercializadas 118 motos nos cinco dias de evento.

Neste mesmo salão se apresentaram bandas de música, mas não só rock, mas também jazz e blues da melhor qualidade. Mais um sinal que o público mudou mesmo.

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A famosa casa torta de Bicnhinho. (Foto: Lilian Cardoso)

Como tradicionalmente o evento coincide com o Festival Interlagos, algumas pessoas apostam na divisão de interesse. Mas neste ano tive a chance de estar nos dois eventos e posso afirmar que são públicos diferentes. O visitante do Festival Interlagos (antes Duas Rodas) é interessado em moto, o veículo, as novidades do setor. O visitante do Bike Fest é interessado naquilo que a moto oferece, como a sensação de pertencimento a uma tribo. A moto está presente em ambos, mas a abordagem é diferente. Aliás, a julgar pela quantidade de pessoas espremidas no salão de exposição, sinto informar aos céticos que os dias de Salão só estão contados em São Paulo, porque nas demais cidades o público comparece sim e agradece.

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Pilotar sobre pedras é um dos desafios do encontro. (Foto: Tite)

A companheira de viagem

Para a cobertura desse evento, viajei com uma Triumph Tiger 900 GT Pro gentilmente cedida pela Triumph. Trata-se de uma big trail, mas com aro dianteiro de 19 polegadas e pneus de caráter mais esportivo.

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Ótima companhia de viagem, a Tiger 900 GT Pro tem conforto de sobra para duas pessoas. (Foto: Lilian Cardoso)

Minha última referência de Tiger ainda era a do motor 800, por isso a primeira coisa que me chamou muita atenção foi a eletrônica embarcada. Pode-se fazer absolutamente tudo pelo painel: modo de pilotagem, regulagem de altura, calibragem das suspensões, atuação do freio ABS e mais um monte de coisa. O piloto pode escolher qual melhor tela do painel, além de exibir várias informações que vão desde distância percorrida, média de consumo, velocidade média etc.

Confesso que deixei no modo “estrada” e fui à luta, porque tenho pouca paciência com manuais... Mas adorei saber que tinha aquecedor de manopla e de banco porque a previsão (confirmada) era de frio!

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O orgulho de ser mineiro nas paredes clássicas do século XVIII. (Foto: Tite)

Logo ao me posicionar percebi que as pedaleiras do piloto ficaram bem menos recuadas como nas 800cc. Agora as pernas não ficam mais tão dobradas, reduzindo o efeito “garrote” da circulação, o que provoca câimbras.

Viajei acompanhado de uma amiga na garupa. E em função de dois acidentes na rodovia Fernão Dias, a viagem demorou mais de oito horas, para uma distância de 560 km. Mas quer saber? Nem percebemos porque esta Tiger é tão confortável que se tivesse mais 200 km não faria a menor diferença.

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Consumo médio de 19 km/litro para um motor de três cilindros e 95 CV. (Foto: Tite)

Uma dica para quem for a Tiradentes é conhecer o vilarejo vizinho chamado Bichinho, terra de artesãos de primeira qualidade. Só pra ficar no mais tradicional, a Oficina de Agosto, é um grande fornecedor para as lojas de SP, Rio e BH. Só que a estrada de apenas 5 km de Tiradentes a Bichinho é de pedra! Sim aquelas centenárias e desalinhadas.

Neste trecho pude comprovar a eficiência das suspensões. Elas absorvem as irregularidades como se nem percebesse. Mesmo com duas pessoas, a Tiger supera os desafios do off-road com galhardia. O aro dianteiro de 19” e os pneus de uso mais “on” não prejudicam a eficiência no fora-de-estrada. Claro que se a ideia for pegar mais terra do que asfalto, existe a versão Tiger 900 Rally Pro, com aro dianteiro de 21” e rodas raiadas (com pneus sem câmara). Mas sempre defendi a teoria de que no fora de estrada o piloto conta muito mais do que a moto!

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Valeu, seu Joaquim, obrigado pela coragem. (Foto: Tite)

Outra boa surpresa foi o baixo consumo. Rodando sem a menor preocupação com o consumo, esta Tiger fez média geral de 18,9 km/litro, o que é ótimo para um motor de três cilindros e 95 CV. Na estrada a retomada de velocidade impressiona e ajudou muito nas ultrapassagens. E outro destaque é o câmbio com quick-shift que dispensa o uso da embreagem nas trocas de marcha, tanto na redução, quanto na passagem das marchas.

Muita gente associa o quick-shift às competições, mas a vantagem deste sistema é manter as mãos totalmente firmes nas manoplas quando o motor passa de 9.000 RPM. Falando nisso é um motor que gira baixo, com a potência máxima a 8.750 RPM e a 120 km/h em sexta marcha o conta-giros indica pouco mais de 4.000 RPM.

Só pra esclarecer sobre o quick-shift. Muita gente acredita que ele serve para reduzir o tempo da troca de marcha, mas isso só vale nas motos de competição. Nas big trail o objetivo é manter os cinco dedos na manopla quando o torque entra em ação. Pra acionar a embreagem é preciso aliviar a mão esquerda da manopla e num terreno acidentado a mão pode escapar. Com este sistema basta acionar a alavanca pra cima ou pra baixo que a troca é feita.

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Uma moto para viajar pelo mundo sem descanso. Na cor vermelha. (Divulgação) 

Realmente não sei porque alguma pessoas compram motos acima de 900cc. Este motor da Tiger, com o maravilhoso ronco dos três cilindros em linha, atende todas as necessidades, faz a moto chegar a 200 km/h e ainda se mostra mais econômico do que os gigantescos 1.200cc. Ah e eu rodei também na cidade. Dando calor em muito motoboy! Falando em calor, a grande reclamação é o calor do motor quando em baixa velocidade. Mas isso é suportável.

Em suma, a Triumph Tiger GT Pro é aquele tipo de moto que atende tanto o uso urbano, quanto estradeiro. Fazia mais de cinco anos que eu não pegava estrada de moto e não senti o menor cansaço. Viajei com um grupo de cinco motos num ritmo muito tranquilo e quando voltamos já comecei a planejar a próxima!

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Já pensando na próxima viagem! (Foto:Tite)

Segurança é filosofia

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Pensar, agir e viver de forma segura é questão de hábito

Nos últimos meses o Brasil foi surpreendido por dois acidentes de trabalho e um de trânsito que se tornaram evidentes. A explosão de um cilo de grãos em Palotina, PR, em junho; a explosão da caldeira em uma metalúrgica de Cabreúva, em SP, em setembro e o atropelamento do ator Kayke Britto no Rio de Janeiro, também em setembro. O que estas três ocorrências têm em comum? O conceito de segurança.

Esqueça os acidentes. Pense em filosofia de vida. Encontrar uma filosofia de vida é tão desafiador quanto desvendar o conceito de filosofia. Pode-se gastar milhões de caracteres e palavras sem se chegar a um consenso. Mas resumidamente a ideia de filosofia de qualquer coisa é quando a personalidade do indivíduo é regida por esse conceito. Assim, tem-se a filosofia religiosa, de trabalho, de arte, de esportes e uma pouco praticada por pessoas e empresas que é a filosofia de SEGURANÇA.

Desenvolver o conceito da filosofia de segurança é tão natural como hábitos de higiene. Ninguém precisa dizer para um adulto escovar os dentes, porque esse hábito já está incorporado no comportamento do indivíduo. Com a segurança o desafio é fazer este conceito se tornar um hábito a ponto de não exigir uma regulamentação, nem fiscalização.

Apesar de estar envolvido com várias atividades de risco, sempre levei o conceito da segurança junto comigo. Alguns amigos chegam mesmo a suspeitar de alguma psicose, mas é apenas filosofia de vida. Só para ilustrar, sou do tipo que ao entrar em uma embarcação, por mais prosaica que seja, já procuro pelo salva-vidas. Não tem? Não embarco. Quase morri afogado passeando de caiaque 40 anos atrás.

Outro exemplo: se eu entro em uma cozinha, seja de quem for, e perceber o cabo da panela pra fora do fogão, sem qualquer constrangimento vou lá e empurro o cabo pra parte interna. Se eu não enxergo o fundo do rio, da represa ou mesmo do mar, não me jogo de cabeça. Faz parte da minha personalidade.

Então imagine meu nível de desespero quando vejo pessoas se expondo a risco nas mais diferentes atividades. Mesmo dentro de casa, em atos aparentemente inocentes como subir no vaso sanitário para trocar uma lâmpada. Pouca gente sabe, mas o maior índice de atendimento do SAMU de São Paulo é de acidentes domésticos. A mesma pessoa que sobe no vaso sanitário troca a resistência do chuveiro sem desligar a chave geral!

Trabalhei 18 meses em um hospital. Foi tempo suficiente para entender que o ser humano é potencialmente falível.

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Motociclistas de aplicativos se sujeitam a riscos em nome de uma remuneração.

Segurança é hábito

O ser humano é um sobrevivente por natureza. Nós só chegamos aqui porque desenvolvemos potencialidades que garantiram a sobrevivência da galera toda. Imagine se nas primeiras pandemias não tivéssemos pessoas estudiosas que encontraram alguma forma de cura? Só de pensar que passamos por uma recente pandemia que praticamente parou o planeta, sem o mesmo grau de letalidade da peste negra ou gripe espanhola dá para entender que a humanidade aprendeu rápido a sobreviver.

E a regra número um da sobrevivência é: não morra! Parece muito óbvio, mas nossa geração passou também pela ameaça da AIDS e quantas vezes ouvi pessoas maduras se recusando usar preservativo. É uma afronta à segurança!

Entrando no nosso mundo das motos, sou de uma geração que não usava capacete. Já existia, eu mesmo tinha dois modelos F1, mas parecia literalmente um marciano, porque era o único que usava aquele penico na cabeça. Naqueles anos 1970 usar capacete era falta de macheza. Um dos caras que mais me zoava por causa do capacete era um ídolo da geração: Carlos “Jacaré” Pavan. Excelente piloto de motovelocidade, que morreu em um acidente ao disputar um racha na rua – sem capacete, porque não convinha à uma pessoa corajosa como ele usar algum equipamento de segurança.

Perdi muitos amigos em acidentes de moto, todos por falta do capacete. E hoje ainda tem gente que se recusa a usar o equipamento.

Já perdi a conta de quantas vezes o capacete me salvou a vida. E não foi só na moto! Já me acidentei também de bicicleta, skate e até escalando a Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí, SP. Se estou vivo até hoje devo muito ao hábito de usar capacete em tudo que posso bater a cabeça. Aliás, tenho raiva de mim mesmo quando bato a cabeça em qualquer coisa.

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Esta foto é "de mentira": eu estou a um metro do chão, mas não parece! O capacete é de verdade!

Para que o uso do capacete se tornasse um hábito na minha vida tive a influência da minha irmã. Quando ganhei minha primeira moto, aos 12 anos, ela dizia que se me pegasse sem capacete faria meu pai vender a moto. Depois de algum tempo eu já não conseguia mais pilotar sem capacete. Vaidoso, não queria ficar com a pele oleosa...

A transformação do conceito de segurança em hábito começa sempre pela obrigatoriedade – do Estado ou da irmã mais velha – para depois se tornar um hábito. Hoje não consigo dar uma volta no quarteirão sem capacete e luvas. Sim, o uso da luva virou quase uma obsessão porque como jornalista eu dependo das mãos para viver. A menos que comece a trabalhar em rádio!

Quando a segurança se transforma em hábito a fiscalização deixa de fazer sentido. É isto que tento mostrar aos profissionais da segurança de trabalho. Os colaboradores de uma empresa precisam fazer do uso dos equipamentos um hábito tão natural como escovar os dentes. Não só equipamento, mas todas as regras de segurança precisam entrar na corrente sanguínea de forma a se tornar natural.

Atitudes como usar o corrimão da escada (outra mania que carrego), andar nas faixas limitadoras, caminhar sem olhar o celular, observar o entorno, devem ser tão naturais como respirar.

Só para aproveitar a deixa, o aparelho celular representa hoje um dos maiores empecilhos para a segurança patrimonial, de trânsito e de trabalho. O uso irracional do aparelho celular chegou a níveis tão preocupantes no mundo que o Japão instituiu multas para quem caminhar na rua olhando para o celular.

Recentemente visitei uma empresa e fiquei aguardando na sala do departamento de segurança de trabalho. Enquanto esperava observei uma moça, com jaleco da CIPA (comissão interna de prevenção de acidente) apoiando o celular no próprio carregador, enquanto carregava a bateria. Qualquer criança sabe que tanto o carregador quanto o aparelho geram calor. Quando colocados juntos a chance de superaquecimento é enorme.

Não acabou aí. O celular tocou e ela começou a conversar, mesmo com o aparelho sendo carregado na tomada, algo que é potencialmente arriscado. Isso tudo dentro de um departamento de segurança do trabalho.

Este exemplo serve para ilustrar a diferença entre a segurança de manual e o hábito da segurança. No meu escritório caseiro uso até um cooler extra para arrefecer o notebook de tanto medo de explodir a bateria!

O desafio da mobilidade segura

Agora sim vou voltar para os acidentes relatados lá no primeiro parágrafo. O primeiro caso, da explosão do cilo de grão, tratava-se de uma grande e muito bem estruturada empresa do setor agrícola. Várias pessoas testemunharam que a empresa tinha uma sólida e verdadeira preocupação com segurança, tratando o tema com absoluta seriedade. Todos os indícios preliminares apontaram para uma falha humana. Sim, por mais mecanizada que seja uma produção, em algum momento tem um ser humano operando. Humanos são falíveis.

Já na siderúrgica de Cabreúva o caso é mais complexo. Numa primeira investigação surgiram evidências de falta de alvarás, que induz a falhas estruturais mais graves. E mais uma vez o ser humano está por trás, não só na operacionalização da empresa, mas na burocracia e adequações às normas de segurança.

E finalmente o acidente com o jovem ator Kayke Britto. Novas imagens de câmeras de segurança mostram o ator em visível estado de embriaguez, pouco antes do acidente. E as imagens do acidente deixam claro que o jovem simplesmente atravessou a rua sem olhar para o lado. O motorista de aplicativo estava abaixo do limite de velocidade, parou, prestou socorro e ficou ao lado até a chegada do resgate. Depois foi submetido ao teste de alcoolemia que não detectou a ingestão de bebida alcoólica.

Mas e a “vítima”? O atropelado? Foi realizado teste de alcoolemia nele? Ele pode ser responsabilizado pelo acidente? Pode ter de indenizar o motorista? Não foi divulgado nenhum teste, porque no Brasil a única vítima de um acidente é quem se feriu. Sim, ele pode ser responsabilizado pelo acidente se ficar provado que estava alcoolizado. E sim pode ser condenado a indenizar o motorista pelos danos e transtornos causados.

No momento que soube do atropelamento comentei que ele iria sair dessa, porque é jovem, saudável e traumatismo craniano não assusta mais ninguém hoje em dia. Ele recebeu alta do hospital, está se recuperando em casa em vai sim voltar a ter sua atividade normal.

Dentro do preceito da filosofia da segurança a “vítima” foi a maior responsável pelo acidente. Mas a sociedade tende a fazer justiça sempre condenando o motorista e inocentando o atropelado. Sobre isso já escrevi um artigo “A outra vítima”, que mostra como a vida de um motorista pode ser impactada pela irresponsabilidade da vítima. E se Kayke tivesse morrido? Este motorista estaria eternamente condenado a viver com essa dor. Mas ninguém pensa nele...

Dentro das palestras que realizo sobre Filosofia da Segurança tento mostrar que muitas pessoas carregam o estigma da vítima. Relevam de tal forma o conceito da segurança que chegam mesmo a “pedir” por um acidente. Basta ver como a maioria dos motociclistas de aplicativos se comportam. Tem situações que parece que estão clamando por um acidente grave. Não pode ser normal o comportamento que adotam. Mas quem se importa?

Os “CEOs” dos apps dormem o sono dos justos, afinal não há vínculo empregatício; o Estado é omisso ao relaxar a fiscalização sob o argumento flácido do “ah, pelo menos estão trabalhando” e cabe ao sistema de saúde arcar com a sobrecarga e custos dos estropiados no trânsito.

Nesta cadeia não passa nem de longe o conceito da Filosofia da Segurança. O município de São Paulo ainda conseguiu implantar as salvadoras faixas azuis. E o que eu vejo nelas? Retardados rodando de moto a 90, 100 km/h cercado por fileiras de carros dos dois lados. O que faltou? Educação e fiscalização.

Estes jovens arriscam a vida porque é assim que a sociedade os trata. Quem pede quer receber logo. Quem vende quer entregar logo. E quem entrega quer ganhar mais. Neste caos a única certeza é que o conceito de segurança ficou lá no meio do caminho.

 

Prostatite: como é a vida pós remoção da próstata (parte1)

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Sim, acredite, já acarpetaram uma rua em São Paulo. (Foto: Veja)

Descendo a Rua Augusta numa manhã de julho de 2018 lembrei de várias histórias desta que é uma das mais icônicas ruas de São Paulo. Inspirada nas grandes avenidas fashions da época, já foi berço da moda na capital paulistana, com butiques chiques e marcas renomadas. Todas as novidades no mundo da moda estavam na Rua Augusta.

Também era o point de paquera nos anos 1970/80, com motos, carrões desfilando e  jovens trocando olhares e xaveco mesmo, que hoje seriam considerados assédios. Ronnie Cord cantava “entrei na Rua Augusta a 120 por hora”. Mentira, aqueles carros da época eram instáveis. Se entrasse a 120 km/h meteria o côco num poste! A Rua Augusta é estreita, com um enorme desnível, tendo como cumeeira a Avenida Paulista.

Uma das histórias mais curiosas da Rua Augusta se deu no final de 1973, quando os lojistas tiveram a brilhante ideia de acarpetar um quilômetro da avenida, com placas coloridas, formando um xadrez.

Esqueceram que a época coincidia com a chuvas de verão e carpetes não são exatamente aderentes quando molhados. O resultado é que os carros não conseguiam sair na subida, nem frear na descida, causando alguns pequenos acidentes. Além de arrancar placas de carpete a cada frenagem. Eu mesmo arranquei muitas placas de carpete com o Dodge Dart do meu pai, quando eu tinha 14 anos. Sim, eu dirigia um carro V-8 com 14 anos!

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Olha a traseira do Dodge Dart aí na foto!!! (Foto:Veja)

Alguns anos depois, já na faculdade de jornalismo, frequentava a Rua Augusta para jantar no Spazio Pirandello, cantina que reunia atores, atrizes e intelectuais. Como ficava perto dos teatros, os artistas jantavam lá e a tietagem corria solta. Eu levava as namoradas lá depois da aula para jantar pratos enormes de macarrão ou lasanha. Bons tempos que não existia refluxo gástrico!

Atualmente a Rua Augusta perdeu muito do seu charme. As lojas migraram para a Oscar Freire e o “baixo Augusta” passou a ser frequentado por garotas de programa, traficantes, mas ainda um pouco de artistas e intelectuais. Todos atrás de bebida e balada. Foi nesta rua que saí pela primeira e única vez com uma garota de programa de rua num dos poucos períodos da minha vida que estive solteiro. Ela estava fazendo trottoir, palavra francesa que significa calçada, o que dava um pouco mais de romantismo à atividade.

Era uma mulher de mais de 30 anos, baixa, loira, bonita e muito discreta para a atividade que exercia. Tanto que demorei pra entender que ela não estava pedindo carona. Abaixei o vidro e gostei dela logo de cara. Negociamos o cachê, ela indicou um hotel e, quando pensei que estava resolvido, ela veio com uma surpresa:

– Minha amiga vai ficar aqui sozinha, ela pode ir junto?

A amiga não era tão bonita, mas pelo pacote econômico aceitei e foi uma noite inesquecível.

Tão inesquecível que foi justamente o que veio à minha mente quando passei de moto, naquela manhã de julho de 2018, em direção a um posto médico da Prefeitura para buscar o resultado de uma biópsia da próstata.

Se você, homem, nunca fez uma biópsia de próstata não sabe o que é uma dor lancinante numa das partes mais delicadas do ser masculino. OK, a dor do parto é maior, mas eu nunca dei a luz pra comparar. Felizmente os médicos dão um pouco de anestesia e até sonhei, mas senti alguma coisa fria e comprida entrando pelo furico e uma dor tão angustiante que apaguei!

Pensa que isso é o pior? Não, depois da biópsia o médico fez um monte de advertências e avisou: nada de sexo por 15 dias (nem manualmente) e quando fizer pode doer e sair sangue. O cara sabia bem do que estava falando, porque com 10 dias decidi testar de forma manual e quase enfartei ao ver sair sangue, como se tivesse acabado de menstruar! Fora a dor. Doeu pra c****, literalmente!

A probabilidade de a minha hiperplasia prostática ser um câncer e eu me tornar impotente aos 58 anos era muito real. Queria aproveitar o máximo antes de receber o diagnóstico. Mas ainda doeu e sangrou nas poucas vezes seguintes, já com a participação da minha mulher.

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Biópsia de próstata é feita pelo brioco e dói, viu!

Entrei no posto médico tão confiante que simplesmente me dirigi ao balcão dos resultados, tranquilo como quem vai no cartório reconhecer firma. Entregaram o envelope e me encaminharam ao médico com a recomendação de não abrir.

Epa! Por que não podia abrir? Abri. Li e não entendi nada.

O urologista que me recebeu era bem jovem. Alto, bonitão, bronzeado, típico médico de série americana. Ele me atendeu de pé e pediu pra eu sentar. Já passava de meio-dia e, de repente entrou outro médico na sala, igualmente jovem, conversando sobre o almoço como se eu não estivesse lá.

O bonitão abriu o envelope, fez uma cara meio constrangida, mas tentou amenizar o clima me chamando pelo aumentativo:

– É, Geraldão, é câncer!

Juro que foram estas exatas palavras que aquele médico disse. Olhei pro outro, que, quieto, fuçava o celular. Demorei pra entender o que aquilo significava até que perguntei:

– E agora?

Ainda com ar constrangido, sem olhar nos meus olhos, o médico explicou que eu seria encaminhado à assistente social para definir quais os procedimentos. Insisti em saber mais detalhes e perguntei “quais procedimentos”?

– Como ainda é pequeno, aconselho cirurgia para remoção total da próstata. Assim fica livre do problema pra sempre.

– E quais são as consequências desta cirurgia? perguntei já sabendo a resposta.

– Eh, incontinência urinária e impotência.

Ele respondeu exatamente assim. Não usou o eufemismo “disfunção erétil”, falou impotência mesmo. Fiquei imobilizado. Por alguns segundos nada se mexeu naquela sala, até que o outro médico perguntou “e aí, vamos almoçar?”.

Meu chão desapareceu. Minhas pernas bambearam, meu corpo ficou com duas toneladas e meia. Não conseguia me levantar, mas aqueles médicos precisavam almoçar e eu estava atrapalhando.

Com um aperto no estômago saí correndo da sala e fui chorar no banheiro. Estava sozinho. Não levei ninguém comigo porque não esperava aquele diagnóstico. Fiquei andando pelo posto que nem um zumbi. Olhava, mas não via. Escutava, mas não ouvia. Respirava, mas não vivia. Milhões de pensamentos ao mesmo tempo. Precisava dividir aquilo com alguém.

Liguei pra minha mulher que não pôde atender. A segunda pessoa que liguei foi meu sócio Ronaldo. Ele atendeu e dei a notícia. Anos depois ele lembrou deste dia e comentou que ficou com vontade de entrar pelo fio do telefone para me abraçar. E como eu precisava de um abraço! Não lembro o que conversamos.

A assistente social me chamou. Sentei na frente dela e, antes que ela dissesse qualquer coisa reclamei do comportamento do médico. Ela se assustou e, talvez pelo ineditismo da situação, passou a me tratar com muito respeito e sensibilidade e até ofereceu um copo d’água. Ela falou, falou, explicou, escreveu, falou mais um pouco, mas eu não ouvi nada, porque só via a boca se mexendo, não escutava nada porque minha cabeça estava muito longe dali. Só pensava naquela palavra do médico: impotência.

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Essa coisinha ridícula é a próstata, mas faz uma falta...

Diagnostica eu

Só decidi fazer o primeiro exame de PSA* aos 55 anos de idade, depois de minha irmã médica insistir muito. Segundo ela minhas chances de câncer eram grandes porque meu pai tinha sido operado aos 71 anos. E a hereditariedade é o fator número um na probabilidade.

– Mas eu tenho só 55! argumentei, mesmo assim ela praticamente me intimou e eu não costumo desobedecer minha irmã.

Picada no braço pra tirar um pouco de sangue e logo no primeiro exame deu alteração. Nada assustador, mas que merecia um olhar mais profundo. Acendeu uma luz amarela. Como eu sempre fui procrastinador (nasci 16 dias depois do previsto), fui adiando a visita ao urologista até que acabei marcando. Tinha plano de saúde que nunca usava e pensei “vou gastar tudo que puder neste plano”.

O médico pediu para refazer o exame de PSA, mas pediu para eu ficar três dias sem pilotar moto, nem bicicleta, algo que pra mim era como dizer “ampute as duas pernas por três dias”. Obedeci e refiz o exame. Deu o mesmo resultado. Não lembro os valores exatos, mas era pra ter algo como 0,3 ou 0,6 e meu exame deu 3,2. Não sei as unidades de grandeza, mas agora acendeu a luz laranja.

Voltei ao médico – claro que sempre com hiatos de 15 a 20 dias porque estamos falando de uma porcaria de plano. Desta vez ele pediu ultrassom, mais alguns exames e, cereja do bolo, o toque retal, que fez ali mesmo, sem qualquer aviso prévio. Não foi traumatizante como exageram, mas ele fez uma cara muito preocupada ao explicar que “a próstata está bem aumentada”. 

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Onde vai com este dedo? Exame de toc não dói nada! 

Com os pedidos do exame nas mãos, aquela frase na cabeça, saí do prédio e quando me aproximei de onde tinha estacionado a moto outro choque: roubaram minha moto! Minha não, da Honda, porque era uma moto de teste. Andando de um lado pro outro, resumi aquela manhã da seguinte forma:

– PQP, hoje o dia promete, são 10 da manhã e já tomei no c* duas vezes!

Quem me socorreu? O sócio e anjo da guarda Ronaldo, que me buscou, me pagou o almoço, levou até em casa e ainda me deu um capacete novo porque o meu estava no baú da moto roubada!

Nesta fase eu ainda nem ventilava a possibilidade de estar desenvolvendo um câncer. Na minha cabeça era só um inchaço provocado pelo excesso de moto, bicicleta e pés na bunda que colecionei ao longo da vida. Levava uma vida normal, nem pensava nisso e, quando comentei com minha irmã que eu iria fazer o ultrassom ela pediu:

– Aproveita e faz outro PSA.

– Karaka, de novo?

Marquei os exames no mesmo dia. Pra fazer o ultrassom eles obrigam a gente a beber quase dois litros de água. Depois fazer xixi até a última gota. Saiu aquele xixi cor amarelo citrino que os médicos adoram.

A enfermeira e a médica eram gatas. Beeeem gatas. Quando me pediram pra deitar na maca e baixar as calças pensei no melhor. Ou melhor, no pior. A enfermeira era morena e bem novinha. Muito bonita mesmo. A médica era loira e linda. Ela me lambuzou com uma meleca e depois ficou passando um treco gelado pra lá e pra cá, bem perto do, do... dele mesmo. Passava tão perto que resvalava na ponta. Ponta que começou a crescer sem minha autorização.

Ô situaçãozinha constrangedora. Tentei pensar em outras coisas, mas não dava e foi ficando meio que indisfarçável. Acho que deve ser normal, porque tanto a enfermeira quanto a médica trocaram olhares e sorriram tipo “viu? eles não resistem”. Saí da sala delas, lambuzado, constrangido, intumescido e fui levar uma picada. De agulha!

Mais um PSA na conta...

Com o resultado dos exames fui marcar o retorno no urologista e... surpresa! Cancelaram meu plano de saúde! Verdade. A Prevent Sênior me deixou sem assistência em meio a um tratamento de possível câncer de próstata. Porque eu tinha esquecido de pagar UMA mensalidade em 10 anos de convênio. Isso mesmo: huma em 10 anos. Não deixei de pagar porque sou sovina, desonesto ou miserável. Não paguei porque confundi com os boletos dos meus pais e esqueci de pagar o meu.

Argumentaram que tentaram me telefonar no número FIXO!!! Como assim? Em 2017 os caras ligam para o telefone FIXO! Eu nem tinha mais a linha telefônica. Os boletos vinham pelo Correio. Era só mandar uma carta, telegrama, um e-mail, um SMS, mas não, ligaram num telefone fixo! Claro que foi intencional, fazem isso porque para reaver o plano eu teria de pagar mais caro, como se tivesse começando um novo plano. Golpistas! Detalhe: eu esqueci de pagar o mês de setembro, mas paguei outubro e novembro. Mesmo assim cancelaram. Vermes oportunistas. 

Sem plano de saúde recorri a um sistema novo na época chamado Dr. Consulta. Marquei urologista. Peguei os exames e quando entrei na sala o médico estava com uma camiseta da Harley-Davidson. Foi a consulta mais longa de todas!

Pela primeira vez um urologista conversou de forma esclarecedora. Não foi o que eu esperava ouvir, mas ele deixou claro que eu deveria fazer uma biópsia porque era uma hiperplasia que poderia ser benigna ou não.

– Mas estou sem plano de saúde! Custa caro? perguntei.

– Faz no particular mesmo, mas faz. Agora não é hora de se preocupar com dinheiro.

Acendeu a luz vermelha. Hora de ver isso com atenção.

Saí do consultório e recorri ao meu irmão médico (sim o raio pode cair duas vezes no mesmo lugar, tenho um casal de irmãos médicos). Ele conseguiu a biópsia pelo SUS e foi assim que eu fui parar naquela manhã de julho, descendo a rua Augusta de moto.

N.d.R - PSA é o exame de antígeno prostático. É feito pelo sangue, com uma rápida agulhada na veia. Não dói e o resultado não significa nada sem o laudo de um urologista. Mas uma dica: se algum parente próximo (pai, irmão, avô, tios) tiveram câncer de próstata comece a fazer o exame a partir de 45 anos, pelo menos uma vez por ano. Não se assuste com os números, fale com um médico. Não se consulte com o Google.

(Continua...)

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